Bruna Maria
Quando retornei para a mesa de jantar, não encontrei mais aquele desagradável, sabia que sua partida fora causada por mim. Ele foi embora sabendo que não aguentaria ficar do meu lado, fingindo estar tudo bem, após o que ocorreu entre nós.
Gabriela estava se divertindo com o senhor Nogueira. Fiquei simplesmente de ouvinte. Não tinha o que comentar e muito menos o que fazer. Não pretendia mais comer nada, para evitar novos constrangimentos para mim.
Após aquela noite péssima, voltei para casa de carona no carro daquele senhor gentil. Devo confessar que chorei, não de tristeza e sim de raiva. Não tinha como não pensar nas palavras que aquele homem falara para mim. Eu não tinha culpa da noite dele não ter saído exatamente como ele queria. Ele era egoísta, pois não pensou na minha noite.
Foi realmente lamentável as coisas não terem saído como eu queria que fossem, mas por um lado, deixei uma senhora muito feliz e isso era minha recompensa. No dia seguinte, comecei mais um dia de trabalho. Não posso dizer que estava no meu melhor, porque não estava, todavia, o trabalho não esperaria que eu ficasse bem.
— O que você tem? — uma das minhas colegas perguntou. — É estranho não te ver empolgada, Bruna.
Não percebera que era tão nítido daquela maneira o meu descontentamento. Sorri para lhe dar uma resposta aceitável.
— Apenas preocupações com a minha avó. Amanhã vou vê-la e ficarei bem.
Por que não substituir um problema por outro? Foi o que fiz ao usar aquela desculpa. No outro dia estaria com a minha avó e ela faria eu esquecer as coisas que andaram acontecendo durante a semana.
— Entendo! Fico feliz que você tenha a sua avó. Infelizmente não tenho mais. Mas essa é a vida agora. Eu preciso ir antes que a supervisora me pegue falando com você.
— Também não quero ser pega por ela.
Comecei as limpezas pelos quartos e também aproveitei para passar no quarto da senhora Gabriela, para saber como ela estava. Quando entrei no quarto, vi o quão feliz ela estava. Seus olhos brilhavam de felicidade.
— Bom dia, Bruna, querida! — disse ela. Quando ela me abraçou forte tive certeza que o seu dia seria ótimo.
— Fico feliz em ver que a senhora está contente assim, realmente aquele jantar fez toda a diferença. Espero que isso motive seus dias para procurar novos horizontes. O mundo tem muito a oferecer. Quero que seja muito feliz e para ser feliz não deve se afundar na obscuridade. Estou aqui pra ajudá-la até mesmo quando não precisar de mim. Sei que um dia esse quarto ficará pequeno demais para senhora.
— Você também precisa ser feliz! Sempre parece estar cuidando de tudo e de todos. Como é a sua vida fora daqui? Você tem muitas amizades até mesmo paquera? Bruna Maria, você trabalha muito, isso é inegável. Deveria ter mais reconhecimento por todo seu esforço. Quantos anos você tem? Aparenta ter uns dezenove ou vinte anos!
— Não gosto muito de falar sobre mim. Não tenho muito o que dizer de mim, apenas tenho uma grande amiga. O nome dela é Sofia, conheci ela aqui mesmo em Fortaleza. A questão de paqueras eu não tenho. Não é algo que eu busque no momento. Minhas prioridades são outras. A senhora não entenderia mesmo que eu tentasse explicar, tudo que passa na minha cabeça. Tenho vinte e quatro anos.
— Precisa sair mais, menina, embora você possa conhecer o amor da sua vida aqui mesmo no Hotel. Não seria muito romântico você se apaixonar por um dos hóspedes? Sem falar que tem muitos bonitões. Olha eu até diria que o senhor Gonzalez seria um ótimo partido, no entanto, a saída dele ontem do jantar repentinamente, me fez questionar se realmente poderia valer a pena para uma moça tão linda quanto você. Digo isso porque vocês tocaram olhares. Não venha me dizer que foi impressão minha porque não sou cega! E a forma que ele ficou preocupado quando você passou mal foi diferente.
Senti vontade de rir daquele comentário tão insinuativo. Como pode ter passado pela cabeça dela que ele poderia ser um bom partido para mim? Ela criou uma ilusão visual do que acreditou ter visto. A suposta troca de olhares em silêncio, foi após sussurramos um para o outro, algumas coisas não muito agradáveis.
