Minha colega de trabalho revirou os olhos.
— Eu achei, por um momento, que não conseguiria levar em frente a gravação — disse. — Eu amo esse livro, e realmente acho o Malcom e o Sid profissionais incríveis, mas eles modificaram quase tudo da história original. Há coisas neste roteiro que eu não consigo concordar. — Então ela fez uma careta, se aproximando mais para cochichar: — Fruta rosada e delicada? Olhe só pra mim, pareço ter uma vagina rosada? Aliás, que tipo de pessoa hoje em dia consegue manter sua boceta como a de uma boneca?
Se fosse qualquer outra pessoa ali, eu teria certeza de que cuspiria o gole de água que acabara de tomar, mas era com Ashley que eu estava lidando, então meio que já estava acostumado. Ela era o tipo de celebridade que tinha muita gente amando e odiando ao mesmo tempo. Ela podia ser um pouco assustadora se você não a conhecesse bem, mas eu já estava acostumado à sua boca suja e falta de filtro em alguns momentos.
Nos tornamos amigos ainda na faculdade, quando fomos estudar teatro juntos. Foi no mesmo lugar em que ela conheceu Brian Phoenix, um guitarrista famoso, com quem se casou dois anos depois. Eu meio que fui o cupido dos dois e acabamos nos tornando todos muito amigos. Gravar aquele filme juntos, ambos pegando os principais papeis, estava sendo um presente e tanto.
Como se só esperando ser mencionado, os braços tatuados de Brian ficaram visíveis quando ele apareceu naquele instante, abraçando a sua mulher por trás.
— E então, sobre o que estavam falando?
— A estética de genitálias — respondi. — Você realmente quer ouvir isso?
Ele fez uma careta enquanto me cumprimentava.
— Muito trabalho por aqui, hein?
Eu dei um sorriso, sabendo exatamente que ele estava falando de Ash.
— Ela é impossível, você sabe.
Ashley revirou os olhos.
— Não falem de mim como se eu não estivesse aqui. Que coisa chata.
— Ok, baby, eu posso falar no quão boa essa roupa ficou em você? — Brian disse, e em seguida me encarou. — Ela não é linda? Eu fico me perguntando se você ainda não se apaixonou secretamente enquanto beijava a minha mulher no set.
Me controlei para não pôr os olhos em branco. Se Ashley era sem filtro, Brian era sem noção, e juntos eles formavam um bom casal de merda, porque o humor de ambos era uma coisa terrivelmente constrangedora para qualquer pessoa que não os conhecesse; mas como eu já havia dito: eu sabia como eles funcionavam.
— Não há perigo algum comigo, você sabe disso.
Ele riu, beijando sua esposa.
— Vocês trabalharam duro hoje. Que tal sairmos para comemorar em algum lugar? É sexta!
— Eu não posso — informei ao me levantar. — Tenho uma festa de noivado para ir.
Brian fez uma careta.
— Sim, eu havia me esquecido disso. Não é estranho você ser convidado para ir à festa de noivado da sua ex?
— Eu tinha dezesseis anos quando a gente namorou por, sei lá, seis meses? Nós éramos praticamente duas crianças. De qualquer forma, não há nada para se ressentir. Os pais de Hillary são amigos dos meus pais, então... tecnicamente, nós somos amigos também.
— Ela quer uma celebridade em sua festa, é isso o que eu acho — Ashley expôs sua opinião, do seu jeito mais crítico de ser. — E você ainda vai levar um presente enquanto faz presença VIP de graça.
Eu dei um suspiro cansado.
— Sim, eu sou o cara que as garotas usam, certo? Não seria a primeira vez que isso aconteceria.
— Isso foi melancólico, garoto bonito — Brian disse, seu pensamento provavelmente seguindo para uma única direção: minha ex. Não Hillary, mas Lindsay, a namorada com quem eu havia terminado há exatas três semanas. — De qualquer maneira, vamos planejar algo em casa. Se mudar de ideia, estaremos aguardando.
