05

Bruna Maria

Quando retornei para a mesa de jantar, não encontrei mais aquele desagradável, sabia que sua partida fora causada por mim. Ele foi embora sabendo que não aguentaria ficar do meu lado, fingindo estar tudo bem, após o que ocorreu entre nós.

Gabriela estava se divertindo com o senhor Nogueira. Fiquei simplesmente de ouvinte. Não tinha o que comentar e muito menos o que fazer. Não pretendia mais comer nada, para evitar novos constrangimentos para mim.

Após aquela noite péssima, voltei para casa de carona no carro daquele senhor gentil. Devo confessar que chorei, não de tristeza e sim de raiva. Não tinha como não pensar nas palavras que aquele homem falara para mim. Eu não tinha culpa da noite dele não ter saído exatamente como ele queria. Ele era egoísta, pois não pensou na minha noite.

Foi realmente lamentável as coisas não terem saído como eu queria que fossem, mas por um lado, deixei uma senhora muito feliz e isso era minha recompensa. No dia seguinte, comecei mais um dia de trabalho. Não posso dizer que estava no meu melhor, porque não estava, todavia, o trabalho não esperaria que eu ficasse bem.

— O que você tem? — uma das minhas colegas perguntou. — É estranho não te ver empolgada, Bruna.

Não percebera que era tão nítido daquela maneira o meu descontentamento. Sorri para lhe dar uma resposta aceitável.

— Apenas preocupações com a minha avó. Amanhã vou vê-la e ficarei bem.

Por que não substituir um problema por outro? Foi o que fiz ao usar aquela desculpa. No outro dia estaria com a minha avó e ela faria eu esquecer as coisas que andaram acontecendo durante a semana.

— Entendo! Fico feliz que você tenha a sua avó. Infelizmente não tenho mais. Mas essa é a vida agora. Eu preciso ir antes que a supervisora me pegue falando com você.

— Também não quero ser pega por ela.

Comecei as limpezas pelos quartos e também aproveitei para passar no quarto da senhora Gabriela, para saber como ela estava. Quando entrei no quarto, vi o quão feliz ela estava. Seus olhos brilhavam de felicidade.

— Bom dia, Bruna, querida! — disse ela. Quando ela me abraçou forte tive certeza que o seu dia seria ótimo.

— Fico feliz em ver que a senhora está contente assim, realmente aquele jantar fez toda a diferença. Espero que isso motive seus dias para procurar novos horizontes. O mundo tem muito a oferecer. Quero que seja muito feliz e para ser feliz não deve se afundar na obscuridade. Estou aqui pra ajudá-la até mesmo quando não precisar de mim. Sei que um dia esse quarto ficará pequeno demais para senhora.

— Você também precisa ser feliz! Sempre parece estar cuidando de tudo e de todos. Como é a sua vida fora daqui? Você tem muitas amizades até mesmo paquera? Bruna Maria, você trabalha muito, isso é inegável. Deveria ter mais reconhecimento por todo seu esforço. Quantos anos você tem? Aparenta ter uns dezenove ou vinte anos!

— Não gosto muito de falar sobre mim. Não tenho muito o que dizer de mim, apenas tenho uma grande amiga. O nome dela é Sofia, conheci ela aqui mesmo em Fortaleza. A questão de paqueras eu não tenho. Não é algo que eu busque no momento. Minhas prioridades são outras. A senhora não entenderia mesmo que eu tentasse explicar, tudo que passa na minha cabeça. Tenho vinte e quatro anos.

— Precisa sair mais, menina, embora você possa conhecer o amor da sua vida aqui mesmo no Hotel. Não seria muito romântico você se apaixonar por um dos hóspedes? Sem falar que tem muitos bonitões. Olha eu até diria que o senhor Gonzalez seria um ótimo partido, no entanto, a saída dele ontem do jantar repentinamente, me fez questionar se realmente poderia valer a pena para uma moça tão linda quanto você. Digo isso porque vocês tocaram olhares. Não venha me dizer que foi impressão minha porque não sou cega! E a forma que ele ficou preocupado quando você passou mal foi diferente.

Senti vontade de rir daquele comentário tão insinuativo. Como pode ter passado pela cabeça dela que ele poderia ser um bom partido para mim? Ela criou uma ilusão visual do que acreditou ter visto. A suposta troca de olhares em silêncio, foi após sussurramos um para o outro, algumas coisas não muito agradáveis.

