João Gonzalez
Não pensei que seria difícil convencer o senhor Nogueira de que a nossa parceria poderia ser um pouco maior. Um jantar não seria suficiente para entrarmos em um acordo justo para ambos.
Ele não parecia estar contente, nem sequer com o nosso jantar, ou talvez não quisesse estar na minha companhia. O que mais poderia fazer para deixá-lo feliz? Queria descobrir!
- Quero propor um outro acordo. Sabe senhor Nogueira, não gostaria de sair hoje desse jantar sem uma conclusão dessa nossa pequena reunião.
Não queria ser chato ou algo assim, mas sair do México e não voltar com todos os contratos assinados que pensei que conseguiria, não era uma opção, era para ser uma certeza. Preparei-me para recomeçar do zero se fosse preciso nossa conversa, no entanto, algo chamou atenção dele em outra direção.
- Nogueira, não acredito que te encontrei depois de anos! Meu Deus, você continua o mesmo!
Respirei fundo, olhando para quem tinha acabado de nos interromper. Surpreendentemente reconheci ela, era aquela senhora do hotel que conheci no mesmo elevador. Fora alguns segundos para que reconhecesse também sua acompanhante, como sendo a camareira.
Ela parecia diferente do que recordava, provavelmente era devido ao vestido de babados e cabelos soltos. Evitei olhar muito para elas, não tinha como piorar as coisas ou tinha? Que coincidência bizarra era aquela? O que aquelas duas faziam juntas? E justo naquele restaurante? Aquilo me deixou desconfortável.
- Gabriela, fico feliz em revê-la após todos esses anos! E essa jovem é sua neta? Por que não sentam conosco? Somos dois cavalheiros solitários. Não concorda senhor Gonzalez?
Eu não concordava e muito menos queria que elas ficassem conosco! Era um jantar de negócios e não uma festinha entre amigos!
- Fiquem à vontade para se juntar a nós. - respondi, para não ser antipático.
Nunca gostei quando as coisas não saiam exatamente como eu havia planejado. Não queria aquelas duas companhias a mais naquele jantar. Era meio embaraçoso estar novamente com aquela camareira que me deixava nervoso, devido ao que acontecera antes no meu quarto.
- Venha, querida, sentaremos com esses dois homens gentis. Agradeço por nos convidarem, estaríamos jantando sozinhas essa noite, e agora estamos muito bem acompanhadas.
Um meio sorriso cínico saiu dos meus lábios para a senhora. Olhei para sua acompanhante e acabei fazendo careta sem querer. Pedi mentalmente para que ela não notasse o desprazer que era.
- Faço questão em pagar o jantar para as duas. Fiquem à vontade para pedir o que quiserem. A minha recompensa será a companhia das senhoritas.
Olhei para o meu prato de comida, para não perceberem a minha cara de desgosto. O senhor Nogueira era para estar resolvendo um acordo comigo sobre negócios, e não estar flertando aquelas duas, porque era essa impressão que eu tinha
- Você pode pelo menos fingir que está alegre? - a camareira perguntou discretamente para mim, ousando repousar sua mão sobre a minha perna. Fiquei bem assustado, retirei rapidamente sua mão de cima de mim.
- Deveria fingir alegria? Você não entende como está sendo difícil toda essa situação pra mim. Não entendo toda sua ousadia ao repousar sua mão na minha perna, isso foi muito inapropriado, ainda mais, para uma senhorita como você. Sei que não estamos no hotel e que você esqueceu as formalidades, mas, por favor, não exagere! - sussurrei para que somente ela ouvisse e disfarcei sorrindo.
Apesar dos anos de várias idas e vindas ao Brasil, ainda não estava acostumado totalmente com a maneira que eles tinham liberdade. Ela nem sequer me conhecia e obviamente sua atitude me deixou assustado.
- Apenas queria que você ficasse à vontade. Sinto que tem um clima muito pesado entre nós. Desculpe, irei respeitá-lo, me mantendo quieta e na minha.
Senti-me aliviado por ela ter entendido que era melhor manter distância de mim. Não era um encontro entre casais aquele jantar. Era para ser um jantar de negócios, todavia, transformou-se em outra coisa. Estava me irritando muito.