A menos que eu fosse um voyeur e tivesse fetiche em ver casais fodendo, não iria interferir na festinha particular dos dois. Eu os conhecia bem.
— Certo. Divirtam-se.
Troquei de roupa e me despedi do restante do pessoal do estúdio. Estava calor naquela região de L.A. naquela tarde, mas havia um ponto positivo em se morar em uma casa perto da praia: além da vista de tirar o fôlego, eu conseguia ter um bom momento com a brisa marítima que soprava em direção ao meu rosto enquanto eu dirigia por todo o caminho até o meu destino.
Assim que cheguei em casa, fui direto para a cozinha, pois sabia que teria algum bilhete da minha governanta ali. Franzi o cenho, tentando decifrar o que ela havia escrito. Polina não falava muito bem o meu idioma, e eu preferia praticar o russo, sua língua materna, quando estava em casa. Mas havia aqueles momentos em que ela também decidia praticar o inglês e me deixava bilhetinhos na porta da geladeira, como indicações de como preparar uma salada temperada ou o quão nada saudável seria colocar potes de plástico no micro-ondas. Eu era péssimo usando utensílios domésticos. Ainda me lembro da última vez em que quase explodi a cozinha ao decidir que não teria problemas em esquentar uma lasanha vegetariana dentro de uma embalagem de papel alumínio.
Recebi uma bronca gigantesca da Polina naquele dia, junto com indicações de como preparar minha refeição de maneira saudável. Ela era minha deusa salvadora, e eu apreciava cada segundo de esforço e dedicação. Aliás, Polina era a única pessoa que me visitava com frequência nas últimas semanas, além dos faxineiros. A minha casa era solitária. Um verdadeiro castelo de vidro que paparazzi desejavam invadir e fãs dariam todos os dedos das mãos para apenas visitar. Era glamouroso pondo neste ângulo, mas a verdade é que nem sempre tudo é como parece.
Acho que há um algo interessante e necessário em se ter um propósito na vida, e o da maioria das pessoas é ganhar dinheiro. Tudo isto em prol de realizar seus maiores sonhos, é o que nos motiva. Mas o que fazer quando você aparentemente tem tudo? E quando esse tudo acaba por se converter em uma bola de bens materiais e coisas superficiais com as quais você jamais terá um vínculo emocional? Você se torna um pobre solitário, disposto a mendigar o máximo de atenção ou afeto que puder.
Foi o que aconteceu comigo e Lindsay durante o nosso relacionamento. Eu estava com ela apenas para ter alguém ao meu lado, mas não era como se eu gostasse dela ou vice e versa. Pessoas no nosso mundo costumam ser mesquinhas. Eu fui um cara mesquinho por anos, preso em minha bolha brilhante, carregado pela imagem de bom artista e ativista.
Não me levem a mal. Todas as coisas boas que fiz até agora foram de coração, mas não posso ser hipócrita em esconder que aquela parte mesquinha, fútil e egoísta de mim sempre soube que este é o melhor caminho para se seguir se você pretende ficar longe das opiniões negativas.
