A noite estava serena, e a brisa do mar trazia uma sensação de frescor. Ela sorriu levemente, antes de pegar o celular e começar a digitar uma poesia própria, em seguida ligou a câmera e bateu uma foto da paisagem que parecia uma pintura noturna. Publicando aquilo em um feed anônimo. Por que não ir até lá? Cada dia é uma fagulha acesa,pronta para ruir.Somos dispersos, incansáveis, esperando o momento de partir. Quem sabe se ainda estarei aqui? O corpo presente, a alma ausente, como um barco à deriva, sem saber onde atracar. Entre altos e baixos,tentando acertar, na incerteza do que posso alcançar. Já desisti de tentar.Mas sigo a perseverar,crendo que Deus irá me ajudar.Entre tantas marés, a água me submergiu. Estou à deriva, sem saber o que esperar. O que importa no final?Se tudo um dia vai passar... Flutuar sobre o mar, sem saber nadar. Flutuar no mar,sem saber remar. Contra a maré, o que será? Há anos tento me encontrar.Serina dirigia sem pressa pela aven
A manhã amanheceu fria, e o céu ainda carregava os tons alaranjados do nascer do sol quando Carly se sentou à escrivaninha do seu quarto. Diante dela, dois papéis em branco. Pegou a caneta e, sem hesitar, escreveu no primeiro: "Monteiro." No segundo, "Pedro." Respirou fundo, apoiando as mãos sobre os joelhos. Aquilo era ridículo? Infantil? Talvez. Mas era a única forma que encontrou de lidar com o que sentia.— Que cafona... — murmurou para si mesma, os dedos frios levemente presionando a caneta. — Cartas? Como se fosse uma adolescente.Olhou para os nomes escritos e deixou escapar um suspiro, ela começou a escrever. As palavras estavam todas na sua mente, mas dizê-las em voz alta… não conseguia. Ao finalizar, dobrou as folhas cuidadosamente e guardou na bolsa.Ela
O silêncio da casa de Helena era interrompido apenas pelo som distante do relógio de parede. O aroma suave de flores frescas espalhava-se pelo ambiente, misturando-se ao perfume de lavanda do desinfetante que passara ao limpar a casa. Foi então que a campainha tocou.Helena ergueu os olhos do livro que lia e franziu o cenho. Quem poderia ser? Não estava esperando visitas. Ainda era cedo para os meninos chegarem da escola, e, de qualquer forma, eles tinham a própria chave. Pedro só voltaria para casa no dia seguinte, após o plantão. Curiosa, levantou-se do sofá e caminhou até a porta. Ao abri-la, deparou-se com um rosto que não esperava ver ali.— Carly?A jovem estava parada na calçada, parecendo um pouco incerta, como se tivesse hesitando sua entrada, antes de falar qualquer coisa.— Oi, Dona Helena. Eu… será que eu posso entrar?Helena piscou algumas vezes, surpresa. Não tinha muito contato com ela, pelo menos não em um nível tão íntimo
O sol se despedia no horizonte quando o som da campainha ecoou pela casa novamente. Helena, ainda estava processando o encontro com Carly. — Quem será agora? Ao abrir, deparou-se com dois pares de olhos brilhantes: Priscila, sua filha mais velha, equilibrava duas malas e a pequena Luna, que estava a sua frente com uma mochila de pelúcia. Ela agarrou à perna da vó como um filhote de koala. — Mãe! — a voz de Priscila carregava o cansaço da viagem, mas também uma estranho alívio nos olhos. Helena quase deixou cair as chaves que segurava. — Minha filha! Minha neta! — abraçou as duas com força, sentindo o cheiro do shampoo de cereja que luna usava. — Por que não me avisou? Teria me preparado, feito um bolo de chocolate, um jantar especial... Priscila riu, afastando um cacho de cabelo do rosto. — Mas teremos tempo. Podemos cozinhar juntas, não? Lulu, já escapando do abraço da avó, correu para a sala em direção aos brinquedos que conhecia tão bem. Helena observou a filha enqu
