1.2 - ZAC

Minha colega de trabalho revirou os olhos.

— Eu achei, por um momento, que não conseguiria levar em frente a gravação — disse. — Eu amo esse livro, e realmente acho o Malcom e o Sid profissionais incríveis, mas eles modificaram quase tudo da história original. Há coisas neste roteiro que eu não consigo concordar. — Então ela fez uma careta, se aproximando mais para cochichar: — Fruta rosada e delicada? Olhe só pra mim, pareço ter uma vagina rosada? Aliás, que tipo de pessoa hoje em dia consegue manter sua boceta como a de uma boneca?

Se fosse qualquer outra pessoa ali, eu teria certeza de que cuspiria o gole de água que acabara de tomar, mas era com Ashley que eu estava lidando, então meio que já estava acostumado. Ela era o tipo de celebridade que tinha muita gente amando e odiando ao mesmo tempo. Ela podia ser um pouco assustadora se você não a conhecesse bem, mas eu já estava acostumado à sua boca suja e falta de filtro em alguns momentos.

Nos tornamos amigos ainda na faculdade, quando fomos estudar teatro juntos. Foi no mesmo lugar em que ela conheceu Brian Phoenix, um guitarrista famoso, com quem se casou dois anos depois. Eu meio que fui o cupido dos dois e acabamos nos tornando todos muito amigos. Gravar aquele filme juntos, ambos pegando os principais papeis, estava sendo um presente e tanto.

Como se só esperando ser mencionado, os braços tatuados de Brian ficaram visíveis quando ele apareceu naquele instante, abraçando a sua mulher por trás.

— E então, sobre o que estavam falando?

— A estética de genitálias — respondi. — Você realmente quer ouvir isso?

Ele fez uma careta enquanto me cumprimentava.

— Muito trabalho por aqui, hein?

Eu dei um sorriso, sabendo exatamente que ele estava falando de Ash.

— Ela é impossível, você sabe.

Ashley revirou os olhos.

— Não falem de mim como se eu não estivesse aqui. Que coisa chata.

— Ok, baby, eu posso falar no quão boa essa roupa ficou em você? — Brian disse, e em seguida me encarou. — Ela não é linda? Eu fico me perguntando se você ainda não se apaixonou secretamente enquanto beijava a minha mulher no set.

Me controlei para não pôr os olhos em branco. Se Ashley era sem filtro, Brian era sem noção, e juntos eles formavam um bom casal de merda, porque o humor de ambos era uma coisa terrivelmente constrangedora para qualquer pessoa que não os conhecesse; mas como eu já havia dito: eu sabia como eles funcionavam.

— Não há perigo algum comigo, você sabe disso.

Ele riu, beijando sua esposa.

— Vocês trabalharam duro hoje. Que tal sairmos para comemorar em algum lugar? É sexta!

— Eu não posso — informei ao me levantar. — Tenho uma festa de noivado para ir.

Brian fez uma careta.

— Sim, eu havia me esquecido disso. Não é estranho você ser convidado para ir à festa de noivado da sua ex?

— Eu tinha dezesseis anos quando a gente namorou por, sei lá, seis meses? Nós éramos praticamente duas crianças. De qualquer forma, não há nada para se ressentir. Os pais de Hillary são amigos dos meus pais, então... tecnicamente, nós somos amigos também.

— Ela quer uma celebridade em sua festa, é isso o que eu acho — Ashley expôs sua opinião, do seu jeito mais crítico de ser. — E você ainda vai levar um presente enquanto faz presença VIP de graça.

Eu dei um suspiro cansado.

— Sim, eu sou o cara que as garotas usam, certo? Não seria a primeira vez que isso aconteceria.

— Isso foi melancólico, garoto bonito — Brian disse, seu pensamento provavelmente seguindo para uma única direção: minha ex. Não Hillary, mas Lindsay, a namorada com quem eu havia terminado há exatas três semanas. — De qualquer maneira, vamos planejar algo em casa. Se mudar de ideia, estaremos aguardando.

A menos que eu fosse um voyeur e tivesse fetiche em ver casais fodendo, não iria interferir na festinha particular dos dois. Eu os conhecia bem.

— Certo. Divirtam-se.

Troquei de roupa e me despedi do restante do pessoal do estúdio. Estava calor naquela região de L.A. naquela tarde, mas havia um ponto positivo em se morar em uma casa perto da praia: além da vista de tirar o fôlego, eu conseguia ter um bom momento com a brisa marítima que soprava em direção ao meu rosto enquanto eu dirigia por todo o caminho até o meu destino.

Assim que cheguei em casa, fui direto para a cozinha, pois sabia que teria algum bilhete da minha governanta ali. Franzi o cenho, tentando decifrar o que ela havia escrito. Polina não falava muito bem o meu idioma, e eu preferia praticar o russo, sua língua materna, quando estava em casa. Mas havia aqueles momentos em que ela também decidia praticar o inglês e me deixava bilhetinhos na porta da geladeira, como indicações de como preparar uma salada temperada ou o quão nada saudável seria colocar potes de plástico no micro-ondas. Eu era péssimo usando utensílios domésticos. Ainda me lembro da última vez em que quase explodi a cozinha ao decidir que não teria problemas em esquentar uma lasanha vegetariana dentro de uma embalagem de papel alumínio.

Recebi uma bronca gigantesca da Polina naquele dia, junto com indicações de como preparar minha refeição de maneira saudável. Ela era minha deusa salvadora, e eu apreciava cada segundo de esforço e dedicação. Aliás, Polina era a única pessoa que me visitava com frequência nas últimas semanas, além dos faxineiros. A minha casa era solitária. Um verdadeiro castelo de vidro que paparazzi desejavam invadir e fãs dariam todos os dedos das mãos para apenas visitar. Era glamouroso pondo neste ângulo, mas a verdade é que nem sempre tudo é como parece.

Acho que há um algo interessante e necessário em se ter um propósito na vida, e o da maioria das pessoas é ganhar dinheiro. Tudo isto em prol de realizar seus maiores sonhos, é o que nos motiva. Mas o que fazer quando você aparentemente tem tudo? E quando esse tudo acaba por se converter em uma bola de bens materiais e coisas superficiais com as quais você jamais terá um vínculo emocional? Você se torna um pobre solitário, disposto a mendigar o máximo de atenção ou afeto que puder.

Foi o que aconteceu comigo e Lindsay durante o nosso relacionamento. Eu estava com ela apenas para ter alguém ao meu lado, mas não era como se eu gostasse dela ou vice e versa. Pessoas no nosso mundo costumam ser mesquinhas. Eu fui um cara mesquinho por anos, preso em minha bolha brilhante, carregado pela imagem de bom artista e ativista.

Não me levem a mal. Todas as coisas boas que fiz até agora foram de coração, mas não posso ser hipócrita em esconder que aquela parte mesquinha, fútil e egoísta de mim sempre soube que este é o melhor caminho para se seguir se você pretende ficar longe das opiniões negativas.

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