João Gonzalez
Após uma viagem de algumas horas até o Brasil, tudo que queria era descansar. Meus seguranças ainda eram um problema.
Por quê? Eles chamavam atenção! Pegamos dois uber para chegarmos no hotel que reservara minha hospedagem.
Era a primeira vez naquele hotel bastante conhecido na capital de Fortaleza. Na recepção me receberam com alegria. Os brasileiros costumavam ser bastante alegres.
— Não quero ser incomodado por ninguém, entenderam?
Avisei aos meus seguranças quando chegamos até o quarto que alugara. Esperei do lado de fora até eles verificarem meu quarto pra só então adentrar.
Não queria ser assaltado ou algo assim. Quando finalmente entrei em segurança, coloquei eles para fora. Sempre que viajava levava comigo de dez a oito seguranças, porém, daquela vez levei apenas sete.
No dia seguinte acordei ouvindo barulho vindo do toalete. Coloquei o travesseiro no rosto tentando abafar o barulho irritante.
A voz desafinada cantava uma canção que nunca ouvira antes. Por que meus seguranças deixaram que ela entrasse? Era uma das funcionárias do hotel e muito escandalosa!
— Pode parar de agredir minhas orelhas?! Por favor, para! — gritei para que ela ouvisse.
— Te acordei, senhor? — perguntou do lado de dentro do toalete. — Desculpe! Não vi que tinha alguém no quarto ainda. É quase meio-dia!
— Dormindo que não estou mais! — resmunguei, saindo da cama. — Não gostei dessa sua atitude. Reclamarei ao seu supervisor do escândalo que fez!
A figura saiu do toalete com uma vassoura na mão esquerda e cara de quem não ficou feliz. Ótimo, pensei, pois ela também não me deixou feliz!
— Como eu ia adivinhar que o senhor estava dormindo? Ninguém me disse nada!
Fiquei nervoso. Ela notara minha ereção matinal? Juro que ela olhava diretamente para minhas partes! Virei de lado para que parasse de me olhar daquela maneira.
— Saia do quarto, senhorita, estou somente de roupas íntimas!
Usava somente um calção fino para dormir. Me sentia exposto para aquela jovem intimidadora.
— Você tá vermelho! Estou vendo, está sim! Que estranho, quer dizer, sairei senhor. Não se preocupe, sou discreta e nem vi nada de mais! — comentou, sorrindo. Não entendi sua atitude. Ela estava zombando de mim? Questionei-me.
— Não gosto de situações embaraçosas como esta. Por favor, deixe-me sozinho para que possa trocar de roupa.
— Certo, senhor envergonhado! — respondeu, indo até seu carrinho de limpeza e saindo da minha frente.
Consegui respirar melhor apenas quando ela saiu do meu quarto. Porque minha reação foi aquela? Era estranho, sabe? Acordar com uma desconhecida olhando para as minhas partes!
Coloquei uma camiseta branca e calça jeans. Procurei por um dos meus tênis e calcei. Escovei os dentes e arrumei o cabelo antes de sair pela porta.
Cumprimentei meus seguranças e segui para o térreo com dois deles. A cena que passara não saia dos meus pensamentos.
— Cuidado! — um dos seguranças me alertou, entretanto, não conseguiu evitar o que ocorrera em seguida.
— Quem colocou isso no meio? — perguntei indignado. Tropecei em bagagens. Meu raciocínio demorou um pouco para me dar conta que o erro havia sido meu.
Senti meu rosto esquentar. Nunca antes passara por algo semelhante. A camareira com sua canção desafinada tinha quebrado alguma coisa na minha cabeça, era isso!
Após almoçar fora em um restaurante retornei para o hotel. Meu compromisso era à noite com um dos primeiros fornecedores de produtos de agricultura.
Encontrei por acaso novamente aquela jovem de pele alva e cabelos negros, presos em um rabo de cavalo alto. Ela acompanhava uma senhora que parecia aparentemente embriagada.
