Capítulo 02

Caleb

— Pode entrar — avisei, na segunda batida.

— Bom dia, querido — Jenny falou, assim que terminou de abrir a porta e adentrou minha sala. — Como você está? — perguntou com sorriso largo no rosto.

— Bom dia! — Fiz uma pausa, joguei os papéis em cima da minha mesa e afrouxei a minha gravata. — Tudo bem. Como está?

— Estou bem e tenho novidades. — disse, se sentando em uma das cadeiras em frente à minha mesa.

— Me diga que conseguiu meu novo gerente, por favor! — implorei.

— Sim. 

Soltei o ar, que estava preso em meus pulmões, quando ouvi a palavra “SIM”.

— Jenny, você é maravilhosa! — disse sorrindo. — Só não me caso com você…

— Porque me considera uma mãe. — afirmou e rimos.

— Quando ele começa? — Me encostei na cadeira, esperando por mais notícias.

— Ele consegue vir na próxima semana.

— Isso era tudo o que precisava ouvir. — Massageei minhas têmporas. — Ele está ciente de que terá que viajar para Toronto algumas vezes?

— Sim, Roger está ciente de tudo isso — afirmou.

— Eles já têm lugar para ficar?

— Sim, serão nossos vizinhos.

— Perfeito, Jenny. — Me aproximei novamente dos papéis que estavam me dando dor de cabeça. — Não vejo a hora de alguém me ajudar com essas coisas.

— Até lhe ajudaria, mas preciso finalizar o contrato com a minha nova sócia. — O sorriso apareceu novamente em seu rosto.

— Sócia? — Arqueei uma das minhas sobrancelhas, pois ela não tinha me dito nada.

— Sim, Melissa é esposa do Roger e será minha nova sócia, não foi tão difícil convencê-los a se mudarem para cá.

— Matamos dois coelhos com uma cajadada só. — Rimos.

Jenny me ajudava com tudo o que eu precisava. Às vezes, deixava sua editora e vinha correndo me ajudar, e isso se tornou algo comum, pois o que precisava naquele momento, era de um gerente.

Ela se ofereceu para me ajudar, recebemos vários currículos, mas nenhum tão qualificado, por sorte, ela conhecia alguém que aceitou a vaga de bom grado.

Ser o CEO não era fácil, vivia em reuniões e viagens. Eu amava o que fazia, mas isso estava me deixando cansado, precisava descansar, mal me lembro da última vez que tive férias ou que viajei à lazer.

Jenny era amiga da minha mãe, as duas se conheceram na faculdade, eram quase como irmãs; quando minha mãe faleceu, Jenny se tornou minha segunda mãe.

Sempre que podia, ela vinha para Nova Iorque, já que meu pai vivia enfiado no trabalho e não me dava atenção, apenas me instruía nos estudos, pois queria que eu assumisse seu lugar na empresa. Foi assim que aconteceu, quando me formei, ele simplesmente deixou tudo em minhas mãos e foi aproveitar sua velhice, mas antes, avisou que me tornaria dono de tudo isso, assim que me casasse.

Era muito raro nos vermos, pois o fato de ele sempre trocar de namorada me incomodava. Eu sabia que não passavam de interesseiras, ainda mais por serem mais novas do que eu.

Enfim, meu pai era dono do seu próprio nariz e sabia o que fazia da sua vida.

***

A semana passou rapidamente e em alguns minutos meus novos vizinhos chegariam, olhei no meu relógio de pulso e já eram quase 15h.

Quando decidi ir até a cozinha para preparar meu café, ouvi um barulho de caminhão, me aproximei da janela da sala e vi o veículo parado na casa ao lado, deduzi ser do meu novo gerente e vizinho. Decidi desejar-lhe boas-vindas, apenas saindo de casa e caminhando para casa ao lado.

Ouvi o riso da Jenny, é claro que estaria ali para recepcionar seus amigos.

— Caleb — me chamou, assim que me aproximei. — Venha, vou apresentá-los. — Ela me puxou pelo braço como se eu fosse uma criança. — Roger Kunt, esse é o seu novo chefe — falou, com um sorriso enorme nos lábios.

