Acredite! Eu sofri!

Uma questão sempre me assola. Até quando vou me manter assim, firme, nadando contra a maré, sem me envolver?

As festas de meu pai são um porre. Tenho participado de todas elas para vê-la. O que me move é o anseio de saber como Natasha está, os relatórios que tenho tido não parecem ser o suficiente. Sempre preciso vê-la com meus próprios olhos. Ver pessoalmente se ela está realmente bem.

Um alerta soa na minha cabeça e me desperta para uma coisa. Preciso dar um tempo sem vê-la. Estou me envolvendo demais. Meus pensamentos não são nada bons para ela. Sou uma cobra criada, muito vivido e muito amargo também.

Ela pode te curar...Uma voz sopra no meu ouvido.

Balanço minha cabeça em negativa.

Não! Depois de tudo que vivi não sei se alguma coisa boa sobrou dentro de mim.

Levei tanto tempo para me casar e me decidir por uma pessoa e quando finalmente achei que encontrei a mulher certa, tomei na cara para não dizer em outro lugar.

Ninguém se casa sem amor e eu amava Rebecca com todas as forças do meu coração. Ela era uma mulher linda, sensual, vibrante.

Entrei de corpo e alma na relação, mas com zero habilidade em lidar com uma mulher drogada. Cocaína era sua praia.

A merda toda que eu não sabia disso. Foi eu deslizar o anel em seu dedo esquerdo que esse seu lado se revelou. E minha vida perfeita se tornou um inferno.

Aprendi cedo que a imagem que vemos em uma pessoa pode não ser a verdadeira, ela pode transparecer tantas coisas boas e tudo pode ser uma grande mentira.

Dio mio, fico imaginando se nosso filho tivesse vingado. Com certeza teria nascido com algum problema pelo tanto que ela se drogava, mesmo sabendo que estava grávida.

Tentei ajudá-la. Fiz de tudo que estava em minhas mãos. Não desisti dela. Fiquei ao seu lado como uma fortaleza, mesmo que o pesadelo que eu vivia me matasse aos poucos por dentro.

Conselhos não faltaram.

Nem a clínica de reabilitação que paguei ajudou.

Quando ela voltava para casa e o inferno recomeçava.

Ela amava mais as drogas que eu.

Um dia o inevitável aconteceu. No nosso quarto, que deveria ser o nosso ninho de amor, foi um palco de horror. Eu a encontrei na cama gelada. Demorou para eu entender que ela estava morta. Que a overdose a levou.

Sofri.

Acredite! Eu sofri!

Fiz de tudo para que isso não acontecesse, usei todos os recursos disponíveis que eu tinha para tirá-la do vício, ainda assim quando ela morreu me senti culpado.

Na verdade ainda me sinto assim. Tenho sempre a sensação que fiz pouco por ela.

Afasto meus pensamentos que ainda me machucam e caminho lentamente até meus pais.

Hoje vou sair. Espero encontrar um mulherão para passar algumas horas sem neuras, quero apenas sexo intenso.

Eu me despeço dele.

—Dì a mamma che me ne sto andando. (Diga a mamãe que estou indo embora.)

—É presto. (É cedo)

—Padre!

—Non mi piace il tipo di vita che conduci a mio figlio. Pensi che non sappia dove stai andando adesso? (Não gosto do tipo de vida que está levando meu filho. Pensa que não sei para onde está inda agora?)

—Padre. Per favore.

Meu pai me segura pelo braço.

—A vida é cheia de infortúnios. Seu casamento foi um deles, mas não quer dizer que não deva confiar novamente em alguém —meu pai me diz em seu inglês precário.

Apenas aceno com a cabeça, sem nada dizer e tomo meu rumo.

E a garota possessiva que me relacionei? Que arrebentou com meu carro quando terminei com ela?

E aquela vagabunda que pegou a camisinha e enfiou meu sêmen na sua vagina? Por sorte eu a peguei no flagra. Eu lavei tudo como se lavasse o joelho sujo de uma criança e lhe dei um chute na bunda e quase fiz isso de um jeito literal.

Dio! Não sei se consigo confiar meus sentimentos à alguém.

Hoje prefiro caçar do que ser caçado.

Horas depois entro na minha cobertura e encaro minha confortável cama, mas não o suficiente para me livrar dos pesadelos. Sou muito assolado por eles. São tão reais que acordo assustado. Às vezes até gritando no meio da noite. A imagem de Rebeca vestida com sua camisola de cetim branca surge morta ao meu lado. Então ela se senta na cama e chora me pedindo ajuda.

Solto o ar.

Dio! Ando tão cansado.

Desde que ela morreu, há dois anos, tenho trabalhado direto. Eu preciso de noites tranquilas de sono para acordar bem e disposto. Mas não é isso que eu tenho tido.

Dois anos já não era para esse tormento de sonhar com ela ter me deixado?

Dio! Já pensei em fazer terapia. Mas nãos sei se ajudaria. Talvez a psiquiatria.

Sim, pois meu caso é psiquiátrico. Sinto que estou doente.

Muito doente.

Fungo.

Espero que essa noite eu não encontre as trevas que habitam dentro de mim.

Tomo um banho demorado, retirando todo cheiro de sexo, perfume, das garotas que comi. Depois de me enxugar vigorosamente, visto minha cueca box e me deito na minha cama confortável.

Do nada a imagem de Natasha surge, sem que eu possa evitar. Ela é um pensamento incessante em minha cabeça e uma ferroada no meu maldito peito.

Não tem jeito. Ela continua sendo a última coisa que vejo antes de cair no sono.

Respiro fundo, e viro meu corpo para o outro lado da cama.

Preciso mudar isso. Meus pensamentos não podem ficar refém de uma mulher.

Preciso evitá-la.

Abro a boca.

Dio! O que menos posso é ficar pensando nessa mulher. Amanhã tenho um dia cheio. Minha agenda está lotada.

Cansado, com a cabeça um pouco pesada pelo uísque, que tomei agora pouco para relaxar, aos poucos vou sentindo meus olhos pesando e finalmente caio num sono profundo.

 

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