Prólogo 2

RUPI

Ajeitei meus cabelos nervosamente e aproveitei para relancear um olhar na direção de Hillary Morgan. Ela não parecia nada feliz com aquilo. Eu achava que ela tinha uma queda por Zac, assim como eu. Ela era a garota mais bonita do seu grupo de amigos, e a que mais dava em cima dele também. Os dois combinavam, mas apenas o pensamento de vê-los tendo algo fazia meu estômago se retorcer.

Depois de muitos segundos, que para mim pareceram uma eternidade, senti a mão de Zachary em meu pulso, me incitando a me levantar com ele. Eu me ergui imediatamente para evitar que ele pensasse que eu não queria ir. Eu queria. Queria muito. Aquela seria a minha chance de dar o meu primeiro beijo. O primeiro beijo com o garoto de quem eu gostava. O meu melhor amigo e minha pessoa favorita no mundo inteiro.

Entramos no pequeno galpão que era destinado apenas para guardar algumas máquinas e ferramentas que o jardineiro da mansão usava. Não era um lugar tão sujo, mas também não era limpo. Eu não estava nem aí, de qualquer maneira. Minha atenção estava voltada para um único ponto: Zac. Meu lindo, brilhante e futuro marido, Zac.

Eu me sentei de frente para ele e apenas aguardei. Não sabia quanto tempo ainda tínhamos ali dentro, mas não me importaria se ele quisesse ficar um pouco mais. Talvez eu o deixasse colocar a mão por baixo da minha blusa. Tudo dependeria do nosso desempenho.

Enquanto ele me analisava, eu sentia meu rosto corar. Aquilo era tão constrangedor. Será que havia algo em meu rosto ou preso nos dentes? E por falar nisso, eu tinha escovado meus dentes antes de sair? Com toda certeza, eu havia feito. Meu desodorante não havia vencido, o que era uma coisa boa. Só precisava tomar cuidado para não babar. Li uma vez em uma revista que beijos molhados eram nojentos. Eu não queria dar um beijo nojento em Zac.

Eu sentia meu coração bater tão forte que inspirei com força para obter um pouco mais de oxigênio e não cair feito uma fruta madura no chão. Com isso, o meu gesto atraiu o olhar de Zachary para o meu busto.

Sua testa se enrugou conforme ele enfiava o dedo por baixo da fina alça visível da lingerie; e então, com a cara mais confusa, ele perguntou:

— Você está usando sutiã?

Oh, Deus, me enterre agora.

Engasguei-me imediatamente, puxando sua mão para baixo.

— Qual o problema?

— Você nem tem peitos! — Ele riu. — Por que está usando um sutiã? Quer mesmo se parecer com a Pamela Anderson? Ela tem melões gigantes.

Eu havia dito, um tempo atrás, que era fã da Pamela Anderson e queria ter os seios dela, mas agora eu não sabia se havia sido uma boa ideia confessar aquilo a ele.

— Isso não é da sua conta! — despejei, um tanto ríspida além do normal.

Seu sorriso murchou.

— Ei, Pee, eu estava apenas brincando — falou. — Por que está tão sensível sobre isso?

— Eu não quero que você fale sobre meus seios! — eu disse. — E eu não quero que você continue me chamando de Pee também. É infantil e irritante.

Ele parecia confuso e desconcertado com a minha explosão repentina. As coisas entre mim e Zachary sempre foram na base da amizade. Nos conhecíamos havia três anos, e o fato de eu não ser exatamente a garota mais popular da escola não mudava a forma como ele me tratava. Eu gostava de ser a melhor amiga dele, até certo tempo atrás, mas as coisas mudaram agora e eu não queria mais ser apenas a garota com quem ele só conversava ou ouvia música escondido até de madrugada. Eu queria que ele me visse de forma diferente, e por algum motivo seus comentários, que antes me fariam rir, estavam realmente me deixando brava agora.

— Mas eu gosto de te chamar assim — disse na defensiva. — Eu não faço para te irritar. Só acho fofo.

— Bom, mas eu não acho — rebati. — Não quero ser fofa.

Ele parecia querer discutir, mas finalmente suspirou e acenou em concordância.

— Ok. Não fique brava, me desculpe — ele falou. — Então... você quer ouvir música enquanto ficamos aqui dentro? Eu baixei um montão daquela banda mexicana esquisita que você gosta.

— Você me trouxe até aqui para ouvir música?

Zac pareceu ainda mais confuso.

— Claro que sim. Eles iriam nos forçar a nos beijar se continuássemos lá fora. Isso seria tão estranho, nós dois nos beijando.

Senti meu estômago se afundar.

— Por que seria estranho me beijar? É por causa do aparelho?

Sua testa se enrugou outra vez.

— O quê? Claro que não. É só que... nós somos amigos, certo? Eu acho que seria estranho beijar uma amiga.

— Se for assim, eu não quero ser sua amiga! — falei de forma birrenta e cruzei os braços sobre meu peito.

Os olhos dele foram para meu busto mais uma vez, no entanto ele desviou rapidamente.

