A música ao redor é inebriante.
Luzes coloridas dançam no teto e no chão, espalhando-se pelas paredes e pelos corpos dançantes das pessoas presentes. Homens e mulheres, trajados de forma luxuosa e voluptuosa, enchem o ambiente.
Elena, fazendo o melhor que pode para passar despercebida, não consegue evitar encarar minuciosamente cada detalhe do lugar.
Naquele mesmo dia, ela tinha sido incumbida de cobrir o que poderia ser o maior furo de reportagem de sua vida; a notícia que mudaria radicalmente sua carreira e finalmente a deixaria sob os tão sonhados holofotes do jornalismo.
Os sapatos de salto alto apertavam seus pés; as jóias no pescoço e os brincos desnecessariamente ostensivos incomodavam terrivelmente a pele sensível de suas orelhas, mas ela não tinha mais nada a perder.
Seu triunfo estava inegavelmente próximo.
Ainda andando a passos lentos, contemplando a visão esplêndida que aquele lugar lhe mostrava, Elena notou que muitos dos corredores estavam escuros. Prestando mais atenção, alguns deles levavam a quartos; cômodos estritamente sigilosos.
Ela tentou, mas não conseguiu deter o sorriso que se desenhava em seu rosto.
Afinal, ela estava no covil dos lobos. Algumas fotos, gravações em áudio e vídeos fariam aquele paraíso secreto ruir - e é claro, trazer o sucesso que ela tanto almejava.
Ela estava tão distraída que não percebeu quando uma mulher alta, loira, de olhos esplendorosamente verdes e lábios carnudos pintados de carmim parou bem na sua frente.
“Ei, você.”
Elena encarou a moça da melhor maneira que conseguiu, engolindo em seco.
“Sim? Posso ajudar?”
“Nunca vi você por aqui.” A loura j**a o cabelo para o lado e ergueu uma sobrancelha. “Nova no clube?”
“Sim”, Elena responde baixinho.
“Eu amei seu cabelo.”
O elogio pega a jornalista completamente de surpresa.
“É mesmo?”
“Evidente. É de uma cor castanha tão bonita…”
A mulher dá um passo à frente e cochicha no ouvido de Elena:
“A propósito, meu nome é Valentina.”
"Obrigada, Valentina. Meu nome é Elena."
Valentina inclinou levemente a cabeça, como se estivesse analisando Elena mais profundamente.
"Elena... um nome interessante. Bem, seja bem-vinda ao nosso clube seleto. Tenho certeza de que você encontrará muitas coisas fascinantes aqui."
Elena concordou, mantendo-se cuidadosamente discreta sobre sua real motivação para estar ali.
"Sim, parece ser um lugar bastante… exclusivo."
Valentina sorriu de maneira enigmática e, a passos cadenciados, começou a rodear a mulher até segurar suavemente em seus ombros. Um arrepio passou pelos braços da jornalista.
"Nossos membros têm gostos muito particulares, você sabe. Eles apreciam as coisas boas da vida e valorizam a privacidade."
Elena assentiu, tentando parecer o mais convincente possível.
"Entendo. E, você é uma das organizadoras do evento?"
Valentina riu, um som suave e hipnotizante.
"Digamos que tenho minha influência aqui dentro."
“Entendo.”
“Elena, me diga, apenas para satisfazer minha curiosidade… Você disse que é a sua primeira vez aqui, não é? Quem é seu patrocinador?”
O coração de Elena acelerou dentro do peito.
Como assim, patrocinador? Ali dentro também aconteciam negócios? Não era apenas uma festa com gostos muito peculiares e atividades extravagantes?
Antes que ela pudesse usar seu álibi e o convite falso que estava dentro de sua bolsa, um homem de belos olhos azuis e cabelos lisos cor de mel na altura dos ombros interrompeu a conversa das duas.
"Está tudo bem por aqui?"
Valentina respondeu com calma:
"Está tudo bem, querido. Apenas estou conhecendo nossa nova convidada."
