A boate em que estava acontecendo a festa era imensa, mas relatar isso chega a ser ridículo. É óbvio que Hillary Morgan não planejaria um evento em um lugar que não tivesse, pelo menos, centenas de metros quadrados de puro vidro e luzes estroboscópicas. Havia muitos lugares como aquele em Los Angeles — eu mesma já havia visitado alguns, mas aquele era especial, de certa maneira. Ouvi boatos de que o noivo de Hillary era um figurão do ramo empresarial, e um dos sócios do lugar. Ambos haviam se conhecido em uma noite de comemoração alguns anos atrás, naquele mesmo local, e agora decidiram dar um próximo passo no relacionamento. Certamente uma história fofa para se expor nas colunas sociais de alguma revista chique californiana.
Admirando ao redor, reconheci que Hillary havia pensado em tudo. E ela parecia estar atenta a tudo também, dado ao fato de que não demorou nem cinco minutos para perceber minha presença ali. Mesmo em meio ao barulho da música pop tocando, foi praticamente impossível não me dar conta de sua voz me chamando:
— Rupi!
Me virei imediatamente, encarando sua expressão alegre. Ela continuava linda e loira. Uma boneca impecável, trajando um vestido rosa pálido com pedrarias discretas. Eu podia estar errada, mas seu sorriso parecia sincero, principalmente quando ela me cumprimentou, dando beijinhos no ar.
— Ei, Hillary. Obrigada pelo convite... e parabéns pelo noivado.
Ela continuou sorrindo amplamente, seus olhos brilhando.
— Obrigada. Eu estou tão feliz! — Esperei pelo momento em que ela esfregaria um anel de diamantes na minha cara e me diria que eu estava ficando velha e que precisava me casar em breve também, e então seria o momento em que eu abriria um sorriso amarelo ao reconhecer que ela continuava a mesma megera de sempre, mas isso nunca aconteceu. Talvez eu devesse ser menos amarga, certo? E parar de assistir a comédias românticas.
— Imagino — eu disse. — Casamento é algo muito... importante, não é? — Não para mim, mas aquela era uma frase clichê e, sinceramente, eu não fazia ideia de como continuar um diálogo com ela. Não tínhamos liga alguma.
— Bom, eu não tinha essa visão, confesso. Não até conhecer o meu noivo... Oh! E por falar nele, eu quero que você o conheça. — Seu sorriso se alargou ainda mais no instante em que um homem se juntou a nós e a abraçou pela cintura. — Rupi, este é Garrett, meu noivo.
— É um prazer conhecê-lo. — Eu estava agindo no piloto automático enquanto segurava na mão do noivo de Hillary. Fazia muito tempo desde que a vi pela última vez. Era meio surreal tudo aquilo: a gente se encontrando depois de anos, enquanto ela me apresentava o homem com quem passaria o resto da vida.
— Escute, eu espero que não tenha ficado nenhum resquício de inimizade entre nós. Você sabe, desde que eu não era exatamente uma garota muito legal com você na adolescência, pode ser que ainda reste certos rancores daquela época.
Puxa, como ela adivinhou?
Em vez de dizer exatamente o que eu queria, apenas gaguejei um:
— Oh, não. Tudo bem, está tudo ok.
Ela fez um biquinho culpado.
— É ridículo admitir isso, mas eu meio que tinha ciúme de você com o Zac, sabe?
Se havia algo capaz de azedar ainda mais aquela noite, citar Zac e nossa aproximação quando éramos mais jovens certamente era um começo adequado para isso.
Me fingi de tonta:
— Hum... como assim?
Ela torceu o lábio.
— Ora, Rupi, todo mundo percebia a queda que você tinha por ele. — Oh, Deus... — Isso era óbvio, mas o Zachary era meio burro, então eu imagino que ele tenha sido o único a não notar isso. Eu comecei a namorá-lo porque parecia ser uma boa maneira de vencer aquela competição ridícula que criei com você dentro da minha própria cabeça. — Fez uma careta. — Oh, meu Deus... lembrando disso agora reconheço o quanto eu era idiota. Me desculpe.
Eu não sabia exatamente como reagir. Ela queria que eu sorrisse de maneira tranquila e lhe lançasse um: “Oh, você simplesmente criou uma competição ridícula por conta de um garoto quando estávamos no ensino médio, mas tudo bem, todo mundo faz isso.”? Ou apenas esperava por um tapinha amigável no ombro seguido de: “Certo, garota, eu perdoo você por ter infernizado a minha vida no passado. Vamos ser melhores amigas a partir de agora!”?