Todos entramos no mesmo elevador. Disse pra mim mesmo para não olhá-la nem pelo canto de olho. Meu corpo todo ficou tenso. O que tinha de errado com ela que me deixava ansioso?
— Você tem tanto trabalho, querida. Por que insiste tanto em cuidar dessa velha? Sinto-me culpada por isso. — disse a senhora com a voz arrastada.
— Dona Gabriela, não quero que continue assim. Cuidarei da senhora sim! Não é sacrifício nenhum para mim! Olha quando chegarmos lá em cima, prepararei um banho bem gostoso pra senhora.
Sorri sem querer ouvindo as duas. Não era obrigação da camareira cuidar de uma hóspede, no entanto, ela cuidava da senhora com carinho.
Quando a porta do elevador abriu todos saímos e cada um foi para um lado. Adentrei meu quarto e abri meu notebook para conversar com meu irmão por vídeo chamada.
— Irmão, não faça nada de errado na minha ausência!
Por que falei daquele jeito assim que o vi? Bom, porque sabia que às vezes nas minhas viagens Samuel costumava aprontar como faltar as aulas da faculdade.
— Saudades de você também! Não farei nada que você não faria...
Não senti firmeza e sim deboche de sua parte. Samuel tossiu, deixando-me preocupado.
— Procure o médico caso essa tosse persista. Você não pode ficar doente, principalmente, na minha ausência. O que você fez de diferente nas últimas horas?
Ele riu como se dissesse, outra vez? Queria que ele entendesse que seu bem-estar era o meu também.
— Por que você não pode ser como um irmão? João, você tem que parar de cuidar assim como um pai de mim. Cresci, cara, sou adulto. Cuida de você e vai curtir. Você tem vivido como um robô!
Não era a primeira e nem a última vez que meu irmão caçula criticava minha forma de viver meus dias.
— Samuel, quero que leve as coisas que faço por você a sério! Minha vida pessoal cuido eu!
— Vida pessoal? Está falando do trabalho ou de quando se enfia nos livros? Você tem cuidado é da minha vida, isso sim! Vai namorar e esquece um pouco de mim!
— Respeito seria bom, não acha? Não tenho tempo para essas coisas...
Aquela era sempre minha desculpa para fugir do assunto relacionamento. Não sabia o que era ter uma mulher nos meus braços há anos. Minhas prioridades sempre foram outras, que não incluíam ter uma vida amorosa.
— Não pensa no futuro? Quer ser o tio que mora sozinho em uma mansão? É isso que acontecerá! Pois, eu vou casar é cedo, fique sabendo! Quero ser um encalhado como você não! Meus filhos vão falar: Papai quero passar o dia na casa do tio porque ele tem muitos animais para brincar...
Debochou gesticulando com as mãos, em uma imitação horrível por sinal.
— Não exagere! Também posso casar um dia, você não sabe! Agora preciso encerrar essa chamada tenho uns documentos para rever.
— Então, tchau! — respondeu, encerrando a chamada de vídeo de repente.
— Moleque, essa não foi a educação que lhe ensinei... — resmunguei, fechando a tela do notebook.
Samuel deveria cuidar do seu futuro e parar de criticar minhas escolhas daquela maneira. Meu irmão ajudaria no futuro dos negócios de família, então, eu poderia pensar em outra coisa que não fosse trabalhar.
