Bruna Maria
Não queria ter encontrado novamente aquele hóspede novo. Ele era rabugento, eu não duvidava nada que ele poderia reclamar do que havia feito quando fazia a limpeza do banheiro do quarto dele. Homens como ele eram muito imbecis que não sabiam aproveitar nada de bom.
Eu não tinha reparado que ele estava no quarto naquele horário, quando resolvi fazer a limpeza. Às vezes eu gostava de cantar por pura diversão. Ele não precisava ser grosseiro ao falar do meu dom para música. Eu sabia que não era a mais talentosa do mundo, cantava porque gostava, não para ter plateia.
Não gostei nenhum pouco das coisas que me falara. Ele era muito metido, assim como os outros hóspedes em sua maioria. Não que eu esperasse encontrar um príncipe que me tratasse bem naquele quarto que esbanjava luxúria, entende? Porém, ele poderia ter sido mais gentil.
Cuidar de Gabriela estava se tornando rotineiro. Eu queria que a vida dela mudasse. Infelizmente eu teria que me intrometer ainda mais na sua vida, mas era para o bem dela. Um dia, talvez ela me agradecesse.
— Agora que a senhora está recomposta. Retornarei para as minhas tarefas. Por favor, não faça mais esse tipo de coisa. Não estou dizendo isso porque estou criticando a senhora, mas é porque eu quero vê-la bem!
— Espere! Tenho uma proposta para te fazer! — parei para ouvir o que ela tinha para dizer. — Reservei uma mesa em um restaurante e gostaria de companhia. Sabe querida, estar sozinha deixa-me ainda mais deprimida. Você poderia me acompanhar? É que se você fosse, eu não precisaria da companhia do álcool!
Um convite bem inesperado diria. O regulamento do hotel não falava nada sobre não sair com hóspedes após o horário de trabalho, portanto, sabia exatamente o que deveria responder.
— Eu aceito sim, mas só porque não quero que a senhora volte alcoolizada! Se bem que sair para um restaurante diferente, será bom pra mim. Diga-me o horário que estarei lá e também o endereço, pois adorei o convite para jantar!
— Querida, você vem para o hotel e daqui saímos juntas. Pedirei para o gerente que disponibilize um dos funcionários daqui para dirigir o meu carro. Vamos nos divertir muito, sei disso, ainda mais, por sua companhia ser maravilhosa! Sabe Bruna Maria, você merece muitas coisas boas. Você é uma menina doce e generosa.
Nada do que costumava fazer era esperando alguma gratificação em troca, era porque realmente eu me importava com as pessoas ao meu redor, como ela, por exemplo, ela era tão sozinha, se eu poderia lhe dar momentos de alegria e paz era isso que faria!
— Escolherei uma das minhas melhores roupas para sair com a senhora. Com certeza, vamos nos divertir dona Gabriela! Uma comida quentinha e muita fofoca entre nós duas, hein!
— Estou mesmo precisando de momentos assim descontraídos. Não paro de pensar nos meus filhos e do desgosto que recebo deles. Queria saber onde errei na criação deles, sabe? Sempre fiz o melhor que pude. Nem mesmo os meus netos vem me visitar porque os pais não os deixam vir. Desculpe, devo estar sendo chata por reclamar assim. Não quero mais falar de coisas tristes. Não vou fazer você perder mais o seu tempo comigo aqui. Pode terminar o seu serviço, mas tarde nos encontramos!
— Se a senhora quiser pode fingir que sou sua neta ou sua filha. Não fique triste com o que sua família faz, muitas vezes é livramento! Nos veremos novamente mais tarde. Estou ansiosa para sair em sua companhia. Lá pelas sete da noite eu chego. Espero não envergonhá-la com as minhas roupas simples...
— Não se preocupe com o que vestirá, seja você mesma! Se eu tivesse uma filha ou neta como você diria que minha família não foi em vão, todavia, minha realidade é outra. Aguardarei você, querida, e obrigada por tudo que tem feito por mim.
