Dias atuais
Os lençóis de seda embaralhavam-se entre os dedos de Alyssa. A forte ascendência de seu peito era notória, conforme Edgar se posicionava entre suas pernas. O beijo foi faminto, as mãos urgentes do homem passeando pelo vestido longo de sua amada.
— Você deve ser tão doce aqui embaixo, querida. Estou louco para prová-la, tal como provaria uma rosada e madura fruta suculenta. — Deus, aquela provavelmente era a frase mais brega que um cara já havia dito durante as preliminares. As pessoas realmente chamavam vaginas de frutas maduras no século 19? Insano. — Você é tão requintada, Alyssa. Diga-me. Diga-me o que você gostaria que eu fizesse com sua delicada fruta.
Os olhos de Alyssa o encaravam com desejo e... diversão?
Oh, não. Não faça isso, Ashley.
Antes que eu pudesse lhe ajudar, Ashley Deacon, atriz premiada e colega de trabalho mais recente, explodiu em uma gargalhada.
— Corta! — Malcom, o diretor, ordenou.
Eu saí de cima dela, agradecendo quando a assistente de cenografia limpou a mancha de batom vermelho do meu rosto.
— Oh, meu Deus, me desculpem — disse Ash. — Eu não sei o que aconteceu comigo. Sério, desculpe.
Relanceei um olhar em sua direção e estreitei meus olhos disfarçadamente. Eu sabia. Ela era profissional o bastante para não expressar em palavras sua opinião em relação ao que os roteiristas e diretores exigiam, mas o pensamento estava lá. As falas daquele roteiro eram terríveis. Era um filme com romance e drama, caramba, não havia comédia naquilo.
— Certo, Ashley... — Malcom veio até nós. — Talvez você não esteja conseguindo se concentrar direito. Isso é para ser uma cena quente, querida. Vocês precisam se conectar.
— Desculpe, Mal, está um pouco frio aqui. — Ela argumentou. — Podemos tentar novamente?
— Aumentem a temperatura! — Malcom gritou. — E, Zac, tente ser um pouco mais intenso em suas falas, ok? Me parece que você não está realmente querendo dizer aquilo.
Não me diga, Sherlock.
— Certo.
— Ok, ponha sua mão nos quadris dela — ordenou. — Vamos fazer novamente.
***
Quatro horas depois, nós já tínhamos uma boa quantidade de cenas gravadas, inclusive as insinuações de sexo oral bregas. Eu soltei um longo suspiro quando uma garrafa d’água apareceu em meu campo de visão e agradeci a Ashley, que se sentou ao meu lado.
— Você fez um bom trabalho! — ela falou enquanto colocava sua própria garrafa na mesinha para prender com um elástico os cabelos ruivos.
— Obrigado, você também — eu disse. — Mas estou seriamente preocupado de que este filme seja um fiasco.
Nós estávamos gravando uma adaptação para o cinema de um Best-seller histórico de Romance chamado Lost Memories. O estúdio era famoso, os diretores e elenco eram profissionais premiados, mas ainda havia aquela porcentagem de chance de as coisas não darem certo. Todo artista, por mais experiente que seja, tem suas inseguranças. Eu tinha um monte delas, e com Ash também não era diferente.
