João Gonzalez
A tragédia...
Um filho nunca deveria enterrar os pais. Os meus faleceram diante dos meus olhos. Papai e mamãe morreram ao meu lado.
Descemos do jatinho da família em um aeroporto que supostamente era muito seguro, mas, na verdade, não foi. O assassino aguardava pela minha família.
O indivíduo de aparência militar sacou duas armas de porte pequeno e saiu atirando na nossa direção. Mamãe e papai entraram na frente para proteger meu irmão e eu dos tiros.
Não queria que Samuel visse toda aquela tragédia. Ele era um garoto de dez anos e eu tinha vinte e dois anos.
— Calma, vou te proteger! — gritei, abraçando ele com força.
Quando os nossos pais caíram no chão e a polícia do aeroporto conseguiu deter a tiros aquele desgraçado, foi o momento que vi a gravidade da situação.
Fechei os olhos de Samuel com minhas mãos enquanto observava em pânico meus pais sangrando no chão. Os gemidos de dor seria algo que nunca esqueceria.
Meu pai falecera com lágrimas escorrendo pelo seu rosto. Minha mãe com dificuldade em seu último suspiro disse que nos amava.
Precisei ser medicado para comparecer ao velório dos meus pais. Vi pessoas que nunca observara na vida em nossa casa. Tudo que queria era proteger meu irmão, de que ele ouvisse qualquer conspiração em relação ao assassinato dos nossos pais.
O assassino continuava no hospital sendo vigiado pela polícia. Não era justo ele ter saído com vida após fazer o que fez. Ele não falara nada do porquê fizera o que fez. Esperava que o maldito nunca mais saísse da prisão.
— Não vamos vê-los mais, João. Nossos pais se foram para sempre...
Samuel disse dando uma olhada para os caixões e voltando seu olhar marejado para mim.
— Eles nunca vão nos deixar. Nossos pais estarão conosco pelo resto de nossas vidas, Samuel!
Na hora do sepultamento, fraquejei na frente de todos. Chorei desejando que fosse um pesadelo. Eu não era um jovem responsável para cuidar de uma criança.
— Vocês não deveriam ter partido assim, não deveriam...
Ajoelhei-me na grama verde do cemitério, próximo das covas dos dois, ali fiquei até ser tirado por um dos meus tios.
— João, seja forte, senão por você, pelo seu irmão! — meu tio disse firme.
Ser forte? Eu não conseguia nem sequer ficar de pé! Empurrei meu tio, não porque queria agredi-lo, mas, porque queria fugir dali.
Os dias seguintes foram de muita tristeza e dor. Eu precisava ser o homem que meus pais queriam que eu fosse, custasse o que custasse.
Minha alegria e vontade de viver morrera com meus pais. Assumi a frente os negócios de família, sem deixar de ser o irmão mais velho que Samuel precisava.
— Não posso deixar que falte a escola, qual é cara. Por que não colabora? A vida continua, infelizmente. Samuel, você tem que frequentar a escola! Anda! Sai logo dessa cama!
Meu irmão não queria voltar para rotina normal. Ele ficara malcriado, após a morte dos nossos pais. Minha família queria cuidar da criação dele, no entanto, era responsabilidade minha.
Por que abandonaria meu irmão? Queria que ele um dia se tornasse um grande homem e diferente de mim ele fosse responsável.
— Já disse que não! — berrou, chutando as pernas no meu peitoral.
Tirei a força meu irmão da cama, indo até o banheiro e jogando ele na banheira com água.
- Você querendo ou não, de agora, em diante, tem que obedecer minhas ordens! Entendeu? Se eu te disser para fazer algo, faça! — esbravejei.
Por que ele não entendia que não era o único sofrendo? Ser adulto não significava que minha dor era menor que a sua.
Dez anos mais tarde...
Foi com muito esforço e dificuldade que consegui colocar meu irmão na linha. Samuel seguia o caminho certo e logo me ajudaria nos negócios de família e eu poderia relaxar um pouco.
Renunciei de tudo que gostava e dos prazeres da vida para me tornar responsável. Um dia fui um jovem que amava viver com intensidade cada momento, mas aquele outro eu ficara em um passado distante.
— Quero que reserve um quarto naquele hotel no Brasil que comentei. Anote na agenda eletrônica todos os meus compromissos no Ceará. Não ficarei muito tempo longe daqui. — informei para minha secretaria que ouvia com atenção.