— Sinto muito em dizer, mas de bom partido aquele homem não tem nada! Não ficaria com ele nem por uma noite apenas que fosse! Gosto de homem mais como eu, sabe? Me apaixonar por alguém esnobe e estúpido, seria muito azar. Sabe dona Gabriela, o homem que quero me relacionar um dia, tem que ser humilde, do tipo de homem que saia comigo para passear de bicicleta e goste de um bom prato de cuscuz com leite. O senhor Gonzalez não parece um homem que curta o simples. Ele tem dinheiro, não sei o quanto, mas o bastante para saber que entre nós não rolaria nada.
Fui sincera com ela, aquele homem era o exemplo de tudo que não queria em um par amoroso. Ele tinha beleza, porém, seu cérebro era raso e sem cultura, aparentemente era o que demonstrou ser com suas ações.
— Não conhecia o seu lado preconceituoso. Acredite, não é porque ele tem dinheiro que não poderia ser um bom homem para você. Por que está julgando? Aconteceu algo que não estou sabendo? Pode me falar que darei um jeito nele...
Dá um jeito nele? O que ela poderia fazer? Discutir? Ela era uma hóspede assim como ele, a diferença era que ela era VIP por morar naquele hotel.
— Não, ele não fez nada! Agora preciso ir, tenho que continuar o meu trabalho. Outra hora apareço novamente para saber como a senhora está.
Aquela foi a minha desculpa para sair correndo do quarto dela. Não queria entrar em detalhes sobre o que ocorrera no banheiro do restaurante com aquele embuste.
Continuei o meu trabalho, mas quando chegou no quarto onde ele estava hospedado, senti um embrulho no estômago por ter que entrar naquele quarto.
Os seguranças me deixaram adentrar. Tentei evitar olhar para os lados ou qualquer coisa que fosse, pois, sabia que se os seguranças estavam do lado de fora, significava que ele estava no quarto.
— Não pensei que estaria com disposição para trabalhar hoje...
Aquela voz arrepiou até os cabelos da minha alma, se é que existiam! Fingindo não ter ouvido, continuei passando a vassoura pelo chão. No entanto, ele realmente queria chamar minha atenção, ao tocar meu ombro direito com sua mão grande. Foi inesperado, fazendo-me engolir em seco.
— O que o senhor quer? Pode esperar que eu faça o meu trabalho e peça pra outra pessoa vir ajudá-lo? — perguntei, porque não queria mais contato do que o necessário com ele.
— Quero me desculpar por ontem à noite. Sei que exagerei bastante. Admito que tenho excesso de cuidados. Muitas vezes as pessoas entendem mal. Eu não queria me intrometer na sua vida ontem, ou algo assim, estava realmente chateado por não ter conseguido o meu objetivo naquele jantar de negócios. Foi errado da minha parte ter descontado em você, desculpe!
Virei para encará-lo nos olhos. Ele me pediu desculpas, era mínimo. Não tinha porque eu negar o meu perdão para ele, entretanto, queria manter distância dele.
— Eu te desculpo, por ter sido meio idiota, cá entre nós. Sabe, o meu jantar também não foi exatamente como eu queria, porém, fiquei feliz porque a senhora que estava comigo, ficou muito feliz em rever o seu velho amigo. Você ter ido embora foi uma das melhores coisas que poderia ter feito por aqueles dois. Então, eu te perdoo por ser babaca. Estou cansada, por isso estou desabafando. Espero que não faça reclamações de mim para supervisora, por eu estar falando desse jeito. Você provocou tudo isso, educação é algo que tenho de sobra para todos os clientes nesse hotel, no entanto, paciência tem limite. Compreende?
— Entendo! Poderia ser pior nosso entendimento. Na minha cabeça imaginei você esfregando o esfregão na minha cara hoje. Estou aliviado por não ter acontecido. Não tô querendo dizer que você é mal-educada ou algo assim, é que as coisas que fiz, daria motivos para esse tipo de coisa acontecer comigo. Agora que estamos nos entendendo, espero não ter mais nenhum outro conflito com a senhorita.
— Apagaremos o que passou, tá bem? Agora terminarei o meu trabalho. Sairei do seu quarto, e cada um seguirá suas vidas normalmente. Tenho certeza que o senhor tem muitas coisas para fazer também! Antes que eu vá, quero comentar algo, mas não sou fofoqueira, é que você merece saber. O seu contrato com seu Nogueira sairá muito em breve porque ele ficou muito feliz, supondo que você foi embora para dar privacidade com a senhora Gabriela. Portanto, comentou sobre assinar o novo contrato nos seus termos.
