2.2 RUPI

A boate em que estava acontecendo a festa era imensa, mas relatar isso chega a ser ridículo. É óbvio que Hillary Morgan não planejaria um evento em um lugar que não tivesse, pelo menos, centenas de metros quadrados de puro vidro e luzes estroboscópicas. Havia muitos lugares como aquele em Los Angeles — eu mesma já havia visitado alguns, mas aquele era especial, de certa maneira. Ouvi boatos de que o noivo de Hillary era um figurão do ramo empresarial, e um dos sócios do lugar. Ambos haviam se conhecido em uma noite de comemoração alguns anos atrás, naquele mesmo local, e agora decidiram dar um próximo passo no relacionamento. Certamente uma história fofa para se expor nas colunas sociais de alguma revista chique californiana.

Admirando ao redor, reconheci que Hillary havia pensado em tudo. E ela parecia estar atenta a tudo também, dado ao fato de que não demorou nem cinco minutos para perceber minha presença ali. Mesmo em meio ao barulho da música pop tocando, foi praticamente impossível não me dar conta de sua voz me chamando:

— Rupi!

Me virei imediatamente, encarando sua expressão alegre. Ela continuava linda e loira. Uma boneca impecável, trajando um vestido rosa pálido com pedrarias discretas. Eu podia estar errada, mas seu sorriso parecia sincero, principalmente quando ela me cumprimentou, dando beijinhos no ar.

— Ei, Hillary. Obrigada pelo convite... e parabéns pelo noivado.

Ela continuou sorrindo amplamente, seus olhos brilhando.

— Obrigada. Eu estou tão feliz! — Esperei pelo momento em que ela esfregaria um anel de diamantes na minha cara e me diria que eu estava ficando velha e que precisava me casar em breve também, e então seria o momento em que eu abriria um sorriso amarelo ao reconhecer que ela continuava a mesma megera de sempre, mas isso nunca aconteceu. Talvez eu devesse ser menos amarga, certo? E parar de assistir a comédias românticas.

— Imagino — eu disse. — Casamento é algo muito... importante, não é? — Não para mim, mas aquela era uma frase clichê e, sinceramente, eu não fazia ideia de como continuar um diálogo com ela. Não tínhamos liga alguma.

— Bom, eu não tinha essa visão, confesso. Não até conhecer o meu noivo... Oh! E por falar nele, eu quero que você o conheça. — Seu sorriso se alargou ainda mais no instante em que um homem se juntou a nós e a abraçou pela cintura. — Rupi, este é Garrett, meu noivo.

— É um prazer conhecê-lo. — Eu estava agindo no piloto automático enquanto segurava na mão do noivo de Hillary. Fazia muito tempo desde que a vi pela última vez. Era meio surreal tudo aquilo: a gente se encontrando depois de anos, enquanto ela me apresentava o homem com quem passaria o resto da vida.

— Escute, eu espero que não tenha ficado nenhum resquício de inimizade entre nós. Você sabe, desde que eu não era exatamente uma garota muito legal com você na adolescência, pode ser que ainda reste certos rancores daquela época.

Puxa, como ela adivinhou?

Em vez de dizer exatamente o que eu queria, apenas gaguejei um:

— Oh, não. Tudo bem, está tudo ok.

Ela fez um biquinho culpado.

— É ridículo admitir isso, mas eu meio que tinha ciúme de você com o Zac, sabe?

Se havia algo capaz de azedar ainda mais aquela noite, citar Zac e nossa aproximação quando éramos mais jovens certamente era um começo adequado para isso.

Me fingi de tonta:

— Hum... como assim?

Ela torceu o lábio.

— Ora, Rupi, todo mundo percebia a queda que você tinha por ele. — Oh, Deus... — Isso era óbvio, mas o Zachary era meio burro, então eu imagino que ele tenha sido o único a não notar isso. Eu comecei a namorá-lo porque parecia ser uma boa maneira de vencer aquela competição ridícula que criei com você dentro da minha própria cabeça. — Fez uma careta. — Oh, meu Deus... lembrando disso agora reconheço o quanto eu era idiota. Me desculpe.

Eu não sabia exatamente como reagir. Ela queria que eu sorrisse de maneira tranquila e lhe lançasse um: “Oh, você simplesmente criou uma competição ridícula por conta de um garoto quando estávamos no ensino médio, mas tudo bem, todo mundo faz isso.”? Ou apenas esperava por um tapinha amigável no ombro seguido de: “Certo, garota, eu perdoo você por ter infernizado a minha vida no passado. Vamos ser melhores amigas a partir de agora!”?

Por mais que eu quisesse ser uma mulher sensata e decente, nenhuma dessas possibilidades amigáveis me soou bem. A verdade é que eu tinha vontade de dizer a ela para ir se foder — logo após lhe entregar uma medalha por ser uma grande cadela — mas eu não faria aquilo, é claro. Eu não era mais uma adolescente, e Hillary estava se desculpando por toda a merda que fizera comigo. Tudo havia ficado no passado. Eu deveria perdoar e deixar ir, não é?

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