Alyssa
Olho para meu saldo bancário em meu notebook, rezando para que uma fada madrinha tenha jogado uma porrada de dinheiro lá. Não tive essa sorte. O meu saldo é o que você esperaria que tivesse em um cofrinho de uma criança de dois anos. Entre este apartamento pequeno, a casa de repouso da mamãe e os demais gastos, mal consigo pagar um refrigerante. Faço contas mentais rápidas, sentindo aquele pavor familiar no estômago. Ainda faltam quatro dias para o dia do pagamento e, sejamos realistas, o dinheiro não irá aparecer magicamente. Mila vasculha a geladeira, cantarolando desafinadamente. Nosso apartamento é tão pequeno que a cozinha fica a cerca de três passos do sofá. Eu poderia jogar uma moeda no sofá e provavelmente derrubar uma panela. Se ela invadir continuar a vasculha a geladeira, eu vou explodir. Tudo me irrita ultimamente. Tentamos transformar este apartamento apertado em uma casa, mas ele continua sendo uma porcaria. O papel de parede está descascando, o chão faz um barulho estranho, essa porcaria de apartamento continua se destruindo e nenhuma obra de arte barata ou velas perfumadas pode disfarçar o fato de que este apartamento está a dois passos da condenação. Na semana passada, meu quarto parecia as Cataratas do Niágara, graças ao gênio que morava no andar de cima. Tenho quase certeza de que o prédio é assombrado por um encanador morto e vingativo. Quando liguei para o senhorio, ele me mandou enfiar um balde embaixo da goteira. Devo emitir algum som de frustração porque Mila faz uma pausa em busca barulhenta na geladeira para me olhar. — Você está bem? Precisa de um lanche? — Ela me oferece queijo ralado. — Você parece meio tensa. — Apenas revisando os números — respondo com firmeza. — O pagamento da mamãe está atrasado. — Ah. — Mila gira em torno de nossa pequena e triste cozinha, evitando o chão descascado como se estivesse dançando. Ela se senta em nosso banco. —Tudo bem! Posso pegar mais horas na lanchonete. Quer um pouco daquele chá de camomila que comprei? Ajuda a acalmar. Chá de camomila, sim, certo. Preciso de uma porra de uma dose de intravenosa de Xanax. Ou tequila. Mila só conhece a ponta do iceberg quando se trata de nossos problemas financeiros. Alguns turnos na porra da lanchonete não iria resolver essa bagunça. Além disso, ela já faz malabarismos com a faculdade e o trabalho. Ela não pode sequer mochilar na Europa com os amigos, e odeio que ela tenha feito esse sacrifício. Só porque nunca terminei a faculdade não significa que Mila deva passar pelo mesmo. — Absolutamente não — eu digo. — Seu único trabalho agora é focar nas aulas e deixar a questão do dinheiro para mim. Eu cuido disso. Exceto que eu não sei como vou "cuidar disso". Meu telefone vibra. O texto é curto: Venha aqui fora. Falando no diabo, ele aparece. A adrenalina dispara no meu peito. Aqui vamos nós outra vez. Voltando para os braços do meu ex-amante narcisista e cruel. Pego minha jaqueta e vou para a porta, me preparando para mais uma noite de escolhas moralmente questionáveis. — Onde você está indo? — Mila pergunta com a boca cheia. — Vou resolver algo rápido. Não demorará muito. — Forço um sorriso, sentindo-me a pior mentirosa do mundo. — Você e suas 'tarefas' em horários estranhos. Dou de ombros, dando um tapinha no ombro dela. — Coisas de trabalho chatas. Vou comprar algo para jantar no caminho de volta. Você sabe que essa comida chinesa está velha, certo? Ela sorri. — Aposto que é um namorado secreto. Se ela conhecesse meu próprio demônio pessoal, ficaria chocada. É melhor que ela invente histórias românticas. Quanto menos Mila souber, melhor.Alyssa Entro no BMW chamativo de Ethan, com as mãos molhadas de suor. O lugar tem cheiro de cinzeiro – se há algo que eu desprezo mais do que Ethan, são cigarros. Por razões óbvias, sem falar que cheira a lixo marinado em urina.Ele gira em minha direção, flexionando os músculos. Ele é o tipo de cara que elogia seus bíceps no espelho. Apenas um desfile ininterrupto de masculinidade tóxica e arrotos de proteína em pó.