5. Tique-taque

Alyssa

O ar neste bar de hotel sofisticado está tão cheio de dinheiro e ego que sinto o cheiro de perfume caro em todo lugar. É o cheiro do poder e das oportunidades. Oportunidades que eu nunca terei.

Um mundo longe da minha realidade de contas não pagas, telhados com goteiras, um banheiro que transborda e vizinhos de cima que pensam que meu teto é um trampolim.

Nem me lembro da última vez que estive num lugar como este só por diversão.

São sempre b**e-papos relacionados ao trabalho.

Mas esta noite é diferente. Esta noite, tenho a grande honra de me sentir totalmente fora da minha realidade no meio da multidão de ricaços, ao mesmo tempo que me torno uma cúmplice involuntária do roubo de um carro.

Eu mexo no meu canudo, buscando desesperadamente a coragem que não vem. Minhas pernas descruzam e recruzam enquanto eu examino o local. Nesse ritmo, o barman provavelmente está pensando que estou tendo uma convulsão.

Meu olhar pousa em um cara com colete de veludo. Claramente em um encontro, mas ele tem a audácia de lançar uma piscadela para mim, o bastardo imundo. É ele?

Oh Deus, eu não posso fazer isso. Estou aqui há meia hora, observando cada cara que entra. Ethan disse que vai mandar uma mensagem quando o “alvo” chegar, e que eu devo esperá-lo aqui às nove. Nunca temi tanto uma mensagem de texto. Estou quase tendo um colapso nervoso.

Ajusto a alça fina em meu ombro, amaldiçoando o ar condicionado explodindo em meus lábios. Meu antigo vestido de cetim preto da Target grita barato contra esses modelos caros em volta. Eu amo me arurmar, mas Ethan só me deu trinta minutos para ficar pronta. Então aqui estou, minha única estratégia foi colocar um belo decote.

Porque os homens são programados para admirar os seios de uma mulher e eu tenho um belo par. A empresa que trabalho explora essa fraqueza masculina constantemente - sempre usamos decote.

Respiro fundo, me firmando. Desde que fui envolvida nesta loucura, respirar normalmente tem sido um luxo.

Tenho um vislumbre de mim mesmo no espelho do bar. Um belo visual de mulher fatal: olhos esfumados, lábios vermelhos ousados, meu cabelo escuro solto e levemente cacheado, vestido tão justo quando minha dignidade. Mas é apenas uma ilusão que mascara a menina em pânico lá dentro.

Não sou uma pessoa má, juro. Eu não minto, trapaceio ou roubo. Esta não sou eu. Estou tentando me convencer de que talvez o alvo seja um idiota completo. Isso vai facilitar, certo?

Para qualquer um aqui, sou apenas mais uma garota tomando uma bebida sozinha, porque meu acompanhante não compareceu ou porque sou extremamente pontual.

Mas eles não sabem do par de olhos que me segue do outro lado do local. Ethan, o aspirante a Don Corleone. Sinto seu olhar queimando a espinha, causando arrepios horríveis. 

Tique-taque.

Não consigo ouvir o relógio incrustado de diamantes na parede, mas juro que ele está sincronizando com meus batimentos cardíacos acelerados. Quantas vezes virei a cabeça para verificar, depois a porta e depois voltei para a minha bebida? Um zilhão. Devo parecer perturbada.

Aquele ponteiro dos minutos continua se movendo, implacavelmente. O relógio de Ethan está atrasado. Aparentemente, tenho sessenta minutos assim que ele aparecer. Ethan parece ter uma fé equivocada em meus poderes de sedução. Todo esse plano é ridículo.

Eu me mexo desconfortavelmente no meu banquinho. O barman chama minha atenção, levantando uma sobrancelha. 

— Outra dose?

— Estou bem, obrigada! — Eu gorjeio, tomando outro pequeno gole.

Ele me olha um pouco demais, especialmente na região dos seios.

— Apenas grite se você mudar de ideia.

Ah, eu vou, logo depois de ganhar na loteria. Ou sair da prisão.

Alguém mais aqui está sentindo esse peso esmagador? Estou rodeada de gente rica, toda chique e despreocupada, tilintando copos ao som de jazz. E aqui estou eu, me afogando em ansiedade, gritando como uma alma penada, mas não produzindo nenhum som.

Tique-taque. O cara não apareceu. Obrigado por nada, relógio.

Aquela alça incômoda escorrega do meu ombro e eu a conserto rapidamente. Mas não antes de algum velho safado me olhar com um sorriso desprezível.

Deus, esse é o nosso cara? Ainda nenhuma mensagem de Ethan.

Um defeito no guarda-roupa testemunhado pelo vovô pervertido é a última coisa de que preciso. Dou outra espiada, rezando para ter imaginado.

Mas não, lá está ele ainda, me fodendo com força em seu pensamento. Uma relíquia chegando facilmente aos setenta. Sério? Os homens precisam parar de criar mentiras sobre melhorar com a idade.

Com partes iguais de horror e fascínio depravado, sou incapaz de desviar o olhar enquanto ele trava os olhos e come uma azeitona na exibição mais vulgar que se possa imaginar.

