Bruna Maria
Antes do fim do meu expediente, me chamaram até a sala de reuniões. Fiquei assustada, pensando mil e uma coisas que poderia ter feito de errado. O que poderia ser? Pra chamarem minha atenção? Deveria ser algo muito sério.
No entanto, assim que adentrei a sala, uma outra coisa me aguardava. Vi minha avó aos prantos. Foi uma cena surreal. Não entendi nada, apenas senti vontade de chorar também. Muitas perguntas passaram pela minha cabeça. Por que ela estava na capital? E qual era a razão de todo o seu choro?
— Vovó Olivia, não chore, por favor! Me conte o que houve, para senhora decidir vir sem avisar para Fortaleza? — questionei, angustiada.
— Não queria te trazer problemas, filha, mas eu não tinha para onde ir. Seus pais apareceram e me colocaram para fora de casa. Não sei o que fazer, não sei...
Como eles puderam fazer aquilo com a minha avó? Meu coração ficou apertado. Ela estava desesperada. Eu não sabia como confortá-la. Abracei forte vovó Olivia.
Conversamos um pouco e decidimos juntas arrumar uma solução. Quando estávamos saindo do hotel para minha casa ela passou mal e caiu desacordada no chão. Gritei por ajuda e a ajuda veio de onde menos imaginária.
— Precisamos levá-la para o hospital. Você concorda? — me vi fora de órbita. O senhor Gonzalez com a ajuda dos seus seguranças pegaram minha avó.
— Não sei o que fazer. Isso não era para acontecer. Nada pode acontecer com ela. Levaremos ela para o hospital.
Eu não recusaria ajuda de quem quer que fosse. Entrei no carro ao lado dele enquanto minha avó permanecia desacordada. Fora exatamente quinze minutos até chegarmos ao hospital próximo.
Tudo foi muito intenso, mas graças a Deus o atendimento foi rápido. Era um hospital particular. Como pagaria? Tentei não me preocupar com a conta naquela altura, o que importava era a saúde dela.
O médico examinou a minha avó, disse que ela estava com pressão alta e me questionou se ela passara por alguma raiva, então, precisei contar a verdade. Ela recebeu um tratamento de emergência e ficaria em observação.
Quando deixei o leito em que ela se encontrava, do lado de fora tive uma surpresa. Com o quê? Gonzalez ainda estava no hospital. Não consegui entender porque ele quis ficar. Não éramos parentes dele, muito menos amigos. Ele ter socorrido minha avó não lhe dava o direito de permanecer lá.
O que ele queria com sua atitude? Senti-me desconfiada, de sua generosidade toda.
— Por que não foi embora? — perguntei, franzindo o cenho.
Ele aproximou-se de mim, calmamente e me olhou nos olhos.
— Não te deixaria sozinha em uma situação dessas. Compreendo que esteja nervosa agora. Estou aqui para te dar apoio, caso precise. Como está sua avó? — indagou, colocando uma das mãos no bolso da calça.
Meus olhos seguiram o caminho errado indo parar no meio de suas pernas, entretanto, me recompus rapidamente.
— Ela ficará bem... — respondi com a boca seca, e os pensamentos voando longe.
Em nenhum momento senti que sua preocupação era falsa. O homem à minha frente estava preocupado. Seus olhos e expressão corporal falavam isso.
Contei o que ocorrera para ele, apesar de não conhecê-lo bem. Apenas queria que alguém me ouvisse e nada mais. Seu suspiro foi profundo, como se sentisse minha fúria.
— Como eles puderam fazer isso?! Você precisa ir até à delegacia para resolver essa questão. Vou acompanhá-la.
Não queria que fossemos para delegacia, pois queria tentar colocar juízo na cabeça dos meus pais. Pôr a justiça no meio não ajudaria em nada.
— Quero tentar resolver tudo sem envolver a polícia. A minha família é um pouco complicada. Verei se consigo um transporte e irei agora mesmo até o interior. Agradeço por tudo que fez por mim. Não demorarei muito para retornar porque preciso ficar com a minha avó. Tenho que resolver esse problema para ela poder voltar para sua casa.