— Sinto muito em dizer, mas de bom partido aquele homem não tem nada! Não ficaria com ele nem por uma noite apenas que fosse! Gosto de homem mais como eu, sabe? Me apaixonar por alguém esnobe e estúpido, seria muito azar. Sabe dona Gabriela, o homem que quero me relacionar um dia, tem que ser humilde, do tipo de homem que saia comigo para passear de bicicleta e goste de um bom prato de cuscuz com leite. O senhor Gonzalez não parece um homem que curta o simples. Ele tem dinheiro, não sei o quanto, mas o bastante para saber que entre nós não rolaria nada.

Fui sincera com ela, aquele homem era o exemplo de tudo que não queria em um par amoroso. Ele tinha beleza, porém, seu cérebro era raso e sem cultura, aparentemente era o que demonstrou ser com suas ações.

— Não conhecia o seu lado preconceituoso. Acredite, não é porque ele tem dinheiro que não poderia ser um bom homem para você. Por que está julgando? Aconteceu algo que não estou sabendo? Pode me falar que darei um jeito nele...

Dá um jeito nele? O que ela poderia fazer? Discutir? Ela era uma hóspede assim como ele, a diferença era que ela era VIP por morar naquele hotel.

— Não, ele não fez nada! Agora preciso ir, tenho que continuar o meu trabalho. Outra hora apareço novamente para saber como a senhora está.

Aquela foi a minha desculpa para sair correndo do quarto dela. Não queria entrar em detalhes sobre o que ocorrera no banheiro do restaurante com aquele embuste.

Continuei o meu trabalho, mas quando chegou no quarto onde ele estava hospedado, senti um embrulho no estômago por ter que entrar naquele quarto.

Os seguranças me deixaram adentrar. Tentei evitar olhar para os lados ou qualquer coisa que fosse, pois, sabia que se os seguranças estavam do lado de fora, significava que ele estava no quarto.

— Não pensei que estaria com disposição para trabalhar hoje...

Aquela voz arrepiou até os cabelos da minha alma, se é que existiam! Fingindo não ter ouvido, continuei passando a vassoura pelo chão. No entanto, ele realmente queria chamar minha atenção, ao tocar meu ombro direito com sua mão grande. Foi inesperado, fazendo-me engolir em seco.

— O que o senhor quer? Pode esperar que eu faça o meu trabalho e peça pra outra pessoa vir ajudá-lo? — perguntei, porque não queria mais contato do que o necessário com ele.

— Quero me desculpar por ontem à noite. Sei que exagerei bastante. Admito que tenho excesso de cuidados. Muitas vezes as pessoas entendem mal. Eu não queria me intrometer na sua vida ontem, ou algo assim, estava realmente chateado por não ter conseguido o meu objetivo naquele jantar de negócios. Foi errado da minha parte ter descontado em você, desculpe!

Virei para encará-lo nos olhos. Ele me pediu desculpas, era mínimo. Não tinha porque eu negar o meu perdão para ele, entretanto, queria manter distância dele.

— Eu te desculpo, por ter sido meio idiota, cá entre nós. Sabe, o meu jantar também não foi exatamente como eu queria, porém, fiquei feliz porque a senhora que estava comigo, ficou muito feliz em rever o seu velho amigo. Você ter ido embora foi uma das melhores coisas que poderia ter feito por aqueles dois. Então, eu te perdoo por ser babaca. Estou cansada, por isso estou desabafando. Espero que não faça reclamações de mim para supervisora, por eu estar falando desse jeito. Você provocou tudo isso, educação é algo que tenho de sobra para todos os clientes nesse hotel, no entanto, paciência tem limite. Compreende?

— Entendo! Poderia ser pior nosso entendimento. Na minha cabeça imaginei você esfregando o esfregão na minha cara hoje. Estou aliviado por não ter acontecido. Não tô querendo dizer que você é mal-educada ou algo assim, é que as coisas que fiz, daria motivos para esse tipo de coisa acontecer comigo. Agora que estamos nos entendendo, espero não ter mais nenhum outro conflito com a senhorita.

— Apagaremos o que passou, tá bem? Agora terminarei o meu trabalho. Sairei do seu quarto, e cada um seguirá suas vidas normalmente. Tenho certeza que o senhor tem muitas coisas para fazer também! Antes que eu vá, quero comentar algo, mas não sou fofoqueira, é que você merece saber. O seu contrato com seu Nogueira sairá muito em breve porque ele ficou muito feliz, supondo que você foi embora para dar privacidade com a senhora Gabriela. Portanto, comentou sobre assinar o novo contrato nos seus termos.

Não vi motivo para não comentar sobre, era o que ele tanto queria, o contrato com aquele senhor. Pelo menos ele ficaria feliz com a notícia de que nada foi perdido. Eu não era má e naquele momento ele mereceu saber.

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