Bem, essa é uma imagem gravada em meu cérebro para sempre.

Desvio o olhar, tentando me recompor. Não tenho certeza se quero que esse velho seja o cara.

À minha direita, um casal está envolvido em um acalorado debate sobre comprar ou alugar uma casa de praia nos Hamptons. Deve ser bom ter esse tipo de problema. Reprimo um revirar de olhos e tomo um gole da minha bebida. 

Atrás de mim, uma garota meio sussurra, meio grita: 

— Oh meu Deus, adivinha quem acabou de aparecer? Eu sabia que ele viria.

Meu coração dispara, mas não ouso me virar. Ainda nenhuma palavra de Ethan. 

— Você está falando sério? — sua amiga respira. — Ok, o plano é esse – vamos criar um encontro 'espontâneo' onde eu finjo uma queda e caio de cara em sua virilha para quebrar o gelo.

As risadas se dissolvem atrás de mim enquanto eu casualmente examino o bar, meu radar em alerta total.

Porra, é Dylan Evans do outro lado do bar. O ricaço filho do senador. Ele mesmo está envolvido em política e filiado ao partido. Eles são donos de empreendimentos que dominam metade do país.

Droga, que homem. Estou temporariamente distraída do meu plano horrível. Aquele queixo, áspero com a quantidade certa de barba por fazer; maçãs do rosto perfeitas e olhos azuis penetrantes que poderiam fazer desmaiar até as mulheres mais duronas.

Com certeza ele devora garotas como eu no café da manhã, depois limpa a boca e volta com um sorriso arrogante.

Mas aparentemente ele tem uma noiva. A filha do governador do estado, que mais parece uma super modelo da Victoria’s Secrets. Ricos andam com ricos, essa é a regra.

Ele ronda como se fosse o dono do lugar. O que ele faz de melhor. Vestindo jeans desbotados e uma camiseta justa que combina com seu físico musculoso, ele se destaca dos ternos sob medida. Acho que quando você é dono do lugar você pode quebrar as regras.

Conheço o tipo dele – o tipo de tentação perigosa sobre a qual todas as mães alertam suas filhas, enquanto fantasiam secretamente. Exceto minha mãe, que provavelmente estaria agitando as mãos no ar e gritando “Ei, senhor! Venha aqui” até que ela chamasse a atenção dele como uma louca.

Mas agora não é hora disso. Eu tenho uma missão a cumprir.

— Olá, querida.

Eu giro e recuo. Porra, é aquele velho decrépito sugador de azeitona de antes, agora pairando desconfortavelmente perto demais, olhos turvos fixos diretamente na altura do meu seio.

— Posso ajudar? — pergunto friamente, afastando-me e tentando o exterminar ele com o olhar.

_ Você parece familiar. A gente se conhece? — Sua mão pousa no meu braço.

Eu recuo.

— Você provavelmente conheceu minha tataravó antes de ela morrer. As pessoas dizem que éramos parecidas.

Isso dá um soco sólido em seu ego.

Mas ele segue implacável.

— Uma mulher bonita como você não deveria estar sentada aqui sozinha. Que tal alguma companhia?

Reuni toda a repulsa que posso em um olhar. É quase impressionante a confiança dele. Mas vamos lá, com ou sem dinheiro, a diferença de idade aqui não é apenas uma diferença, é uma cratera.

— Obrigada, mas meu namorado está prestes a aparecer. Ele provavelmente está terminando de estrangular alguém em sua aula de luta livre.

O vovô pervertido se senta de qualquer maneira, imperturbável.

— Vamos tomar uma bebida enquanto você espera.

Ele estala os dedos para o barman.

— Outro coquetel para a senhora aqui.

Eu cerro minha mandíbula.

— Eu disse não, obrigado.

Inacreditável.

Ele não entende a dica, me olhando de cima a baixo, praticamente babando.

— Então, o que uma coisinha bonita como você faz? Você é modelo? Atriz?

Minhas mãos apertam minha bebida, imaginando derramá-la sobre sua cabeça.

— Na verdade, eu dirijo noites de bingo. Você deveria passar por lá, é uma delícia no centro para idosos às terças-feiras.

Esse é o chute que finalmente tira o olhar malicioso e presunçoso de seu rosto.

— Sua pequena... — Ele começa, mas não estou ouvindo. Meus olhos se arregalam com a mensagem de Ethan:

Ethan: Ele está aqui. Camisa branca. Jeans.

Abaixo dela, uma foto de Dylan Evans. Quase engasguei. Isso deve ser uma brincadeira cruel.

— Pare com isso — eu rosno para o vovô. Sinto-me doente.

Eu: DYLAN EVANS??

Meus dedos gordos não conseguem digitar rápido o suficiente.

Eu: ISTO É UMA PIADA??

De jeito nenhum isso é real. Prefiro assistir um filme de terror sanguento repetidamente - e isso diz muito, considerando que sempre recuso as ideias de Mila para filmes de terror.

Por favor, não deixe isso acabar no estilo dos filmes de terror.

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