O chefe gordo e bonachão de Elena, o editor-chefe do jornal, pareceu ligeiramente assustado ao ver Elena em sua sala sem o gravador, sem a bolsa e sem nada que pudesse evidenciar os crimes que testemunhara no covil dos Lobos Negros.
"E então?", perguntou ele, impaciente.
Desconfortável, Elena pensou na conveniente desculpa da qual foi instruída por Evan e James.
Ela engoliu em seco, forçando-se a parecer natural, mesmo que seu coração batesse freneticamente em seu peito. Olhou diretamente nos olhos de seu editor-chefe, lutando para manter a compostura.
"Foi uma noite e tanto, senhor Gomes," começou Elena, tentando manter a voz firme. "Mas acho que tenho uma pista a seguir."
Antes que o homem indagasse, ela prosseguiu com sua mentira:
"Os senhores Evan Hawthorne e James Blackwood não têm qualquer envolvimento com a máfia ou recursos ilegais. No entanto, sei de alguém que pode ser de fato perigoso."
Elena sentiu as mãos suando. Ela não sabia quem era aquele que estava prestes a receber um enorme alvo nas costas, nem se de fato era perigoso ou não. Mas ela tinha que mentir, tinha que encobrir seus novos senhores.
"O nome dele é Paul Hoshiro. É responsável pelo investimento da maior parte da indústria farmacêutica do estado. Há fortes indícios de que poderemos encontrar algo suspeito em uma de suas lojas ou empresas."
"Como tem certeza disso? E principalmente, como sabe que Hawthorne e Blackwood são inocentes?"
A mulher respirou fundo, tentando manter a calma. Sabia que precisava ser convincente e que qualquer hesitação poderia arruinar tudo.
"Conversei com algumas fontes confiáveis durante o evento," ela começou, tentando parecer segura. "E também, depois de passar a noite observando seus negócios e como eles conduzem suas operações, não encontrei nada que pudesse incriminá-los diretamente. Eles são bilionários, sim, mas suas operações são bastante transparentes."
O editor-chefe, senhor Gomes, estreitou os olhos, ainda cético.
"É mesmo? Que estranho. E quanto a Paul Hoshiro? O que você descobriu sobre ele exatamente?"
Elena estava preparada para essa pergunta. Ela tinha passado as últimas horas sendo instruída por Evan e James sobre como desviar a atenção.
"Paul Hoshiro," ela repetiu, "é um nome que surgiu várias vezes em conversas durante a noite. Parecia haver uma tensão palpável sempre que seu nome era mencionado. Eu descobri que ele tem laços com vários políticos corruptos e que suas empresas farmacêuticas estão sendo investigadas em silêncio por lavagem de dinheiro e tráfico de drogas."
Gomes levantou uma sobrancelha, claramente intrigado.
"E você tem provas disso?"
"Não ainda," admitiu Elena, tentando parecer honesta. "Mas é uma pista sólida que merece ser investigada. E, considerando a magnitude do que está em jogo, acredito que podemos encontrar algo substancial se seguirmos essa linha."
"Talvez tivéssemos provas." Ele endureceu o maxilar, parecendo um tanto quando desconfiado apesar das palavras cuidadosamente ditas pela jornalista. "Mas você veio de mãos vazias."
O gravador. Era disso que Gomes estava falando.
Elena sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Ela sabia que essa era a parte mais delicada da mentira, e precisaria ser convincente. Respirou fundo antes de continuar, escolhendo suas palavras com cuidado.
"Senhor Gomes, entendo sua preocupação," disse ela, mantendo o tom calmo e controlado. "Eu não trouxe o gravador porque a situação ficou complicada. No meio do evento, percebi que estava sendo observada e não queria correr o risco de comprometer a investigação."
Gomes franziu a testa, ainda mais cético.
"E você acha que isso é uma desculpa válida? Estamos falando de bilionários poderosos, Elena. Não podemos nos dar ao luxo de cometer erros."
"Eu sei," ela respondeu rapidamente. "Mas acredito que, ao manter um perfil mais discreto, consegui ganhar a confiança de algumas fontes que, de outra forma, não teriam se aberto para mim. O que eu ouvi foi extremamente valioso e vai nos permitir focar nossas investigações no Paul Hoshiro."
