— Você está tão bonita!
Sorri para a minha avó ao ouvir seu elogio, mas no fundo eu não estava tão animada para aquela noite quanto gostaria. O único motivo de eu estar me empenhando tanto para parecer apresentável na festa de casamento da minha rival de adolescência, a ponto de gastar meu único vestido de festa em uma cerimônia como aquela, era que eu era uma mulher orgulhosa, e recusar o convite de Hillary seria espelhar a menina medrosa e covarde que um dia eu fui.
Hillary Morgan era, naquele momento, uma das maiores empresárias no ramo de joias da atualidade, e dado ao fato de que ela conseguiu encontrar meu perfil no F******k e me convencer a ir à sua festa depois de dez anos, eu reconhecia que seu poder de influência era bem admirável.
“Quero que todos os meus amigos de infância estejam no momento mais importante da minha vida”, ela disse quando lhe perguntei por que diabos estava me convidando. Eu cheguei a rir um pouco enquanto fitava a tela do meu notebook, tentando decifrar se era uma piada ou uma pegadinha, até aceitar que Hillary era uma mulher decente agora, e que na sua mente de “mulher iluminada”, eu fui sua “amiga de infância”. Ha-ha. Sério, essa parte me soa como piada até agora.
Além disso, pensando de maneira nada madura e superamarga, era bem provável que grande parte dos seus verdadeiros amigos de adolescência estaria naquela festa, e essa era uma ótima oportunidade para eu mostrar a eles que havia mudado, certo? Que era uma mulher diferente e independente agora. Não somente uma garotinha assustada com medo de socializar.
— Como está o meu cabelo? — perguntei para a vovó.
Ela abriu um largo sorriso, os olhos brilhando e não disfarçando em nada a felicidade por eu, finalmente, decidir sair de casa para qualquer lugar que não envolvesse o restaurante ou o colégio em que trabalhava. Eu não lembrava qual foi a última vez que socializei com amigos ou tive um encontro. O trabalho ultimamente vinha tomando muito o meu tempo.
— Você sabe que está bonito, criança. Pare de se preocupar tanto!
— Tem certeza? — questionei outra vez, reconhecendo pela primeira vez naquela noite que estava nervosa. Eu não era tão obcecada assim com a minha aparência. Para falar a verdade, preferiria tênis e jeans a vestidos apertados e saltos. Conforto em primeiro lugar. — Eles resolveram ficar um pouco indisciplinados hoje.
Vovó sorriu, e em seguida passou as mãos nos meus pesados cabelos escuros. Eles eram uma herança da minha mãe, que era indiana. Meu pai, filho da vó Lulu, havia se mudado ainda muito jovem para a Califórnia para estudar medicina em Stanford. Mamãe, que também havia ido aos Estados Unidos para estudar, renunciou à vida de luxo que meus avós haviam planejado para ela na Índia, apenas para se casar com ele quando decidiu que não retornaria ao seu país natal.
A história dos dois era linda e admirável. Eu era uma cópia de ambos, com meus cabelos longos e escuros, pele marrom-claro, sobrancelhas espessas e nariz maior que a média. Minha altura também era maior que a média das mulheres estadunidenses, o que era um problema quando eu estava na puberdade e não passava de uma adolescente com pés grandes.
— Querida, vai por mim, não há nada de errado com o seu cabelo. Calce seus sapatos de salto mais bonitos, e eu tenho certeza de que antes da meia-noite as pessoas estarão olhando para você e te chamando de Cinderela.
Eu sorri com suas palavras ternas e decidi colocar os saltos que havia ganhado de presente da minha amiga, Shay, os quais ela comprara em uma liquidação online no meu último aniversário. Eram Louboutins legítimos — mesmo vindos de um brechó, estavam novinhos porque eu tinha muito cuidado com eles.
Assim que me olhei uma última vez no espelho, eu sabia que estava pronta. Peguei o presente que havia gastado metade do meu salário para comprar e enfiei na minha bolsa. Olhei para vó Lulu e sorri.
— Me deseje sorte.