— Você está estranha — falou. — Como assim, não quer mais ser minha amiga?

Eu sabia que deveria recuar. Sabia que aquela coisa entre mim e Zac jamais rolaria, e que deveria aceitar antes de estragar nossa amizade, mas eu era uma garota de quinze anos desesperada e apaixonada por alguém que mal sabia dos meus reais sentimentos, então eu simplesmente disse:

— Eu não gosto de ser sua amiga.

A expressão que ele esboçou denotava choque e algo mais. Algo que se aproximava à mágoa. Eu havia ferido os sentimentos de Zachary, mas naquele momento não estava me importando com aquilo, visto que estava brava pelo fato de ele ser tonto o bastante para não perceber o óbvio.

— Mas eu pensei que... — Antes que ele fosse capaz de dar continuidade à sua frase, eu me aproximei e dei um beijo nele. Não foi o beijo que eu vivia treinando por anos. Desde os três anos em que convivemos, eu já havia treinado todo tipo de beijos que eu daria em Zachary, mas definitivamente meus olhos abertos e lábios imóveis contra os seus não fazia parte da lista.

Esperei que ele recuasse, mas não fez, então eu decidi me afastar por conta própria. Eu não sabia se ele estava em choque ou o quê, mas ao notar seu olhar, reconheci que talvez eu houvesse cometido uma grande besteira.

— Eu não quero ser sua amiga porque eu gosto de você! — cuspi de uma só vez, analisando sua reação. Quando ele não disse nada e continuou com aqueles olhos escuros arregalados, eu repeti: — Eu... gosto muito, muito mesmo, de você.

Eu não tinha um relógio comigo, mas quase tive certeza de que o tempo parou naquele momento. O barulho dos garotos do lado de fora em alguma interação esquisita no jogo da garrafa me deixava muito consciente de onde estávamos, no entanto.

Eu mordi meu lábio inferior e baixei a cabeça, tentando ficar menos embaraçada com a situação, mas eu sentia muita vergonha.

— Uh... bem, eu... sinto muito — ele finalmente disse, parecendo desconcertado. — Mas estou com outra pessoa.

Sabe o que eu disse sobre sentimentos turbulentos e eles virem com ainda mais intensidade nesta fase? Bem, deixe-me lhe dizer, foi apenas uma frase, mas eu sentia como se ele houvesse fincado uma adaga no meu coração e me torturado com ela.

Sua voz saiu baixa, mas parecia que meus ouvidos não suportariam caso ele repetisse.

Umedeci meus lábios, os lábios que minutos atrás estavam tão ridiculamente colados contra os dele. Me senti realmente ridícula.

— Você... está?

Ele acenou levemente com a cabeça.

— Eu e Hillary estamos namorando. Quer dizer, estamos ficando por enquanto, mas pretendo pedi-la em namoro. Me desculpe não ter dito isso a você antes. Faz pouco tempo que começamos.

Eu queria abrir um buraco no chão e me enterrar. Sinceramente, Rupi? Você achou que realmente aconteceria?

— Oh... — murmurei. — Eu sinto muito, então. Sinto muito por ter beijado você.

Ele desviou o olhar quando mencionei nosso beijo, mas ergueu a mão e tocou de modo incerto seus próprios lábios, parecendo constrangido e confuso. Havia algo na forma como ele me olhava agora que me deixava ainda mais nervosa. Eu não conseguia distinguir, mas era provável que ele estivesse tentando digerir toda a situação.

Zac riu, ainda desconfortável.

— Bem, foi estranho.

Senti minhas bochechas arderem.

— Estranho? — Lembrei-me do que ele me dissera sobre me beijar, e logo a minha ficha caiu. — Oh, me desculpe! Foi meu primeiro beijo.

Ele expandiu os olhos.

— Não, eu não disse que seu beijo foi estranho. Bem... eu realmente disse isso, mas... eu não quis falar nesse sentido, sabe? Eu sou o estranho. Estou me sentindo assim.

O que aquilo queria dizer? Eu não perguntei, porque estava confusa e envergonhada o bastante para sequer abrir a minha boca, mas estava curiosa.

Depois de um tempo, ele tocou os lábios novamente. Uma sombra de sorriso ameaçou surgir ali, no entanto desapareceu como o vento.

— Eu não posso gostar de duas garotas ao mesmo tempo, certo, Pee? — falou, pensativo. — Seria errado.

Eu assenti porque, apesar de não ser a melhor conhecedora de relacionamentos, eu imaginava que aquilo não fosse possível.

— E eu já tenho algo com a Hillary — continuou, como em forma de desculpas. — Então... eu acho que não seria certo eu gostar de você agora. — Eu não sabia se ele estava dizendo aquilo para mim ou para si mesmo, mas não era como se eu fosse ter coragem para perguntar. — Bem, então finja que esse beijo nunca aconteceu, ok? — A frase que veio em seguida foi um divisor de águas no meu relacionamento com Zac. Nossa amizade nunca mais foi a mesma depois daquele dia: — Apenas supere isso.

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