O editor-chefe olhou para ela por um longo momento, ponderando suas palavras. Finalmente, ele soltou um suspiro pesado e esfregou a têmpora com os dedos.
"Então nossos alvos principais são inocentes. Não posso dizer que gosto de saber disso. Afinal seria uma excelente primeira página. Seríamos os número um da semana. Ou até mesmo do mês."
"Mas agora estamos na mira de alguém potencialmente perigoso, e o escândalo pode ser igualmente benéfico para nós".
Ao falar aquilo no entanto, a moça sentiu um gosto amargo na boca. Vender mentiras para um jornal era terrível, mas enganar o povo que acreditaria naquelas notícias lhe parecia verdadeiramente insuportável.
"Está certa. Então faremos o seguinte-"
Antes que o homem pudesse passar as próximas informações, uma batida na porta os interrompeu.
A batida na porta ecoou pela sala, interrompendo o que Gomes estava prestes a dizer. Ele franziu a testa, claramente irritado pela interrupção, e gritou um "Entre!" que ressoou com impaciência.
A porta se abriu lentamente, revelando a figura nervosa de Carla, uma das estagiárias do jornal. Seu rosto estava pálido e havia um brilho de ansiedade em seus olhos. Ela entrou, hesitante, segurando um pedaço de papel nas mãos trêmulas.
"Desculpe interromper, senhor Gomes," começou Carla, a voz vacilante. "Mas acho que você precisa ver isso imediatamente."
Gomes bufou, mas fez um gesto para que ela se aproximasse. Carla estendeu o papel, que Gomes pegou com um movimento brusco. Seus olhos percorreram o texto rapidamente, e à medida que lia, sua expressão mudava de irritação para preocupação, e depois para uma espécie de horror contido.
Ele levantou os olhos do papel e fixou o olhar em Elena, sua expressão agora mortalmente séria.
"Elena, precisamos de uma sala de conferências agora," disse ele, a voz tensa. "Há algo que você precisa ver."
Elena sentiu um frio na barriga, mas manteve a compostura. Ela seguiu Gomes e Carla até uma pequena sala de conferências adjacente, onde Carla rapidamente ligou um projetor. Em questão de segundos, uma série de imagens e vídeos começaram a ser exibidos na tela.
As imagens mostravam Paul Hoshiro em várias situações comprometedoras: reuniões clandestinas com figuras conhecidas da máfia, transferências suspeitas de grandes somas de dinheiro, e documentos que indicavam um complexo esquema de lavagem de dinheiro e tráfico de drogas. As evidências eram contundentes e incriminadoras.
"Isso... isso é real?" Elena perguntou, a voz trêmula. Ela não esperava que a mentira que contara sobre Hoshiro pudesse ser corroborada por provas tão incriminadoras.
"Sim," respondeu Gomes, seus olhos ainda fixos na tela. "Recebemos essas informações anonimamente esta manhã. Alguém nos enviou um pacote com tudo isso. Parece que temos uma história explosiva em nossas mãos, e ela precisa ser tratada com extremo cuidado."
Elena sentiu um nó se formar em seu estômago. Ela havia sido manipulada pelos Lobos Negros, e agora sua mentira estava prestes a se tornar uma verdade perigosa. Se essas provas fossem divulgadas, Hoshiro seria arruinado, e quem quer que tivesse enviado aquelas informações sabia exatamente o que estava fazendo.
"Elena, você vai liderar essa investigação," disse Gomes, a voz firme. "Quero que você se aprofunde nisso e traga mais informações. Precisamos confirmar tudo antes de publicar. Se isso for verdade, estaremos prestes a revelar um dos maiores escândalos do ano."
Ela assentiu, sentindo a pressão aumentar. A verdade estava se tornando mais complexa do que jamais poderia imaginar, e agora ela estava no centro de uma tempestade perigosa.
Enquanto saía da sala de conferências, seu telefone vibrou novamente. Era outra mensagem dos Lobos Negros:
"Excelente trabalho, pequena mascote. Continue assim, e tudo ficará bem. — E & J."
