POV da Victoria
Uma Semana Antes
Vivendo minha melhor vida. É como eu me sinto enquanto observo o verde infinito do meu quintal, se estendendo em toda a vizinhança. Eu amava morar em um lugar tão cercado pela natureza, mesmo que o que para mim era sinônimo de paz e felicidade fosse visto como isolado e melancólico pela maioria das outras pessoas.
Na realidade, eu preferia desta maneira. Assim, a cidade grande ficava para gente de cidade grande, barulhentos, agitados e em um infinito mau humor. Eu estava muito mais feliz sentada em meu sofá enquanto apreciava o cenário refletindo sobre qual a próxima história que eu iria contar.
Como escritora, era meu dever contar histórias que prendessem a atenção dos leitores, despertasse interesse e os fizesse sentir uma montanha russa de emoções em cada capítulo com os confrontos dos personagens e carinhos trocados pelos meus casais. Não é como se eu não fosse determinada e dedicada. Eu me dediquei tanto que eu conseguia sobreviver somente com os valores recebidos pelos meus livros digitais independentes e meus quadros desenhados e pintados. Por preços ridículos e bem inferiores do que eu gostaria e pretendia? Bem, sim, mas eu estava me mantendo fazendo o que eu amava e isso já era excelente.
"Porque Victoria, todos os Evans moram em Las Vegas, todos os Evans tiveram o melhor ensino para estudar na melhor faculdade e se tornarem os melhores profissionais do mercado." Meu pai se preocupava, é claro, mas a calma inabalável de minha mãe o tranquilizava com sua compreensão comigo e com meus dons artísticos e literários. "Vic não é qualquer Evans, ela é nossa filha inspiradora." Mamãe costumava dizer.
Então quando eu resolvi me mudar para Florence ao completar dezoito anos, meu pai se resignou e mamãe disse que já esperava que eu seguisse por esse caminho, mesmo que fosse sentir muito a minha falta. Contando com o apoio emocional e financeiro dos Evans, estava passando meu segundo ano naquela casa fofa, grande demais para uma garota viver sozinha, então criei fortes laços com os meus vizinhos que moravam ao lado.
Um casal apenas cinco anos mais velho que eu, já estavam felizes e casados, tínhamos ideais semelhantes e nos visitávamos com frequência. Annie adorava tomar o café da manhã comigo enquanto debatíamos sobre como quando minhas histórias ficassem famosas, ela seria a responsável pela fotografia das adaptações para o cinema.
"Você está delirando!" Eu balançava a cabeça enquanto a respondia.
"Você vai ver, seu livro será o próximo "Crepúsculo" do mundo! Essa terra vai ser pequena para você, grande Evans!" Ela tentava me convencer.
"Por eu achar grande demais que eu prefiro me refugiar nas vidas dos personagens, mas agradeço por gostar tanto assim, Annie." Dou um sorriso mínimo levando a xícara aos lábios e bebericando o café.
"Eu amo. Mas acredito que para mulheres reservadas como nós que só queremos nos esconder atrás dos papéis ou das lentes da câmera, o preço do sucesso é justamente sair de uma pequena vizinhança quieta para os grandes holofotes. Acho que só assim receberemos o reconhecimento devido por nossos trabalhos e paixões." Ela reflete, possuía um pequeno vinco na testa enquanto se perdia em pensamentos.
"Eu já fugi de lá assim que pude, não possuo a menor pretenção de retornar. Não será preciso para nenhuma de nós, Annie, suas fotografias são preciosas pois revelam sua forma autêntica e encantadora de ver o mundo." Afirmo.
No ocorrido, eu relacionei o silêncio de minha amiga a concordância e suas próprias emoções, mas eu estava enganada. Eu gostava dessa vidinha, mas ela só era a minha vidinha perfeita mesmo com suas dificuldades porque Annie e por vezes, seu marido Frank faziam parte dela. Então é de se imaginar que eu não estivesse esperando pelo que estava por vir.
