É realmente ruim ter todos os holofotes em cima de você vinte e quatro horas, então às vezes é mais fácil dançar conforme a música daqueles que têm o poder de nos derrubar.
No andar de cima, adentrei minha suíte de proporções gigantescas e tomei um banho longo debaixo do chuveiro chique que eu só tinha porque, como havia mencionado antes, minha vida solitária ficava menos merda quando eu comprava coisas caras.
A roupa que eu usaria na festa de casamento já havia sido separada, e estava muito bem passada em cima da minha cama. Eu me perguntava qual a m*****a necessidade de se usar terno, uma vez que a festa seria em uma boate, mas não discuti as recomendações de Hillary. Ela era a anfitriã, no fim das contas.
Eu já havia me vestido pela metade e estava colocando minha camisa quando a campainha tocou. De má vontade, desci as escadas e abri a porta. Não foi uma surpresa quando avistei a pessoa do outro lado, afinal já esperava por aquilo:
Lindsay.
Era incrível como, mesmo depois de terminarmos, eu não sentia emoção alguma quando a via. Eu achei que fosse sentir falta dela depois que nos separamos, e uma parte de mim realmente desejou isso, mas era como se eu fosse um ser humano anestesiado. Pesado dizer que nosso término me causou algo mais próximo ao alívio.
— Zachary. — Ela entrou na minha casa sem cerimônia alguma.
— Como você conseguiu entrar sem ser anunciada?
— Eu morava aqui, você se esqueceu? — bufou. — Só vim pegar o restante das minhas coisas.
Eu apenas revirei os olhos.
— Certo, seja rápida. Eu tenho um lugar pra ir.
Ela pareceu só se dar conta da minha roupa naquele momento.
— Uau. Algum evento que eu não saiba?
— Uma festa. — Peguei a mala num canto, contendo o restante das coisas dela, e empurrei em sua direção. — Aqui. Você já pode ir.
Ela estreitou os olhos, provavelmente surpresa e irritada com o fato de que fui mais rápido que ela em pensar naquilo. Lindsay conseguia ser intimidante quando dava aquele olhar, e já houve uma época em que eu achei muito sexy tal expressão, mas agora eu só conseguia sentir tédio.
— Por que você tem que ser tão frio e rude?
— Não estou sendo rude. Estou sendo prático.
Ela cruzou os braços.
— Você me odeia, não é?
— Você sabe que não. — Eu estava sendo sincero quanto àquilo. Não gostar de Lindsay não queria dizer que eu a odiava.
— Está pensando em desistir da sessão de fotos? — Pela primeira vez naquela noite, seu rosto perdeu a expressão imperiosa e se transformou em algo que eu poderia julgar como insegurança.
Então ali estava o ponto. O seu desconforto não era pelo fato de eu não ter mais sentimentos por ela. Lindsay só estava preocupada que eu atrapalhasse seus planos de conseguir um contrato valioso no futuro.
Eu e Lindsay começamos de uma maneira totalmente errada. É essa merda pela qual você se permite passar quando se está solitário e acha que é uma boa ideia se jogar de cabeça em um fan service com a colega de seu trabalho atual, juntando na vida real um dos casais mais quentes das séries de ação e mistério dos últimos tempos. Lucius e Voga — os personagens principais da famosa Vagabonds — talvez se dessem bem e se amassem intensamente na televisão, mas nós funcionávamos melhor separados, e um ano e três meses foi o suficiente para que conseguíssemos levar isso ao máximo até chegarmos ao nosso limite. O nosso relacionamento não era nada mais que um contrato com benefícios, e apesar da pressão por parte da minha mãe, eu decidi dar um basta em tudo antes que as coisas piorassem.
— Você já me viu agir como um profissional de merda? — questionei, irritado. — Eu vou fazer essa m*****a sessão de fotos. Você não precisa se preocupar com isso.
Seu sorriso foi de alívio.
— Certo. Obrigada. Nós podemos nos ver amanhã?
— Não tenho tempo. Vou visitar meus pais.
Ela parecia esperar por um convite, mas isso não veio.
— Ok. Bem, eu vou anunciar minha presença quando vier aqui a partir de agora.
— Bom. — Eu esperava que ela não aparecesse tão cedo.
E assim, ela se foi.
Tranquei a porta e terminei de me vestir. Olhei no espelho, e a imagem do falso príncipe de Hollywood me encarou de volta. Vinte e seis anos, aparência perfeita, premiações guardadas em um armário gigantesco no quarto da minha mansão de medidas infinitas e filho único de duas das maiores celebridades do mundo.