Bruna MariaNão queria ter encontrado novamente aquele hóspede novo. Ele era rabugento, eu não duvidava nada que ele poderia reclamar do que havia feito quando fazia a limpeza do banheiro do quarto dele. Homens como ele eram muito imbecis que não sabiam aproveitar nada de bom.Eu não tinha reparado que ele estava no quarto naquele horário, quando resolvi fazer a limpeza. Às vezes eu gostava de cantar por pura diversão. Ele não precisava ser grosseiro ao falar do meu dom para música. Eu sabia que não era a mais talentosa do mundo, cantava porque gostava, não para ter plateia.Não gostei nenhum pouco das coisas que me falara. Ele era muito metido, assim como os outros hóspedes em sua maioria. Não que eu esperasse encontrar um príncipe que me tratasse bem naquele quarto que esbanjava luxúria, entende? Porém, ele poderia ter sido mais gentil.Cuidar de Gabriela estava se tornando rotineiro. Eu queria que a vida dela mudasse. Infelizmente eu teria que me intrometer ainda mais na sua vida,
João GonzalezNão pensei que seria difícil convencer o senhor Nogueira de que a nossa parceria poderia ser um pouco maior. Um jantar não seria suficiente para entrarmos em um acordo justo para ambos.Ele não parecia estar contente, nem sequer com o nosso jantar, ou talvez não quisesse estar na minha companhia. O que mais poderia fazer para deixá-lo feliz? Queria descobrir!- Quero propor um outro acordo. Sabe senhor Nogueira, não gostaria de sair hoje desse jantar sem uma conclusão dessa nossa pequena reunião.Não queria ser chato ou algo assim, mas sair do México e não voltar com todos os contratos assinados que pensei que conseguiria, não era uma opção, era para ser uma certeza. Preparei-me para recomeçar do zero se fosse preciso nossa conversa, no entanto, algo chamou atenção dele em outra direção.- Nogueira, não acredito que te encontrei depois de anos! Meu Deus, você continua o mesmo!Respirei fundo, olhando para quem tinha acabado de nos interromper. Surpreendentemente reconhec
Bruna MariaQuando retornei para a mesa de jantar, não encontrei mais aquele desagradável, sabia que sua partida fora causada por mim. Ele foi embora sabendo que não aguentaria ficar do meu lado, fingindo estar tudo bem, após o que ocorreu entre nós.Gabriela estava se divertindo com o senhor Nogueira. Fiquei simplesmente de ouvinte. Não tinha o que comentar e muito menos o que fazer. Não pretendia mais comer nada, para evitar novos constrangimentos para mim.Após aquela noite péssima, voltei para casa de carona no carro daquele senhor gentil. Devo confessar que chorei, não de tristeza e sim de raiva. Não tinha como não pensar nas palavras que aquele homem falara para mim. Eu não tinha culpa da noite dele não ter saído exatamente como ele queria. Ele era egoísta, pois não pensou na minha noite.Foi realmente lamentável as coisas não terem saído como eu queria que fossem, mas por um lado, deixei uma senhora muito feliz e isso era minha recompensa. No dia seguinte, comecei mais um dia d
João GonzalezSentia-me envergonhado e bastante angustiado. Por quê? Por agir incorretamente com aquela jovem camareira. Na noite anterior tive insônia. A culpa era algo que odiava sentir. Queria o perdão dela ou minha consciência não ficaria em paz.Foi sorte justamente ela vir para o meu quarto. Adiei duas reuniões e aguardei com ansiedade por ela. Não entendia o porquê toda vez que tentava acertar em algo em relação ao sexo feminino acabava me enganando e magoado elas.Receber o perdão daquela moça acalmou meu coração. Ela me confessou que o senhor Nogueira disse que assinaria o contrato comigo. Como me senti? Um vencedor, apesar dos contratempos. Saber aquela ótima notícia fez total diferença porque nem tudo foi em vão.— Obrigado, por me contar sobre isso! Tirou um peso dos meus ombros. Novamente quero me desculpar por tudo. Quero redimir-me com a senhorita. Poderíamos jantar mais tarde? Tenho certeza que sua companhia será agradável e podemos nos conhecer. Quem sabe iniciar uma
