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05. Desviando a atenção

O chefe gordo e bonachão de Elena, o editor-chefe do jornal, pareceu ligeiramente assustado ao ver Elena em sua sala sem o gravador, sem a bolsa e sem nada que pudesse evidenciar os crimes que testemunhara no covil dos Lobos Negros.

"E então?", perguntou ele, impaciente.

Desconfortável, Elena pensou na conveniente desculpa da qual foi instruída por Evan e James.

Ela engoliu em seco, forçando-se a parecer natural, mesmo que seu coração batesse freneticamente em seu peito. Olhou diretamente nos olhos de seu editor-chefe, lutando para manter a compostura.

"Foi uma noite e tanto, senhor Gomes," começou Elena, tentando manter a voz firme. "Mas acho que tenho uma pista a seguir."

Antes que o homem indagasse, ela prosseguiu com sua mentira:

"Os senhores Evan Hawthorne e James Blackwood não têm qualquer envolvimento com a máfia ou recursos ilegais. No entanto, sei de alguém que pode ser de fato perigoso."

Elena sentiu as mãos suando. Ela não sabia quem era aquele que estava prestes a receber um enorme alvo nas costas, nem se de fato era perigoso ou não. Mas ela tinha que mentir, tinha que encobrir seus novos senhores.

"O nome dele é Paul Hoshiro. É responsável pelo investimento da maior parte da indústria farmacêutica do estado. Há fortes indícios de que poderemos encontrar algo suspeito em uma de suas lojas ou empresas."

"Como tem certeza disso? E principalmente, como sabe que Hawthorne e Blackwood são inocentes?"

A mulher respirou fundo, tentando manter a calma. Sabia que precisava ser convincente e que qualquer hesitação poderia arruinar tudo.

"Conversei com algumas fontes confiáveis durante o evento," ela começou, tentando parecer segura. "E também, depois de passar a noite observando seus negócios e como eles conduzem suas operações, não encontrei nada que pudesse incriminá-los diretamente. Eles são bilionários, sim, mas suas operações são bastante transparentes."

O editor-chefe, senhor Gomes, estreitou os olhos, ainda cético.

"É mesmo? Que estranho. E quanto a Paul Hoshiro? O que você descobriu sobre ele exatamente?"

Elena estava preparada para essa pergunta. Ela tinha passado as últimas horas sendo instruída por Evan e James sobre como desviar a atenção.

"Paul Hoshiro," ela repetiu, "é um nome que surgiu várias vezes em conversas durante a noite. Parecia haver uma tensão palpável sempre que seu nome era mencionado. Eu descobri que ele tem laços com vários políticos corruptos e que suas empresas farmacêuticas estão sendo investigadas em silêncio por lavagem de dinheiro e tráfico de drogas."

Gomes levantou uma sobrancelha, claramente intrigado.

"E você tem provas disso?"

"Não ainda," admitiu Elena, tentando parecer honesta. "Mas é uma pista sólida que merece ser investigada. E, considerando a magnitude do que está em jogo, acredito que podemos encontrar algo substancial se seguirmos essa linha."

"Talvez tivéssemos provas." Ele endureceu o maxilar, parecendo um tanto quando desconfiado apesar das palavras cuidadosamente ditas pela jornalista. "Mas você veio de mãos vazias."

O gravador. Era disso que Gomes estava falando.

Elena sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Ela sabia que essa era a parte mais delicada da mentira, e precisaria ser convincente. Respirou fundo antes de continuar, escolhendo suas palavras com cuidado.

"Senhor Gomes, entendo sua preocupação," disse ela, mantendo o tom calmo e controlado. "Eu não trouxe o gravador porque a situação ficou complicada. No meio do evento, percebi que estava sendo observada e não queria correr o risco de comprometer a investigação."

Gomes franziu a testa, ainda mais cético.

"E você acha que isso é uma desculpa válida? Estamos falando de bilionários poderosos, Elena. Não podemos nos dar ao luxo de cometer erros."

"Eu sei," ela respondeu rapidamente. "Mas acredito que, ao manter um perfil mais discreto, consegui ganhar a confiança de algumas fontes que, de outra forma, não teriam se aberto para mim. O que eu ouvi foi extremamente valioso e vai nos permitir focar nossas investigações no Paul Hoshiro."