Não vi motivo para não comentar sobre, era o que ele tanto queria, o contrato com aquele senhor. Pelo menos ele ficaria feliz com a notícia de que nada foi perdido. Eu não era má e naquele momento ele mereceu saber.
João GonzalezSentia-me envergonhado e bastante angustiado. Por quê? Por agir incorretamente com aquela jovem camareira. Na noite anterior tive insônia. A culpa era algo que odiava sentir. Queria o perdão dela ou minha consciência não ficaria em paz.Foi sorte justamente ela vir para o meu quarto. Adiei duas reuniões e aguardei com ansiedade por ela. Não entendia o porquê toda vez que tentava acertar em algo em relação ao sexo feminino acabava me enganando e magoado elas.Receber o perdão daquela moça acalmou meu coração. Ela me confessou que o senhor Nogueira disse que assinaria o contrato comigo. Como me senti? Um vencedor, apesar dos contratempos. Saber aquela ótima notícia fez total diferença porque nem tudo foi em vão.— Obrigado, por me contar sobre isso! Tirou um peso dos meus ombros. Novamente quero me desculpar por tudo. Quero redimir-me com a senhorita. Poderíamos jantar mais tarde? Tenho certeza que sua companhia será agradável e podemos nos conhecer. Quem sabe iniciar uma
Bruna MariaAntes do fim do meu expediente, me chamaram até a sala de reuniões. Fiquei assustada, pensando mil e uma coisas que poderia ter feito de errado. O que poderia ser? Pra chamarem minha atenção? Deveria ser algo muito sério.No entanto, assim que adentrei a sala, uma outra coisa me aguardava. Vi minha avó aos prantos. Foi uma cena surreal. Não entendi nada, apenas senti vontade de chorar também. Muitas perguntas passaram pela minha cabeça. Por que ela estava na capital? E qual era a razão de todo o seu choro?— Vovó Olivia, não chore, por favor! Me conte o que houve, para senhora decidir vir sem avisar para Fortaleza? — questionei, angustiada.— Não queria te trazer problemas, filha, mas eu não tinha para onde ir. Seus pais apareceram e me colocaram para fora de casa. Não sei o que fazer, não sei...Como eles puderam fazer aquilo com a minha avó? Meu coração ficou apertado. Ela estava desesperada. Eu não sabia como confortá-la. Abracei forte vovó Olivia.Conversamos um pouco
João GonzalezAs coisas estavam saindo de controle mais do que imaginei que poderiam sair. Estou falando do fato dos pais de Bruna Maria estarem agindo como dois estúpidos.Jamais imaginaria que a vida dela fosse tão difícil. A avó estava internada no hospital enquanto estávamos tentando resolver um problema familiar e eu nem era da família.Senti na pele o nervosismo dela, pois suas unhas perfuravam meu braço. Ela precisava de mim mais do que nunca e não falharia em ajudá-la. Ordenei aos seguranças para tirarem aqueles dois a força da casa da avó de Bruna. Eles me obedeceram. A primeira coisa que um deles fez foi pegar a faca das mãos daquela senhora descontrolada.— Me solta seu filho da puta! E você sua vadia, não pode fazer isso com seus pais! Quem é esse imbecil para se intrometer em nossas vidas? É o seu amante por acaso? Como você ousa maltratar seus pais desse jeito?Segurei Bruna Maria no instante em que ela quis avançar contra sua mãe. Não queria mais escândalos do que estav
Bruna MariaSer amiga de um homem como João Gonzales seria possível? Questionei-me. Ele foi de grande ajuda naquele momento que precisava tanto de apoio.Refleti sobre minha conversa com a dona Gabriela, de que eu não deveria julgar as pessoas. Como não julgar? Éramos diferentes e isso para mim era um problema, porém, pra ele não era.Quando retornamos para Fortaleza, ele me deixou no hospital na companhia da minha avó. Vovó Olivia, gostou dele e ele foi bem simpático com ela.Ele disse que precisava resolver uns assuntos pendentes, todavia, brevemente voltaria para nós levar até minha casa.Ele manteve a palavra e nos levou para minha casa, na verdade, meu quarto de cômodo e um banheiro! Minha avó ficaria comigo até estar totalmente recuperada para voltar para casa.— Filha, aquele belo homem e você são namorados? Estou perguntando porque ele me pareceu muito interessado em você. Quero que saiba que tem a minha aprovação, ele é um gatão e foi muito simpático comigo.Minha avó entende