Após as duas pedirem alguns pratos, o clima amenizou um pouco, pelo menos, para o senhor Nogueira, que parecia se divertir com a forma que aquela jovem contava suas histórias, dos sufocos que havia passado até aquele momento na cidade grande.
- Uma vez acabei indo parar em um bairro muito distante que conhecia sequer por ter pegado o ônibus errado. É que às vezes, sou meio atrapalhada, sabe? Mas nada que eu não tenha conseguido me virar bem. - contou rindo e engasgou-se logo em seguida, com um pedaço de frango.
Desesperei-me. Não gostava de presenciar situações difíceis, como, por exemplo, aquela com ela na minha frente. Senti medo por ela. Levantei-me da cadeira e puxei ela, tentando desengasga-la. Fui por trás do seu corpo, apertando o seu estômago com meus braços.
- Senhorita, põe pra fora, anda!
Quando o pedaço de frango voou sobre a mesa, soltei ela imediatamente. Meu rosto queimou. Foi vergonhoso, pois, todos que estavam presentes, nos olhavam. O que poderia fazer? Não agir? Ter deixado ela morrer?
- Agradeço o seu socorro, entretanto, você não deveria ter me apertado tanto. Agora a comida toda que comi quer voltar para trás...
Ela saiu correndo e eu voltei a sentar na cadeira. Passei diversas vezes as mãos pelos meus cabelos. E se ela vomitasse até morrer no toalete? Perguntei-me preocupado. Sabia que não conseguiria ficar em paz sem ter notícias, portanto, resolvi que o melhor era ir atrás dela.
Não me importei que a senhora Gabriela e o senhor Nogueira pensassem coisas erradas de mim. Ela talvez precisasse de ajuda e eu queria ajudá-la, devido o que causará, após apertá-la tanto. Caminhei até o toalete.
- Você está bem do outro lado? - perguntei, batendo na porta, sem invadir seu espaço.
- Perdi toda a minha janta e caí no meu próprio vômito, fora isso estou ótima! - resmungou.
Sem pensar direito, adentrei o toalete feminino. Por quê? Porque fiquei receoso de que ela pudesse ter se machucado ao cair no seu próprio vômito. Vê-la suja e de certa forma humilhada, aumentou minha aflição.
- Seu braço está sangrando! Devemos ir ao hospital imediatamente! Venha comigo, serei cuidadoso para que não piore a situação, caso tenha fraturado algum osso...
- Não! Solta meu braço! Não sei de onde você é, mas não será um arranhãozinho desses que vai me matar!
Não compreendia o porquê aquela revolta toda dela. Pensei que ela ficaria agradecida, por ter alguém querendo ajudar e não o contrário. Eu não sabia o que fazer, ela estava discutindo comigo. Por que tanto aborrecimento em uma moça tão pequena? Não aguentei ouvir tudo calado sem merecer.
- Eu não queria estar passando por nada disso, nesta noite, que era para ser um jantar de negócios! E olha no que tudo isso se transformou, em uma grande confusão! A senhorita está complicando as coisas ainda mais. Como voltarei para aquela mesa de jantar sabendo que você a qualquer momento pode cair dura no chão? Não entendo vocês brasileiros, sinceramente eu não entendo!
Desabafei minha frustração. Obtive toda a atenção dela, enquanto surtava nervoso.
- E eu tenho culpa dos seus problemas? Não tenho! Estou acostumada com coisas piores. Por favor, para de me olhar como se você estivesse conversando com alguém que vai morrer! Estou muito viva! Dá o fora desse banheiro agora! Cai fora! E não fala mais comigo por essa noite!
Não retruquei e aceitei seu pedido. O ambiente não era para discussões. Ela não era nada agradecida, então, era melhor me retirar mesmo. Quando saí do toalete feminino retornei a mesa e inventei uma desculpa qualquer e me despedi do Senhor Nogueira e daquela senhora.
Do lado de fora do restaurante, os meus seguranças me aguardavam. Estranharam meu mau-humor, no entanto, mantiveram-se profissionais. Entrei no carro alugado, retornando para o hotel, me sentindo um derrotado, após uma noite terrível.