— Sozinha? Você não pode! Vamos juntos, está decidido! Me diga onde fica e poderemos seguir para o destino certo. Levarei dois seguranças conosco. Não adianta rejeitar minha ajuda nesse momento. Você entende que precisa de mim? Quero dizer que você precisa de alguém forte, que esteja ao seu lado para enfrentar os seus pais! — afirmou, decidido da sua decisão.
— Por que quer fazer isso por mim? Não entendo! O senhor tem coisas mais importantes. Tem certeza que quer viajar junto comigo?
— Vamos juntos já disse! Não se preocupe com nada. Será tudo resolvido, logo voltaremos para ver como sua avó está.
Eu não era louca de recusar aquela oferta. Quanto antes fossemos para a casa da minha avó melhor. Era muito absurdo meus pais terem retornado depois de anos desaparecidos, e exigirem ficar na casa dela. O pior de tudo foi terem colocado ela para fora, como se não fosse ninguém. Perguntei-me que filha era minha mãe? Por colocar a própria mãe para fora de casa. Não dava para entender.
Viajaríamos juntos, alguns dos seus seguranças iriam conosco. Se ele tinha seguranças era por alguma razão. Não queria ser chata, pedindo para não nos acompanharem. Quando chegamos no meu interior eram quase seis da manhã. Passamos a madrugada na estrada, chegando na casa da minha avó. Não queria saber de nada, além de confrontar os meus pais.
— Abre a porta! Sei que vocês estão aí dentro! Como puderam fazer isso com a minha avó? Expulsar ela daquela forma foi cruel. Os dois são péssimo-caráter, por colocar uma idosa doente pra fora de casa!
Meu pai abriu a porta e sorriu. Ele era um cínico, tantos anos sem vê-lo e uma das primeiras coisas que ele me disse foi: Bruna Maria como você cresceu. Chorei pelo descaso. Ele não tinha amor no coração. Gonzalez entrou na minha frente após notar que eu tinha paralisado.
— Devolvam a casa da avó da senhorita! Não me obrigue envolver a polícia. — disse autoritário, de queixo erguido.
Agarrei-me ao seu braço e nem sei bem porquê. A sensação era de fragilidade.
— E você quem é? Para falar assim comigo? Não sabe de nada da nossa família! Bruna, por que trouxe esse homem e esses guarda-costas juntos? O que você planejava? Espancar seus pais? Pra que tudo isso? Aquela velha está nas últimas! Essa casa um dia será nossa de qualquer forma. Apenas adiantamos as coisas. Você pode ficar conosco se quiser, afinal de contas, ainda é nossa filhinha.
— Não fale assim da minha avó! Por que ficaria com vocês? Vocês deveriam ter vergonha na cara de expulsar uma senhora de idade! Ela tem quem lute por ela e seus direitos! Não me venha propor nada. Vocês nunca me quiseram de verdade, sempre fizeram tudo de errado. Nunca foram os pais que eu merecia ter!
Minha mãe apareceu com uma faca nas mãos. Ela começou a nos ameaçar, para todos irmos embora. Apertei ainda mais o braço do coitado que não tinha nada a ver com meus problemas.
— Coloquem os dois para fora à força! — disse ele, furioso.
A situação pioraria sem dúvidas, com a ordem de Gonzalez aos seus seguranças. Meu nervosismo me fez sentir que a qualquer momento perderia os sentidos. Não queria que machucassem meus pais, no entanto, eles não mereciam o nosso respeito pelo que fizeram.
O que aconteceria em seguida, poderia se tornar em uma confusão das grandes. Eu não tinha certeza se estava preparada para tudo.