O editor-chefe olhou para ela por um longo momento, ponderando suas palavras. Finalmente, ele soltou um suspiro pesado e esfregou a têmpora com os dedos.

"Então nossos alvos principais são inocentes. Não posso dizer que gosto de saber disso. Afinal seria uma excelente primeira página. Seríamos os número um da semana. Ou até mesmo do mês."

"Mas agora estamos na mira de alguém potencialmente perigoso, e o escândalo pode ser igualmente benéfico para nós".

Ao falar aquilo no entanto, a moça sentiu um gosto amargo na boca. Vender mentiras para um jornal era terrível, mas enganar o povo que acreditaria naquelas notícias lhe parecia verdadeiramente insuportável.

"Está certa. Então faremos o seguinte-"

Antes que o homem pudesse passar as próximas informações, uma batida na porta os interrompeu.

A batida na porta ecoou pela sala, interrompendo o que Gomes estava prestes a dizer. Ele franziu a testa, claramente irritado pela interrupção, e gritou um "Entre!" que ressoou com impaciência.

A porta se abriu lentamente, revelando a figura nervosa de Carla, uma das estagiárias do jornal. Seu rosto estava pálido e havia um brilho de ansiedade em seus olhos. Ela entrou, hesitante, segurando um pedaço de papel nas mãos trêmulas.

"Desculpe interromper, senhor Gomes," começou Carla, a voz vacilante. "Mas acho que você precisa ver isso imediatamente."

Gomes bufou, mas fez um gesto para que ela se aproximasse. Carla estendeu o papel, que Gomes pegou com um movimento brusco. Seus olhos percorreram o texto rapidamente, e à medida que lia, sua expressão mudava de irritação para preocupação, e depois para uma espécie de horror contido.

Ele levantou os olhos do papel e fixou o olhar em Elena, sua expressão agora mortalmente séria.

"Elena, precisamos de uma sala de conferências agora," disse ele, a voz tensa. "Há algo que você precisa ver."

Elena sentiu um frio na barriga, mas manteve a compostura. Ela seguiu Gomes e Carla até uma pequena sala de conferências adjacente, onde Carla rapidamente ligou um projetor. Em questão de segundos, uma série de imagens e vídeos começaram a ser exibidos na tela.

As imagens mostravam Paul Hoshiro em várias situações comprometedoras: reuniões clandestinas com figuras conhecidas da máfia, transferências suspeitas de grandes somas de dinheiro, e documentos que indicavam um complexo esquema de lavagem de dinheiro e tráfico de drogas. As evidências eram contundentes e incriminadoras.

"Isso... isso é real?" Elena perguntou, a voz trêmula. Ela não esperava que a mentira que contara sobre Hoshiro pudesse ser corroborada por provas tão incriminadoras.

"Sim," respondeu Gomes, seus olhos ainda fixos na tela. "Recebemos essas informações anonimamente esta manhã. Alguém nos enviou um pacote com tudo isso. Parece que temos uma história explosiva em nossas mãos, e ela precisa ser tratada com extremo cuidado."

Elena sentiu um nó se formar em seu estômago. Ela havia sido manipulada pelos Lobos Negros, e agora sua mentira estava prestes a se tornar uma verdade perigosa. Se essas provas fossem divulgadas, Hoshiro seria arruinado, e quem quer que tivesse enviado aquelas informações sabia exatamente o que estava fazendo.

"Elena, você vai liderar essa investigação," disse Gomes, a voz firme. "Quero que você se aprofunde nisso e traga mais informações. Precisamos confirmar tudo antes de publicar. Se isso for verdade, estaremos prestes a revelar um dos maiores escândalos do ano."

Ela assentiu, sentindo a pressão aumentar. A verdade estava se tornando mais complexa do que jamais poderia imaginar, e agora ela estava no centro de uma tempestade perigosa.

Enquanto saía da sala de conferências, seu telefone vibrou novamente. Era outra mensagem dos Lobos Negros:

"Excelente trabalho, pequena mascote. Continue assim, e tudo ficará bem. — E & J."

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