Eu era um artista conhecido mundialmente, um dos famosos com menos de trinta anos mais influentes da minha época, e eu tinha uma conta bancária que daria para sustentar muitas gerações. Mas por que eu me sentia tão insignificante e vazio? Minha terapeuta havia me dito que aquilo poderia ser o começo de um problema. Muito trabalho talvez estivesse me deixando estressado. Mas talvez eu só quisesse de volta algo que deixei ir embora muito tempo atrás.
Balancei a cabeça ante a pequena lembrança na qual eu não deveria pensar e sorri para meu reflexo no espelho.
— Você está ficando velho, Zac — eu disse, tentando soar mais como um cara adulto e menos como um adolescente reprimido com inclinações dramáticas. — É hora de enfrentar o mundo.
Mais uma vez.
RUPI— Você está tão bonita!Sorri para a minha avó ao ouvir seu elogio, mas no fundo eu não estava tão animada para aquela noite quanto gostaria. O único motivo de eu estar me empenhando tanto para parecer apresentável na festa de casamento da minha rival de adolescência, a ponto de gastar meu único vestido de festa em uma cerimônia como aquela, era que eu era uma mulher orgulhosa, e recusar o convite de Hillary seria espelhar a menina medrosa e covarde que um dia eu fui.Hillary Morgan era, naquele momento, uma das maiores empresárias no ramo de joias da atualidade, e dado ao fato de que ela conseguiu encontrar meu perfil no Facebook e me convencer a ir à sua festa depois de dez anos, eu reconhecia que seu poder de influência era bem admirável.“Quero que todos os meus amigos de infância estejam no momento mais importante da minha vida”, ela disse quando lhe perguntei por que diabos estava me convidando. Eu cheguei a rir um pouco enquanto fitava a tela do meu notebook, tentando deci
A boate em que estava acontecendo a festa era imensa, mas relatar isso chega a ser ridículo. É óbvio que Hillary Morgan não planejaria um evento em um lugar que não tivesse, pelo menos, centenas de metros quadrados de puro vidro e luzes estroboscópicas. Havia muitos lugares como aquele em Los Angeles — eu mesma já havia visitado alguns, mas aquele era especial, de certa maneira. Ouvi boatos de que o noivo de Hillary era um figurão do ramo empresarial, e um dos sócios do lugar. Ambos haviam se conhecido em uma noite de comemoração alguns anos atrás, naquele mesmo local, e agora decidiram dar um próximo passo no relacionamento. Certamente uma história fofa para se expor nas colunas sociais de alguma revista chique californiana.Admirando ao redor, reconheci que Hillary havia pensado em tudo. E ela parecia estar atenta a tudo também, dado ao fato de que não demorou nem cinco minutos para perceber minha presença ali. Mesmo em meio ao barulho da música pop tocando, foi praticamente impossí
— Realmente, você foi uma cretina. — Bom, ser passivo-agressiva talvez fosse o máximo que eu conseguiria. — Mas já passou, e nós estamos bem agora.Ela me lançou um sorriso desconfortável.— Certo, isso é ótimo. Eu a convidei hoje porque gostaria de apagar isso. Somos mulheres maduras agora, podemos lidar com isso.Abrindo meu melhor sorriso, balancei a cabeça.— Claro. Podemos lidar. Totalmente.— Ótimo! — ela comemorou. — Bem, curta a festa, então. Coma e beba o quanto quiser. Eu vou cumprimentar o restante do pessoal.Depois que ela e seu noivo já estavam fora de vista, eu decidi que precisava de uma bebida. Minha mente ainda estava meio confusa com a revelação. Quer dizer, eu sei que aquilo havia acontecido dez anos atrás, e quem liga se ela havia feito aquela coisa ridícula de seduzir Zac de propósito? Ele nem gostava de mim da maneira que eu esperava, então não faria diferença alguma se Hillary interferisse no meu sonho bobo de me casar com Zachary e ter os seus bebês, certo? No
RUPIEu encarava seus olhos escuros como uma pateta. Eu sempre agi de maneira ridícula quando estava perto dele, mas aos quinze anos de idade há uma justificativa plausível para isso. Aos vinte e cinco? Eu apenas me tornava uma mulher patética.Zachary ainda era muito bonito para o desgosto da minha sanidade. Ele tinha aquela aura de garoto sexy e legal além da conta. Seus cabelos escuros ainda eram os mesmos, agora um pouco maiores devido ao trabalho mais recente. O rosto de maxilar quadrado, lábios levemente cheios e a covinha discreta no queixo me deixavam de garganta seca. Ele estava grande. Realmente grande, comparado ao garoto que um dia conheci. Músculos bem definidos por todos os lados, mas não tão grande a ponto de fazê-lo parecer um gigante de pedra. Sem palavras melhores para usar, eu poderia dizer que ele estava no ponto certo — Deus, isso soou tão sexista. Eu gostaria de me enterrar em um buraco agora.— Morder a sua bunda, hein? — ele parecia divertido ao dizer aquilo. —
