02. A captura

Ofegante e assustada, Elena mal conseguiu entender o que estava acontecendo. Ainda no chão, a mulher tenta se levantar, mas é segurada fortemente pelo pescoço.

“Patrocinada exclusivamente por Stuart Álvarez, não é?”, pergunta sarcasticamente o homem de cabelos cor de mel. 

“Você foi bem longe, temos que admitir”, comenta Valentina. “Mas suas fontes, por mais que sejam boas, não são exatamente perfeitas.

Elena ouve a porta se fechando com um leve estrondo. As luzes se acendem.

Não é um cômodo comum. Não é nem mesmo um escritório. Ao invés de lâmpadas convencionais, todo o ambiente está iluminado por uma fraca luz roxa. Ao invés de cadeiras e mesas, há uma enorme cama bem no centro. Nas paredes, há uma espécie de suporte com o que parecem ser correntes.

A jornalista não tem tempo de fazer perguntas ou sequer entender aonde está.

“Faça essa cretina ficar de pé, Evan”, ordena o homem de cabelos escuros.

Evan rudemente a levanta do chão, ainda segurando-a com força pelo pescoço.

“Olhem só para o rostinho dela. Coitadinha.”

A risada que sai da garganta dele, no entanto, não denota nenhuma piedade. O bilionário de olhos claros continua:

“O que devemos fazer com ela, James?”

“Essa é uma excelente pergunta.”

“Por favor, esperem”, implora Elena. “Não façam nada, por favor.”

“Já começaram os suplícios e os pedidos de misericórdia?”, debocha Valentina. “Foi bem mais rápido que a última vez.”

“Última vez?”, murmura Helena.

James se aproxima do rosto da garota e segura com força no queixo dela.

“Acha que é a primeira que tenta entrar aqui? Acha que nós não sabemos exatamente quem passa pela nossa porta?”

“Eu-”

“Apenas para você saber, garota, Stuart Álvarez foi formalmente expulso da nossa corporação há quase um ano. Ele tentou medir poder conosco, e teve sua devida punição.”

Os dedos de Evan se afrouxam quando ele solta o pescoço de Elena, empurrando-a mais uma vez. Trôpega, ela não cai, mas se encolhe ao se virar para os dois homens que a encurralam como um coelho. Ela segura com força a bolsa.

“Vamos fazer isso do jeito fácil. Passe essa porcaria pra cá”, diz o homem de cabelos claros.

“E nem pense em resistir. Não há mais saída pra você.”

Elena, desesperada e sem muitas opções, decide entregar a bolsa contendo o gravador e o celular. Com lágrimas nos olhos, ela tenta negociar:

"Por favor, não façam nada comigo. Eu prometo que não vou divulgar nada sobre vocês, eu juro! Só me deixem ir embora, por favor!"

Valentina e os homens riem de forma debochada, parecendo se divertir com o medo da jornalista.

“Então é isso? A imprensa quer saber de nós?”

“Eu só estou fazendo o meu trabalho. Não tenho nada contra vocês! Eu juro!”

“Talvez você não tenha de fato nada contra nós”, diz James. “Mas no que isso exatamente implica? Que seus superiores querem nos constranger? Que eles querem nos ver ferrados e com nossas devidas imagens manchadas?”

Evan, abrindo a bolsa da mulher e jogando todo o seu conteúdo no chão como se esvaziasse uma bolsa de lixo, prossegue:

“Seus superiores nos querem numa bandeja de prata, mas são covardes demais para ir atrás de nós. Então… O que eles fazem?”

Diante do silêncio amedrontado da garota, o bilionário prossegue:

“Eles mandam a cachorrinha fiel ávida por um lugar ao sol. Deixe-me adivinhar. A vida toda você foi só uma menininha medíocre que cresceu com uma irmã mais velha mais bonita e sexy que você. Então, para compensar, resolveu investir na sua carreira e provar aos outros que é melhor do que ela?”