O homem olhou para Elena de cima a baixo.
“Espero que Valentina não esteja incomodando”, ele comenta e pisca um dos olhos, sedutor.
A jornalista apenas sorri e faz um pequeno sinal negativo com a cabeça. A loura ri e completa:
“Ela ainda está tímida. Precisamos fazê-la perder essa vergonha.”
Simultaneamente, um outro homem surge. Ao contrário do primeiro, esse é bem mais sério e não parece desperdiçar sorrisos à toa. Seus olhos e cabelos são escuros, o nariz levemente adunco e as sobrancelhas grossas. Seu queixo se ergue quase imperceptivelmente quando encara Elena.
“Um novo membro?”
“Sim”, responde Valentina.
“Quem é seu patrocinador?”
Mais uma vez, aquela pergunta m*****a. Tentando ao máximo parecer confiante, Elena começa a revirar todos os nomes dos bilionários mais influentes dos últimos meses; quem encabeçava a lista dos mais ricos e populares.
“Stuart Álvarez”, ela diz, suavemente e evitando contato visual. Suas mãos estavam frias por causa do suor.
“Álvarez?”, pergunta o homem de cabelos negros. “Inacreditável.”
“Deve ser a terceira deste mês”, comenta o de cabelos castanhos.
“Um sedutor é um sedutor”, completa Valentina. “Ele tem exclusividade sobre você? Ou é um contrato semiaberto?”
Elena não estava entendendo uma única palavra do que estava sendo dito, mas resolveu improvisar da melhor maneira que podia.
"Sim, Stuart Álvarez me patrocina exclusivamente", respondeu Elena, lutando para manter uma expressão confiante.
Os dois homens trocaram olhares significativos, enquanto Valentina parecia intrigada com a resposta.
Tensa, a mulher esperou pacientemente pelas próximas palavras das pessoas à sua frente, embora por dentro quisesse sair correndo e abortar a missão.
"Interessante", disse o homem de cabelos negros, inclinando a cabeça levemente para o lado. "Parece que temos uma convidada especial esta noite."
Elena tentou disfarçar a confusão, embora sua mente estivesse a mil. Será que aquilo seria o suficiente para que a deixassem em paz? Ou os olhos dois dois bilionários e sua fiel escudeira iriam acompanhá-la pelo resto da noite?
"Venha, vamos te mostrar um pouco mais do nosso clube", disse o homem de cabelos castanhos, oferecendo o braço para Elena. "Tenho certeza de que você ficará encantada com o que temos a oferecer."
Se Elena pudesse, comemoraria com um soquinho no ar. O gravador dentro da bolsa já tinha detectado bastante coisa; o que será que ela descobriria mais à frente?
Logo, os quatro caminhavam pelos corredores sinuosos e escuros. Quanto mais eles andavam, mais Elena tinha a impressão de que estavam bem longe da área principal. O som da música foi ficando cada vez mais distante, até se transformar num simples ruído de fundo.
Ao chegarem numa porta vermelha com os dizeres “Entrada Restrita”, Valentina deu um passo à frente e a abriu, revelando um quarto escuro.
Antes que Elena pudesse falar qualquer coisa, ela se viu sendo atirada ao chão duro do cômodo, caindo com força.
