Bruna Maria
Era somente por vovó Olivia que ainda aguentava a falta de respeito e tudo mais no hotel em que trabalhava. Por quê? O salário mínimo dela não cobria todos os gastos médicos com remédios.
A saúde da minha avó não era das melhores, portanto, arrisquei-me na cidade grande para recompensá-la por tudo que fez sempre por mim. Meus pais eram dois perdidos e não tinha lembranças boas deles.
Não sabia onde eles estavam e nem queria saber. Para que mais problemas? Não precisávamos de dois infelizes perturbando nossas vidas.
Minha supervisora em mais uma de suas crises de superioridade derramou alvejante no meu uniforme. No banheiro dos empregados me troquei e retornei ao trabalho, no entanto, o cheiro forte do alvejante não saía do meu corpo.
— Um dia ela terá o dela, pode ter certeza... — resmunguei, empurrando o carrinho de limpeza pelo corredor dos quartos do quinto andar.
Entrei em um dos quartos e vi a bunda de Gabriela. Ela era uma senhora de meia-idade que costumava se embriagar mais do que aguentava.
— A senhora precisa ter mais cuidado, ou acabará dando de cara no chão outra vez! — comentei, ajudando ela a levantar-se do sofá.
Ter dinheiro não significava ter felicidade, ela era o exemplo disso. Os filhos dela jogaram ela naquele hotel, sozinha. Ela morava há mais de sete anos naquele lugar que nunca seria uma casa de verdade.
— Estou bem, Bruna! Pode fazer o seu serviço, querida...
Bem? Bem, nada! Ela precisava de um banho quente e deitar em sua cama. Segurei em seu braço a conduzindo até o banheiro. Deixei ela debaixo do chuveiro e busquei pela sua toalha de banho.
— Quando eu tiver a sua idade, espero estar tão bem quanto a senhora! Por que não segue o meu conselho? Procure outras maneiras para se divertir ao invés do álcool. — aconselhei, aproximando-me com a toalha de banho.
— Você é um tesouro, menina. Estou velha para ter diversões.
Aquele pensamento dela sabia que era o que ouvira de seus filhos sem coração. Sequei cuidadosamente seus cabelos curtos.
— Velha nada, dona Gabriela! Tenho certeza que pode encontrar muitas coisas divertidas até mesmo paquerar uns cavalheiros na piscina. Que tal? Gosto quando te vejo fora deste quarto pegando um sol. Sabia que faz bem para saúde?
— Hoje não quero mais sair deste quarto. Minha cabeça está doendo bastante.
— Pedirei que lhe tragam um remédio para resolver esse probleminha, viu?
— Obrigada, querida!
Deixei que ela terminasse de secar seu corpo e então acompanhei ela até seu closet. Após ela colocar sua camisola de cetim de cor vermelha e deixá-la em sua cama, voltei minha atenção as minhas tarefas.
Quando saía do quarto da senhora quase bati meu carrinho de limpeza com o da minha colega. Ela era nova no trabalho ainda estava adaptando-se.
— Desculpe! Não acredito que causei quase um acidente. — pediu desculpas curvando-se para mim.
— Não é para tanto! Sou alguém como você! Esse incidente ficará entre nós duas!
— É, que o senhor do quarto onze discutiu comigo devido às cobertas. — cochichou como se fosse algo grave.
Conhecia bem aquele senhor rabugento do quarto onze, colocava defeitos em qualquer coisa.
— Ele é daquele jeito com todas nós. Não se sinta culpada ou nervosa por isso. Você vai se acostumar e ninguém mais vai te tirar do sério.
Por mais difícil que fosse lidar com os hóspedes, deveríamos sempre permanecer caladas ou acabaríamos no olho da rua. No hotel aguentava quase tudo, isso mesmo quase, pois certas coisas, não aturava, não mesmo!
— Não vou mais ficar no seu caminho. Obrigada por me ouvir! As outras camareiras parecem não ter gostado de mim.
— Elas são otárias por não enxergarem você como uma nova amiga. Olha, faça o seu trabalho e esqueça das outras.
Dei espaço para que ela passasse com o seu carrinho de limpeza e segui para o próximo quarto de número cinco. O quarto era enorme e tinha muito trabalho a ser realizado, pois, o próximo hóspede chegaria muito em breve.
Por que me deixaram encarregada justo daquele? Perguntei-me ao ver o quão exaustivo seria. Descrição era algo que não existia naquele hotel luxuoso. O novo hóspede acabara virando motivo de fofoca antes mesmo de sua chegada.
Quem ele era? Um bilionário mexicano. Ele era apenas outro esbanjador de dinheiro mal-educado com os funcionários, acreditava que fosse. Por quê? Pela minha experiência quanto mais dinheiro, menos cérebro e mais babaquice!
— Você não vai reclamar do meu serviço senhor imbecil, não vai! — resmunguei, limpando a banheira de hidromassagem de ouro. — Não sei pra que gastar tanto em quarto assim. Esse cara é outro exibido. Deixarei tudo brilhando para ele conseguir enxergar o rabo dele, no reflexo da banheira...
