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2. A ponta do Iceberg

Alyssa

Olho para meu saldo bancário em meu notebook, rezando para que uma fada madrinha tenha jogado uma porrada de dinheiro lá. Não tive essa sorte. O meu saldo é o que você esperaria que tivesse em um cofrinho de uma criança de dois anos. Entre este apartamento pequeno, a casa de repouso da mamãe e os demais gastos, mal consigo pagar um refrigerante.

Faço contas mentais rápidas, sentindo aquele pavor familiar no estômago. Ainda faltam quatro dias para o dia do pagamento e, sejamos realistas, o dinheiro não irá aparecer magicamente.

Mila vasculha a geladeira, cantarolando desafinadamente. Nosso apartamento é tão pequeno que a cozinha fica a cerca de três passos do sofá. Eu poderia jogar uma moeda no sofá e provavelmente derrubar uma panela.

Se ela invadir continuar a vasculha a geladeira, eu vou explodir.

Tudo me irrita ultimamente.

Tentamos transformar este apartamento apertado em uma casa, mas ele continua sendo uma porcaria. O papel de parede está descascando, o chão faz um barulho estranho, essa porcaria de apartamento continua se destruindo e nenhuma obra de arte barata ou velas perfumadas pode disfarçar o fato de que este apartamento está a dois passos da condenação.

Na semana passada, meu quarto parecia as Cataratas do Niágara, graças ao gênio que morava no andar de cima. Tenho quase certeza de que o prédio é assombrado por um encanador morto e vingativo. Quando liguei para o senhorio, ele me mandou enfiar um balde embaixo da goteira.

Devo emitir algum som de frustração porque Mila faz uma pausa em busca barulhenta na geladeira para me olhar.

— Você está bem? Precisa de um lanche? — Ela me oferece queijo ralado. — Você parece meio tensa.

— Apenas revisando os números — respondo com firmeza. — O pagamento da mamãe está atrasado.

— Ah. — Mila gira em torno de nossa pequena e triste cozinha, evitando o chão descascado como se estivesse dançando. Ela se senta em nosso banco. —Tudo bem! Posso pegar mais horas na lanchonete. Quer um pouco daquele chá de camomila que comprei? Ajuda a acalmar.

Chá de camomila, sim, certo. Preciso de uma porra de uma dose de intravenosa de Xanax. Ou tequila. Mila só conhece a ponta do iceberg quando se trata de nossos problemas financeiros. Alguns turnos na porra da lanchonete não iria resolver essa bagunça. Além disso, ela já faz malabarismos com a faculdade e o trabalho.

Ela não pode sequer mochilar na Europa com os amigos, e odeio que ela tenha feito esse sacrifício. Só porque nunca terminei a faculdade não significa que Mila deva passar pelo mesmo.

— Absolutamente não — eu digo. — Seu único trabalho agora é focar nas aulas e deixar a questão do dinheiro para mim. Eu cuido disso.

Exceto que eu não sei como vou "cuidar disso".

Meu telefone vibra. O texto é curto: Venha aqui fora.

Falando no diabo, ele aparece.

A adrenalina dispara no meu peito. Aqui vamos nós outra vez. Voltando para os braços do meu ex-amante narcisista e cruel.

Pego minha jaqueta e vou para a porta, me preparando para mais uma noite de escolhas moralmente questionáveis.

— Onde você está indo? — Mila pergunta com a boca cheia.

— Vou resolver algo rápido. Não demorará muito. — Forço um sorriso, sentindo-me a pior mentirosa do mundo.

— Você e suas 'tarefas' em horários estranhos.

Dou de ombros, dando um tapinha no ombro dela.

— Coisas de trabalho chatas. Vou comprar algo para jantar no caminho de volta. Você sabe que essa comida chinesa está velha, certo?

Ela sorri.

— Aposto que é um namorado secreto.

Se ela conhecesse meu próprio demônio pessoal, ficaria chocada.

É melhor que ela invente histórias românticas. Quanto menos Mila souber, melhor.

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