Carly caminhava pelos corredores do hospital sentindo um alívio inesperado. Finalmente, aquele dia havia chegado. Seu pai receberia alta e sairia de sua vida mais uma vez. Depois de dias suportando sua presença, cumprindo seu papel profissional por obrigação, ela poderia voltar à sua rotina sem se preocupar com ele. Ao entrar na sala de fisioterapia, encontrou Joseph sentado em uma das cadeiras acolchoadas, aguardando pacientemente. Seu semblante era tranquilo, mas seu olhar afiado a acompanhou desde o momento em que a porta se abriu. Ao lado dele, estava seu mordomo, pronto para auxiliá-lo assim que a sessão terminasse. — Bom dia, pai. Quer dizer, senhor Joseph. — Carly disse formalmente, ajustando os equipamentos para iniciar a última sessão no hospital. — Bom dia, doutora Carline. Que milagre você lembrar que sou seu pai. — Ele respondeu, com um tom carregado de ironia. Ela o ignorou. A relação deles se resumia àquilo: distanciamento e formalidade. Começou os exercícios com a m
Pedro dirigia pelas ruas tranquilas da cidade, sentindo-se aliviado por finalmente ter um momento para respirar. A última semana tinha sido um turbilhão de acontecimentos. Desde sua conversa com o pastor Samuel até o inesperado encontro com Serina, sem falar nas constantes dúvidas sobre seu relacionamento com Carly.Ele estacionou em frente à casa de Felipe e tocou a campainha. O amigo não demorou a atender, abrindo a porta com um sorriso acolhedor.— Finalmente apareceu, hein? Já estava achando que tinha sumido do mapa.Pedro riu, entrando.— Quase isso. Tenho andado com a cabeça cheia ultimamente.Felipe fechou a porta e o conduziu até a sala, onde o sofá de couro e os quadros nas paredes davam ao ambiente um ar aconchegante. Era um lar acolhedor, refletindo não só a fé de Felipe e Sofia, mas o amor que os unia.— Senta aí e me conta tudo. O que anda acontecendo? — Felipe sentou no sofá, desligando a tv.Pedro soltou um suspiro, passando a mão pelos cabelos.— Muita coisa. Mas a mais
Carly se deparou diante dos portões imponentes da antiga mansão Ramires. A construção permanecia grandiosa, cercada por altos muros e árvores imponentes que pareciam vigiar silenciosamente o tempo passar. Respirou fundo. O simples ato de estar ali fazia seu peito apertar. Faziam quase doze anos. Doze anos desde a última vez que cruzara aquele portão. Doze anos desde que fechara as portas para tudo que aquele lugar representava. E agora, mal podia acreditar que estava novamente ali de volta. O portão se abriu lentamente, rangendo como se também protestasse contra seu retorno. O caminho de pedras até a entrada principal continuava impecável, ladeado pelo jardim sempre bem cuidado, como se o tempo tivesse parado. Era estranho. Apesar de tudo parecer igual, havia algo diferente. Mais moderno ou talvez fosse ela que não era mais a mesma. Quando desceu do carro, os sapatos ecoaram contra o piso de mármore da entrada. Sentiu um calafrio subir pela espinha. Seus olhos varreram a fachada
Pedro estacionou em frente a casa de Carly. Ele ficou alguns segundos ali antes de sair, respirando fundo. Seu dia tinha sido cheio, mas, mesmo assim, resolveu passar lá antes. Desde que a conheceu, percebia como ela se fechava para os outros, sempre mantendo uma barreira ao seu redor. Nos últimos dias, ela simplesmente não voltou ao hospital e não comentou nada com ele. Então, pegou o celular e pensou em mandar uma mensagem avisando para ela, mas desistiu. Preferia vê-la surpresa com a sua presença. Tocou a campainha e esperou. Minutos depois, a porta se abriu, revelando Carly com uma expressão confusa. Ela vestia uma blusa confortável e jeans, claramente não esperando visitas.— Pedro? — Ela o encarou com uma incerteza. — Por que não me avisou que vinha? Eu teria me arrumado melhor.Ele sorriu, inclinando-se levemente contra o batente da porta.— Queria saber como você está, o que aconteceu... já que você sumiu do hospital e de resto não me avisa nada. Carly hesitou por um instante