O carro seguia pela estrada iluminada pelas luzes dos postes e dos faróis dos outros veículos. Serina dirigia em silêncio, o olhar fixo na pista, enquanto Carly observava a paisagem noturna pela janela. O caminho até a igreja não era longo, mas o silêncio entre as duas tornou-se perceptível.— Você está estranha hoje. – Carly quebrou o silêncio, lançando um olhar desconfiado para a irmã.Serina piscou algumas vezes, como se voltasse de um devaneio.— Nada de mais. Está tudo bem.Ela não acreditou completamente na irmã. Mas decidiu não insistir. A rua e o estacionamento da igreja estavam cheios. Então, Serina acabou estacionando o carro na esquina. Pegou sua bolsa e a Bíblia, que estava no banco de trás.— Vamos?Carly assentiu e as duas desceram. Ao entrarem no pátio do local, avistaram Giulia, que estava acenando com um largo sorriso, segurando nos braços uma garotinha pequena e animada.— Quem é essa criança? – Carly perguntou, curiosa.Serina sorriu, achando interessante a expressã
A manhã estava morna e sem pressa, o céu nublado prenunciava uma possível chuva. O aroma doce do café recém-passado se misturava ao som distante da rua e com o aroma de pão fresco no ar da panificadora Saborear. Serina sentou-se em uma mesa discreta, onde a luz natural filtrava-se com suavidade, projetando sombras em movimento sobre a madeira envernizada. Ela mexia distraidamente a colher na xícara, sem prestar atenção ao som ambiente ou às pessoas ao redor. A ansiedade vibrava sob a pele. Esperar por Carly nunca fora tão desconfortável, ainda mais depois do que recebeu dias antes.A irmã chegou alguns minutos depois do combinado, procurando por Serina entre os clientes. Ao ver a irmã, sorriu brevemente e seguiu em sua direção. A relação das duas estava em reconstrução. Ainda não era natural, mas também não era forçada. Era algo novo, frágil como porcelana. — Oi, mana! Acabei tendo um imprevisto, me desculpe — disse Carly, puxando a cadeira à frente.— Melhor esperar do que ser esper
O sol poente tingia de um laranja suave os vidros do hospital, como se também estivesse exausto das últimas horas. Carly saiu pelas escadas, evitando pegar o elevador para não passar pelo primeiro andar, onde Pedro poderia estar. Seus passos ecoavam no estacionamento enquanto ensaiava mentalmente o que diria:— Preciso fazer uma viagem para procurar Marta e chamei Monteiro, já que ele foi treinado para isso. Mas as palavras pareciam traiçoeiras. Toda vez que imaginava os olhos castanhos de Pedro, aquele olhar que sempre enxergava com uma sinceridade quase dolorosa, seu coração se contraía. Ele merecia a verdade, mas... E se ele quiser impedir? Se achar que estava cometendo um erro? Os questionamentos pairavam a sua mente. Pedro era sincero, íntegro e amável. E ela ainda era um mistério para si mesma. Um buzinão a fez pular. O motorista de aplicativo havia chegado. A realidade voltou como um sopro quente. Ela aproveitou aquele momento para perguntar quanto ele cobraria para ser o mot
O café estava quase vazio naquela manhã. O som leve de uma música instrumental preenchia o ambiente elegante, com o aroma de grãos recém-moídos e croissants recém-assados. Pedro já estava lá, sentado no canto mais afastado, com um cappuccino fumegante sobre a mesa de madeira rústica. Seus dedos tamborilavam nervosamente no celular, algo incomum para um homem tão controlado. — Desculpa o atraso, acordei atrasada. — Disse Carly, puxando a cadeira à frente dele. Pedro ficou por um momento em silêncio, com o olhar indecifrável. Trazia o mesmo charme discreto, mas algo parecia mais... contido. Menos entregue. Talvez mais distante.— Oi, bom dia! Finalmente conseguimos nos ver. Por que não atendeu as minhas ligações?Ela deu um sorriso, sem graça. — Eu... estava sem tempo. Sua mãe foi lá em casa e depois acabei caindo no sono.Ela mentiu, na verdade, passou a noite em claro ensaiando palavras que agora pareciam inúteis. — Na verdade, você parece cansada.— Ontem o dia foi puxado no hosp