(CONTINUA NO PRÓXIMO CAPÍTULO)
Minha colega de trabalho revirou os olhos.— Eu achei, por um momento, que não conseguiria levar em frente a gravação — disse. — Eu amo esse livro, e realmente acho o Malcom e o Sid profissionais incríveis, mas eles modificaram quase tudo da história original. Há coisas neste roteiro que eu não consigo concordar. — Então ela fez uma careta, se aproximando mais para cochichar: — Fruta rosada e delicada? Olhe só pra mim, pareço ter uma vagina rosada? Aliás, que tipo de pessoa hoje em dia consegue manter sua boceta como a de uma boneca?Se fosse qualquer outra pessoa ali, eu teria certeza de que cuspiria o gole de água que acabara de tomar, mas era com Ashley que eu estava lidando, então meio que já estava acostumado. Ela era o tipo de celebridade que tinha muita gente amando e odiando ao mesmo tempo. Ela podia ser um pouco assustadora se você não a conhecesse bem, mas eu já estava acostumado à sua boca suja e falta de filtro em alguns momentos.Nos tornamos amigos ainda na faculdade, qu
É realmente ruim ter todos os holofotes em cima de você vinte e quatro horas, então às vezes é mais fácil dançar conforme a música daqueles que têm o poder de nos derrubar.No andar de cima, adentrei minha suíte de proporções gigantescas e tomei um banho longo debaixo do chuveiro chique que eu só tinha porque, como havia mencionado antes, minha vida solitária ficava menos merda quando eu comprava coisas caras.A roupa que eu usaria na festa de casamento já havia sido separada, e estava muito bem passada em cima da minha cama. Eu me perguntava qual a maldita necessidade de se usar terno, uma vez que a festa seria em uma boate, mas não discuti as recomendações de Hillary. Ela era a anfitriã, no fim das contas.Eu já havia me vestido pela metade e estava colocando minha camisa quando a campainha tocou. De má vontade, desci as escadas e abri a porta. Não foi uma surpresa quando avistei a pessoa do outro lado, afinal já esperava por aquilo:Lindsay.Era incrível como, mesmo depois de termi
RUPI— Você está tão bonita!Sorri para a minha avó ao ouvir seu elogio, mas no fundo eu não estava tão animada para aquela noite quanto gostaria. O único motivo de eu estar me empenhando tanto para parecer apresentável na festa de casamento da minha rival de adolescência, a ponto de gastar meu único vestido de festa em uma cerimônia como aquela, era que eu era uma mulher orgulhosa, e recusar o convite de Hillary seria espelhar a menina medrosa e covarde que um dia eu fui.Hillary Morgan era, naquele momento, uma das maiores empresárias no ramo de joias da atualidade, e dado ao fato de que ela conseguiu encontrar meu perfil no Facebook e me convencer a ir à sua festa depois de dez anos, eu reconhecia que seu poder de influência era bem admirável.“Quero que todos os meus amigos de infância estejam no momento mais importante da minha vida”, ela disse quando lhe perguntei por que diabos estava me convidando. Eu cheguei a rir um pouco enquanto fitava a tela do meu notebook, tentando deci
A boate em que estava acontecendo a festa era imensa, mas relatar isso chega a ser ridículo. É óbvio que Hillary Morgan não planejaria um evento em um lugar que não tivesse, pelo menos, centenas de metros quadrados de puro vidro e luzes estroboscópicas. Havia muitos lugares como aquele em Los Angeles — eu mesma já havia visitado alguns, mas aquele era especial, de certa maneira. Ouvi boatos de que o noivo de Hillary era um figurão do ramo empresarial, e um dos sócios do lugar. Ambos haviam se conhecido em uma noite de comemoração alguns anos atrás, naquele mesmo local, e agora decidiram dar um próximo passo no relacionamento. Certamente uma história fofa para se expor nas colunas sociais de alguma revista chique californiana.Admirando ao redor, reconheci que Hillary havia pensado em tudo. E ela parecia estar atenta a tudo também, dado ao fato de que não demorou nem cinco minutos para perceber minha presença ali. Mesmo em meio ao barulho da música pop tocando, foi praticamente impossí