João GonzalezAs coisas estavam saindo de controle mais do que imaginei que poderiam sair. Estou falando do fato dos pais de Bruna Maria estarem agindo como dois estúpidos.Jamais imaginaria que a vida dela fosse tão difícil. A avó estava internada no hospital enquanto estávamos tentando resolver um problema familiar e eu nem era da família.Senti na pele o nervosismo dela, pois suas unhas perfuravam meu braço. Ela precisava de mim mais do que nunca e não falharia em ajudá-la. Ordenei aos seguranças para tirarem aqueles dois a força da casa da avó de Bruna. Eles me obedeceram. A primeira coisa que um deles fez foi pegar a faca das mãos daquela senhora descontrolada.— Me solta seu filho da puta! E você sua vadia, não pode fazer isso com seus pais! Quem é esse imbecil para se intrometer em nossas vidas? É o seu amante por acaso? Como você ousa maltratar seus pais desse jeito?Segurei Bruna Maria no instante em que ela quis avançar contra sua mãe. Não queria mais escândalos do que estav
Bruna MariaSer amiga de um homem como João Gonzales seria possível? Questionei-me. Ele foi de grande ajuda naquele momento que precisava tanto de apoio.Refleti sobre minha conversa com a dona Gabriela, de que eu não deveria julgar as pessoas. Como não julgar? Éramos diferentes e isso para mim era um problema, porém, pra ele não era.Quando retornamos para Fortaleza, ele me deixou no hospital na companhia da minha avó. Vovó Olivia, gostou dele e ele foi bem simpático com ela.Ele disse que precisava resolver uns assuntos pendentes, todavia, brevemente voltaria para nós levar até minha casa.Ele manteve a palavra e nos levou para minha casa, na verdade, meu quarto de cômodo e um banheiro! Minha avó ficaria comigo até estar totalmente recuperada para voltar para casa.— Filha, aquele belo homem e você são namorados? Estou perguntando porque ele me pareceu muito interessado em você. Quero que saiba que tem a minha aprovação, ele é um gatão e foi muito simpático comigo.Minha avó entende
João GonzalezNão conseguia entender o porquê estava ansioso. Era apenas um jantar, não encontro. Não sabia que roupa usar, mesmo tendo várias peças diferentes, era como se nenhuma delas fosse boa o suficiente para ocasião. Meu lado exigente aflorou e nada me agradava.Quando finalmente encontrei a roupa adequada, o problema foi o cabelo, ele começou a me incomodar. De frente para o espelho perdi alguns minutos testando alguns penteados diferenciados, mas no fim, acabei usando o mesmo de sempre, o cabelo arrumadinho com gel, partido no meio.Meu irmão me telefonou inesperadamente, o que me deixou um pouco irritado, devo confessar, porque não era o momento para conversarmos. Eu estava praticamente de saída, ainda assim, atendi o telefonema.— Não posso conversar agora! Tenho compromisso inadiável. Por que não deixou para telefonar em outro momento? Você é meu irmão, porém, estou apressado para sair do hotel.— O que você tem? Pra que essa pressa toda? Essa é a primeira vez que você fal
Bruna MariaJoão ficou de cara fechada após ouvir minhas explicações para Dona Gabriela. Não queria que ela pensasse que existisse algo íntimo entre nós dois, portanto, falei que era somente um jantar entre amigos. Por que ele ficou daquele jeito? Eu não tinha falado nenhuma mentira! Não fiquei insistindo em ser simpática com ele, se ele queria ficar de cara amarrada que ficasse. Depois do jantar ele foi me deixar em casa com a minha avó. O silêncio ficou entre nós durante o trajeto até minha casa. Ele conversava com vovó Olívia apenas, o que aliviou um pouco o clima meio estranho no veículo. O senhor Nogueira nos convidou para sua festa de aniversário, vovó recusou, pois, não estaria mais na cidade na data marcada. Eu também queria recusar, no entanto, a senhora Gabriela respondeu por mim, afirmando minha presença sem me consultar antes. Quatro dias após o jantar o dia da festa de aniversário havia chegado. Desde o jantar João me evitava e não era coisa da minha cabeça. Toda vez
João GonzalezErrei em ser grosseiro com Bruna Maria, tinha consciência do babaca que acabei sendo. Meu impulso me fez fazer e falar coisas que não deveria. Roubei um beijo dela após ser um imbecil. Por que beijei ela? Foi algo que não consegui controlar, meus instintos e desejos.Vê-la fugindo de mim em um carro, me deu um aperto no coração. Quando retornei para a festa de aniversário do senhor Nogueira, não consegui ser o mesmo de antes. Pensei em nosso beijo. Sentir o gosto dos seus lábios doces nos meus, não saia dos meus pensamentos.Foi o orgulho que não me deixou procurá-la depois de todo o ocorrido. O tapa que ela me deu no rosto marcara seus dedos em mim. Ela não era uma mulher qualquer e apenas se defendeu.Peguei meu jatinho particular pela madrugada e quando ele levantou voou quase chorei, confesso. Por quê? Porque no Brasil deixaria alguém furiosa ao invés de sentir saudades ela sentiria raiva. Algumas horas depois aterrissei no México. O sentimento de perda era enorme.