Elena bufa de frustração, e pelas quase verdades que Evan diz, mas engole em seco e tenta não perder a cabeça. Ao invés disso, ela fala num tom mais firme do que o anterior:

“Se me deixarem sair, se me pouparem, prometo que peço demissão. Digo que não encontrei nada, que nem consegui entrar aqui. E eu sumo! Sumo de verdade! Da vida de vocês e desta cidade. Mas não me façam mal, por favor.”

"Oh, querida, você não entendeu ainda?", diz Valentina, se aproximando de Elena com um olhar ameaçador. "Você já sabe demais, e agora é tarde para voltar atrás. Nós não podemos deixar testemunhas vivas."

Elena sente seu coração afundar ao ouvir aquelas palavras. Ela percebe que não há esperança de escapar daquela situação. Sem alternativas, decide tentar uma última cartada.

"Se vocês me matarem, a polícia vai investigar e encontrar todos vocês! Isso vai ser o fim do seu clube secreto!"

Os dois homens soltam gargalhadas baixas e ameaçadoras. Valentina nem mesmo se abala com a ameaça, erguendo uma das sobrancelhas ao invés disso. Por fim, ela sorri com desdém.

"Acha mesmo que a polícia pode fazer alguma coisa contra nós? Nós temos poder e influência suficiente para que nenhuma investigação vá para frente. Além disso, já tivemos nosso acordo com a polícia em várias ocasiões. Ninguém vai nos deter."

Elena se sente ainda mais acuada. Ela percebe que não há saída e que seu destino está selado. Seu corpo treme de medo e ela sente as lágrimas escorrerem por seu rosto.

"Por favor, eu tenho uma família, pessoas que me amam. Vocês não podem fazer isso comigo", suplica ela, com a voz trêmula.

James e Evan parecem se divertir ainda mais com o desespero da mulher. O homem de cabelos claros se aproxima dela e coloca uma mão em seu rosto.

"Sabe, querida, é uma pena que as coisas tenham acabado assim para você. Mas você entendeu demais, e agora não podemos correr riscos.”

“Não!”

“Resistir é inútil.”

“Por favor, eu imploro!”

“Seu pedido de socorro não nos comove, mulher tola, ainda não percebeu?!”

Elena estava em um pesadelo vivo, encurralada por indivíduos que não tinham escrúpulos. As palavras frias e impiedosas dos sequestradores ecoavam em seus ouvidos, enquanto sua mente trabalhava freneticamente em busca de uma saída.

Ela sentia seu corpo tremer de medo e suas lágrimas continuavam a fluir livremente. No entanto, apesar de todo o terror que estava vivenciando, uma centelha de determinação brilhava em seus olhos.

"Por favor, não faça isso", ela sussurra com voz trêmula. "Há outra maneira. Podemos encontrar um acordo."

Valentina solta uma risada mordaz.

"Um acordo? Você acha que pode negociar conosco? Pare de bancar a idiota."

Num arrombo de força e coragem genuinamente assustadores, a mulher de cabelos castanhos dá um soco com toda a força no rosto do bilionário de olhos azuis.

Ao mesmo tempo, ela corre em direção à porta que, para seu total e completo alívio, não estava trancada.

Trôpega devido à adrenalina e aos saltos altos que ameaçavam se romper em contato com o chão, a jornalista sabe que tem muito a percorrer antes de chegar à saída. O som de seus passos ecoando pelas paredes, juntamente com o ruído da música de fundo, soa como um pesadelo psicodélico.

A garganta de Elena dói enquanto ela respira ofegantemente, e o barulho da música fica um pouco mais alto. Ela sabe que deve parar de correr para não chamar a atenção dos outros, mas em contraponto terá que andar rápido o suficiente para não ser pega.

Ao virar uma esquina, a música está muito mais estridente. Era a hora de parar com a corrida desenfreada e andar tranquilamente, ou o mais tranquilamente que conseguisse, até a saída.

Mas uma dor lancinante a atinge pelo lado esquerdo das costas; uma picada de agulha.

Não, não uma agulha.

Os olhos arregalados de Elena só conseguem notar parcialmente o que a atingiu. E então, tudo fica escuro.

Pois ela havia sido atingida por um dardo tranquilizante.

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