Bruna MariaQuando retornei para a mesa de jantar, não encontrei mais aquele desagradável, sabia que sua partida fora causada por mim. Ele foi embora sabendo que não aguentaria ficar do meu lado, fingindo estar tudo bem, após o que ocorreu entre nós.Gabriela estava se divertindo com o senhor Nogueira. Fiquei simplesmente de ouvinte. Não tinha o que comentar e muito menos o que fazer. Não pretendia mais comer nada, para evitar novos constrangimentos para mim.Após aquela noite péssima, voltei para casa de carona no carro daquele senhor gentil. Devo confessar que chorei, não de tristeza e sim de raiva. Não tinha como não pensar nas palavras que aquele homem falara para mim. Eu não tinha culpa da noite dele não ter saído exatamente como ele queria. Ele era egoísta, pois não pensou na minha noite.Foi realmente lamentável as coisas não terem saído como eu queria que fossem, mas por um lado, deixei uma senhora muito feliz e isso era minha recompensa. No dia seguinte, comecei mais um dia d
João GonzalezSentia-me envergonhado e bastante angustiado. Por quê? Por agir incorretamente com aquela jovem camareira. Na noite anterior tive insônia. A culpa era algo que odiava sentir. Queria o perdão dela ou minha consciência não ficaria em paz.Foi sorte justamente ela vir para o meu quarto. Adiei duas reuniões e aguardei com ansiedade por ela. Não entendia o porquê toda vez que tentava acertar em algo em relação ao sexo feminino acabava me enganando e magoado elas.Receber o perdão daquela moça acalmou meu coração. Ela me confessou que o senhor Nogueira disse que assinaria o contrato comigo. Como me senti? Um vencedor, apesar dos contratempos. Saber aquela ótima notícia fez total diferença porque nem tudo foi em vão.— Obrigado, por me contar sobre isso! Tirou um peso dos meus ombros. Novamente quero me desculpar por tudo. Quero redimir-me com a senhorita. Poderíamos jantar mais tarde? Tenho certeza que sua companhia será agradável e podemos nos conhecer. Quem sabe iniciar uma
Bruna MariaAntes do fim do meu expediente, me chamaram até a sala de reuniões. Fiquei assustada, pensando mil e uma coisas que poderia ter feito de errado. O que poderia ser? Pra chamarem minha atenção? Deveria ser algo muito sério.No entanto, assim que adentrei a sala, uma outra coisa me aguardava. Vi minha avó aos prantos. Foi uma cena surreal. Não entendi nada, apenas senti vontade de chorar também. Muitas perguntas passaram pela minha cabeça. Por que ela estava na capital? E qual era a razão de todo o seu choro?— Vovó Olivia, não chore, por favor! Me conte o que houve, para senhora decidir vir sem avisar para Fortaleza? — questionei, angustiada.— Não queria te trazer problemas, filha, mas eu não tinha para onde ir. Seus pais apareceram e me colocaram para fora de casa. Não sei o que fazer, não sei...Como eles puderam fazer aquilo com a minha avó? Meu coração ficou apertado. Ela estava desesperada. Eu não sabia como confortá-la. Abracei forte vovó Olivia.Conversamos um pouco
João GonzalezAs coisas estavam saindo de controle mais do que imaginei que poderiam sair. Estou falando do fato dos pais de Bruna Maria estarem agindo como dois estúpidos.Jamais imaginaria que a vida dela fosse tão difícil. A avó estava internada no hospital enquanto estávamos tentando resolver um problema familiar e eu nem era da família.Senti na pele o nervosismo dela, pois suas unhas perfuravam meu braço. Ela precisava de mim mais do que nunca e não falharia em ajudá-la. Ordenei aos seguranças para tirarem aqueles dois a força da casa da avó de Bruna. Eles me obedeceram. A primeira coisa que um deles fez foi pegar a faca das mãos daquela senhora descontrolada.— Me solta seu filho da puta! E você sua vadia, não pode fazer isso com seus pais! Quem é esse imbecil para se intrometer em nossas vidas? É o seu amante por acaso? Como você ousa maltratar seus pais desse jeito?Segurei Bruna Maria no instante em que ela quis avançar contra sua mãe. Não queria mais escândalos do que estav