Ofegante e assustada, Elena mal conseguiu entender o que estava acontecendo. Ainda no chão, a mulher tenta se levantar, mas é segurada fortemente pelo pescoço.“Patrocinada exclusivamente por Stuart Álvarez, não é?”, pergunta sarcasticamente o homem de cabelos cor de mel. “Você foi bem longe, temos que admitir”, comenta Valentina. “Mas suas fontes, por mais que sejam boas, não são exatamente perfeitas.Elena ouve a porta se fechando com um leve estrondo. As luzes se acendem.Não é um cômodo comum. Não é nem mesmo um escritório. Ao invés de lâmpadas convencionais, todo o ambiente está iluminado por uma fraca luz roxa. Ao invés de cadeiras e mesas, há uma enorme cama bem no centro. Nas paredes, há uma espécie de suporte com o que parecem ser correntes.A jornalista não tem tempo de fazer perguntas ou sequer entender aonde está.“Faça essa cretina ficar de pé, Evan”, ordena o homem de cabelos escuros.Evan rudemente a levanta do chão, ainda segurando-a com força pelo pescoço.“Olhem só
Com a visão turva e o corpo enfraquecido, Elena luta para se mexer, mas não consegue.Seus sentidos parecem distantes, e suas pernas se recusam a obedecer aos comandos de seu cérebro. O som alto da música ecoa em seus ouvidos, misturando-se com as risadas zombeteiras dos dois homens sádicos que a observam."Não…", ela balbucia, tentando desesperadamente resistir à sedação que toma conta de seu corpo.James e Evan se aproximam dela novamente, com sorrisos satisfeitos estampados em seus rostos. Valentina se junta a eles com uma pequena arma nas mãos, observando a cena com prazer. A jornalista lutava para manter os olhos abertos e focados, mas seu corpo estava cedendo rapidamente à ação do tranquilizante.O chão frio em contato com a sua pele não é nada se comparado ao gelo do tom de voz do homem de cabelos escuros."É uma pena que você tenha decidido fazer isso da maneira mais difícil", diz James, observando a mulher estatelada. "Mas, de qualquer forma, você já sabia que não sairia daqu
As mãos de Elena tremiam violentamente, fazendo a corrente que forçava seus braços para trás tilintar de forma irritante. James sorri.“Que bom que entendeu como as coisas funcionam, garota.”Ela tenta não cuspir na cara do bilionário, franzindo os lábios antes de encará-los mais uma vez."O que vocês querem que eu faça?", Elena pergunta, tentando controlar o tremor em sua voz.James se aproxima dela, e Evan guarda o canivete. A tensão no ambiente é palpável.Os dois homens olham mais uma vez um para o outro, como se estivessem conversando mentalmente. Finalmente, vem a conclusão. Eles seriam diretos em sua proposta.A resposta de James vem em um tom grave e calculado:"Nós temos inimigos, pessoas que querem nos derrubar. Nós precisamos de alguém como você, com suas habilidades jornalísticas e sua determinação, para nos ajudar a nos proteger e a garantir que nossos segredos permaneçam enterrados."“Então querem que eu seja uma espiã?”O homem de cabelo louro como mel esclarece:“Espiõ
O chefe gordo e bonachão de Elena, o editor-chefe do jornal, pareceu ligeiramente assustado ao ver Elena em sua sala sem o gravador, sem a bolsa e sem nada que pudesse evidenciar os crimes que testemunhara no covil dos Lobos Negros."E então?", perguntou ele, impaciente.Desconfortável, Elena pensou na conveniente desculpa da qual foi instruída por Evan e James.Ela engoliu em seco, forçando-se a parecer natural, mesmo que seu coração batesse freneticamente em seu peito. Olhou diretamente nos olhos de seu editor-chefe, lutando para manter a compostura."Foi uma noite e tanto, senhor Gomes," começou Elena, tentando manter a voz firme. "Mas acho que tenho uma pista a seguir."Antes que o homem indagasse, ela prosseguiu com sua mentira:"Os senhores Evan Hawthorne e James Blackwood não têm qualquer envolvimento com a máfia ou recursos ilegais. No entanto, sei de alguém que pode ser de fato perigoso."Elena sentiu as mãos suando. Ela não sabia quem era aquele que estava prestes a receber
Encolhida contra à parede, vestindo o que poderiam ser as roupas de uma prosituta, Elena abraçou com força os joelhos enquanto os Lobos Negros a observavam."Essa não parece a expressão de alguém que está prestes a ser recompensada", comentou em tom irônico o de cabelos negros.Evan completou:"Não mesmo. Parece que está prestes a ir para a forca."Emudecida, a mulher apenas abraçou com mais força as próprias pernas. Ela se recusava a olhar diretamente para eles."O que há de errado? Nós lhe demos a informação falsa, comprovamos que nosso bode expiatório era perigoso e agora as pessoas sabem de toda a verdade.""De toda a verdade?", debochou Elena. "Ou a verdade que vocês plantaram?""E isso importa, querida?", retrucou James. "Você teve aquilo o que merecia. Seu reconhecimento dentro da empresa."Ela chegou a respirar antes de replicar o Lobo, mas foi interrompida com um severo olhar de ambos; o olhar de quem a puniria se pasasse demais dos limites.Elena desistiu de tentar discutir.