Conversar sozinha era muito aliviador. Bruna Maria educada e contida era somente no trabalho, fora dali poderia ser eu mesma. Devo confessar que era um pouco barraqueira, mas para minha defesa, era porque exigia meus direitos!
Fiquei cantarolando pelo quarto enquanto continuava minhas tarefas. Pensei em coisas boas, como, por exemplo, o cuscuz com carne que vovó Olivia costumava fazer, era delicioso demais! Não via a hora do final de semana chegar para voltar para casa e vê-la.
Quando o fim do expediente finalmente terminou, ainda peguei dois ônibus para chegar no quarto que alugava. O quarto era pequeno, tinha apenas um banheiro e um espaço mais ou menos grande.
Convidei minha única amiga na cidade para comer pizza. Ela não demorou a chegar e trouxe a pizza.
— Mulher, vi um gatinho na esquina que quase derrubei a pizza! — comentou, empolgada. — Ele era lindo e eu nunca mais vou vê-lo outra vez!
— Nunca fale nunca, Sofia! O destino é cheio de surpresas!
— Claro que o destino tem surpresas, o meu quase todos os dias me traz uma dívida nova!
Começamos a rir juntas e nos acomodamos no tapete do chão. Brindamos com refrigerante e colocamos a fofoca em dia enquanto comíamos nossa pizza de frango.
Os melhores momentos eram os mais simples ao lado de quem amávamos. Sofia era meu apoio e maior incentivadora quando as coisas não iam tão bem como o esperado.
Ter conhecido ela, que assim como eu, batalhava diariamente foi maravilhoso. Éramos duas malucas quando saíamos juntas. O mundo não estava preparado para duas mulheres sinceras!
João GonzalezApós uma viagem de algumas horas até o Brasil, tudo que queria era descansar. Meus seguranças ainda eram um problema.Por quê? Eles chamavam atenção! Pegamos dois uber para chegarmos no hotel que reservara minha hospedagem.Era a primeira vez naquele hotel bastante conhecido na capital de Fortaleza. Na recepção me receberam com alegria. Os brasileiros costumavam ser bastante alegres.— Não quero ser incomodado por ninguém, entenderam?Avisei aos meus seguranças quando chegamos até o quarto que alugara. Esperei do lado de fora até eles verificarem meu quarto pra só então adentrar.Não queria ser assaltado ou algo assim. Quando finalmente entrei em segurança, coloquei eles para fora. Sempre que viajava levava comigo de dez a oito seguranças, porém, daquela vez levei apenas sete.No dia seguinte acordei ouvindo barulho vindo do toalete. Coloquei o travesseiro no rosto tentando abafar o barulho irritante.A voz desafinada cantava uma canção que nunca ouvira antes. Por que me
Bruna MariaNão queria ter encontrado novamente aquele hóspede novo. Ele era rabugento, eu não duvidava nada que ele poderia reclamar do que havia feito quando fazia a limpeza do banheiro do quarto dele. Homens como ele eram muito imbecis que não sabiam aproveitar nada de bom.Eu não tinha reparado que ele estava no quarto naquele horário, quando resolvi fazer a limpeza. Às vezes eu gostava de cantar por pura diversão. Ele não precisava ser grosseiro ao falar do meu dom para música. Eu sabia que não era a mais talentosa do mundo, cantava porque gostava, não para ter plateia.Não gostei nenhum pouco das coisas que me falara. Ele era muito metido, assim como os outros hóspedes em sua maioria. Não que eu esperasse encontrar um príncipe que me tratasse bem naquele quarto que esbanjava luxúria, entende? Porém, ele poderia ter sido mais gentil.Cuidar de Gabriela estava se tornando rotineiro. Eu queria que a vida dela mudasse. Infelizmente eu teria que me intrometer ainda mais na sua vida,
João GonzalezNão pensei que seria difícil convencer o senhor Nogueira de que a nossa parceria poderia ser um pouco maior. Um jantar não seria suficiente para entrarmos em um acordo justo para ambos.Ele não parecia estar contente, nem sequer com o nosso jantar, ou talvez não quisesse estar na minha companhia. O que mais poderia fazer para deixá-lo feliz? Queria descobrir!- Quero propor um outro acordo. Sabe senhor Nogueira, não gostaria de sair hoje desse jantar sem uma conclusão dessa nossa pequena reunião.Não queria ser chato ou algo assim, mas sair do México e não voltar com todos os contratos assinados que pensei que conseguiria, não era uma opção, era para ser uma certeza. Preparei-me para recomeçar do zero se fosse preciso nossa conversa, no entanto, algo chamou atenção dele em outra direção.- Nogueira, não acredito que te encontrei depois de anos! Meu Deus, você continua o mesmo!Respirei fundo, olhando para quem tinha acabado de nos interromper. Surpreendentemente reconhec
