RUPI
Ajeitei meus cabelos nervosamente e aproveitei para relancear um olhar na direção de Hillary Morgan. Ela não parecia nada feliz com aquilo. Eu achava que ela tinha uma queda por Zac, assim como eu. Ela era a garota mais bonita do seu grupo de amigos, e a que mais dava em cima dele também. Os dois combinavam, mas apenas o pensamento de vê-los tendo algo fazia meu estômago se retorcer.
Depois de muitos segundos, que para mim pareceram uma eternidade, senti a mão de Zachary em meu pulso, me incitando a me levantar com ele. Eu me ergui imediatamente para evitar que ele pensasse que eu não queria ir. Eu queria. Queria muito. Aquela seria a minha chance de dar o meu primeiro beijo. O primeiro beijo com o garoto de quem eu gostava. O meu melhor amigo e minha pessoa favorita no mundo inteiro.
Entramos no pequeno galpão que era destinado apenas para guardar algumas máquinas e ferramentas que o jardineiro da mansão usava. Não era um lugar tão sujo, mas também não era limpo. Eu não estava nem aí, de qualquer maneira. Minha atenção estava voltada para um único ponto: Zac. Meu lindo, brilhante e futuro marido, Zac.
Eu me sentei de frente para ele e apenas aguardei. Não sabia quanto tempo ainda tínhamos ali dentro, mas não me importaria se ele quisesse ficar um pouco mais. Talvez eu o deixasse colocar a mão por baixo da minha blusa. Tudo dependeria do nosso desempenho.
Enquanto ele me analisava, eu sentia meu rosto corar. Aquilo era tão constrangedor. Será que havia algo em meu rosto ou preso nos dentes? E por falar nisso, eu tinha escovado meus dentes antes de sair? Com toda certeza, eu havia feito. Meu desodorante não havia vencido, o que era uma coisa boa. Só precisava tomar cuidado para não babar. Li uma vez em uma revista que beijos molhados eram nojentos. Eu não queria dar um beijo nojento em Zac.
Eu sentia meu coração bater tão forte que inspirei com força para obter um pouco mais de oxigênio e não cair feito uma fruta madura no chão. Com isso, o meu gesto atraiu o olhar de Zachary para o meu busto.
Sua testa se enrugou conforme ele enfiava o dedo por baixo da fina alça visível da lingerie; e então, com a cara mais confusa, ele perguntou:
— Você está usando sutiã?
Oh, Deus, me enterre agora.
Engasguei-me imediatamente, puxando sua mão para baixo.
— Qual o problema?
— Você nem tem peitos! — Ele riu. — Por que está usando um sutiã? Quer mesmo se parecer com a Pamela Anderson? Ela tem melões gigantes.
Eu havia dito, um tempo atrás, que era fã da Pamela Anderson e queria ter os seios dela, mas agora eu não sabia se havia sido uma boa ideia confessar aquilo a ele.
— Isso não é da sua conta! — despejei, um tanto ríspida além do normal.
Seu sorriso murchou.
— Ei, Pee, eu estava apenas brincando — falou. — Por que está tão sensível sobre isso?
— Eu não quero que você fale sobre meus seios! — eu disse. — E eu não quero que você continue me chamando de Pee também. É infantil e irritante.
Ele parecia confuso e desconcertado com a minha explosão repentina. As coisas entre mim e Zachary sempre foram na base da amizade. Nos conhecíamos havia três anos, e o fato de eu não ser exatamente a garota mais popular da escola não mudava a forma como ele me tratava. Eu gostava de ser a melhor amiga dele, até certo tempo atrás, mas as coisas mudaram agora e eu não queria mais ser apenas a garota com quem ele só conversava ou ouvia música escondido até de madrugada. Eu queria que ele me visse de forma diferente, e por algum motivo seus comentários, que antes me fariam rir, estavam realmente me deixando brava agora.
— Mas eu gosto de te chamar assim — disse na defensiva. — Eu não faço para te irritar. Só acho fofo.
— Bom, mas eu não acho — rebati. — Não quero ser fofa.
Ele parecia querer discutir, mas finalmente suspirou e acenou em concordância.
— Ok. Não fique brava, me desculpe — ele falou. — Então... você quer ouvir música enquanto ficamos aqui dentro? Eu baixei um montão daquela banda mexicana esquisita que você gosta.
— Você me trouxe até aqui para ouvir música?
Zac pareceu ainda mais confuso.
— Claro que sim. Eles iriam nos forçar a nos beijar se continuássemos lá fora. Isso seria tão estranho, nós dois nos beijando.
Senti meu estômago se afundar.
— Por que seria estranho me beijar? É por causa do aparelho?