Bruna MariaSer amiga de um homem como João Gonzales seria possível? Questionei-me. Ele foi de grande ajuda naquele momento que precisava tanto de apoio.Refleti sobre minha conversa com a dona Gabriela, de que eu não deveria julgar as pessoas. Como não julgar? Éramos diferentes e isso para mim era um problema, porém, pra ele não era.Quando retornamos para Fortaleza, ele me deixou no hospital na companhia da minha avó. Vovó Olivia, gostou dele e ele foi bem simpático com ela.Ele disse que precisava resolver uns assuntos pendentes, todavia, brevemente voltaria para nós levar até minha casa.Ele manteve a palavra e nos levou para minha casa, na verdade, meu quarto de cômodo e um banheiro! Minha avó ficaria comigo até estar totalmente recuperada para voltar para casa.— Filha, aquele belo homem e você são namorados? Estou perguntando porque ele me pareceu muito interessado em você. Quero que saiba que tem a minha aprovação, ele é um gatão e foi muito simpático comigo.Minha avó entende
João GonzalezNão conseguia entender o porquê estava ansioso. Era apenas um jantar, não encontro. Não sabia que roupa usar, mesmo tendo várias peças diferentes, era como se nenhuma delas fosse boa o suficiente para ocasião. Meu lado exigente aflorou e nada me agradava.Quando finalmente encontrei a roupa adequada, o problema foi o cabelo, ele começou a me incomodar. De frente para o espelho perdi alguns minutos testando alguns penteados diferenciados, mas no fim, acabei usando o mesmo de sempre, o cabelo arrumadinho com gel, partido no meio.Meu irmão me telefonou inesperadamente, o que me deixou um pouco irritado, devo confessar, porque não era o momento para conversarmos. Eu estava praticamente de saída, ainda assim, atendi o telefonema.— Não posso conversar agora! Tenho compromisso inadiável. Por que não deixou para telefonar em outro momento? Você é meu irmão, porém, estou apressado para sair do hotel.— O que você tem? Pra que essa pressa toda? Essa é a primeira vez que você fal
Bruna MariaJoão ficou de cara fechada após ouvir minhas explicações para Dona Gabriela. Não queria que ela pensasse que existisse algo íntimo entre nós dois, portanto, falei que era somente um jantar entre amigos. Por que ele ficou daquele jeito? Eu não tinha falado nenhuma mentira! Não fiquei insistindo em ser simpática com ele, se ele queria ficar de cara amarrada que ficasse. Depois do jantar ele foi me deixar em casa com a minha avó. O silêncio ficou entre nós durante o trajeto até minha casa. Ele conversava com vovó Olívia apenas, o que aliviou um pouco o clima meio estranho no veículo. O senhor Nogueira nos convidou para sua festa de aniversário, vovó recusou, pois, não estaria mais na cidade na data marcada. Eu também queria recusar, no entanto, a senhora Gabriela respondeu por mim, afirmando minha presença sem me consultar antes. Quatro dias após o jantar o dia da festa de aniversário havia chegado. Desde o jantar João me evitava e não era coisa da minha cabeça. Toda vez
João GonzalezErrei em ser grosseiro com Bruna Maria, tinha consciência do babaca que acabei sendo. Meu impulso me fez fazer e falar coisas que não deveria. Roubei um beijo dela após ser um imbecil. Por que beijei ela? Foi algo que não consegui controlar, meus instintos e desejos.Vê-la fugindo de mim em um carro, me deu um aperto no coração. Quando retornei para a festa de aniversário do senhor Nogueira, não consegui ser o mesmo de antes. Pensei em nosso beijo. Sentir o gosto dos seus lábios doces nos meus, não saia dos meus pensamentos.Foi o orgulho que não me deixou procurá-la depois de todo o ocorrido. O tapa que ela me deu no rosto marcara seus dedos em mim. Ela não era uma mulher qualquer e apenas se defendeu.Peguei meu jatinho particular pela madrugada e quando ele levantou voou quase chorei, confesso. Por quê? Porque no Brasil deixaria alguém furiosa ao invés de sentir saudades ela sentiria raiva. Algumas horas depois aterrissei no México. O sentimento de perda era enorme.