01

Bruna Maria

Era somente por vovó Olivia que ainda aguentava a falta de respeito e tudo mais no hotel em que trabalhava. Por quê? O salário mínimo dela não cobria todos os gastos médicos com remédios.

A saúde da minha avó não era das melhores, portanto, arrisquei-me na cidade grande para recompensá-la por tudo que fez sempre por mim. Meus pais eram dois perdidos e não tinha lembranças boas deles.

Não sabia onde eles estavam e nem queria saber. Para que mais problemas? Não precisávamos de dois infelizes perturbando nossas vidas.

Minha supervisora em mais uma de suas crises de superioridade derramou alvejante no meu uniforme. No banheiro dos empregados me troquei e retornei ao trabalho, no entanto, o cheiro forte do alvejante não saía do meu corpo.

— Um dia ela terá o dela, pode ter certeza... — resmunguei, empurrando o carrinho de limpeza pelo corredor dos quartos do quinto andar.

Entrei em um dos quartos e vi a bunda de Gabriela. Ela era uma senhora de meia-idade que costumava se embriagar mais do que aguentava.

— A senhora precisa ter mais cuidado, ou acabará dando de cara no chão outra vez! — comentei, ajudando ela a levantar-se do sofá.

Ter dinheiro não significava ter felicidade, ela era o exemplo disso. Os filhos dela jogaram ela naquele hotel, sozinha. Ela morava há mais de sete anos naquele lugar que nunca seria uma casa de verdade.

— Estou bem, Bruna! Pode fazer o seu serviço, querida...

Bem? Bem, nada! Ela precisava de um banho quente e deitar em sua cama. Segurei em seu braço a conduzindo até o banheiro. Deixei ela debaixo do chuveiro e busquei pela sua toalha de banho.

— Quando eu tiver a sua idade, espero estar tão bem quanto a senhora! Por que não segue o meu conselho? Procure outras maneiras para se divertir ao invés do álcool. — aconselhei, aproximando-me com a toalha de banho.

— Você é um tesouro, menina. Estou velha para ter diversões.

Aquele pensamento dela sabia que era o que ouvira de seus filhos sem coração. Sequei cuidadosamente seus cabelos curtos.

— Velha nada, dona Gabriela! Tenho certeza que pode encontrar muitas coisas divertidas até mesmo paquerar uns cavalheiros na piscina. Que tal? Gosto quando te vejo fora deste quarto pegando um sol. Sabia que faz bem para saúde?

— Hoje não quero mais sair deste quarto. Minha cabeça está doendo bastante.

— Pedirei que lhe tragam um remédio para resolver esse probleminha, viu?

— Obrigada, querida!

Deixei que ela terminasse de secar seu corpo e então acompanhei ela até seu closet. Após ela colocar sua camisola de cetim de cor vermelha e deixá-la em sua cama, voltei minha atenção as minhas tarefas.

Quando saía do quarto da senhora quase bati meu carrinho de limpeza com o da minha colega. Ela era nova no trabalho ainda estava adaptando-se.

— Desculpe! Não acredito que causei quase um acidente. — pediu desculpas curvando-se para mim.

— Não é para tanto! Sou alguém como você! Esse incidente ficará entre nós duas!

— É, que o senhor do quarto onze discutiu comigo devido às cobertas. — cochichou como se fosse algo grave.

Conhecia bem aquele senhor rabugento do quarto onze, colocava defeitos em qualquer coisa.

— Ele é daquele jeito com todas nós. Não se sinta culpada ou nervosa por isso. Você vai se acostumar e ninguém mais vai te tirar do sério.

Por mais difícil que fosse lidar com os hóspedes, deveríamos sempre permanecer caladas ou acabaríamos no olho da rua. No hotel aguentava quase tudo, isso mesmo quase, pois certas coisas, não aturava, não mesmo!

— Não vou mais ficar no seu caminho. Obrigada por me ouvir! As outras camareiras parecem não ter gostado de mim.

— Elas são otárias por não enxergarem você como uma nova amiga. Olha, faça o seu trabalho e esqueça das outras.

Dei espaço para que ela passasse com o seu carrinho de limpeza e segui para o próximo quarto de número cinco. O quarto era enorme e tinha muito trabalho a ser realizado, pois, o próximo hóspede chegaria muito em breve.

Por que me deixaram encarregada justo daquele? Perguntei-me ao ver o quão exaustivo seria. Descrição era algo que não existia naquele hotel luxuoso. O novo hóspede acabara virando motivo de fofoca antes mesmo de sua chegada.

Quem ele era? Um bilionário mexicano. Ele era apenas outro esbanjador de dinheiro mal-educado com os funcionários, acreditava que fosse. Por quê? Pela minha experiência quanto mais dinheiro, menos cérebro e mais babaquice!

— Você não vai reclamar do meu serviço senhor imbecil, não vai! — resmunguei, limpando a banheira de hidromassagem de ouro. — Não sei pra que gastar tanto em quarto assim. Esse cara é outro exibido. Deixarei tudo brilhando para ele conseguir enxergar o rabo dele, no reflexo da banheira...

Conversar sozinha era muito aliviador. Bruna Maria educada e contida era somente no trabalho, fora dali poderia ser eu mesma. Devo confessar que era um pouco barraqueira, mas para minha defesa, era porque exigia meus direitos!

Fiquei cantarolando pelo quarto enquanto continuava minhas tarefas. Pensei em coisas boas, como, por exemplo, o cuscuz com carne que vovó Olivia costumava fazer, era delicioso demais! Não via a hora do final de semana chegar para voltar para casa e vê-la.

Quando o fim do expediente finalmente terminou, ainda peguei dois ônibus para chegar no quarto que alugava. O quarto era pequeno, tinha apenas um banheiro e um espaço mais ou menos grande.

Convidei minha única amiga na cidade para comer pizza. Ela não demorou a chegar e trouxe a pizza.

— Mulher, vi um gatinho na esquina que quase derrubei a pizza! — comentou, empolgada. — Ele era lindo e eu nunca mais vou vê-lo outra vez!

— Nunca fale nunca, Sofia! O destino é cheio de surpresas!

— Claro que o destino tem surpresas, o meu quase todos os dias me traz uma dívida nova!

Começamos a rir juntas e nos acomodamos no tapete do chão. Brindamos com refrigerante e colocamos a fofoca em dia enquanto comíamos nossa pizza de frango.

Os melhores momentos eram os mais simples ao lado de quem amávamos. Sofia era meu apoio e maior incentivadora quando as coisas não iam tão bem como o esperado.

Ter conhecido ela, que assim como eu, batalhava diariamente foi maravilhoso. Éramos duas malucas quando saíamos juntas. O mundo não estava preparado para duas mulheres sinceras! 

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