Bruna MariaQuando retornei para a mesa de jantar, não encontrei mais aquele desagradável, sabia que sua partida fora causada por mim. Ele foi embora sabendo que não aguentaria ficar do meu lado, fingindo estar tudo bem, após o que ocorreu entre nós.Gabriela estava se divertindo com o senhor Nogueira. Fiquei simplesmente de ouvinte. Não tinha o que comentar e muito menos o que fazer. Não pretendia mais comer nada, para evitar novos constrangimentos para mim.Após aquela noite péssima, voltei para casa de carona no carro daquele senhor gentil. Devo confessar que chorei, não de tristeza e sim de raiva. Não tinha como não pensar nas palavras que aquele homem falara para mim. Eu não tinha culpa da noite dele não ter saído exatamente como ele queria. Ele era egoísta, pois não pensou na minha noite.Foi realmente lamentável as coisas não terem saído como eu queria que fossem, mas por um lado, deixei uma senhora muito feliz e isso era minha recompensa. No dia seguinte, comecei mais um dia d
João GonzalezSentia-me envergonhado e bastante angustiado. Por quê? Por agir incorretamente com aquela jovem camareira. Na noite anterior tive insônia. A culpa era algo que odiava sentir. Queria o perdão dela ou minha consciência não ficaria em paz.Foi sorte justamente ela vir para o meu quarto. Adiei duas reuniões e aguardei com ansiedade por ela. Não entendia o porquê toda vez que tentava acertar em algo em relação ao sexo feminino acabava me enganando e magoado elas.Receber o perdão daquela moça acalmou meu coração. Ela me confessou que o senhor Nogueira disse que assinaria o contrato comigo. Como me senti? Um vencedor, apesar dos contratempos. Saber aquela ótima notícia fez total diferença porque nem tudo foi em vão.— Obrigado, por me contar sobre isso! Tirou um peso dos meus ombros. Novamente quero me desculpar por tudo. Quero redimir-me com a senhorita. Poderíamos jantar mais tarde? Tenho certeza que sua companhia será agradável e podemos nos conhecer. Quem sabe iniciar uma
Bruna MariaAntes do fim do meu expediente, me chamaram até a sala de reuniões. Fiquei assustada, pensando mil e uma coisas que poderia ter feito de errado. O que poderia ser? Pra chamarem minha atenção? Deveria ser algo muito sério.No entanto, assim que adentrei a sala, uma outra coisa me aguardava. Vi minha avó aos prantos. Foi uma cena surreal. Não entendi nada, apenas senti vontade de chorar também. Muitas perguntas passaram pela minha cabeça. Por que ela estava na capital? E qual era a razão de todo o seu choro?— Vovó Olivia, não chore, por favor! Me conte o que houve, para senhora decidir vir sem avisar para Fortaleza? — questionei, angustiada.— Não queria te trazer problemas, filha, mas eu não tinha para onde ir. Seus pais apareceram e me colocaram para fora de casa. Não sei o que fazer, não sei...Como eles puderam fazer aquilo com a minha avó? Meu coração ficou apertado. Ela estava desesperada. Eu não sabia como confortá-la. Abracei forte vovó Olivia.Conversamos um pouco
João GonzalezAs coisas estavam saindo de controle mais do que imaginei que poderiam sair. Estou falando do fato dos pais de Bruna Maria estarem agindo como dois estúpidos.Jamais imaginaria que a vida dela fosse tão difícil. A avó estava internada no hospital enquanto estávamos tentando resolver um problema familiar e eu nem era da família.Senti na pele o nervosismo dela, pois suas unhas perfuravam meu braço. Ela precisava de mim mais do que nunca e não falharia em ajudá-la. Ordenei aos seguranças para tirarem aqueles dois a força da casa da avó de Bruna. Eles me obedeceram. A primeira coisa que um deles fez foi pegar a faca das mãos daquela senhora descontrolada.— Me solta seu filho da puta! E você sua vadia, não pode fazer isso com seus pais! Quem é esse imbecil para se intrometer em nossas vidas? É o seu amante por acaso? Como você ousa maltratar seus pais desse jeito?Segurei Bruna Maria no instante em que ela quis avançar contra sua mãe. Não queria mais escândalos do que estav
Bruna MariaSer amiga de um homem como João Gonzales seria possível? Questionei-me. Ele foi de grande ajuda naquele momento que precisava tanto de apoio.Refleti sobre minha conversa com a dona Gabriela, de que eu não deveria julgar as pessoas. Como não julgar? Éramos diferentes e isso para mim era um problema, porém, pra ele não era.Quando retornamos para Fortaleza, ele me deixou no hospital na companhia da minha avó. Vovó Olivia, gostou dele e ele foi bem simpático com ela.Ele disse que precisava resolver uns assuntos pendentes, todavia, brevemente voltaria para nós levar até minha casa.Ele manteve a palavra e nos levou para minha casa, na verdade, meu quarto de cômodo e um banheiro! Minha avó ficaria comigo até estar totalmente recuperada para voltar para casa.— Filha, aquele belo homem e você são namorados? Estou perguntando porque ele me pareceu muito interessado em você. Quero que saiba que tem a minha aprovação, ele é um gatão e foi muito simpático comigo.Minha avó entende