Por mais que eu quisesse ser uma mulher sensata e decente, nenhuma dessas possibilidades amigáveis me soou bem. A verdade é que eu tinha vontade de dizer a ela para ir se foder — logo após lhe entregar uma medalha por ser uma grande cadela — mas eu não faria aquilo, é claro. Eu não era mais uma adolescente, e Hillary estava se desculpando por toda a merda que fizera comigo. Tudo havia ficado no passado. Eu deveria perdoar e deixar ir, não é?
— Realmente, você foi uma cretina. — Bom, ser passivo-agressiva talvez fosse o máximo que eu conseguiria. — Mas já passou, e nós estamos bem agora.Ela me lançou um sorriso desconfortável.— Certo, isso é ótimo. Eu a convidei hoje porque gostaria de apagar isso. Somos mulheres maduras agora, podemos lidar com isso.Abrindo meu melhor sorriso, balancei a cabeça.— Claro. Podemos lidar. Totalmente.— Ótimo! — ela comemorou. — Bem, curta a festa, então. Coma e beba o quanto quiser. Eu vou cumprimentar o restante do pessoal.Depois que ela e seu noivo já estavam fora de vista, eu decidi que precisava de uma bebida. Minha mente ainda estava meio confusa com a revelação. Quer dizer, eu sei que aquilo havia acontecido dez anos atrás, e quem liga se ela havia feito aquela coisa ridícula de seduzir Zac de propósito? Ele nem gostava de mim da maneira que eu esperava, então não faria diferença alguma se Hillary interferisse no meu sonho bobo de me casar com Zachary e ter os seus bebês, certo? No
RUPIEu encarava seus olhos escuros como uma pateta. Eu sempre agi de maneira ridícula quando estava perto dele, mas aos quinze anos de idade há uma justificativa plausível para isso. Aos vinte e cinco? Eu apenas me tornava uma mulher patética.Zachary ainda era muito bonito para o desgosto da minha sanidade. Ele tinha aquela aura de garoto sexy e legal além da conta. Seus cabelos escuros ainda eram os mesmos, agora um pouco maiores devido ao trabalho mais recente. O rosto de maxilar quadrado, lábios levemente cheios e a covinha discreta no queixo me deixavam de garganta seca. Ele estava grande. Realmente grande, comparado ao garoto que um dia conheci. Músculos bem definidos por todos os lados, mas não tão grande a ponto de fazê-lo parecer um gigante de pedra. Sem palavras melhores para usar, eu poderia dizer que ele estava no ponto certo — Deus, isso soou tão sexista. Eu gostaria de me enterrar em um buraco agora.— Morder a sua bunda, hein? — ele parecia divertido ao dizer aquilo. —
No fim das contas, decidi seguir com Zac até a mesa de Chance, onde quem eu só pude imaginar ser Erika Martin, estava sentada, bebericando uma taça de vinho branco.— Zac Yin. Você só conseguiu ficar ainda mais bonito! — disse Erika ao cumprimentá-lo. Quando olhou para mim, ela perguntou: — E você é...— Rupi — falei. — Rupi Russo. Acho que você não se lembra mais de mim.— Oh, Rupi! — Erika abriu um sorriso largo enquanto se aproximava para me dar um abraço. Bem, o gesto foi normal, até, mas constrangedor. Confesso que fiquei surpresa. — Cristo, você está mudada. Mal te reconheci.Fiquei tentada a lançar um olhar discreto na direção de Zachary, como se dizendo: Viu só? Eu mudei, mas desisti da provocação ao notar que ele já me observava. A forma como ele me encarava me deixava quente nos lugares mais inapropriados.— Felizmente, eu cresci. — Abri um sorriso amigável para Erika enquanto ocupava um lugar ao lado de Zac. — Você também mudou um pouco.Um pouco era eufemismo. Erika provav
Eu pisquei algumas vezes, tentando me certificar de que ela não estava zoando com a minha cara, mas Erika parecia estar sendo sincera. Eu duvidava que em algum momento tivesse dinheiro para comprar um de seus modelos, mas se aquela era uma chance de fazer uma nova amizade, eu não iria recusar.— Claro. Aqui. — Puxei um bloquinho da minha bolsa e anotei meu número para ela. Erika me passou seu cartão em seguida.— E quanto a você, Rupi? — disse Chance. — O que faz da vida atualmente?— Eu sou professora.— Oh, que legal! — Erika falou, abrindo um sorriso genuíno. — Em qual colégio você leciona?— St. Mary. Eu dou aula para uma turma de crianças com deficiência auditiva.Chance franziu a testa.— Você... tipo... dá aula para crianças surdas?Não gostei do seu tom, mas decidi apenas assentir.— Minha nossa. Pelo seu histórico, eu imaginei que você se tornaria uma cientista de Harvard ou algo assim.— Eu queria algo que me permitisse trabalhar com crianças. Até pensei em cursar pediatria,