É realmente ruim ter todos os holofotes em cima de você vinte e quatro horas, então às vezes é mais fácil dançar conforme a música daqueles que têm o poder de nos derrubar.No andar de cima, adentrei minha suíte de proporções gigantescas e tomei um banho longo debaixo do chuveiro chique que eu só tinha porque, como havia mencionado antes, minha vida solitária ficava menos merda quando eu comprava coisas caras.A roupa que eu usaria na festa de casamento já havia sido separada, e estava muito bem passada em cima da minha cama. Eu me perguntava qual a maldita necessidade de se usar terno, uma vez que a festa seria em uma boate, mas não discuti as recomendações de Hillary. Ela era a anfitriã, no fim das contas.Eu já havia me vestido pela metade e estava colocando minha camisa quando a campainha tocou. De má vontade, desci as escadas e abri a porta. Não foi uma surpresa quando avistei a pessoa do outro lado, afinal já esperava por aquilo:Lindsay.Era incrível como, mesmo depois de termi
RUPI— Você está tão bonita!Sorri para a minha avó ao ouvir seu elogio, mas no fundo eu não estava tão animada para aquela noite quanto gostaria. O único motivo de eu estar me empenhando tanto para parecer apresentável na festa de casamento da minha rival de adolescência, a ponto de gastar meu único vestido de festa em uma cerimônia como aquela, era que eu era uma mulher orgulhosa, e recusar o convite de Hillary seria espelhar a menina medrosa e covarde que um dia eu fui.Hillary Morgan era, naquele momento, uma das maiores empresárias no ramo de joias da atualidade, e dado ao fato de que ela conseguiu encontrar meu perfil no Facebook e me convencer a ir à sua festa depois de dez anos, eu reconhecia que seu poder de influência era bem admirável.“Quero que todos os meus amigos de infância estejam no momento mais importante da minha vida”, ela disse quando lhe perguntei por que diabos estava me convidando. Eu cheguei a rir um pouco enquanto fitava a tela do meu notebook, tentando deci
A boate em que estava acontecendo a festa era imensa, mas relatar isso chega a ser ridículo. É óbvio que Hillary Morgan não planejaria um evento em um lugar que não tivesse, pelo menos, centenas de metros quadrados de puro vidro e luzes estroboscópicas. Havia muitos lugares como aquele em Los Angeles — eu mesma já havia visitado alguns, mas aquele era especial, de certa maneira. Ouvi boatos de que o noivo de Hillary era um figurão do ramo empresarial, e um dos sócios do lugar. Ambos haviam se conhecido em uma noite de comemoração alguns anos atrás, naquele mesmo local, e agora decidiram dar um próximo passo no relacionamento. Certamente uma história fofa para se expor nas colunas sociais de alguma revista chique californiana.Admirando ao redor, reconheci que Hillary havia pensado em tudo. E ela parecia estar atenta a tudo também, dado ao fato de que não demorou nem cinco minutos para perceber minha presença ali. Mesmo em meio ao barulho da música pop tocando, foi praticamente impossí
— Realmente, você foi uma cretina. — Bom, ser passivo-agressiva talvez fosse o máximo que eu conseguiria. — Mas já passou, e nós estamos bem agora.Ela me lançou um sorriso desconfortável.— Certo, isso é ótimo. Eu a convidei hoje porque gostaria de apagar isso. Somos mulheres maduras agora, podemos lidar com isso.Abrindo meu melhor sorriso, balancei a cabeça.— Claro. Podemos lidar. Totalmente.— Ótimo! — ela comemorou. — Bem, curta a festa, então. Coma e beba o quanto quiser. Eu vou cumprimentar o restante do pessoal.Depois que ela e seu noivo já estavam fora de vista, eu decidi que precisava de uma bebida. Minha mente ainda estava meio confusa com a revelação. Quer dizer, eu sei que aquilo havia acontecido dez anos atrás, e quem liga se ela havia feito aquela coisa ridícula de seduzir Zac de propósito? Ele nem gostava de mim da maneira que eu esperava, então não faria diferença alguma se Hillary interferisse no meu sonho bobo de me casar com Zachary e ter os seus bebês, certo? No