— Dona Gabriela, não precisa agradecer. Faço porque a senhora merece! Até mais tarde, para o nosso jantar.
Despedi-me dela e voltei para as minhas obrigações com o trabalho. Continuei limpando os quartos, trocando as cobertas entre outras coisas. Após terminar tudo, no final do expediente, todas as funcionárias foram chamadas para uma reunião com a supervisora.
Quando entrei na sala onde nos reunimos, vi pela cara da supervisora que ela não estava nada amigável, na verdade, nunca vira aquela mulher ser amigável com ninguém. Ela era uma megera, isso sim!
— Recebi uma reclamação de uma de vocês. Vocês sabem a gravidade disso, não é? Não gostei de ser chamada atenção devido a isso! Por isso chamei todas vocês para essa reunião de última hora. Não quero que sigam o exemplo desta funcionária estúpida.
Comecei a suar frio, pois temia que ela estivesse falando de mim. Não conseguia pensar em nenhuma outra camareira que não fosse eu para aquelas palavras duras. Respirei fundo, e continuei ouvindo em silêncio tudo que ela dissera.
Quando ela revelou o nome de quem ela recebeu reclamação, acabei rindo de alívio porque não se tratava de mim, mas sim de outra das meninas. Ela não gostou nem um pouco da minha reação exagerada de alegria.
— Bruna Maria, não ria da sua colega assim! Deveria sentir vergonha de se divertir com a desgraça dos outros!
Ela entendeu tudo errado e me bateu aflição.
— Não é isso, supervisora, a senhora entendeu errado! Me desculpe pelo Inconveniente. Não queria causar esse mal-entendido. Todas nós sabemos os nossos lugares, e que devemos obedecer, para nada dar errado, como, por exemplo, a gente receber nossa carta de demissão.
— Espero mesmo que você entenda as regras! Estou acima de todas vocês, porém, se vocês vacilam, eu também pago o preço! Ou vocês supõem que sou a toda poderosa? Eu não sou ninguém aqui como vocês, mas a diferença entre nós é que estou em um cargo superior. Tenho mais importância do que vocês todas juntas! Agora vocês estão dispensadas, vejo todas amanhã.
Como odiava a soberba daquela mulher, esperava que um dia ela mudasse de verdade. Ter aquele mau-humor poderia fazer mal à saúde. Ela saiu da sala de reunião nos deixando a sós.
— Não gosto dela, deveríamos nos juntar para fazer uma reclamação dessa supervisora. Ela é uma cobra-cascavel!
Uma das minhas colegas comentou e as outras concordaram. Eu sabia que ninguém gostava da supervisora, entretanto, não queria me intrometer, pois, não sabia da realidade dela. Talvez ela precisasse daquele emprego tanto quanto nós todas.
— Meninas, estou indo embora agora porque logo mais tenho que retornar ao hotel. Tenho um compromisso com uma das hóspedes. Parem de me olhar assim com curiosidade. Não contarei com quem nem insistam! Tchauzinho!
Precisava deixar claro que não contaria com quem tinha um compromisso ou não. Naquele hotel elas eram muito fofoqueiras, no dia seguinte, com certeza, o hotel inteiro saberia do meu passeio com a senhora Gabriela. Não queria que isso acontecesse porque a supervisora poderia me pressionar ainda mais do que costumava fazer se soubesse.
O jantar daquela noite seria o começo da recuperação daquela senhora. Eu queria acreditar muito nisso, mostraria para ela que a vida tinha muito a oferecer para ela ainda. Nada melhor que um ótimo jantar em novas companhias. Quem sabe ela não conheceria um senhor distinto que despertasse uma paixão nela. Não custava nada sonhar alto, não é mesmo?
