O dia começava com a cidade ainda despertando lentamente. O ar fresco da manhã misturava-se ao cheiro de pão recém-saído do forno que escapava da pequena padaria da esquina. Serina estava ali, sentada próxima à entrada, mexendo distraidamente no celular enquanto bebia um cappuccino. Seu olhar pairava sobre a tela, mas sua mente vagava longe. Havia muita coisa acontecendo ao mesmo tempo e, por mais que tentasse organizar os pensamentos, as coisas pareciam confusas. O sino da porta tocou e um sopro de ar fresco entrou junto com Carly, que parecia apressada e carregada pela cobrança da rotina. Ela estava no balcão pedindo um café com leite e pão na chapa, pegou o pedido e caminhou até a mesa de Serina. O silêncio inicial revelava o peso daquele momento. Por mais que compartilhassem o mesmo sangue, se tornaram como estranhas depois de tantos anos afastadas. — Bom dia! Indo trabalhar? — Perguntou Serina. — Bom dia! Isso mesmo. Então, quais são as novidades? — Carly perguntou, jogando
A chuva ameaçava cair a qualquer momento. O céu, coberto por nuvens cinzentas, tornava a visão ainda mais sombria. Carly apoiou a testa contra o vidro frio da janela, observando a paisagem do lado de fora, sem realmente enxergá-la. Sua mente estava presa em um passado distante, numa memória que nunca a abandonou. Lembrava-se daquela noite como se fosse ontem.Sua mãe, com os olhos brilhantes e um sorriso doce, entrou em seu quarto com uma caixinha aveludada azul nas mãos. Carly, adolescente, não conteve a curiosidade. — O que é isso, mãe? — perguntou animada, estendendo as mãos para pegar o presente. A mãe sentou ao lado da filha na cama, segurando suas mãos antes de entregá-lo. — Quero que guarde isso com muito amor. Quero que através desse presente se lembre do quanto eu te amo. Com empolgação, Carly pegou a caixinha e abriu, revelando uma pulseira delicada, feita exclusivamente para ela. Tinha dois pingentes: uma borboleta e uma estrelinha de ouro. — Uau, que lindo. Amei! — ex
Carly caminhava pelos corredores do hospital sentindo um alívio inesperado. Finalmente, aquele dia havia chegado. Seu pai receberia alta e sairia de sua vida mais uma vez. Depois de dias suportando sua presença, cumprindo seu papel profissional por obrigação, ela poderia voltar à sua rotina sem se preocupar com ele. Ao entrar na sala de fisioterapia, encontrou Joseph sentado em uma das cadeiras acolchoadas, aguardando pacientemente. Seu semblante era tranquilo, mas seu olhar afiado a acompanhou desde o momento em que a porta se abriu. Ao lado dele, estava seu mordomo, pronto para auxiliá-lo assim que a sessão terminasse. — Bom dia, pai. Quer dizer, senhor Joseph. — Carly disse formalmente, ajustando os equipamentos para iniciar a última sessão no hospital. — Bom dia, doutora Carline. Que milagre você lembrar que sou seu pai. — Ele respondeu, com um tom carregado de ironia. Ela o ignorou. A relação deles se resumia àquilo: distanciamento e formalidade. Começou os exercícios com a m
Pedro dirigia pelas ruas tranquilas da cidade, sentindo-se aliviado por finalmente ter um momento para respirar. A última semana tinha sido um turbilhão de acontecimentos. Desde sua conversa com o pastor Samuel até o inesperado encontro com Serina, sem falar nas constantes dúvidas sobre seu relacionamento com Carly.Ele estacionou em frente à casa de Felipe e tocou a campainha. O amigo não demorou a atender, abrindo a porta com um sorriso acolhedor.— Finalmente apareceu, hein? Já estava achando que tinha sumido do mapa.Pedro riu, entrando.— Quase isso. Tenho andado com a cabeça cheia ultimamente.Felipe fechou a porta e o conduziu até a sala, onde o sofá de couro e os quadros nas paredes davam ao ambiente um ar aconchegante. Era um lar acolhedor, refletindo não só a fé de Felipe e Sofia, mas o amor que os unia.— Senta aí e me conta tudo. O que anda acontecendo? — Felipe sentou no sofá, desligando a tv.Pedro soltou um suspiro, passando a mão pelos cabelos.— Muita coisa. Mas a mais
