Pedro estacionou em frente a casa de Carly. Ele ficou alguns segundos ali antes de sair, respirando fundo. Seu dia tinha sido cheio, mas, mesmo assim, resolveu passar lá antes. Desde que a conheceu, percebia como ela se fechava para os outros, sempre mantendo uma barreira ao seu redor. Nos últimos dias, ela simplesmente não voltou ao hospital e não comentou nada com ele. Então, pegou o celular e pensou em mandar uma mensagem avisando para ela, mas desistiu. Preferia vê-la surpresa com a sua presença. Tocou a campainha e esperou. Minutos depois, a porta se abriu, revelando Carly com uma expressão confusa. Ela vestia uma blusa confortável e jeans, claramente não esperando visitas.— Pedro? — Ela o encarou com uma incerteza. — Por que não me avisou que vinha? Eu teria me arrumado melhor.Ele sorriu, inclinando-se levemente contra o batente da porta.— Queria saber como você está, o que aconteceu... já que você sumiu do hospital e de resto não me avisa nada. Carly hesitou por um instante
O sábado amanheceu com um sol tímido, aquecendo a imponente mansão Ramires. O ar fresco da manhã misturava-se ao perfume das flores do jardim, e o dia prometia ser memorável para Joseph. Sentado em sua poltrona de couro no escritório, ele segurava o telefone com um sorriso raro e genuíno nos lábios. Carly havia ligado. Não apenas para confirmar a sessão de fisioterapia, mas para avisar que ficaria o dia inteiro por lá.— Senhor, a senhorita Carline realmente passará o dia aqui? — perguntou a governanta, mal escondendo a alegria.Joseph assentiu, entusiasmado.— Sim, Elisa! Quero que prepare tudo o que ela gosta para o almoço. E mais, vocês todos vão se sentar conosco à mesa.A governanta arregalou os olhos. Não conseguia acreditar que aquilo era possível.— Nós, senhor?Ele confirmou, firme.— Sim. Hoje é um dia muito especial. Minha filha vem não pela obrigação, mas por livre e espontânea vontade. Temos muito o que comemorar.A notícia se espalhou rapidamente pelos corredores da mans
O aroma dos pratos preparados pairava pelo ar, preenchendo a imensa sala de jantar da mansão Ramires. A mesa estava elegantemente posta, cada detalhe meticulosamente arranjado para receber Carly como uma convidada especial. Joseph, sentado à cabeceira, observava tudo com um brilho nos olhos, satisfeito em ter sua filha ali novamente.Carly adentrou pelo salão em passos cautelosos. Embora sua expressão fosse neutra, por dentro sentia um turbilhão de emoções. Não se lembrava da última vez em que se sentara naquela mesa, cercada por rostos que lhe eram familiares, mas que, ao mesmo tempo, pareciam tão distantes. Os funcionários, eram quase todos os mesmos, já estavam para se aposentar alí. Serina já estava no lugar dela, perfeitamente alinhada e composta, mas sua postura estava rígida. Ela observou Carly se aproximar e forçou um sorriso.— Espero que esteja com fome — Joseph disse, animado.— Um pouco — Carly respondeu, sentando-se no lugar indicado.A governanta e os demais funcionários
Serina dirigia pela cidade, observando as luzes refletirem no vidro do carro enquanto se aproximava do destino. A noite estava fresca, e o vento suave que entrava pela janela aberta lhe trazia uma sensação de tranquilidade. Mas, por dentro, seu coração estava acelerado. Desde que Carly havia aparecido na mansão, os sentimentos de Serina estavam confusos. Não era ciúme apenas pelo pai ter ficado tão radiante com a presença da irmã, mas pelo próprio impacto que a volta de Carly causava nela. Durante anos, Serina foi a filha presente, a que carregou as dores da família sem questionar, a que segurou as pontas quando tudo parecia desmoronar. E, de repente, Carly volta, e Joseph a trata como se ela fosse a grande protagonista daquela casa. Serina afastou esses pensamentos e focou no compromisso daquela noite. Ela estacionou o carro em frente à igreja e, assim que desligou o motor, viu Giulia acenando animada para ela na entrada. — Pensei que ia desistir! — Giulia brincou, se aproxim