Encolhida contra à parede, vestindo o que poderiam ser as roupas de uma prosituta, Elena abraçou com força os joelhos enquanto os Lobos Negros a observavam."Essa não parece a expressão de alguém que está prestes a ser recompensada", comentou em tom irônico o de cabelos negros.Evan completou:"Não mesmo. Parece que está prestes a ir para a forca."Emudecida, a mulher apenas abraçou com mais força as próprias pernas. Ela se recusava a olhar diretamente para eles."O que há de errado? Nós lhe demos a informação falsa, comprovamos que nosso bode expiatório era perigoso e agora as pessoas sabem de toda a verdade.""De toda a verdade?", debochou Elena. "Ou a verdade que vocês plantaram?""E isso importa, querida?", retrucou James. "Você teve aquilo o que merecia. Seu reconhecimento dentro da empresa."Ela chegou a respirar antes de replicar o Lobo, mas foi interrompida com um severo olhar de ambos; o olhar de quem a puniria se pasasse demais dos limites.Elena desistiu de tentar discutir.
A voz familiar fez o coração de Elena pular uma batida. Ela virou-se lentamente, tentando esconder o pânico em seus olhos."Elena, é você?" A irmã se aproximava, a preocupação estampada em seu rosto."Oi, Clara," respondeu Elena, sua voz tremendo levemente. "O que você está fazendo aqui?""Cheguei na cidade hoje," respondeu Clara, seus olhos rapidamente analisando o estado de Elena. "Você está bem? Parece... diferente.""Estou bem."Mas o rubor nas bochechas de Elena denunciava que não, ela não estava exatamente bem.Mordendo o lábio para conter as emoções e sensações avassaladoras que tomavam conta de seu corpo, a mascote dos Lobos perguntou à irmã:"Aconteceu alguma coisa? Pensei que nunca mais voltaria a morar aqui."A fisionomia de Clara mudou de apreensão para algo bem mais triste, mas ela sutilmente tentou disfarçar."Bom, sobre isso...""O quê?"Parecendo um tanto quanto constrangida, Clara começou a brincar com as madeixas de seus longos cabelos castanhos-escuros."Será que po
O coração de Elena disparou. O pânico que ela tentava esconder agora estava à vista de todos."James," ela conseguiu dizer, tentando manter a voz firme.Clara olhou para o homem com desconfiança, seus olhos se estreitando."Quem é ele, Elena?"James sorriu, mas seus olhos permaneciam frios."Um amigo. Estava passando por aqui e vi você. Pensei em dar um oi."Os olhos claros do homem, no entanto, estavam frios como gelo. A mascote dos Lobos podia ver detalhadamente cada pensamento obscuro que se passava em sua mente. Punida. Elena seria punida por ter tentado traí-los. A ideia de ser torturada novamente a atingiu em cheio, deixando-na tão apavorada que era impossível disfarçar."Amigo?" Clara perguntou, sua voz cheia de dúvida.Elena sabia que não tinha como sair dessa facilmente."Sim, Clara, ele é... um amigo."James olhou para Clara, a análise e o leve deboche evidente em seus olhos."E você deve ser a irmã dela. Clara, certo? Elena fala muito de você."A mulher de longas madeixas
Em casa, enquanto arrumava as próprias malas, Elena tentou não tremer diante da presença de Evan. James havia se encarregado pessoalmente de explicar ao chefe da moça o porque ela se ausentaria.Ela não sabia os detalhes, muito menos se James iria mesmo até o escritório da revista local, mas resolveu não fazer perguntas. Quanto menos impertinente fosse, mais chances tinha de aproveitar aquela brecha de gentileza inesperada da dupla implacável de Lobos."Mascote." A voz de Evan soou no ambiente.Elena o olhou de soslaio enquanto continuava a arrumar as próprias roupas. O homem de cabelos escuros estava sentado no pufe preto ao lado da cama, bebericando o chá que ele havia ordenado que a jornalista fizesse assim que chegaram no apartamento."Sim?"Evan cruzou as pernas, observando-a com um olhar calculista e penetrante."Você entende a seriedade da situação, não entende? James está fazendo um grande favor a você."Elena engoliu em seco e assentiu."Eu entendo. Agradeço a ambos por isso.