— Olha quem decidiu dar o ar da graça — diz ele com um sorriso malicioso, espalhando-se agressivamente.— Oi — murmuro, apenas encontrando seu olhar fugazmente. Mais um pouco e talvez eu tenha que arrancar os olhos com uma colher.— Você simplesmente não consegue ficar longe de mim, não é? — Ethan ronrona, sua mão subindo pela minha coxa. Eu a afasto, com a pele arrepiada.— As pessoas vão falar. Pare com essa merda — murmuro, olhando para frente. — Você sabe por que estou aqui.Ele faz uma careta. — Isso não é maneira de tratar um velho amigo, Ford.Amigo. Certo. Quand
AlyssaOs olhos de Ethan me examinam de cima a baixo como se ele estivesse tentando descobrir quanto poderia conseguir por mim no mercado negro.Eu reflexivamente cruzo os braços, a pele arrepiada, enquanto ele sorri, balançando o dinheiro. Eu não estou à venda. — Se você acha que vou dormir com você, desista. Isso nunca mais vai acontecer.— Ainda com esse belo nariz empinado, mas aqui está você implorando por minha ajuda. — Ele se inclina, cheirando a cigarro. — Vamos deixar uma coisa clara. Não estou interessado em você. Você não é boa suficiente para mim.Filho da puta.— Qual é o favor, então? — Só um pequeno trabalho. Apenas uma noite de entretenimento. — Meu queixo cai. — Prostituição? Vá se foder.Não acredito que uma vez transei com esse cara voluntariamente, mas de acordo com aquele teste que fiz na internet, tenho uma queda por idiotas com cabelo bonito.Sua sobrancelha se levanta e aquele sorriso arrogante puxa sua boca.— Vá com calma. Ainda não chegamos lá. Só preciso
AlyssaO ar neste bar de hotel sofisticado está tão cheio de dinheiro e ego que sinto o cheiro de perfume caro em todo lugar. É o cheiro do poder e das oportunidades. Oportunidades que eu nunca terei.Um mundo longe da minha realidade de contas não pagas, telhados com goteiras, um banheiro que transborda e vizinhos de cima que pensam que meu teto é um trampolim.Nem me lembro da última vez que estive num lugar como este só por diversão.São sempre bate-papos relacionados ao trabalho.Mas esta noite é diferente. Esta noite, tenho a grande honra de me sentir totalmente fora da minha realidade no meio da multidão de ricaços, ao mesmo tempo que me torno uma cúmplice involuntária do roubo de um carro.Eu mexo no meu canudo, buscando desesperadamente a coragem que não vem. Minhas pernas descruzam e recruzam enquanto eu examino o local. Nesse ritmo, o barman provavelmente está pensando que estou tendo uma convulsão.Meu olhar pousa em um cara com colete de veludo. Claramente em um encontro,
Alyssa Dou uma olhada pelo bar. Lá está Ethan, parecendo perspicaz e indiferente, como se fosse apenas um cara normal esperando por um encontro. Se ao menos a realidade não fosse tão dolorosamente ridícula.Lanço um olhar furioso para ele.Meu telefone acende: Pare de brincar. É ele.Uma risada maníaca e nervosa sai de mim, fazendo vovô pervertido deslizar para longe rapidamente.Muito bem, Ethan, você acabou de conquistar o título do Cara Mais Idiota da América.Eu me viro e lá está Ethan, andando arrogantemente pelo bar. Ele esbarra em um cara com força suficiente para quase fazê-lo voar, mas nem sequer para ou olha para trás. A reclamação do cara morre em seus lábios entreabertos no segundo que ele percebe quem bateu nele.Evans está indo direto para uma loira deslumbrante no outro extremo do bar. Todas as mulheres aqui estão focadas nele. Ele distribui sorrisos para as mais bonitas, os namorados delas que se danem.Ele passa um braço em volta da loira e se aproxima, dizendo algo