Costumava viajar com muita frequência devido ao trabalho. Eu não precisava de fato trabalhar tanto, para isso tinha muitos funcionários, entretanto, era melhor manter minha cabeça em alguma coisa.
Falava fluentemente seis idiomas. Estudava muitas coisas nas horas vagas. Vida pessoal era inexistente e também não tinha mais nada que me interessasse para perder meu tempo. Cuidar dos negócios e do meu irmão era minhas obrigações e nada mais.
Bruna MariaEra somente por vovó Olivia que ainda aguentava a falta de respeito e tudo mais no hotel em que trabalhava. Por quê? O salário mínimo dela não cobria todos os gastos médicos com remédios.A saúde da minha avó não era das melhores, portanto, arrisquei-me na cidade grande para recompensá-la por tudo que fez sempre por mim. Meus pais eram dois perdidos e não tinha lembranças boas deles.Não sabia onde eles estavam e nem queria saber. Para que mais problemas? Não precisávamos de dois infelizes perturbando nossas vidas.Minha supervisora em mais uma de suas crises de superioridade derramou alvejante no meu uniforme. No banheiro dos empregados me troquei e retornei ao trabalho, no entanto, o cheiro forte do alvejante não saía do meu corpo.— Um dia ela terá o dela, pode ter certeza... — resmunguei, empurrando o carrinho de limpeza pelo corredor dos quartos do quinto andar.Entrei em um dos quartos e vi a bunda de Gabriela. Ela era uma senhora de meia-idade que costumava se embri
João GonzalezApós uma viagem de algumas horas até o Brasil, tudo que queria era descansar. Meus seguranças ainda eram um problema.Por quê? Eles chamavam atenção! Pegamos dois uber para chegarmos no hotel que reservara minha hospedagem.Era a primeira vez naquele hotel bastante conhecido na capital de Fortaleza. Na recepção me receberam com alegria. Os brasileiros costumavam ser bastante alegres.— Não quero ser incomodado por ninguém, entenderam?Avisei aos meus seguranças quando chegamos até o quarto que alugara. Esperei do lado de fora até eles verificarem meu quarto pra só então adentrar.Não queria ser assaltado ou algo assim. Quando finalmente entrei em segurança, coloquei eles para fora. Sempre que viajava levava comigo de dez a oito seguranças, porém, daquela vez levei apenas sete.No dia seguinte acordei ouvindo barulho vindo do toalete. Coloquei o travesseiro no rosto tentando abafar o barulho irritante.A voz desafinada cantava uma canção que nunca ouvira antes. Por que me
Bruna MariaNão queria ter encontrado novamente aquele hóspede novo. Ele era rabugento, eu não duvidava nada que ele poderia reclamar do que havia feito quando fazia a limpeza do banheiro do quarto dele. Homens como ele eram muito imbecis que não sabiam aproveitar nada de bom.Eu não tinha reparado que ele estava no quarto naquele horário, quando resolvi fazer a limpeza. Às vezes eu gostava de cantar por pura diversão. Ele não precisava ser grosseiro ao falar do meu dom para música. Eu sabia que não era a mais talentosa do mundo, cantava porque gostava, não para ter plateia.Não gostei nenhum pouco das coisas que me falara. Ele era muito metido, assim como os outros hóspedes em sua maioria. Não que eu esperasse encontrar um príncipe que me tratasse bem naquele quarto que esbanjava luxúria, entende? Porém, ele poderia ter sido mais gentil.Cuidar de Gabriela estava se tornando rotineiro. Eu queria que a vida dela mudasse. Infelizmente eu teria que me intrometer ainda mais na sua vida,
João GonzalezNão pensei que seria difícil convencer o senhor Nogueira de que a nossa parceria poderia ser um pouco maior. Um jantar não seria suficiente para entrarmos em um acordo justo para ambos.Ele não parecia estar contente, nem sequer com o nosso jantar, ou talvez não quisesse estar na minha companhia. O que mais poderia fazer para deixá-lo feliz? Queria descobrir!- Quero propor um outro acordo. Sabe senhor Nogueira, não gostaria de sair hoje desse jantar sem uma conclusão dessa nossa pequena reunião.Não queria ser chato ou algo assim, mas sair do México e não voltar com todos os contratos assinados que pensei que conseguiria, não era uma opção, era para ser uma certeza. Preparei-me para recomeçar do zero se fosse preciso nossa conversa, no entanto, algo chamou atenção dele em outra direção.- Nogueira, não acredito que te encontrei depois de anos! Meu Deus, você continua o mesmo!Respirei fundo, olhando para quem tinha acabado de nos interromper. Surpreendentemente reconhec