Ouço cinco batidas na porta da frente que me tiram de meus devaneios sobre meus futuros livros e me assusto ao ver que eram Annie e Frank. Ao abrir a porta, os cumprimento e deixo que entrem, pedindo para se sentarem no sofá em frente ao meu lugar.
"Os dois estão mais brancos do que a neve. O que aconteceu?" Pergunto, preocupada.
"Annie achou prudente lhe contar agora que o negócio já está fechado e não tem como voltar atrás, pois teve receio de que você conseguiria a impedir, convencendo a mudar de ideia." Frank começa.
"Me contar o que? O que eu seria contra? De que negócio está falando?" Disparo.
"Evans, querida, por termos essa amizade tão linda que eu me sinto angustiada por ter de deixá-la sozinha aqui. Sei que será contra e estou lhe contando porque não quero que se sinta sendo... Deixada para trás." Annie explica sem revelar nada.
Engulo em seco e franzo as sobrancelhas, esperando que continuem. Não começamos nada bem.
"Eu consegui uma oportunidade incrível e imperdível em Los Angeles para fazer parte da equipe de um novo filme. O diretor de fotografia aprovou meu currículo e realizei a entrevista on-line. Nos mudamos amanhã." Annie informa.
"Espera, o que? E você não me falou porque achou que eu seria egoísta e mesquinha de não ficar feliz por você? Isso é ótimo! Uma oportunidade imperdível para você!" Respondo genuinamente feliz por minha amiga.
"Realmente, a oportunidade que Annie sonha e busca desde que nos conhecemos no colegial." Frank complementa.
"Não entendo porquê não me contaram antes. Eu sempre torci pelo sucesso de vocês e agora não tenho nem tempo para me despedir." Lamento, confusa pela conduta do casal.
Porque nos apegamos, querida. Não é fácil deixar amizades para trás e ir para longe em prol dos sonhos. Mas é necessário." Annie suspira. "Não foi nada fácil esconder isso de você, quase deixei escapar algumas vezes, mas não quis que sofresse antecipadamente como eu estava.
"E por que acharam que eu iria os impedir de ir? Para ficarem presos aqui comigo só pela amizade? Que tipo de amiga vocês acham que eu sou?" Pergunto enquanto enrolo e desenrolo a barra do meu casaquinho, sentindo o nervosismo crescendo.
"Não, querida, é só porque..." Annie começa a falar, sem jeito, mas o marido a interrompe.
"Victoria, sejamos realistas, não tem uma parte sua que se sinta decepcionada consigo mesma por não ter a mesma oportunidade de Annie? Por se resignar em viver aqui ao invés de buscar crescer? Preferir se esconder e fugir do lugar e da família privilegiada que te auxiliaria? A troco de que?" Frank me encara com olhos gélidos e Annie se encolhe ao seu lado, com a cabeça baixa, sem coragem de olhar para mim.
"Perdão?" É a única palavra apressada que consigo forçar a sair da minha boca. Respiro fundo, sentindo o peito pesado pela mágoa e vontade de chorar. Eu valorizava muito a amizade e companhia de Annie, jamais a veria da forma que estava sendo vista.
"Annie temia que você sentisse inveja, Evans. Preferimos contar só depois do contrato ser assinado e da venda da casa ser fechada, assim nada poderia dar errado. Pelo sucesso e pelo dinheiro." Frank continua sendo direto e frio.
"Inveja? Se eu quisesse fama e dinheiro eu teria mesmo continuado em Las Vegas com meus privilégios! Tudo que eu fiz foi ser grata por ser acolhida por vocês ao morar ao lado e apreciar sua amizade. Vocês dois estão sendo tão absurdos!" Elevo o tom de voz, a forçando a sair para demonstrar minha posição.
Porque não basta somente você perder seus amigos pela distância de forma abrupta, tem que perder a amizade que tinha com eles. Pessoas são mesquinhas, seja no bairro mais pacífico dos Estados Unidos ou no meio de cidades grandes visitadas pelo mundo todo. Parece que minha melhor companhia são personagens fictícios e plantas mesmo, que seja!