A voz familiar fez o coração de Elena pular uma batida. Ela virou-se lentamente, tentando esconder o pânico em seus olhos."Elena, é você?" A irmã se aproximava, a preocupação estampada em seu rosto."Oi, Clara," respondeu Elena, sua voz tremendo levemente. "O que você está fazendo aqui?""Cheguei na cidade hoje," respondeu Clara, seus olhos rapidamente analisando o estado de Elena. "Você está bem? Parece... diferente.""Estou bem."Mas o rubor nas bochechas de Elena denunciava que não, ela não estava exatamente bem.Mordendo o lábio para conter as emoções e sensações avassaladoras que tomavam conta de seu corpo, a mascote dos Lobos perguntou à irmã:"Aconteceu alguma coisa? Pensei que nunca mais voltaria a morar aqui."A fisionomia de Clara mudou de apreensão para algo bem mais triste, mas ela sutilmente tentou disfarçar."Bom, sobre isso...""O quê?"Parecendo um tanto quanto constrangida, Clara começou a brincar com as madeixas de seus longos cabelos castanhos-escuros."Será que po
O coração de Elena disparou. O pânico que ela tentava esconder agora estava à vista de todos."James," ela conseguiu dizer, tentando manter a voz firme.Clara olhou para o homem com desconfiança, seus olhos se estreitando."Quem é ele, Elena?"James sorriu, mas seus olhos permaneciam frios."Um amigo. Estava passando por aqui e vi você. Pensei em dar um oi."Os olhos claros do homem, no entanto, estavam frios como gelo. A mascote dos Lobos podia ver detalhadamente cada pensamento obscuro que se passava em sua mente. Punida. Elena seria punida por ter tentado traí-los. A ideia de ser torturada novamente a atingiu em cheio, deixando-na tão apavorada que era impossível disfarçar."Amigo?" Clara perguntou, sua voz cheia de dúvida.Elena sabia que não tinha como sair dessa facilmente."Sim, Clara, ele é... um amigo."James olhou para Clara, a análise e o leve deboche evidente em seus olhos."E você deve ser a irmã dela. Clara, certo? Elena fala muito de você."A mulher de longas madeixas
Em casa, enquanto arrumava as próprias malas, Elena tentou não tremer diante da presença de Evan. James havia se encarregado pessoalmente de explicar ao chefe da moça o porque ela se ausentaria.Ela não sabia os detalhes, muito menos se James iria mesmo até o escritório da revista local, mas resolveu não fazer perguntas. Quanto menos impertinente fosse, mais chances tinha de aproveitar aquela brecha de gentileza inesperada da dupla implacável de Lobos."Mascote." A voz de Evan soou no ambiente.Elena o olhou de soslaio enquanto continuava a arrumar as próprias roupas. O homem de cabelos escuros estava sentado no pufe preto ao lado da cama, bebericando o chá que ele havia ordenado que a jornalista fizesse assim que chegaram no apartamento."Sim?"Evan cruzou as pernas, observando-a com um olhar calculista e penetrante."Você entende a seriedade da situação, não entende? James está fazendo um grande favor a você."Elena engoliu em seco e assentiu."Eu entendo. Agradeço a ambos por isso.