Bruna MariaQuando retornei para a mesa de jantar, não encontrei mais aquele desagradável, sabia que sua partida fora causada por mim. Ele foi embora sabendo que não aguentaria ficar do meu lado, fingindo estar tudo bem, após o que ocorreu entre nós.Gabriela estava se divertindo com o senhor Nogueira. Fiquei simplesmente de ouvinte. Não tinha o que comentar e muito menos o que fazer. Não pretendia mais comer nada, para evitar novos constrangimentos para mim.Após aquela noite péssima, voltei para casa de carona no carro daquele senhor gentil. Devo confessar que chorei, não de tristeza e sim de raiva. Não tinha como não pensar nas palavras que aquele homem falara para mim. Eu não tinha culpa da noite dele não ter saído exatamente como ele queria. Ele era egoísta, pois não pensou na minha noite.Foi realmente lamentável as coisas não terem saído como eu queria que fossem, mas por um lado, deixei uma senhora muito feliz e isso era minha recompensa. No dia seguinte, comecei mais um dia d
João GonzalezSentia-me envergonhado e bastante angustiado. Por quê? Por agir incorretamente com aquela jovem camareira. Na noite anterior tive insônia. A culpa era algo que odiava sentir. Queria o perdão dela ou minha consciência não ficaria em paz.Foi sorte justamente ela vir para o meu quarto. Adiei duas reuniões e aguardei com ansiedade por ela. Não entendia o porquê toda vez que tentava acertar em algo em relação ao sexo feminino acabava me enganando e magoado elas.Receber o perdão daquela moça acalmou meu coração. Ela me confessou que o senhor Nogueira disse que assinaria o contrato comigo. Como me senti? Um vencedor, apesar dos contratempos. Saber aquela ótima notícia fez total diferença porque nem tudo foi em vão.— Obrigado, por me contar sobre isso! Tirou um peso dos meus ombros. Novamente quero me desculpar por tudo. Quero redimir-me com a senhorita. Poderíamos jantar mais tarde? Tenho certeza que sua companhia será agradável e podemos nos conhecer. Quem sabe iniciar uma
Bruna MariaAntes do fim do meu expediente, me chamaram até a sala de reuniões. Fiquei assustada, pensando mil e uma coisas que poderia ter feito de errado. O que poderia ser? Pra chamarem minha atenção? Deveria ser algo muito sério.No entanto, assim que adentrei a sala, uma outra coisa me aguardava. Vi minha avó aos prantos. Foi uma cena surreal. Não entendi nada, apenas senti vontade de chorar também. Muitas perguntas passaram pela minha cabeça. Por que ela estava na capital? E qual era a razão de todo o seu choro?— Vovó Olivia, não chore, por favor! Me conte o que houve, para senhora decidir vir sem avisar para Fortaleza? — questionei, angustiada.— Não queria te trazer problemas, filha, mas eu não tinha para onde ir. Seus pais apareceram e me colocaram para fora de casa. Não sei o que fazer, não sei...Como eles puderam fazer aquilo com a minha avó? Meu coração ficou apertado. Ela estava desesperada. Eu não sabia como confortá-la. Abracei forte vovó Olivia.Conversamos um pouco
João GonzalezAs coisas estavam saindo de controle mais do que imaginei que poderiam sair. Estou falando do fato dos pais de Bruna Maria estarem agindo como dois estúpidos.Jamais imaginaria que a vida dela fosse tão difícil. A avó estava internada no hospital enquanto estávamos tentando resolver um problema familiar e eu nem era da família.Senti na pele o nervosismo dela, pois suas unhas perfuravam meu braço. Ela precisava de mim mais do que nunca e não falharia em ajudá-la. Ordenei aos seguranças para tirarem aqueles dois a força da casa da avó de Bruna. Eles me obedeceram. A primeira coisa que um deles fez foi pegar a faca das mãos daquela senhora descontrolada.— Me solta seu filho da puta! E você sua vadia, não pode fazer isso com seus pais! Quem é esse imbecil para se intrometer em nossas vidas? É o seu amante por acaso? Como você ousa maltratar seus pais desse jeito?Segurei Bruna Maria no instante em que ela quis avançar contra sua mãe. Não queria mais escândalos do que estav