AlyssaPor um segundo, apenas nos olhamos no espelho, ele pairando sobre a pia, eu, como um animal recuado, mal conseguindo respirar.— Talvez seja melhor fechar essa boca antes que alguém apareça — ele resmunga. Meu coração dispara enquanto eu luto para pegar meu telefone quebrado, minhas mãos trêmulas. Quanto ele ouviu?— Desculpe por aquela pequena explosão — eu digo, tentando parecer casual enquanto vou até a pia ao lado dele. Abro a torneira apenas para ouvir o ruído de fundo. — Quanto você ouviu?Por favor, não diga nada disso. POR FAVOR NÃO DIGA NADA DISSO...— Eu não estava ouvindo o drama do seu namorado — ele murmura, todo rude e desdenhoso.Uau, ok, idiota. Mas graças a Deus.— Mesmo assim, desculpe se perturbei sua paz — murmuro.— Para uma boca tão pequena, você xinga como um marinheiro — ele repreende com uma carranca de desaprovação. Seus lábios se curvam em desgosto. — Pare com essas vulgaridades. Este é um estabelecimento elegante, não um maldito estaleiro.Eu me irri
Dylan— Que porra você pensa que está fazendo?— Pegando o que eu quero — ela respira, esmagando seus lábios macios nos meus mais uma vez.Por um momento, considero prender aquele lábio inferior carnudo entre os dentes.A diabinha de um metro e meio e boca suja com olhos hipnóticos está me escalando como se fosse seu próprio Everest, lutando para se agarrar. Tenho que dar um crédito a ela por ser ousada, apesar da nossa diferença de tamanho.Antes que eu registre isso completamente, minhas mãos estão tateando seu vestido frágil, o desejo se sobrepondo a todos os pensamentos coerentes. Ela poderia muito bem estar nua, e eu só preciso de uma boa foda para abafar a voz monótona do Dr. Rosso rangendo sem parar em meu crânio. Falando sem parar sobre seu chamado “prognóstico”.Esta noite, ela é exatamente o que eu preciso – sem amarras, pura e crua porra. Parece que todas as mulheres no meu bar estão circulando como um tubarão faminto, com os olhos fixos no prêmio: a proposta de casamento d
AlyssaMeu coração pula do meu peito com a adrenalina. Eu mal me reconheço. Sou fraude em saltos de grife falsos. Uma estranha na minha própria pele.É incrível como apenas algumas horas de loucura podem virar o seu mundo inteiro de cabeça para baixo.Esta manhã, se você tivesse me perguntado sobre meus grandes planos para a noite, eu teria dito com segurança que estava destinada a uma noite glamorosa esparramada no sofá, pronta para mais um dia monótono com minha irmã mais nova, Mila. Vestida com meus moletons mais tragicamente furados e minha pior roupa íntima.Estaríamos enfiando batatas fritas na boca, enquanto fingimos que temos uma vida incrível de milionárias.Mas em vez disso, aqui estou eu.Presa contra a parede do banheiro de um clube chique por um playboy milionário. Meu coração martelando enquanto eu atravesso a linha entre o pânico absoluto e a excitação distorcida.É o tipo de decisão questionável que você toma quando não está pensando direito.Seu antebraço musculoso pr
AlyssaÁgua escaldante bate em meu rosto até que o banheiro se enche de vapor. Preciso do calor para escaldar a culpa que me come viva depois do que fiz esta noite.— Por que você está monopolizando o banheiro? — A voz de Mila corta o vapor. — Eu preciso fazer cocô!— Espere aí — eu resmungo, fechando a torneira antes de me transformar em uma lagosta humana. Enrolo-me numa toalha, resistindo à vontade de derreter numa poça triste no chão e soluçar histericamente durante uma semana seguida. Eu me sinto estranhamente suja, como se tivesse tomado um banho de lama. Pelo lado positivo, tenho o dinheiro. Posso pagar a demônio da casa de repouso amanhã. Os cuidados da mãe seguirão. Por agora. E eu também não tenho mais uma dívida com aquele desgraçado do Ethan. Aquele homem é um demônio, que me fez virar uma criminosa.Eu desembaço o espelho e encontro meu próprio olhar. Tento respirar fundo, algo mais substancial do que os suspiros superficiais que tenho bufando o dia todo.Eu nem sei se m