O sábado amanheceu com um sol tímido, aquecendo a imponente mansão Ramires. O ar fresco da manhã misturava-se ao perfume das flores do jardim, e o dia prometia ser memorável para Joseph. Sentado em sua poltrona de couro no escritório, ele segurava o telefone com um sorriso raro e genuíno nos lábios. Carly havia ligado. Não apenas para confirmar a sessão de fisioterapia, mas para avisar que ficaria o dia inteiro por lá.— Senhor, a senhorita Carline realmente passará o dia aqui? — perguntou a governanta, mal escondendo a alegria.Joseph assentiu, entusiasmado.— Sim, Elisa! Quero que prepare tudo o que ela gosta para o almoço. E mais, vocês todos vão se sentar conosco à mesa.A governanta arregalou os olhos. Não conseguia acreditar que aquilo era possível.— Nós, senhor?Ele confirmou, firme.— Sim. Hoje é um dia muito especial. Minha filha vem não pela obrigação, mas por livre e espontânea vontade. Temos muito o que comemorar.A notícia se espalhou rapidamente pelos corredores da mans
O aroma dos pratos preparados pairava pelo ar, preenchendo a imensa sala de jantar da mansão Ramires. A mesa estava elegantemente posta, cada detalhe meticulosamente arranjado para receber Carly como uma convidada especial. Joseph, sentado à cabeceira, observava tudo com um brilho nos olhos, satisfeito em ter sua filha ali novamente.Carly adentrou pelo salão em passos cautelosos. Embora sua expressão fosse neutra, por dentro sentia um turbilhão de emoções. Não se lembrava da última vez em que se sentara naquela mesa, cercada por rostos que lhe eram familiares, mas que, ao mesmo tempo, pareciam tão distantes. Os funcionários, eram quase todos os mesmos, já estavam para se aposentar alí. Serina já estava no lugar dela, perfeitamente alinhada e composta, mas sua postura estava rígida. Ela observou Carly se aproximar e forçou um sorriso.— Espero que esteja com fome — Joseph disse, animado.— Um pouco — Carly respondeu, sentando-se no lugar indicado.A governanta e os demais funcionários
Serina dirigia pela cidade, observando as luzes refletirem no vidro do carro enquanto se aproximava do destino. A noite estava fresca, e o vento suave que entrava pela janela aberta lhe trazia uma sensação de tranquilidade. Mas, por dentro, seu coração estava acelerado. Desde que Carly havia aparecido na mansão, os sentimentos de Serina estavam confusos. Não era ciúme apenas pelo pai ter ficado tão radiante com a presença da irmã, mas pelo próprio impacto que a volta de Carly causava nela. Durante anos, Serina foi a filha presente, a que carregou as dores da família sem questionar, a que segurou as pontas quando tudo parecia desmoronar. E, de repente, Carly volta, e Joseph a trata como se ela fosse a grande protagonista daquela casa. Serina afastou esses pensamentos e focou no compromisso daquela noite. Ela estacionou o carro em frente à igreja e, assim que desligou o motor, viu Giulia acenando animada para ela na entrada. — Pensei que ia desistir! — Giulia brincou, se aproxim
No caminho de volta para casa, sua mente estava inquieta. O brilho das luzes da cidade foi ficando para trás conforme ela se aproximava do bairro afastado, onde a mansão ficava. A propriedade era envolta por grandes eucaliptos e um portão imponente, que se abriu automaticamente quando ela passou seu cartão de acesso. Ao estacionar, notou que as luzes da entrada estavam parcialmente apagadas. O local estava envolto pelo silêncio. Serina entrou na mansão, fechando a porta atrás de si com cuidado. A casa estava mergulhada na penumbra, os únicos sons vinham do tique-taque do grande relógio no corredor e do leve farfalhar das cortinas com o vento que soprava pelas frestas. Seu pai já devia estar dormindo, e os funcionários provavelmente também já haviam se recolhido. Subindo as escadas devagar, ela sentiu o peso do dia recaindo sobre seus ombros. Caminhou pelo longo corredor, sentindo o eco dos próprios passos contra o chão de mármore polido. A casa sempre foi grande demais, vazia dema