Sua testa se enrugou outra vez.
— O quê? Claro que não. É só que... nós somos amigos, certo? Eu acho que seria estranho beijar uma amiga.
— Se for assim, eu não quero ser sua amiga! — falei de forma birrenta e cruzei os braços sobre meu peito.
Os olhos dele foram para meu busto mais uma vez, no entanto ele desviou rapidamente.
— Você está estranha — falou. — Como assim, não quer mais ser minha amiga?
Eu sabia que deveria recuar. Sabia que aquela coisa entre mim e Zac jamais rolaria, e que deveria aceitar antes de estragar nossa amizade, mas eu era uma garota de quinze anos desesperada e apaixonada por alguém que mal sabia dos meus reais sentimentos, então eu simplesmente disse:
— Eu não gosto de ser sua amiga.
A expressão que ele esboçou denotava choque e algo mais. Algo que se aproximava à mágoa. Eu havia ferido os sentimentos de Zachary, mas naquele momento não estava me importando com aquilo, visto que estava brava pelo fato de ele ser tonto o bastante para não perceber o óbvio.
— Mas eu pensei que... — Antes que ele fosse capaz de dar continuidade à sua frase, eu me aproximei e dei um beijo nele. Não foi o beijo que eu vivia treinando por anos. Desde os três anos em que convivemos, eu já havia treinado todo tipo de beijos que eu daria em Zachary, mas definitivamente meus olhos abertos e lábios imóveis contra os seus não fazia parte da lista.
Esperei que ele recuasse, mas não fez, então eu decidi me afastar por conta própria. Eu não sabia se ele estava em choque ou o quê, mas ao notar seu olhar, reconheci que talvez eu houvesse cometido uma grande besteira.
— Eu não quero ser sua amiga porque eu gosto de você! — cuspi de uma só vez, analisando sua reação. Quando ele não disse nada e continuou com aqueles olhos escuros arregalados, eu repeti: — Eu... gosto muito, muito mesmo, de você.
Eu não tinha um relógio comigo, mas quase tive certeza de que o tempo parou naquele momento. O barulho dos garotos do lado de fora em alguma interação esquisita no jogo da garrafa me deixava muito consciente de onde estávamos, no entanto.
Eu mordi meu lábio inferior e baixei a cabeça, tentando ficar menos embaraçada com a situação, mas eu sentia muita vergonha.
— Uh... bem, eu... sinto muito — ele finalmente disse, parecendo desconcertado. — Mas estou com outra pessoa.
Sabe o que eu disse sobre sentimentos turbulentos e eles virem com ainda mais intensidade nesta fase? Bem, deixe-me lhe dizer, foi apenas uma frase, mas eu sentia como se ele houvesse fincado uma adaga no meu coração e me torturado com ela.
Sua voz saiu baixa, mas parecia que meus ouvidos não suportariam caso ele repetisse.
Umedeci meus lábios, os lábios que minutos atrás estavam tão ridiculamente colados contra os dele. Me senti realmente ridícula.
— Você... está?
Ele acenou levemente com a cabeça.
— Eu e Hillary estamos namorando. Quer dizer, estamos ficando por enquanto, mas pretendo pedi-la em namoro. Me desculpe não ter dito isso a você antes. Faz pouco tempo que começamos.
Eu queria abrir um buraco no chão e me enterrar. Sinceramente, Rupi? Você achou que realmente aconteceria?
— Oh... — murmurei. — Eu sinto muito, então. Sinto muito por ter beijado você.
Ele desviou o olhar quando mencionei nosso beijo, mas ergueu a mão e tocou de modo incerto seus próprios lábios, parecendo constrangido e confuso. Havia algo na forma como ele me olhava agora que me deixava ainda mais nervosa. Eu não conseguia distinguir, mas era provável que ele estivesse tentando digerir toda a situação.
Zac riu, ainda desconfortável.
— Bem, foi estranho.
Senti minhas bochechas arderem.
— Estranho? — Lembrei-me do que ele me dissera sobre me beijar, e logo a minha ficha caiu. — Oh, me desculpe! Foi meu primeiro beijo.
Ele expandiu os olhos.
— Não, eu não disse que seu beijo foi estranho. Bem... eu realmente disse isso, mas... eu não quis falar nesse sentido, sabe? Eu sou o estranho. Estou me sentindo assim.
O que aquilo queria dizer? Eu não perguntei, porque estava confusa e envergonhada o bastante para sequer abrir a minha boca, mas estava curiosa.
Depois de um tempo, ele tocou os lábios novamente. Uma sombra de sorriso ameaçou surgir ali, no entanto desapareceu como o vento.
