1.3 ZAC

É realmente ruim ter todos os holofotes em cima de você vinte e quatro horas, então às vezes é mais fácil dançar conforme a música daqueles que têm o poder de nos derrubar.

No andar de cima, adentrei minha suíte de proporções gigantescas e tomei um banho longo debaixo do chuveiro chique que eu só tinha porque, como havia mencionado antes, minha vida solitária ficava menos merda quando eu comprava coisas caras.

A roupa que eu usaria na festa de casamento já havia sido separada, e estava muito bem passada em cima da minha cama. Eu me perguntava qual a m*****a necessidade de se usar terno, uma vez que a festa seria em uma boate, mas não discuti as recomendações de Hillary. Ela era a anfitriã, no fim das contas.

Eu já havia me vestido pela metade e estava colocando minha camisa quando a campainha tocou. De má vontade, desci as escadas e abri a porta. Não foi uma surpresa quando avistei a pessoa do outro lado, afinal já esperava por aquilo:

Lindsay.

Era incrível como, mesmo depois de terminarmos, eu não sentia emoção alguma quando a via. Eu achei que fosse sentir falta dela depois que nos separamos, e uma parte de mim realmente desejou isso, mas era como se eu fosse um ser humano anestesiado. Pesado dizer que nosso término me causou algo mais próximo ao alívio.

— Zachary. — Ela entrou na minha casa sem cerimônia alguma.

— Como você conseguiu entrar sem ser anunciada?

— Eu morava aqui, você se esqueceu? — bufou. — Só vim pegar o restante das minhas coisas.

Eu apenas revirei os olhos.

— Certo, seja rápida. Eu tenho um lugar pra ir.

Ela pareceu só se dar conta da minha roupa naquele momento.

— Uau. Algum evento que eu não saiba?

— Uma festa. — Peguei a mala num canto, contendo o restante das coisas dela, e empurrei em sua direção. — Aqui. Você já pode ir.

Ela estreitou os olhos, provavelmente surpresa e irritada com o fato de que fui mais rápido que ela em pensar naquilo. Lindsay conseguia ser intimidante quando dava aquele olhar, e já houve uma época em que eu achei muito sexy tal expressão, mas agora eu só conseguia sentir tédio.

— Por que você tem que ser tão frio e rude?

— Não estou sendo rude. Estou sendo prático.

Ela cruzou os braços.

— Você me odeia, não é?

— Você sabe que não. — Eu estava sendo sincero quanto àquilo. Não gostar de Lindsay não queria dizer que eu a odiava.

— Está pensando em desistir da sessão de fotos? — Pela primeira vez naquela noite, seu rosto perdeu a expressão imperiosa e se transformou em algo que eu poderia julgar como insegurança.

Então ali estava o ponto. O seu desconforto não era pelo fato de eu não ter mais sentimentos por ela. Lindsay só estava preocupada que eu atrapalhasse seus planos de conseguir um contrato valioso no futuro.

Eu e Lindsay começamos de uma maneira totalmente errada. É essa merda pela qual você se permite passar quando se está solitário e acha que é uma boa ideia se jogar de cabeça em um fan service com a colega de seu trabalho atual, juntando na vida real um dos casais mais quentes das séries de ação e mistério dos últimos tempos. Lucius e Voga — os personagens principais da famosa Vagabonds — talvez se dessem bem e se amassem intensamente na televisão, mas nós funcionávamos melhor separados, e um ano e três meses foi o suficiente para que conseguíssemos levar isso ao máximo até chegarmos ao nosso limite. O nosso relacionamento não era nada mais que um contrato com benefícios, e apesar da pressão por parte da minha mãe, eu decidi dar um basta em tudo antes que as coisas piorassem.

— Você já me viu agir como um profissional de merda? — questionei, irritado. — Eu vou fazer essa m*****a sessão de fotos. Você não precisa se preocupar com isso.

Seu sorriso foi de alívio.

— Certo. Obrigada. Nós podemos nos ver amanhã?

— Não tenho tempo. Vou visitar meus pais.

Ela parecia esperar por um convite, mas isso não veio.

— Ok. Bem, eu vou anunciar minha presença quando vier aqui a partir de agora.

— Bom. — Eu esperava que ela não aparecesse tão cedo.

E assim, ela se foi.

Tranquei a porta e terminei de me vestir. Olhei no espelho, e a imagem do falso príncipe de Hollywood me encarou de volta. Vinte e seis anos, aparência perfeita, premiações guardadas em um armário gigantesco no quarto da minha mansão de medidas infinitas e filho único de duas das maiores celebridades do mundo.

Eu era um artista conhecido mundialmente, um dos famosos com menos de trinta anos mais influentes da minha época, e eu tinha uma conta bancária que daria para sustentar muitas gerações. Mas por que eu me sentia tão insignificante e vazio? Minha terapeuta havia me dito que aquilo poderia ser o começo de um problema. Muito trabalho talvez estivesse me deixando estressado. Mas talvez eu só quisesse de volta algo que deixei ir embora muito tempo atrás.

Balancei a cabeça ante a pequena lembrança na qual eu não deveria pensar e sorri para meu reflexo no espelho.

— Você está ficando velho, Zac — eu disse, tentando soar mais como um cara adulto e menos como um adolescente reprimido com inclinações dramáticas. — É hora de enfrentar o mundo.

Mais uma vez.

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