— Muito prazer em conhecê-lo, senhor — o homem, que era um pouco mais velho do que eu, falou.

Roger era loiro, algumas marcas de expressão, usava óculos de grau e o seu bigode.

— O prazer é todo meu, mas pode me chamar apenas de Caleb, ok? — pedi.

— Claro — disse, soltando minha mão.

— Essa é a Melissa Kunt. — Jenny nos apresentou.

— Sua nova sócia? — pergunto.

— Sim, somos grandes amigas — disse com ternura.

— É um grande prazer, Caleb — Mel falou, com um sorriso no rosto.

— Queria tanto que você conhecesse a Duda — Jenny mencionou olhando para dentro da casa. — Mas ela deve estar descansando. — ponderou.

— Duda?

— Roger e Melissa têm uma linda filha. — contou.

— Garanto que não faltarão oportunidades. — afirmei. — Roger, podemos ir até minha casa para que você possa assinar o contrato? — perguntei.

— Claro que sim.

Caminhamos até minha casa, abri a porta, coloquei o celular em cima da bancada e segui em direção ao escritório.

— Quais são suas expectativas com relação à Nova Iorque? — perguntei, indicando a cadeira para que ele se sentasse.

— Crescimento, espero ser tão útil quanto fui à empresa anterior — falou enquanto eu abria a gaveta da mesa e pegava uma pasta.

— Sim, a única pessoa afetada com a nossa mudança foi minha pequena.

— Jenny comentou que vocês têm uma filha — comentei.

— Sim, Duda é o nosso milagre — disse com um sorriso enorme nos lábios. — Você é casado?

Encostei-me na mesa e pensei em Mandy, minha foda fixa, digamos que ela quisesse se casar, mas isso não era para mim, ainda não havia encontrado ninguém que me tocasse de maneira que não fosse apenas sexo.

— Não, isso não é para mim — confessei.

— É aí que você se engana, meu caro.

— Quem sabe, algum dia — fiz o possível para não ser rude e mudarmos de assunto. — Esse é o nosso contrato, Jenny falou sobre as viagens, certo?

— Sim, quanto a isso, não vejo problema.

— Perfeito! — disse.

— Que tal, irmos à minha casa tomar um café? — Roger se pôs de pé.

— Preciso resolver algumas coisas…

— Que isso, Caleb, vamos, quero lhe apresentar a Duda. — Sem esperar por minha resposta, Roger caminhou em direção à porta. — Você vai amá-la. 

— Certo. — Não tinha nada a perder mesmo, por que não ir? — Você venceu.

Roger começou a falar sobre sua vida e falava pelos cotovelos. 

— Deseja tomar alguma coisa? — perguntou, assim que passamos pela porta de entrada.

— Um copo de água — disse quando senti o cheiro de bolo invadir minhas narinas.

— Sinta-se em casa, a cozinha fica logo ali, eu acho. — Ele riu. — Vou guardar esses documentos no escritório e já volto.

— Claro.

— Duda deve estar na cozinha — falou, inalando o aroma do ar. — Ela está fazendo bolo. Já volto.

Apenas balancei minha cabeça, concordando.

Roger sumiu do meu ponto de visão e caminhei em direção à cozinha, como as casas eram praticamente iguais, não era difícil saber onde ficavam as coisas.

Quando estava chegando à porta do cômodo, ouvi alguém cantando, me aproximei a passos lentos para não assustar a dona da doce voz.

Recostei-me na soleira da porta e fiquei ali, apreciando a dona das belas curvas tentando dançar, o seu vestido se movia conforme seus movimentos.

Sorri para mim mesmo e me perguntei quem deveria ser essa bela donzela.

Quando me dei conta, ela já estava de frente para mim, com a mão sobre o seu peito, o que me fez olhar diretamente para seu decote e notar que os olhos verdes pareciam assustados com minha presença.

— Me desculpe. — Tentei quebrar o silêncio.  — É que o Roger disse que eu poderia pegar um copo d'água, ele está no escritório — disse, observando cada detalhe seu.

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