O coração de Elena parou por um instante, e seu estômago revirou. Ela olhou para Evan, esperando que ele estivesse brincando, mas o olhar impassível e frio no rosto dele deixava claro que não havia espaço para dúvidas ou questionamentos. Cada fibra do seu ser gritava para que ela se rebelasse, para que lutasse contra aquela humilhação, mas sabia que não havia saída. Não naquela situação.Com mãos trêmulas, ela começou a desabotoar a camisa, os olhos fixos no chão. A tensão no ambiente era palpável, e a respiração dela parecia ecoar em seus próprios ouvidos.Evan permaneceu em silêncio, observando-a como um predador prestes a atacar. Cada movimento dela era analisado com precisão cirúrgica, cada hesitação anotada mentalmente.Elena tirou a camisa e começou a desabotoar as calças, sentindo-se despida de qualquer dignidade, não apenas fisicamente, mas emocionalmente também. Era como se estivesse despindo todas as suas defesas, todas as suas resistências, e se entregando completamente ao
Silverbook era uma cidade linda.Bem diferente da que havia deixado para trás, pensou Elena, dentro do luxuoso carro de Evan. Era ele que ficaria de olho na mulher enquanto a mesma ficasse hospedada na casa de Clara.As ruas de Silverbook eram adornadas com árvores frondosas e flores coloridas que contrastavam vivamente com os edifícios de arquitetura antiga, mas bem conservada. O sol da manhã iluminava a cidade de uma maneira que parecia tirada de um cartão postal, e por um breve momento, Elena conseguiu esquecer a tensão e o medo que a acompanhavam desde sua última... conversa com Evan.O carro parou suavemente em frente a uma casa elegante e imponente, cercada por um jardim bem cuidado."Você não mencionou que sua irmã morava numa casa tão bela", comentou o Lobo, a primeira frase que havia dito durante a viagem inteira."Eu não sabia. Mas provavelmente conseguiu porque algum homem rico bancou ela", respondeu a mulher, olhando para ele. "E porque você não deixou que ela mesmo me tro
Ela olhou em volta, mas a praça estava deserta, apenas a brisa noturna balançando as folhas das árvores. Talvez fosse só paranoia, ou talvez realmente estivesse sendo vigiada. De qualquer forma, não podia se dar ao luxo de hesitar.Elena entrou no hotel e foi recebida por um recepcionista simpático que prontamente fez o check-in. Após pegar a chave do quarto, subiu pelo elevador antigo, que rangeu ao subir, até o terceiro andar. O quarto era pequeno, mas confortável, com uma janela que dava vista para a rua principal.Ela jogou a bolsa na poltrona e se jogou na cama, encarando o teto. As últimas horas haviam sido uma montanha-russa emocional, e agora ela precisava de um plano. Evan havia prometido cuidar das despesas do tratamento de sua mãe, mas o preço era alto demais.Pensou no documento que ele mencionara. Silverbook era uma cidade pequena, e isso significava que havia poucos lugares onde algo tão importante pudesse estar guardado. Suspeitava que precisaria se infiltrar em alguma
Uma semana havia se passado desde aquela noite. Silverbook seguia seu ritmo lento, mas para Elena, os dias tinham sido uma mistura de ansiedade e tensão. Ela havia visitado sua mãe diariamente no hospital, onde o tratamento finalmente estava em andamento. A cada visita, via a melhora gradual de sua mãe, mas também sentia o peso crescente do que havia feito para chegar até ali.Ela e Clara não se falaram mais desde então. Não que Elena realmente quisesse se reaproximar da irmã. Ela havia sido totalmente descortês e rude ao jogar toda a responsabilidade financeira em cima da jornalista, ainda mais ao dizer coisas tão vis como aquela.Batidas se fizeram ouvir na porta do quarto do hotel. Bufando, Elena respondeu que não queria serviço de quarto, mas houve insistência de quem quer que fosse."Já disse que não quero serviço de quarto", reclamou Elena novamente.A porta se abriu mesmo assim.Um belo homem de cabelos claros e olhos azuis adentrou o cômodo, vestindo roupas sociais sofitiscada