João GonzalezNão pensei que seria difícil convencer o senhor Nogueira de que a nossa parceria poderia ser um pouco maior. Um jantar não seria suficiente para entrarmos em um acordo justo para ambos.Ele não parecia estar contente, nem sequer com o nosso jantar, ou talvez não quisesse estar na minha companhia. O que mais poderia fazer para deixá-lo feliz? Queria descobrir!- Quero propor um outro acordo. Sabe senhor Nogueira, não gostaria de sair hoje desse jantar sem uma conclusão dessa nossa pequena reunião.Não queria ser chato ou algo assim, mas sair do México e não voltar com todos os contratos assinados que pensei que conseguiria, não era uma opção, era para ser uma certeza. Preparei-me para recomeçar do zero se fosse preciso nossa conversa, no entanto, algo chamou atenção dele em outra direção.- Nogueira, não acredito que te encontrei depois de anos! Meu Deus, você continua o mesmo!Respirei fundo, olhando para quem tinha acabado de nos interromper. Surpreendentemente reconhec
Bruna MariaQuando retornei para a mesa de jantar, não encontrei mais aquele desagradável, sabia que sua partida fora causada por mim. Ele foi embora sabendo que não aguentaria ficar do meu lado, fingindo estar tudo bem, após o que ocorreu entre nós.Gabriela estava se divertindo com o senhor Nogueira. Fiquei simplesmente de ouvinte. Não tinha o que comentar e muito menos o que fazer. Não pretendia mais comer nada, para evitar novos constrangimentos para mim.Após aquela noite péssima, voltei para casa de carona no carro daquele senhor gentil. Devo confessar que chorei, não de tristeza e sim de raiva. Não tinha como não pensar nas palavras que aquele homem falara para mim. Eu não tinha culpa da noite dele não ter saído exatamente como ele queria. Ele era egoísta, pois não pensou na minha noite.Foi realmente lamentável as coisas não terem saído como eu queria que fossem, mas por um lado, deixei uma senhora muito feliz e isso era minha recompensa. No dia seguinte, comecei mais um dia d
João GonzalezSentia-me envergonhado e bastante angustiado. Por quê? Por agir incorretamente com aquela jovem camareira. Na noite anterior tive insônia. A culpa era algo que odiava sentir. Queria o perdão dela ou minha consciência não ficaria em paz.Foi sorte justamente ela vir para o meu quarto. Adiei duas reuniões e aguardei com ansiedade por ela. Não entendia o porquê toda vez que tentava acertar em algo em relação ao sexo feminino acabava me enganando e magoado elas.Receber o perdão daquela moça acalmou meu coração. Ela me confessou que o senhor Nogueira disse que assinaria o contrato comigo. Como me senti? Um vencedor, apesar dos contratempos. Saber aquela ótima notícia fez total diferença porque nem tudo foi em vão.— Obrigado, por me contar sobre isso! Tirou um peso dos meus ombros. Novamente quero me desculpar por tudo. Quero redimir-me com a senhorita. Poderíamos jantar mais tarde? Tenho certeza que sua companhia será agradável e podemos nos conhecer. Quem sabe iniciar uma
Bruna MariaAntes do fim do meu expediente, me chamaram até a sala de reuniões. Fiquei assustada, pensando mil e uma coisas que poderia ter feito de errado. O que poderia ser? Pra chamarem minha atenção? Deveria ser algo muito sério.No entanto, assim que adentrei a sala, uma outra coisa me aguardava. Vi minha avó aos prantos. Foi uma cena surreal. Não entendi nada, apenas senti vontade de chorar também. Muitas perguntas passaram pela minha cabeça. Por que ela estava na capital? E qual era a razão de todo o seu choro?— Vovó Olivia, não chore, por favor! Me conte o que houve, para senhora decidir vir sem avisar para Fortaleza? — questionei, angustiada.— Não queria te trazer problemas, filha, mas eu não tinha para onde ir. Seus pais apareceram e me colocaram para fora de casa. Não sei o que fazer, não sei...Como eles puderam fazer aquilo com a minha avó? Meu coração ficou apertado. Ela estava desesperada. Eu não sabia como confortá-la. Abracei forte vovó Olivia.Conversamos um pouco