Oh, Deus, meu cérebro estava virando gelatina. Em algum lugar naquela boate imensa, um cara estava cantando Nick Jonas. Eu não sabia se gostaria de ter mais atenção do que eu já estava tendo, porque aquilo certamente aconteceria caso eu dançasse uma música romântica com o maldito Zac Yin, mas eu estava ciente de que não o veria novamente depois daquela noite, então simplesmente assenti.Ele se levantou, auxiliando-me enquanto eu fazia o mesmo. Eu senti sua mão nas minhas costas, o toque fazendo a minha pele formigar por baixo do tecido do vestido. Sua postura era elegante e jorrava confiança, o que me fez recordar do quão grande era a barreira de diferença entre nós. Seu perfume não era mais o mesmo, havia algo sutil e extremamente sensual na colônia amadeirada que ele usava. Suas roupas eram estilosas e o cabelo era uma massa escura e brilhante que me fazia ter vontade de enredar meus dedos e não soltar nunca mais. Eu estaria soando repetitiva se dissesse que ele era lindo? Desculpe
ZACA dinâmica entre os meus pais sempre foi confusa e estranha — e eu digo isso em praticamente todos os sentidos. Mesmo quando ainda eram um casal, o relacionamento de ambos era baseado em aparências ou em quem conseguia se sobressair primeiro. Ter pais famosos, porém de ramos totalmente opostos, me rendeu algumas sessões de terapia conforme eu crescia em meio ao caos de poses para fotos e busca pela perfeição. Depois do divórcio, eu achei que as coisas melhorariam, mas estava sendo nada além de um garoto ingênuo, porque tudo apenas se tornou ainda mais óbvio, e então foi assim que se iniciou a competição de pais mais estressante que eu já vi.Se minha mãe, Jessica, adquiria um carro novo, o meu pai, Raymond, adicionava um jatinho em sua lista de compras;Se meu pai decidia ter uma casa em Malibu, minha mãe decretava que seria uma boa ideia ter uma nova mansão na Europa;Se ela anunciava uma nova agência de modelos, o meu pai simplesmente decidia que era o momento certo de se aposen
ZACDepois de me despedir, aproveitei que havia recebido uma mensagem de Brian para tomar uma bebida e segui em direção ao clube do qual éramos sócios. O encontrei no bar da piscina, entornando uma minigarrafa de cerveja importada, como se sua vida dependesse disso.Era fim de semana, mas ainda estava cedo. Não era do seu feitio ter aquele tipo de comportamento às duas da tarde.— O que está acontecendo aqui? — cumprimentei meu melhor amigo, sentando-me ao lado dele no balcão do bar. — Você está bêbado, cara?Ele nem sequer se deu ao trabalho de levantar a cabeça para me encarar.— Estou louco, porra. Totalmente louco.Eu franzi a testa.— Eu estou começando a concordar com isso, mas ainda não entendi aonde está querendo chegar. Pode me explicar?Brian finalmente ergueu a cabeça.— É a Ashley... Ela simplesmente está fodendo as minhas bolas.— Bom, da última vez que você conversou sobre isso comigo, essa era uma de suas muitas qualidades. Não entendo o porquê de estar reclamando agora
ZACBrian soltou um ruído de desaprovação.— Bom, idiota. Eu entendo essa garota. Também odiaria você no lugar dela. De qualquer forma, isso deve fazer muito tempo, certo? Por que não se desculpa e tenta retomar a amizade? Se ela foi uma pessoa tão importante na sua vida, não vale a pena desperdiçar essa oportunidade agora.Ele tinha razão. Mas como eu faria aquilo? Não podia simplesmente chegar nela e dizer “Ei, Rupi. Sei que fui um babaca com você no passado, mas que tal passarmos uma borracha nisso tudo e sermos amigos novamente a partir de hoje?” Ela mandaria eu polir a minha cara de pau, com certeza. De qualquer maneira, eu queria conversar com ela. Não, eu precisava conversar com ela. Sentia que não havia dito o suficiente na noite passada.— Eu só não quero pressionar as coisas — falei. — Se ela está chateada comigo, teve motivos pra isso, então meio que fica chato se eu tentar insistir. Não é do meu feitio.— Você não estaria insistindo nem a forçando a nada. Você estaria corr