RUPIEu encarava seus olhos escuros como uma pateta. Eu sempre agi de maneira ridícula quando estava perto dele, mas aos quinze anos de idade há uma justificativa plausível para isso. Aos vinte e cinco? Eu apenas me tornava uma mulher patética.Zachary ainda era muito bonito para o desgosto da minha sanidade. Ele tinha aquela aura de garoto sexy e legal além da conta. Seus cabelos escuros ainda eram os mesmos, agora um pouco maiores devido ao trabalho mais recente. O rosto de maxilar quadrado, lábios levemente cheios e a covinha discreta no queixo me deixavam de garganta seca. Ele estava grande. Realmente grande, comparado ao garoto que um dia conheci. Músculos bem definidos por todos os lados, mas não tão grande a ponto de fazê-lo parecer um gigante de pedra. Sem palavras melhores para usar, eu poderia dizer que ele estava no ponto certo — Deus, isso soou tão sexista. Eu gostaria de me enterrar em um buraco agora.— Morder a sua bunda, hein? — ele parecia divertido ao dizer aquilo. —
No fim das contas, decidi seguir com Zac até a mesa de Chance, onde quem eu só pude imaginar ser Erika Martin, estava sentada, bebericando uma taça de vinho branco.— Zac Yin. Você só conseguiu ficar ainda mais bonito! — disse Erika ao cumprimentá-lo. Quando olhou para mim, ela perguntou: — E você é...— Rupi — falei. — Rupi Russo. Acho que você não se lembra mais de mim.— Oh, Rupi! — Erika abriu um sorriso largo enquanto se aproximava para me dar um abraço. Bem, o gesto foi normal, até, mas constrangedor. Confesso que fiquei surpresa. — Cristo, você está mudada. Mal te reconheci.Fiquei tentada a lançar um olhar discreto na direção de Zachary, como se dizendo: Viu só? Eu mudei, mas desisti da provocação ao notar que ele já me observava. A forma como ele me encarava me deixava quente nos lugares mais inapropriados.— Felizmente, eu cresci. — Abri um sorriso amigável para Erika enquanto ocupava um lugar ao lado de Zac. — Você também mudou um pouco.Um pouco era eufemismo. Erika provav
Eu pisquei algumas vezes, tentando me certificar de que ela não estava zoando com a minha cara, mas Erika parecia estar sendo sincera. Eu duvidava que em algum momento tivesse dinheiro para comprar um de seus modelos, mas se aquela era uma chance de fazer uma nova amizade, eu não iria recusar.— Claro. Aqui. — Puxei um bloquinho da minha bolsa e anotei meu número para ela. Erika me passou seu cartão em seguida.— E quanto a você, Rupi? — disse Chance. — O que faz da vida atualmente?— Eu sou professora.— Oh, que legal! — Erika falou, abrindo um sorriso genuíno. — Em qual colégio você leciona?— St. Mary. Eu dou aula para uma turma de crianças com deficiência auditiva.Chance franziu a testa.— Você... tipo... dá aula para crianças surdas?Não gostei do seu tom, mas decidi apenas assentir.— Minha nossa. Pelo seu histórico, eu imaginei que você se tornaria uma cientista de Harvard ou algo assim.— Eu queria algo que me permitisse trabalhar com crianças. Até pensei em cursar pediatria,
Oh, Deus, meu cérebro estava virando gelatina. Em algum lugar naquela boate imensa, um cara estava cantando Nick Jonas. Eu não sabia se gostaria de ter mais atenção do que eu já estava tendo, porque aquilo certamente aconteceria caso eu dançasse uma música romântica com o maldito Zac Yin, mas eu estava ciente de que não o veria novamente depois daquela noite, então simplesmente assenti.Ele se levantou, auxiliando-me enquanto eu fazia o mesmo. Eu senti sua mão nas minhas costas, o toque fazendo a minha pele formigar por baixo do tecido do vestido. Sua postura era elegante e jorrava confiança, o que me fez recordar do quão grande era a barreira de diferença entre nós. Seu perfume não era mais o mesmo, havia algo sutil e extremamente sensual na colônia amadeirada que ele usava. Suas roupas eram estilosas e o cabelo era uma massa escura e brilhante que me fazia ter vontade de enredar meus dedos e não soltar nunca mais. Eu estaria soando repetitiva se dissesse que ele era lindo? Desculpe