Carly se deparou diante dos portões imponentes da antiga mansão Ramires. A construção permanecia grandiosa, cercada por altos muros e árvores imponentes que pareciam vigiar silenciosamente o tempo passar. Respirou fundo. O simples ato de estar ali fazia seu peito apertar. Faziam quase doze anos. Doze anos desde a última vez que cruzara aquele portão. Doze anos desde que fechara as portas para tudo que aquele lugar representava. E agora, mal podia acreditar que estava novamente ali de volta. O portão se abriu lentamente, rangendo como se também protestasse contra seu retorno. O caminho de pedras até a entrada principal continuava impecável, ladeado pelo jardim sempre bem cuidado, como se o tempo tivesse parado. Era estranho. Apesar de tudo parecer igual, havia algo diferente. Mais moderno ou talvez fosse ela que não era mais a mesma. Quando desceu do carro, os sapatos ecoaram contra o piso de mármore da entrada. Sentiu um calafrio subir pela espinha. Seus olhos varreram a fachada
Pedro estacionou em frente a casa de Carly. Ele ficou alguns segundos ali antes de sair, respirando fundo. Seu dia tinha sido cheio, mas, mesmo assim, resolveu passar lá antes. Desde que a conheceu, percebia como ela se fechava para os outros, sempre mantendo uma barreira ao seu redor. Nos últimos dias, ela simplesmente não voltou ao hospital e não comentou nada com ele. Então, pegou o celular e pensou em mandar uma mensagem avisando para ela, mas desistiu. Preferia vê-la surpresa com a sua presença. Tocou a campainha e esperou. Minutos depois, a porta se abriu, revelando Carly com uma expressão confusa. Ela vestia uma blusa confortável e jeans, claramente não esperando visitas.— Pedro? — Ela o encarou com uma incerteza. — Por que não me avisou que vinha? Eu teria me arrumado melhor.Ele sorriu, inclinando-se levemente contra o batente da porta.— Queria saber como você está, o que aconteceu... já que você sumiu do hospital e de resto não me avisa nada. Carly hesitou por um instante
O sábado amanheceu com um sol tímido, aquecendo a imponente mansão Ramires. O ar fresco da manhã misturava-se ao perfume das flores do jardim, e o dia prometia ser memorável para Joseph. Sentado em sua poltrona de couro no escritório, ele segurava o telefone com um sorriso raro e genuíno nos lábios. Carly havia ligado. Não apenas para confirmar a sessão de fisioterapia, mas para avisar que ficaria o dia inteiro por lá.— Senhor, a senhorita Carline realmente passará o dia aqui? — perguntou a governanta, mal escondendo a alegria.Joseph assentiu, entusiasmado.— Sim, Elisa! Quero que prepare tudo o que ela gosta para o almoço. E mais, vocês todos vão se sentar conosco à mesa.A governanta arregalou os olhos. Não conseguia acreditar que aquilo era possível.— Nós, senhor?Ele confirmou, firme.— Sim. Hoje é um dia muito especial. Minha filha vem não pela obrigação, mas por livre e espontânea vontade. Temos muito o que comemorar.A notícia se espalhou rapidamente pelos corredores da mans
O aroma dos pratos preparados pairava pelo ar, preenchendo a imensa sala de jantar da mansão Ramires. A mesa estava elegantemente posta, cada detalhe meticulosamente arranjado para receber Carly como uma convidada especial. Joseph, sentado à cabeceira, observava tudo com um brilho nos olhos, satisfeito em ter sua filha ali novamente.Carly adentrou pelo salão em passos cautelosos. Embora sua expressão fosse neutra, por dentro sentia um turbilhão de emoções. Não se lembrava da última vez em que se sentara naquela mesa, cercada por rostos que lhe eram familiares, mas que, ao mesmo tempo, pareciam tão distantes. Os funcionários, eram quase todos os mesmos, já estavam para se aposentar alí. Serina já estava no lugar dela, perfeitamente alinhada e composta, mas sua postura estava rígida. Ela observou Carly se aproximar e forçou um sorriso.— Espero que esteja com fome — Joseph disse, animado.— Um pouco — Carly respondeu, sentando-se no lugar indicado.A governanta e os demais funcionários