Bruna MariaUma semana após a partida de João Gonzales do Brasil, pensava no desgraçado, mesmo não querendo. Eu não sabia mais o que fazer, pensar me trazia tristeza. Ficou algo entre aberto porque não era para tudo acabar daquela maneira, em uma discussão idiota.Foi errado ele ter me beijado inesperadamente e me ofendido. As palavras pesam, mas apesar de tudo, ele não era uma pessoa ruim. Não soubemos lidar com o que estávamos sentindo um pelo outro.Não conseguia continuar negando pra mim mesma que aquele beijo roubando não significou nada. Um beijo era um beijo, embora surpresa, abalou meus sentidos e mexeu com o meu coração. Ele não saia dos meus pensamentos nem com oração, digo isso, pois tentei!Foquei ainda mais no meu trabalho, na esperança de me libertar da bagunça que estava na minha cabeça. O apoio da minha amiga Sofia era essencial naquele momento crítico. Ela me convidara para uma balada.Meu desânimo fez com que ela acreditasse que uma badalação me deixaria animada para
João GonzalezFora muita persistência para conseguir com que Bruna Maria me deixasse entrar em sua casa para conversarmos. Eu não viera de tão longe para não resolver aquela situação entre nós dois.Precisava descobrir se ela sentia algo por mim. Uma semana inteira que passei longe dela quase enlouqueci. Por quê? Imaginei muitas coisas, entre elas, ela se envolvendo com um homem mais jovem que eu. Fiquei enciumado, admito.Ela aparentava estar tão nervosa quanto eu. Não sei se era porque estávamos a sós ou outra coisa. Eu poderia ter esperado para conversarmos durante o dia, todavia, não aguentaria esperar mais. Aquela conversa não poderia ser mais adiada.— Tive muitos pensamentos durante essa semana que passei longe de você. Não estou dizendo isso porque me sinto culpado. De modo algum me arrependo de ter roubado um beijo seu, entretanto, o meu erro foi ter ofendido você. — ela me ouvia com atenção, portanto, continuei. — Eu não soube como lidar com nossa situação de maneira madura.
Bruna MariaSaber que um homem como Gonzalez tinha interesses amorosos em mim e não somente prazeres carnais era assustador. Não sabia qual direção seguir sem me arrepender.Caminhei pelo hotel com os meus pensamentos atribulados. Eu tinha sentimentos por ele, no entanto, sentia medo. Como enfrentar sentimentos que nunca quisera ter? Não sabia como! Existiam barreiras que seriam um problema, como, por exemplo, a distância entre o Brasil e o México.Não foi uma coincidência me encontrar com ele no corredor, de um dos andares que não era o seu. Apertei firme o carrinho de limpeza. Olhei para o seu lado direito, pensando em sair correndo. Por que eu queria tanto fugir? Porque ainda não tinha uma resposta conclusiva sobre nós.— Finalmente te encontrei! Por acaso está me evitando? — perguntou, aproximando-se. — Por que está pálida? Bruna Maria, precisa de ajuda?Como não ficaria pálida? Ele estava na minha frente e aparentemente esperando uma resposta minha, ou não teria me procurado por