João GonzalezNão conseguia entender o porquê estava ansioso. Era apenas um jantar, não encontro. Não sabia que roupa usar, mesmo tendo várias peças diferentes, era como se nenhuma delas fosse boa o suficiente para ocasião. Meu lado exigente aflorou e nada me agradava.Quando finalmente encontrei a roupa adequada, o problema foi o cabelo, ele começou a me incomodar. De frente para o espelho perdi alguns minutos testando alguns penteados diferenciados, mas no fim, acabei usando o mesmo de sempre, o cabelo arrumadinho com gel, partido no meio.Meu irmão me telefonou inesperadamente, o que me deixou um pouco irritado, devo confessar, porque não era o momento para conversarmos. Eu estava praticamente de saída, ainda assim, atendi o telefonema.— Não posso conversar agora! Tenho compromisso inadiável. Por que não deixou para telefonar em outro momento? Você é meu irmão, porém, estou apressado para sair do hotel.— O que você tem? Pra que essa pressa toda? Essa é a primeira vez que você fal
Bruna MariaJoão ficou de cara fechada após ouvir minhas explicações para Dona Gabriela. Não queria que ela pensasse que existisse algo íntimo entre nós dois, portanto, falei que era somente um jantar entre amigos. Por que ele ficou daquele jeito? Eu não tinha falado nenhuma mentira! Não fiquei insistindo em ser simpática com ele, se ele queria ficar de cara amarrada que ficasse. Depois do jantar ele foi me deixar em casa com a minha avó. O silêncio ficou entre nós durante o trajeto até minha casa. Ele conversava com vovó Olívia apenas, o que aliviou um pouco o clima meio estranho no veículo. O senhor Nogueira nos convidou para sua festa de aniversário, vovó recusou, pois, não estaria mais na cidade na data marcada. Eu também queria recusar, no entanto, a senhora Gabriela respondeu por mim, afirmando minha presença sem me consultar antes. Quatro dias após o jantar o dia da festa de aniversário havia chegado. Desde o jantar João me evitava e não era coisa da minha cabeça. Toda vez
João GonzalezErrei em ser grosseiro com Bruna Maria, tinha consciência do babaca que acabei sendo. Meu impulso me fez fazer e falar coisas que não deveria. Roubei um beijo dela após ser um imbecil. Por que beijei ela? Foi algo que não consegui controlar, meus instintos e desejos.Vê-la fugindo de mim em um carro, me deu um aperto no coração. Quando retornei para a festa de aniversário do senhor Nogueira, não consegui ser o mesmo de antes. Pensei em nosso beijo. Sentir o gosto dos seus lábios doces nos meus, não saia dos meus pensamentos.Foi o orgulho que não me deixou procurá-la depois de todo o ocorrido. O tapa que ela me deu no rosto marcara seus dedos em mim. Ela não era uma mulher qualquer e apenas se defendeu.Peguei meu jatinho particular pela madrugada e quando ele levantou voou quase chorei, confesso. Por quê? Porque no Brasil deixaria alguém furiosa ao invés de sentir saudades ela sentiria raiva. Algumas horas depois aterrissei no México. O sentimento de perda era enorme.
Bruna MariaUma semana após a partida de João Gonzales do Brasil, pensava no desgraçado, mesmo não querendo. Eu não sabia mais o que fazer, pensar me trazia tristeza. Ficou algo entre aberto porque não era para tudo acabar daquela maneira, em uma discussão idiota.Foi errado ele ter me beijado inesperadamente e me ofendido. As palavras pesam, mas apesar de tudo, ele não era uma pessoa ruim. Não soubemos lidar com o que estávamos sentindo um pelo outro.Não conseguia continuar negando pra mim mesma que aquele beijo roubando não significou nada. Um beijo era um beijo, embora surpresa, abalou meus sentidos e mexeu com o meu coração. Ele não saia dos meus pensamentos nem com oração, digo isso, pois tentei!Foquei ainda mais no meu trabalho, na esperança de me libertar da bagunça que estava na minha cabeça. O apoio da minha amiga Sofia era essencial naquele momento crítico. Ela me convidara para uma balada.Meu desânimo fez com que ela acreditasse que uma badalação me deixaria animada para