Bruna MariaAntes do fim do meu expediente, me chamaram até a sala de reuniões. Fiquei assustada, pensando mil e uma coisas que poderia ter feito de errado. O que poderia ser? Pra chamarem minha atenção? Deveria ser algo muito sério.No entanto, assim que adentrei a sala, uma outra coisa me aguardava. Vi minha avó aos prantos. Foi uma cena surreal. Não entendi nada, apenas senti vontade de chorar também. Muitas perguntas passaram pela minha cabeça. Por que ela estava na capital? E qual era a razão de todo o seu choro?— Vovó Olivia, não chore, por favor! Me conte o que houve, para senhora decidir vir sem avisar para Fortaleza? — questionei, angustiada.— Não queria te trazer problemas, filha, mas eu não tinha para onde ir. Seus pais apareceram e me colocaram para fora de casa. Não sei o que fazer, não sei...Como eles puderam fazer aquilo com a minha avó? Meu coração ficou apertado. Ela estava desesperada. Eu não sabia como confortá-la. Abracei forte vovó Olivia.Conversamos um pouco
João GonzalezAs coisas estavam saindo de controle mais do que imaginei que poderiam sair. Estou falando do fato dos pais de Bruna Maria estarem agindo como dois estúpidos.Jamais imaginaria que a vida dela fosse tão difícil. A avó estava internada no hospital enquanto estávamos tentando resolver um problema familiar e eu nem era da família.Senti na pele o nervosismo dela, pois suas unhas perfuravam meu braço. Ela precisava de mim mais do que nunca e não falharia em ajudá-la. Ordenei aos seguranças para tirarem aqueles dois a força da casa da avó de Bruna. Eles me obedeceram. A primeira coisa que um deles fez foi pegar a faca das mãos daquela senhora descontrolada.— Me solta seu filho da puta! E você sua vadia, não pode fazer isso com seus pais! Quem é esse imbecil para se intrometer em nossas vidas? É o seu amante por acaso? Como você ousa maltratar seus pais desse jeito?Segurei Bruna Maria no instante em que ela quis avançar contra sua mãe. Não queria mais escândalos do que estav
Bruna MariaSer amiga de um homem como João Gonzales seria possível? Questionei-me. Ele foi de grande ajuda naquele momento que precisava tanto de apoio.Refleti sobre minha conversa com a dona Gabriela, de que eu não deveria julgar as pessoas. Como não julgar? Éramos diferentes e isso para mim era um problema, porém, pra ele não era.Quando retornamos para Fortaleza, ele me deixou no hospital na companhia da minha avó. Vovó Olivia, gostou dele e ele foi bem simpático com ela.Ele disse que precisava resolver uns assuntos pendentes, todavia, brevemente voltaria para nós levar até minha casa.Ele manteve a palavra e nos levou para minha casa, na verdade, meu quarto de cômodo e um banheiro! Minha avó ficaria comigo até estar totalmente recuperada para voltar para casa.— Filha, aquele belo homem e você são namorados? Estou perguntando porque ele me pareceu muito interessado em você. Quero que saiba que tem a minha aprovação, ele é um gatão e foi muito simpático comigo.Minha avó entende
João GonzalezNão conseguia entender o porquê estava ansioso. Era apenas um jantar, não encontro. Não sabia que roupa usar, mesmo tendo várias peças diferentes, era como se nenhuma delas fosse boa o suficiente para ocasião. Meu lado exigente aflorou e nada me agradava.Quando finalmente encontrei a roupa adequada, o problema foi o cabelo, ele começou a me incomodar. De frente para o espelho perdi alguns minutos testando alguns penteados diferenciados, mas no fim, acabei usando o mesmo de sempre, o cabelo arrumadinho com gel, partido no meio.Meu irmão me telefonou inesperadamente, o que me deixou um pouco irritado, devo confessar, porque não era o momento para conversarmos. Eu estava praticamente de saída, ainda assim, atendi o telefonema.— Não posso conversar agora! Tenho compromisso inadiável. Por que não deixou para telefonar em outro momento? Você é meu irmão, porém, estou apressado para sair do hotel.— O que você tem? Pra que essa pressa toda? Essa é a primeira vez que você fal