João GonzalezAs coisas estavam saindo de controle mais do que imaginei que poderiam sair. Estou falando do fato dos pais de Bruna Maria estarem agindo como dois estúpidos.Jamais imaginaria que a vida dela fosse tão difícil. A avó estava internada no hospital enquanto estávamos tentando resolver um problema familiar e eu nem era da família.Senti na pele o nervosismo dela, pois suas unhas perfuravam meu braço. Ela precisava de mim mais do que nunca e não falharia em ajudá-la. Ordenei aos seguranças para tirarem aqueles dois a força da casa da avó de Bruna. Eles me obedeceram. A primeira coisa que um deles fez foi pegar a faca das mãos daquela senhora descontrolada.— Me solta seu filho da puta! E você sua vadia, não pode fazer isso com seus pais! Quem é esse imbecil para se intrometer em nossas vidas? É o seu amante por acaso? Como você ousa maltratar seus pais desse jeito?Segurei Bruna Maria no instante em que ela quis avançar contra sua mãe. Não queria mais escândalos do que estav
Bruna MariaSer amiga de um homem como João Gonzales seria possível? Questionei-me. Ele foi de grande ajuda naquele momento que precisava tanto de apoio.Refleti sobre minha conversa com a dona Gabriela, de que eu não deveria julgar as pessoas. Como não julgar? Éramos diferentes e isso para mim era um problema, porém, pra ele não era.Quando retornamos para Fortaleza, ele me deixou no hospital na companhia da minha avó. Vovó Olivia, gostou dele e ele foi bem simpático com ela.Ele disse que precisava resolver uns assuntos pendentes, todavia, brevemente voltaria para nós levar até minha casa.Ele manteve a palavra e nos levou para minha casa, na verdade, meu quarto de cômodo e um banheiro! Minha avó ficaria comigo até estar totalmente recuperada para voltar para casa.— Filha, aquele belo homem e você são namorados? Estou perguntando porque ele me pareceu muito interessado em você. Quero que saiba que tem a minha aprovação, ele é um gatão e foi muito simpático comigo.Minha avó entende
João GonzalezNão conseguia entender o porquê estava ansioso. Era apenas um jantar, não encontro. Não sabia que roupa usar, mesmo tendo várias peças diferentes, era como se nenhuma delas fosse boa o suficiente para ocasião. Meu lado exigente aflorou e nada me agradava.Quando finalmente encontrei a roupa adequada, o problema foi o cabelo, ele começou a me incomodar. De frente para o espelho perdi alguns minutos testando alguns penteados diferenciados, mas no fim, acabei usando o mesmo de sempre, o cabelo arrumadinho com gel, partido no meio.Meu irmão me telefonou inesperadamente, o que me deixou um pouco irritado, devo confessar, porque não era o momento para conversarmos. Eu estava praticamente de saída, ainda assim, atendi o telefonema.— Não posso conversar agora! Tenho compromisso inadiável. Por que não deixou para telefonar em outro momento? Você é meu irmão, porém, estou apressado para sair do hotel.— O que você tem? Pra que essa pressa toda? Essa é a primeira vez que você fal
Bruna MariaJoão ficou de cara fechada após ouvir minhas explicações para Dona Gabriela. Não queria que ela pensasse que existisse algo íntimo entre nós dois, portanto, falei que era somente um jantar entre amigos. Por que ele ficou daquele jeito? Eu não tinha falado nenhuma mentira! Não fiquei insistindo em ser simpática com ele, se ele queria ficar de cara amarrada que ficasse. Depois do jantar ele foi me deixar em casa com a minha avó. O silêncio ficou entre nós durante o trajeto até minha casa. Ele conversava com vovó Olívia apenas, o que aliviou um pouco o clima meio estranho no veículo. O senhor Nogueira nos convidou para sua festa de aniversário, vovó recusou, pois, não estaria mais na cidade na data marcada. Eu também queria recusar, no entanto, a senhora Gabriela respondeu por mim, afirmando minha presença sem me consultar antes. Quatro dias após o jantar o dia da festa de aniversário havia chegado. Desde o jantar João me evitava e não era coisa da minha cabeça. Toda vez