Levanto e vou até a porta com passos apressados, fingindo que todos os momentos divertidos e conversas agradáveis com Annie não estavam sendo remoídos na minha mente naquele instante. A ofensa de seu marido e saber sua visão verdadeira sobre mim havia me atingido em cheio.
"Podem ir embora." Mando, abrindo a porta.
Precisava ficar sozinha. Eles obedecem, mas antes, Annie para em minha frente e diz:
"Eu sinto muito. Fiz o que julguei necessário. Espero que um dia possa entender. A casa já está vendida, espero que seu novo vizinho possa lhe fazer companhia." Ela sorri com os olhos tristes.
Eu nada respondo, apenas fecho a porta e decido que independente de quem fosse esse novo vizinho e dono da casa ao lado, nunca iria me fazer companhia e se pudesse nem ao menos iria saber quem eu era. Mas eu não poderia estar mais enganada.
POV do ConnorUm dia antesOs Jones são donos não só do país, minha família possui filiais espalhadas pelo mundo todo. Meus pais são donos de oficinas e lojas de peças para carros de luxo e garagens para a venda dos próprios carros espalhadas pelas maiores capitais, o que me garantiu uma vida confortável financeiramente e insuportável emocionalmente. Mas aprendi a lidar com isso muito bem.Aos vinte e um anos, eu já havia desistido de receber qualquer tipo de afeto vindo de minha família ou interesse em conhecer quem era seu filho de verdade. E se nem minha família se importava com a minha personalidade, sonhos e paixões, apenas com minha capacidade ou falta dela de fazer mais dinheiro, as outras pessoas muito menos.Amigos? Relacionamentos? Por puro interesse. Mesmo que eu me envolvesse e cercasse de pessoas com muito dinheiro, tudo que importava para elas era isso: O dinheiro. E de qualquer maneira, nenhuma delas tinha tanto quanto os Jones.No mundo dos ricos, era normal que todos
POV do ConnorHOJEAquele evento estava um espetáculo, não posso negar que minha família só tem o que tem e somos quem somos porque fazemos nosso trabalho direito. Mas nada além do que já era costume, os mais ricos porque não faria sentido convidar quem não possuía poder aquisitivo para adquirir um dos carros e os mais desafortunados que vinham como estudantes e um acompanhante cada.Todos fingiam que os estudantes eram invisíveis. Os outros, por se acharem superiores por terem dinheiro. Eu, porque me acham superior por ter dinheiro. Se ricos menos ricos já tentavam usufruir do meu dinheiro, quem nem dinheiro tinha seria pior ainda.Como eu estava substituindo o modelo e era o herdeiro daquele império, tive que ficar a maior parte do evento perto dos carros novos, demonstrando suas tecnologias e potência, clicando em botões do painel de controle e acelerando o carro parado para ouvirem o ronco do motor, que era a única coisa que estava me tranquilizando naquele momento, sentado no ban
POV da VictoriaEu preferia ir embora ou ficar o restante do evento no Volvo esperando por Chris do que aceitar qualquer favorzinho daquele riquinho intrometido. Mas não poderia ser egoísta com Chris, ele estava ali, como eu mesma disse ao riquinho, em uma oportunidade ótima que não poderia ser desperdiçada porque a irmã está com o vestido manchado de rosa e fedendo álcool.Então quando Chris aceitou a proposta, eu soube que mesmo querendo sair correndo me trancar no Volvo e desejar que ele aproveitasse o evento sem mim, eu não poderia fazer isso, estava ali para apoiá-lo e era isso o que iria fazer. Já que os ricos tem maior poder e influência, que servissem para ajudar meu irmão, mesmo que eu preferisse não precisar de nada vindo deles.Reviro os olhos quando o cara rico sorri com os dentes brancos demais, exibindo uma covinha na bochecha esquerda e dá uma piscadinha, ele era muito convencido mesmo. Engancho meu braço no de Chris e seguimos o homem desconhecido pelo salão em silênci