— Realmente, você foi uma cretina. — Bom, ser passivo-agressiva talvez fosse o máximo que eu conseguiria. — Mas já passou, e nós estamos bem agora.Ela me lançou um sorriso desconfortável.— Certo, isso é ótimo. Eu a convidei hoje porque gostaria de apagar isso. Somos mulheres maduras agora, podemos lidar com isso.Abrindo meu melhor sorriso, balancei a cabeça.— Claro. Podemos lidar. Totalmente.— Ótimo! — ela comemorou. — Bem, curta a festa, então. Coma e beba o quanto quiser. Eu vou cumprimentar o restante do pessoal.Depois que ela e seu noivo já estavam fora de vista, eu decidi que precisava de uma bebida. Minha mente ainda estava meio confusa com a revelação. Quer dizer, eu sei que aquilo havia acontecido dez anos atrás, e quem liga se ela havia feito aquela coisa ridícula de seduzir Zac de propósito? Ele nem gostava de mim da maneira que eu esperava, então não faria diferença alguma se Hillary interferisse no meu sonho bobo de me casar com Zachary e ter os seus bebês, certo? No
RUPIEu encarava seus olhos escuros como uma pateta. Eu sempre agi de maneira ridícula quando estava perto dele, mas aos quinze anos de idade há uma justificativa plausível para isso. Aos vinte e cinco? Eu apenas me tornava uma mulher patética.Zachary ainda era muito bonito para o desgosto da minha sanidade. Ele tinha aquela aura de garoto sexy e legal além da conta. Seus cabelos escuros ainda eram os mesmos, agora um pouco maiores devido ao trabalho mais recente. O rosto de maxilar quadrado, lábios levemente cheios e a covinha discreta no queixo me deixavam de garganta seca. Ele estava grande. Realmente grande, comparado ao garoto que um dia conheci. Músculos bem definidos por todos os lados, mas não tão grande a ponto de fazê-lo parecer um gigante de pedra. Sem palavras melhores para usar, eu poderia dizer que ele estava no ponto certo — Deus, isso soou tão sexista. Eu gostaria de me enterrar em um buraco agora.— Morder a sua bunda, hein? — ele parecia divertido ao dizer aquilo. —
No fim das contas, decidi seguir com Zac até a mesa de Chance, onde quem eu só pude imaginar ser Erika Martin, estava sentada, bebericando uma taça de vinho branco.— Zac Yin. Você só conseguiu ficar ainda mais bonito! — disse Erika ao cumprimentá-lo. Quando olhou para mim, ela perguntou: — E você é...— Rupi — falei. — Rupi Russo. Acho que você não se lembra mais de mim.— Oh, Rupi! — Erika abriu um sorriso largo enquanto se aproximava para me dar um abraço. Bem, o gesto foi normal, até, mas constrangedor. Confesso que fiquei surpresa. — Cristo, você está mudada. Mal te reconheci.Fiquei tentada a lançar um olhar discreto na direção de Zachary, como se dizendo: Viu só? Eu mudei, mas desisti da provocação ao notar que ele já me observava. A forma como ele me encarava me deixava quente nos lugares mais inapropriados.— Felizmente, eu cresci. — Abri um sorriso amigável para Erika enquanto ocupava um lugar ao lado de Zac. — Você também mudou um pouco.Um pouco era eufemismo. Erika provav
Eu pisquei algumas vezes, tentando me certificar de que ela não estava zoando com a minha cara, mas Erika parecia estar sendo sincera. Eu duvidava que em algum momento tivesse dinheiro para comprar um de seus modelos, mas se aquela era uma chance de fazer uma nova amizade, eu não iria recusar.— Claro. Aqui. — Puxei um bloquinho da minha bolsa e anotei meu número para ela. Erika me passou seu cartão em seguida.— E quanto a você, Rupi? — disse Chance. — O que faz da vida atualmente?— Eu sou professora.— Oh, que legal! — Erika falou, abrindo um sorriso genuíno. — Em qual colégio você leciona?— St. Mary. Eu dou aula para uma turma de crianças com deficiência auditiva.Chance franziu a testa.— Você... tipo... dá aula para crianças surdas?Não gostei do seu tom, mas decidi apenas assentir.— Minha nossa. Pelo seu histórico, eu imaginei que você se tornaria uma cientista de Harvard ou algo assim.— Eu queria algo que me permitisse trabalhar com crianças. Até pensei em cursar pediatria,