A boate em que estava acontecendo a festa era imensa, mas relatar isso chega a ser ridículo. É óbvio que Hillary Morgan não planejaria um evento em um lugar que não tivesse, pelo menos, centenas de metros quadrados de puro vidro e luzes estroboscópicas. Havia muitos lugares como aquele em Los Angeles — eu mesma já havia visitado alguns, mas aquele era especial, de certa maneira. Ouvi boatos de que o noivo de Hillary era um figurão do ramo empresarial, e um dos sócios do lugar. Ambos haviam se conhecido em uma noite de comemoração alguns anos atrás, naquele mesmo local, e agora decidiram dar um próximo passo no relacionamento. Certamente uma história fofa para se expor nas colunas sociais de alguma revista chique californiana.Admirando ao redor, reconheci que Hillary havia pensado em tudo. E ela parecia estar atenta a tudo também, dado ao fato de que não demorou nem cinco minutos para perceber minha presença ali. Mesmo em meio ao barulho da música pop tocando, foi praticamente impossí
— Realmente, você foi uma cretina. — Bom, ser passivo-agressiva talvez fosse o máximo que eu conseguiria. — Mas já passou, e nós estamos bem agora.Ela me lançou um sorriso desconfortável.— Certo, isso é ótimo. Eu a convidei hoje porque gostaria de apagar isso. Somos mulheres maduras agora, podemos lidar com isso.Abrindo meu melhor sorriso, balancei a cabeça.— Claro. Podemos lidar. Totalmente.— Ótimo! — ela comemorou. — Bem, curta a festa, então. Coma e beba o quanto quiser. Eu vou cumprimentar o restante do pessoal.Depois que ela e seu noivo já estavam fora de vista, eu decidi que precisava de uma bebida. Minha mente ainda estava meio confusa com a revelação. Quer dizer, eu sei que aquilo havia acontecido dez anos atrás, e quem liga se ela havia feito aquela coisa ridícula de seduzir Zac de propósito? Ele nem gostava de mim da maneira que eu esperava, então não faria diferença alguma se Hillary interferisse no meu sonho bobo de me casar com Zachary e ter os seus bebês, certo? No
RUPIEu encarava seus olhos escuros como uma pateta. Eu sempre agi de maneira ridícula quando estava perto dele, mas aos quinze anos de idade há uma justificativa plausível para isso. Aos vinte e cinco? Eu apenas me tornava uma mulher patética.Zachary ainda era muito bonito para o desgosto da minha sanidade. Ele tinha aquela aura de garoto sexy e legal além da conta. Seus cabelos escuros ainda eram os mesmos, agora um pouco maiores devido ao trabalho mais recente. O rosto de maxilar quadrado, lábios levemente cheios e a covinha discreta no queixo me deixavam de garganta seca. Ele estava grande. Realmente grande, comparado ao garoto que um dia conheci. Músculos bem definidos por todos os lados, mas não tão grande a ponto de fazê-lo parecer um gigante de pedra. Sem palavras melhores para usar, eu poderia dizer que ele estava no ponto certo — Deus, isso soou tão sexista. Eu gostaria de me enterrar em um buraco agora.— Morder a sua bunda, hein? — ele parecia divertido ao dizer aquilo. —
No fim das contas, decidi seguir com Zac até a mesa de Chance, onde quem eu só pude imaginar ser Erika Martin, estava sentada, bebericando uma taça de vinho branco.— Zac Yin. Você só conseguiu ficar ainda mais bonito! — disse Erika ao cumprimentá-lo. Quando olhou para mim, ela perguntou: — E você é...— Rupi — falei. — Rupi Russo. Acho que você não se lembra mais de mim.— Oh, Rupi! — Erika abriu um sorriso largo enquanto se aproximava para me dar um abraço. Bem, o gesto foi normal, até, mas constrangedor. Confesso que fiquei surpresa. — Cristo, você está mudada. Mal te reconheci.Fiquei tentada a lançar um olhar discreto na direção de Zachary, como se dizendo: Viu só? Eu mudei, mas desisti da provocação ao notar que ele já me observava. A forma como ele me encarava me deixava quente nos lugares mais inapropriados.— Felizmente, eu cresci. — Abri um sorriso amigável para Erika enquanto ocupava um lugar ao lado de Zac. — Você também mudou um pouco.Um pouco era eufemismo. Erika provav