— Eu não posso gostar de duas garotas ao mesmo tempo, certo, Pee? — falou, pensativo. — Seria errado.
Eu assenti porque, apesar de não ser a melhor conhecedora de relacionamentos, eu imaginava que aquilo não fosse possível.
— E eu já tenho algo com a Hillary — continuou, como em forma de desculpas. — Então... eu acho que não seria certo eu gostar de você agora. — Eu não sabia se ele estava dizendo aquilo para mim ou para si mesmo, mas não era como se eu fosse ter coragem para perguntar. — Bem, então finja que esse beijo nunca aconteceu, ok? — A frase que veio em seguida foi um divisor de águas no meu relacionamento com Zac. Nossa amizade nunca mais foi a mesma depois daquele dia: — Apenas supere isso.
ZACDias atuaisOs lençóis de seda embaralhavam-se entre os dedos de Alyssa. A forte ascendência de seu peito era notória, conforme Edgar se posicionava entre suas pernas. O beijo foi faminto, as mãos urgentes do homem passeando pelo vestido longo de sua amada. — Você deve ser tão doce aqui embaixo, querida. Estou louco para prová-la, tal como provaria uma rosada e madura fruta suculenta. — Deus, aquela provavelmente era a frase mais brega que um cara já havia dito durante as preliminares. As pessoas realmente chamavam vaginas de frutas maduras no século 19? Insano. — Você é tão requintada, Alyssa. Diga-me. Diga-me o que você gostaria que eu fizesse com sua delicada fruta. Os olhos de Alyssa o encaravam com desejo e... diversão?Oh, não. Não faça isso, Ashley. Antes que eu pudesse lhe ajudar, Ashley Deacon, atriz premiada e colega de trabalho mais recente, explodiu em uma gargalhada.— Corta! — Malcom, o diretor, ordenou.Eu saí de cima dela, agradecendo quando a assistente de ceno
Minha colega de trabalho revirou os olhos.— Eu achei, por um momento, que não conseguiria levar em frente a gravação — disse. — Eu amo esse livro, e realmente acho o Malcom e o Sid profissionais incríveis, mas eles modificaram quase tudo da história original. Há coisas neste roteiro que eu não consigo concordar. — Então ela fez uma careta, se aproximando mais para cochichar: — Fruta rosada e delicada? Olhe só pra mim, pareço ter uma vagina rosada? Aliás, que tipo de pessoa hoje em dia consegue manter sua boceta como a de uma boneca?Se fosse qualquer outra pessoa ali, eu teria certeza de que cuspiria o gole de água que acabara de tomar, mas era com Ashley que eu estava lidando, então meio que já estava acostumado. Ela era o tipo de celebridade que tinha muita gente amando e odiando ao mesmo tempo. Ela podia ser um pouco assustadora se você não a conhecesse bem, mas eu já estava acostumado à sua boca suja e falta de filtro em alguns momentos.Nos tornamos amigos ainda na faculdade, qu
É realmente ruim ter todos os holofotes em cima de você vinte e quatro horas, então às vezes é mais fácil dançar conforme a música daqueles que têm o poder de nos derrubar.No andar de cima, adentrei minha suíte de proporções gigantescas e tomei um banho longo debaixo do chuveiro chique que eu só tinha porque, como havia mencionado antes, minha vida solitária ficava menos merda quando eu comprava coisas caras.A roupa que eu usaria na festa de casamento já havia sido separada, e estava muito bem passada em cima da minha cama. Eu me perguntava qual a maldita necessidade de se usar terno, uma vez que a festa seria em uma boate, mas não discuti as recomendações de Hillary. Ela era a anfitriã, no fim das contas.Eu já havia me vestido pela metade e estava colocando minha camisa quando a campainha tocou. De má vontade, desci as escadas e abri a porta. Não foi uma surpresa quando avistei a pessoa do outro lado, afinal já esperava por aquilo:Lindsay.Era incrível como, mesmo depois de termi
RUPI— Você está tão bonita!Sorri para a minha avó ao ouvir seu elogio, mas no fundo eu não estava tão animada para aquela noite quanto gostaria. O único motivo de eu estar me empenhando tanto para parecer apresentável na festa de casamento da minha rival de adolescência, a ponto de gastar meu único vestido de festa em uma cerimônia como aquela, era que eu era uma mulher orgulhosa, e recusar o convite de Hillary seria espelhar a menina medrosa e covarde que um dia eu fui.Hillary Morgan era, naquele momento, uma das maiores empresárias no ramo de joias da atualidade, e dado ao fato de que ela conseguiu encontrar meu perfil no Facebook e me convencer a ir à sua festa depois de dez anos, eu reconhecia que seu poder de influência era bem admirável.“Quero que todos os meus amigos de infância estejam no momento mais importante da minha vida”, ela disse quando lhe perguntei por que diabos estava me convidando. Eu cheguei a rir um pouco enquanto fitava a tela do meu notebook, tentando deci