No fim das contas, decidi seguir com Zac até a mesa de Chance, onde quem eu só pude imaginar ser Erika Martin, estava sentada, bebericando uma taça de vinho branco.— Zac Yin. Você só conseguiu ficar ainda mais bonito! — disse Erika ao cumprimentá-lo. Quando olhou para mim, ela perguntou: — E você é...— Rupi — falei. — Rupi Russo. Acho que você não se lembra mais de mim.— Oh, Rupi! — Erika abriu um sorriso largo enquanto se aproximava para me dar um abraço. Bem, o gesto foi normal, até, mas constrangedor. Confesso que fiquei surpresa. — Cristo, você está mudada. Mal te reconheci.Fiquei tentada a lançar um olhar discreto na direção de Zachary, como se dizendo: Viu só? Eu mudei, mas desisti da provocação ao notar que ele já me observava. A forma como ele me encarava me deixava quente nos lugares mais inapropriados.— Felizmente, eu cresci. — Abri um sorriso amigável para Erika enquanto ocupava um lugar ao lado de Zac. — Você também mudou um pouco.Um pouco era eufemismo. Erika provav
Eu pisquei algumas vezes, tentando me certificar de que ela não estava zoando com a minha cara, mas Erika parecia estar sendo sincera. Eu duvidava que em algum momento tivesse dinheiro para comprar um de seus modelos, mas se aquela era uma chance de fazer uma nova amizade, eu não iria recusar.— Claro. Aqui. — Puxei um bloquinho da minha bolsa e anotei meu número para ela. Erika me passou seu cartão em seguida.— E quanto a você, Rupi? — disse Chance. — O que faz da vida atualmente?— Eu sou professora.— Oh, que legal! — Erika falou, abrindo um sorriso genuíno. — Em qual colégio você leciona?— St. Mary. Eu dou aula para uma turma de crianças com deficiência auditiva.Chance franziu a testa.— Você... tipo... dá aula para crianças surdas?Não gostei do seu tom, mas decidi apenas assentir.— Minha nossa. Pelo seu histórico, eu imaginei que você se tornaria uma cientista de Harvard ou algo assim.— Eu queria algo que me permitisse trabalhar com crianças. Até pensei em cursar pediatria,
Oh, Deus, meu cérebro estava virando gelatina. Em algum lugar naquela boate imensa, um cara estava cantando Nick Jonas. Eu não sabia se gostaria de ter mais atenção do que eu já estava tendo, porque aquilo certamente aconteceria caso eu dançasse uma música romântica com o maldito Zac Yin, mas eu estava ciente de que não o veria novamente depois daquela noite, então simplesmente assenti.Ele se levantou, auxiliando-me enquanto eu fazia o mesmo. Eu senti sua mão nas minhas costas, o toque fazendo a minha pele formigar por baixo do tecido do vestido. Sua postura era elegante e jorrava confiança, o que me fez recordar do quão grande era a barreira de diferença entre nós. Seu perfume não era mais o mesmo, havia algo sutil e extremamente sensual na colônia amadeirada que ele usava. Suas roupas eram estilosas e o cabelo era uma massa escura e brilhante que me fazia ter vontade de enredar meus dedos e não soltar nunca mais. Eu estaria soando repetitiva se dissesse que ele era lindo? Desculpe
ZACA dinâmica entre os meus pais sempre foi confusa e estranha — e eu digo isso em praticamente todos os sentidos. Mesmo quando ainda eram um casal, o relacionamento de ambos era baseado em aparências ou em quem conseguia se sobressair primeiro. Ter pais famosos, porém de ramos totalmente opostos, me rendeu algumas sessões de terapia conforme eu crescia em meio ao caos de poses para fotos e busca pela perfeição. Depois do divórcio, eu achei que as coisas melhorariam, mas estava sendo nada além de um garoto ingênuo, porque tudo apenas se tornou ainda mais óbvio, e então foi assim que se iniciou a competição de pais mais estressante que eu já vi.Se minha mãe, Jessica, adquiria um carro novo, o meu pai, Raymond, adicionava um jatinho em sua lista de compras;Se meu pai decidia ter uma casa em Malibu, minha mãe decretava que seria uma boa ideia ter uma nova mansão na Europa;Se ela anunciava uma nova agência de modelos, o meu pai simplesmente decidia que era o momento certo de se aposen