Eu pisquei algumas vezes, tentando me certificar de que ela não estava zoando com a minha cara, mas Erika parecia estar sendo sincera. Eu duvidava que em algum momento tivesse dinheiro para comprar um de seus modelos, mas se aquela era uma chance de fazer uma nova amizade, eu não iria recusar.— Claro. Aqui. — Puxei um bloquinho da minha bolsa e anotei meu número para ela. Erika me passou seu cartão em seguida.— E quanto a você, Rupi? — disse Chance. — O que faz da vida atualmente?— Eu sou professora.— Oh, que legal! — Erika falou, abrindo um sorriso genuíno. — Em qual colégio você leciona?— St. Mary. Eu dou aula para uma turma de crianças com deficiência auditiva.Chance franziu a testa.— Você... tipo... dá aula para crianças surdas?Não gostei do seu tom, mas decidi apenas assentir.— Minha nossa. Pelo seu histórico, eu imaginei que você se tornaria uma cientista de Harvard ou algo assim.— Eu queria algo que me permitisse trabalhar com crianças. Até pensei em cursar pediatria,
Oh, Deus, meu cérebro estava virando gelatina. Em algum lugar naquela boate imensa, um cara estava cantando Nick Jonas. Eu não sabia se gostaria de ter mais atenção do que eu já estava tendo, porque aquilo certamente aconteceria caso eu dançasse uma música romântica com o maldito Zac Yin, mas eu estava ciente de que não o veria novamente depois daquela noite, então simplesmente assenti.Ele se levantou, auxiliando-me enquanto eu fazia o mesmo. Eu senti sua mão nas minhas costas, o toque fazendo a minha pele formigar por baixo do tecido do vestido. Sua postura era elegante e jorrava confiança, o que me fez recordar do quão grande era a barreira de diferença entre nós. Seu perfume não era mais o mesmo, havia algo sutil e extremamente sensual na colônia amadeirada que ele usava. Suas roupas eram estilosas e o cabelo era uma massa escura e brilhante que me fazia ter vontade de enredar meus dedos e não soltar nunca mais. Eu estaria soando repetitiva se dissesse que ele era lindo? Desculpe
ZACA dinâmica entre os meus pais sempre foi confusa e estranha — e eu digo isso em praticamente todos os sentidos. Mesmo quando ainda eram um casal, o relacionamento de ambos era baseado em aparências ou em quem conseguia se sobressair primeiro. Ter pais famosos, porém de ramos totalmente opostos, me rendeu algumas sessões de terapia conforme eu crescia em meio ao caos de poses para fotos e busca pela perfeição. Depois do divórcio, eu achei que as coisas melhorariam, mas estava sendo nada além de um garoto ingênuo, porque tudo apenas se tornou ainda mais óbvio, e então foi assim que se iniciou a competição de pais mais estressante que eu já vi.Se minha mãe, Jessica, adquiria um carro novo, o meu pai, Raymond, adicionava um jatinho em sua lista de compras;Se meu pai decidia ter uma casa em Malibu, minha mãe decretava que seria uma boa ideia ter uma nova mansão na Europa;Se ela anunciava uma nova agência de modelos, o meu pai simplesmente decidia que era o momento certo de se aposen
ZACDepois de me despedir, aproveitei que havia recebido uma mensagem de Brian para tomar uma bebida e segui em direção ao clube do qual éramos sócios. O encontrei no bar da piscina, entornando uma minigarrafa de cerveja importada, como se sua vida dependesse disso.Era fim de semana, mas ainda estava cedo. Não era do seu feitio ter aquele tipo de comportamento às duas da tarde.— O que está acontecendo aqui? — cumprimentei meu melhor amigo, sentando-me ao lado dele no balcão do bar. — Você está bêbado, cara?Ele nem sequer se deu ao trabalho de levantar a cabeça para me encarar.— Estou louco, porra. Totalmente louco.Eu franzi a testa.— Eu estou começando a concordar com isso, mas ainda não entendi aonde está querendo chegar. Pode me explicar?Brian finalmente ergueu a cabeça.— É a Ashley... Ela simplesmente está fodendo as minhas bolas.— Bom, da última vez que você conversou sobre isso comigo, essa era uma de suas muitas qualidades. Não entendo o porquê de estar reclamando agora