A boate em que estava acontecendo a festa era imensa, mas relatar isso chega a ser ridículo. É óbvio que Hillary Morgan não planejaria um evento em um lugar que não tivesse, pelo menos, centenas de metros quadrados de puro vidro e luzes estroboscópicas. Havia muitos lugares como aquele em Los Angeles — eu mesma já havia visitado alguns, mas aquele era especial, de certa maneira. Ouvi boatos de que o noivo de Hillary era um figurão do ramo empresarial, e um dos sócios do lugar. Ambos haviam se conhecido em uma noite de comemoração alguns anos atrás, naquele mesmo local, e agora decidiram dar um próximo passo no relacionamento. Certamente uma história fofa para se expor nas colunas sociais de alguma revista chique californiana.Admirando ao redor, reconheci que Hillary havia pensado em tudo. E ela parecia estar atenta a tudo também, dado ao fato de que não demorou nem cinco minutos para perceber minha presença ali. Mesmo em meio ao barulho da música pop tocando, foi praticamente impossí
— Realmente, você foi uma cretina. — Bom, ser passivo-agressiva talvez fosse o máximo que eu conseguiria. — Mas já passou, e nós estamos bem agora.Ela me lançou um sorriso desconfortável.— Certo, isso é ótimo. Eu a convidei hoje porque gostaria de apagar isso. Somos mulheres maduras agora, podemos lidar com isso.Abrindo meu melhor sorriso, balancei a cabeça.— Claro. Podemos lidar. Totalmente.— Ótimo! — ela comemorou. — Bem, curta a festa, então. Coma e beba o quanto quiser. Eu vou cumprimentar o restante do pessoal.Depois que ela e seu noivo já estavam fora de vista, eu decidi que precisava de uma bebida. Minha mente ainda estava meio confusa com a revelação. Quer dizer, eu sei que aquilo havia acontecido dez anos atrás, e quem liga se ela havia feito aquela coisa ridícula de seduzir Zac de propósito? Ele nem gostava de mim da maneira que eu esperava, então não faria diferença alguma se Hillary interferisse no meu sonho bobo de me casar com Zachary e ter os seus bebês, certo? No
RUPIEu encarava seus olhos escuros como uma pateta. Eu sempre agi de maneira ridícula quando estava perto dele, mas aos quinze anos de idade há uma justificativa plausível para isso. Aos vinte e cinco? Eu apenas me tornava uma mulher patética.Zachary ainda era muito bonito para o desgosto da minha sanidade. Ele tinha aquela aura de garoto sexy e legal além da conta. Seus cabelos escuros ainda eram os mesmos, agora um pouco maiores devido ao trabalho mais recente. O rosto de maxilar quadrado, lábios levemente cheios e a covinha discreta no queixo me deixavam de garganta seca. Ele estava grande. Realmente grande, comparado ao garoto que um dia conheci. Músculos bem definidos por todos os lados, mas não tão grande a ponto de fazê-lo parecer um gigante de pedra. Sem palavras melhores para usar, eu poderia dizer que ele estava no ponto certo — Deus, isso soou tão sexista. Eu gostaria de me enterrar em um buraco agora.— Morder a sua bunda, hein? — ele parecia divertido ao dizer aquilo. —
No fim das contas, decidi seguir com Zac até a mesa de Chance, onde quem eu só pude imaginar ser Erika Martin, estava sentada, bebericando uma taça de vinho branco.— Zac Yin. Você só conseguiu ficar ainda mais bonito! — disse Erika ao cumprimentá-lo. Quando olhou para mim, ela perguntou: — E você é...— Rupi — falei. — Rupi Russo. Acho que você não se lembra mais de mim.— Oh, Rupi! — Erika abriu um sorriso largo enquanto se aproximava para me dar um abraço. Bem, o gesto foi normal, até, mas constrangedor. Confesso que fiquei surpresa. — Cristo, você está mudada. Mal te reconheci.Fiquei tentada a lançar um olhar discreto na direção de Zachary, como se dizendo: Viu só? Eu mudei, mas desisti da provocação ao notar que ele já me observava. A forma como ele me encarava me deixava quente nos lugares mais inapropriados.— Felizmente, eu cresci. — Abri um sorriso amigável para Erika enquanto ocupava um lugar ao lado de Zac. — Você também mudou um pouco.Um pouco era eufemismo. Erika provav