Capítulo 2 - RUPI

RUPI

— Você está tão bonita!

Sorri para a minha avó ao ouvir seu elogio, mas no fundo eu não estava tão animada para aquela noite quanto gostaria. O único motivo de eu estar me empenhando tanto para parecer apresentável na festa de casamento da minha rival de adolescência, a ponto de gastar meu único vestido de festa em uma cerimônia como aquela, era que eu era uma mulher orgulhosa, e recusar o convite de Hillary seria espelhar a menina medrosa e covarde que um dia eu fui.

Hillary Morgan era, naquele momento, uma das maiores empresárias no ramo de joias da atualidade, e dado ao fato de que ela conseguiu encontrar meu perfil no F******k e me convencer a ir à sua festa depois de dez anos, eu reconhecia que seu poder de influência era bem admirável.

“Quero que todos os meus amigos de infância estejam no momento mais importante da minha vida”, ela disse quando lhe perguntei por que diabos estava me convidando. Eu cheguei a rir um pouco enquanto fitava a tela do meu notebook, tentando decifrar se era uma piada ou uma pegadinha, até aceitar que Hillary era uma mulher decente agora, e que na sua mente de “mulher iluminada”, eu fui sua “amiga de infância”. Ha-ha. Sério, essa parte me soa como piada até agora.

Além disso, pensando de maneira nada madura e superamarga, era bem provável que grande parte dos seus verdadeiros amigos de adolescência estaria naquela festa, e essa era uma ótima oportunidade para eu mostrar a eles que havia mudado, certo? Que era uma mulher diferente e independente agora. Não somente uma garotinha assustada com medo de socializar.

— Como está o meu cabelo? — perguntei para a vovó.

Ela abriu um largo sorriso, os olhos brilhando e não disfarçando em nada a felicidade por eu, finalmente, decidir sair de casa para qualquer lugar que não envolvesse o restaurante ou o colégio em que trabalhava. Eu não lembrava qual foi a última vez que socializei com amigos ou tive um encontro. O trabalho ultimamente vinha tomando muito o meu tempo.

— Você sabe que está bonito, criança. Pare de se preocupar tanto!

— Tem certeza? — questionei outra vez, reconhecendo pela primeira vez naquela noite que estava nervosa. Eu não era tão obcecada assim com a minha aparência. Para falar a verdade, preferiria tênis e jeans a vestidos apertados e saltos. Conforto em primeiro lugar. — Eles resolveram ficar um pouco indisciplinados hoje.

Vovó sorriu, e em seguida passou as mãos nos meus pesados cabelos escuros. Eles eram uma herança da minha mãe, que era indiana. Meu pai, filho da vó Lulu, havia se mudado ainda muito jovem para a Califórnia para estudar medicina em Stanford. Mamãe, que também havia ido aos Estados Unidos para estudar, renunciou à vida de luxo que meus avós haviam planejado para ela na Índia, apenas para se casar com ele quando decidiu que não retornaria ao seu país natal.

A história dos dois era linda e admirável. Eu era uma cópia de ambos, com meus cabelos longos e escuros, pele marrom-claro, sobrancelhas espessas e nariz maior que a média. Minha altura também era maior que a média das mulheres estadunidenses, o que era um problema quando eu estava na puberdade e não passava de uma adolescente com pés grandes.

— Querida, vai por mim, não há nada de errado com o seu cabelo. Calce seus sapatos de salto mais bonitos, e eu tenho certeza de que antes da meia-noite as pessoas estarão olhando para você e te chamando de Cinderela.

Eu sorri com suas palavras ternas e decidi colocar os saltos que havia ganhado de presente da minha amiga, Shay, os quais ela comprara em uma liquidação online no meu último aniversário. Eram Louboutins legítimos — mesmo vindos de um brechó, estavam novinhos porque eu tinha muito cuidado com eles.

Assim que me olhei uma última vez no espelho, eu sabia que estava pronta. Peguei o presente que havia gastado metade do meu salário para comprar e enfiei na minha bolsa. Olhei para vó Lulu e sorri.

— Me deseje sorte.

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