POV do Connor.O som do motor do carro era reconfortante, preenchia o silêncio que pairava entre nós. Eu estava dirigindo, a mão direita no volante, a esquerda repousando em minha perna resistindo ao impulso de esticar para tocá-la, enquanto ela olhava pela janela, os cabelos dourados se balançando suavemente com o vento. As luzes da cidade refletiam em sua pele, criando sombras que davam um toque quase cinematográfico a ela. Ela continuava com aquele biquinho e as sobrancelhas franzidas, não abandonava a pose de mulher brava, o que me encantava ainda mais. A Victoria Evans, dona dos livros que eu lia escondido de todos, no meu banco do carona, a vida é mesmo muito engraçada. Uma coincidência que eu nunca imaginei ser possível de acontecer. Melhor ainda, com a loira me detestando após eu ter a feito derramar sua bebida em nossas roupas, mesmo ajudando seu irmão e ela, ela continuava na defensiva. Que mulher difícil, qualquer outra já estaria se derretendo aos meus pés."Para onde est
POV da VictoriaEu poderia estar entrando em um palácio, mas era só a mansão da família do Connor. A forma como ele dirigia era incrível de se observar, como se fosse algo tão natural quanto respirar. Eu odiava dirigir, sempre me acomodava no banco do carona, longe da adrenalina de estar atrás do volante, sempre que tentei até uma tartaruga poderia me ultrapassar. Tinha um muro rodeando a propriedade, tão extenso que cheguei a achar que estávamos passando por um condomínio, já que eu não conhecia aquele bairro da cidade, mas os portões de ferro se abrem e entramos. Ele dirige por um extenso gramado com vista para jardins até entrar na garagem, a mansão era de mármore branco, grande o suficiente para abrigar todos que estavam no evento da Mercedes.Quem é que tem um elevador em casa? Aquilo era insano. E injusto. Quantas pessoas não tinham nem uma casa e ele com uma mansão, não deveria nem acessar todos os cômodos daquele imóvel. Ao atravessarmos o longo corredor, meus passos são abaf
POV do ConnorUm minuto. Não era nem perto do que eu queria passar com ela, mas como não sabia quando e como a veria novamente, era tudo o que eu precisava. Teria que bastar. Victoria pressiona seus seios contra meu peito nu enquanto a puxo para mais perto ainda pela cintura, pressionando sua nuca para aprofundar o beijo, nossas línguas se entrelaçavam sensualmente, seus lábios doces se movimentavam junto aos meus em sincronia, como uma melodia harmônica. Ela suspira em meio ao beijo quando mordo lentamente seu lábio inferior, suas mãos deslizam por meu corpo, mostrando que ela estava se deliciando tanto quanto eu, apertando minha pele para encurtar a distância mínima que havia entre nós.Afasto nossos lábios para fazer o que poderia nunca mais ter a oportunidade, ela resmunga em reclamação pela separação e eu dou uma risada baixa e rouca, cada mínimo som, suas bochechas coradas e os lábios entre abertos esperando por mais beijos, cada movimento dela era uma tentação sem fim. Aquel
POV da VictoriaO que uma garota faz pelo seu irmão um governo não faz pelo seu país. Mais interesse em marketing que eu tenho só o interesse de um recém nascido em economia. Exato, nenhum, além de eles não entenderem nada sobre, igual eu com publicidade.Mas aqui estou eu, bem longe da minha zona de conforto em Florence, no Oregon, no meu antigo quarto na casa da minha família em Las Vegas, me arrumando para um evento nada mais nada menos do que da Mercedes. Meu irmão mais velho, Christian, está cursando publicidade na universidade, o evento em si aconteceria ali em Vegas e o querido tinha a possibilidade de levar um acompanhante, então ele resolveu me arrastar.A vontade que eu tinha de estar no meio de um monte de riquinho metido e mimado com o nariz empinado debaixo da saia da mamãe e do papai empresário que tinham como lema que o dinheiro para ser limpo precisa ser lavado, era nula. Mas a vontade que eu tinha de demonstrar apoio e amor ao meu irmão era infinita, então eu iria. Ir