No caminho de volta para casa, sua mente estava inquieta. O brilho das luzes da cidade foi ficando para trás conforme ela se aproximava do bairro afastado, onde a mansão ficava. A propriedade era envolta por grandes eucaliptos e um portão imponente, que se abriu automaticamente quando ela passou seu cartão de acesso. Ao estacionar, notou que as luzes da entrada estavam parcialmente apagadas. O local estava envolto pelo silêncio. Serina entrou na mansão, fechando a porta atrás de si com cuidado. A casa estava mergulhada na penumbra, os únicos sons vinham do tique-taque do grande relógio no corredor e do leve farfalhar das cortinas com o vento que soprava pelas frestas. Seu pai já devia estar dormindo, e os funcionários provavelmente também já haviam se recolhido. Subindo as escadas devagar, ela sentiu o peso do dia recaindo sobre seus ombros. Caminhou pelo longo corredor, sentindo o eco dos próprios passos contra o chão de mármore polido. A casa sempre foi grande demais, vazia dema
O sol da manhã filtrava-se pelas cortinas do quarto de Carly, mas ela ainda não sentia vontade de se levantar. O dia anterior havia sido mais intenso do que esperava. O som insistente do celular despertou ela naquela manhã. Meio sonolenta, ela estendeu a mão para a mesinha de cabeceira e pegou o aparelho. A tela brilhava com uma notificação de mensagem.Serina: Precisamos conversar. Você pode me encontrar?Carly franziu a testa, sentindo a ansiedade persistir em eventuais problemas. Desde que voltou a frequentar a mansão, ela sabia que mais cedo ou mais tarde teria que encarar conversas com a irmã.Carly: Vem até minha casa à tarde. Podemos falar com mais tranquilidade.Serina visualizou a mensagem, mas não respondeu. Carly suspirou, jogando o celular de lado e se levantando. Ela considerava algo estranho naquela situação, como se estivesse prestes a descobrir algum podre da família e acabar de vez com sua serenidade.A tarde chegou mais rápido do que Carly esperava. Ela andava de um
O momento despertava inseguranças e Carly ficava em um impasse, no quarto, diante do espelho por alguns instantes, encarando seu próprio reflexo, tentando se recuperar. As coisas pareciam estar mudando. A verdade sobre sua mãe emergindo das sombras. Sua relação com Serina parecia tomar um rumo inesperado. E Pedro... Pedro era outra questão.Em meio a esses dilemas ela abriu o guarda-roupa e procurou algo que fosse casual, mas sem exageros. Acabou escolhendo um vestido azul-marinho de tecido leve. Simples, mas bonito. Quando terminou de se arrumar, passou um perfume suave e calçou um par de tênis brancos. Pegou a bolsa e saiu em direção à varanda, sentindo uma estranha ansiedade crescer dentro de si. A campainha tocou. Ela respirou fundo e abriu a porta. Pedro estava ali, de pé, com um sorriso no rosto.— Oi, Carly. Você está linda.Carly sentiu um leve calor nas bochechas, mas disfarçou.— Obrigada. Você também não está nada mal.Ele riu, abrindo espaço para ela sair.— Pronta para o
Era a segunda semana em que Carly estava empenhada no tratamento de reabilitação do seu pai. Mas, dessa vez, sua motivação ia além da rotina profissional. Havia algo corroendo seu peito, uma necessidade urgente de respostas. Respirou fundo, tentando manter a compostura. Caminhou em passos firmes pela entrada de pedras bem cuidadas da mansão, cumprimentando brevemente os funcionários.Arthur abriu a porta, antes mesmo que ela tocasse a campainha, como se já estivesse esperando por sua chegada.— Bom dia, senhorita Carline. O governador a aguarda na biblioteca.Ela subiu pelos degraus, até o primeiro andar. Assim que pisou no hall, Elisa veio recebê-la com um abraço e sorriso gentil.— Bom dia, está tudo bem?Ela assentiu, sem dizer nada, seguindo para a biblioteca onde o pai já a esperava. Ele estava sentado em uma poltrona, ao lado da grande janela de vidro, resolvendo palavras-cruzadas. — Bom dia, minha filha — disse ele, sem tirar os olhos do livro.— Vamos começar? — Ela respondeu,