Faz três anos desde que concluí a minha graduação de secretariado executivo, sem perder tempo cursei uma pós-graduação de dez meses, para poder trabalhar na área tanto de secretariado quanto de assessora empresarial.
Foram longos anos de estudo e esforço querendo conseguir alcançar o meu objetivo, trabalhar na maior empresa de advocacia do Rio de Janeiro, Montenegro Advocacia. Era o meu sonho trabalhar nessa empresa.E quando eu acessei os sites de emprego e vi que estavam precisando de uma secretária executiva, nem acreditei no que estava vendo. Não podia perder aquela oportunidade, sem pensar duas vezes mandei o currículo para o e-mail do anúncio.Só precisei aguardar. Torcendo para que conseguisse essa vaga, eu estudei tanto, batalhei tanto. E Deus ouviu minhas orações, pois duas semanas depois eu tive minha entrevista. A responsável pelo RH gostou do meu currículo e a moça que fez a entrevista foi extremamente simpática. Disse que ia passar para o Sr. Montenegro o meu currículo, que era para aguardar que eles me ligaram.Saí de lá toda esperançosa. Cheguei em casa fui para o meu quarto, joguei a minha bolsa na cama, me ajoelhei e conversei com Deus mais uma vez. Claro que fui pedir para ele me dar aquela forcinha. Agradeci por essa oportunidade que apareceu, orei um Pai Nosso e me levante.Estou saindo da cozinha com o pote de pipoca, levando para sala pra mim e minha amiga Patrícia. Claro que antes de vir aqui, tive que aceitar suas brincadeiras sobre o meu fracasso encontro com o meu namorado. Deixo a pipoca na mesa de centro junto com as cervejas.— O que você está fazendo? Está colocando dublado? Achei que não gostasse? — digo, pegando a cerveja na mesa e dou um gole.— Sim, mas uma garota que fiquei mandou o trailer dublado. Menina, que voz é aquela, doce e muito sexy do boy, minha calcinha ficou até molhada, acredita? — caçoa, encostando-se no sofá, apontando o controle na tela para começar a série.— Que isso, hein? Patrícia, você está começando a gostar de garotos? — olho para minha amiga e começamos a rir.— Até parece, o meu negócio é com garotas, você sabe disso. Mas espera começar que você vai ver — diz, e aponta o controle para mim.Quando ia zoar o meu celular vibra, noto que é um número desconhecido. Quem está me ligando às nove da noite numa sexta-feira?— Alô? Quem fala? — sigo, irritada.— Gostaria de falar com Raquel Oliveira? — pergunta.— É ela — respondo, minha amiga diminui o volume da televisão e olha pra mim.— Aqui é Camila do RH da empresa Montenegro Advocacia Ltda, lembra que foi chamada para uma entrevista semanas atrás? — dou um salto no sofá. Não pode ser, levo a mão no rosto.— Raquel, o que houve? Está tudo bem? — Patrícia vem na minha direção, pega no meu braço e começa sacudir.— Hã? Oi? Sim Patrícia, estou bem. Para de me balançar que estou ficando tonta — peço, ela solta o meu braço.— Alô? Senhorita Oliveira está aí? Está me ouvindo? — Escuto uma voz no celular. Droga! Fiquei tão em choque que esqueci a mulher do RH do outro lado da linha.— Sim, estou aqui. — Minha amiga começa perguntar querendo saber quem é, afasto-a pedindo pra fazer silêncio. — Desculpa, pode falar... — vou para o sofá e me sento, Patrícia também se senta fazendo gestos, mas a ignoro.— Como estava dizendo, entreguei o seu currículo para senhor Montenegro e ele gostou muito, ele perguntou se você tinha alguma experiência, eu disse que não. — Escuto tudo, na parte da experiência fico preocupada. Ai, ai meu pai do céu! Bato a ponta do pé freneticamente. — E ele disse tudo bem, a senhorita vai começar na segunda-feira às nove horas da manhã, vou enviar o endereço.— EU SEI ONDE FICA! — grito, dou um pulo no sofá. A mulher fica em silêncio por um momento — Digo... Sei onde fica... — Patrícia ri da minha atitude, mas lanço um olhar de reprovação, ela para na mesma hora.— Tudo bem. — escuto uma risada no fundo da linha. — Aguardo você para explicar e mostrar a empresa. Ah... Não se atrase, senhor Montenegro detesta atrasos. — orienta a mulher.— Ok, ok. Não vou me atrasar, pode deixar. — confirmo, parecendo séria, mas no fundo pulando de alegria. Agradeço a oportunidade e ela desliga.Começo a pular e gritar sem parar, parecia que estava em Salvador.— Raquel? Raquel? — Patrícia se levanta e me fita em entender o porquê comecei a pular. — Ei, você está me ouvindo, mulher? — Segura o meu braço me fazendo parar de pular.— Hã? Oi? O que foi?— O que foi? Primeiro você ficou aí toda parada e imóvel, parecia que viu alguém morrer, agora está pulando como uma louca. Isso porque só deu um gole nela. — Pega a cerveja e começa analisar. — Só falta ter vindo batizada. — olho para a minha amiga e começo a rir.— Patrícia, a cerveja não está batizada. — Pego a cerveja da sua mão, colocando na mesa. — Vamos nos sentar que te explico o que aconteceu, ok.— Está bem... Mas se você tiver mentindo... — aponta o dedo pra mim.— Não estou. — sorrio. — Posso contar? — balança a cabeça que sim. — Se lembra que mandei o currículo e duas semanas depois fui chamada para uma entrevista?— Claro que lembro, você só ficou falando isso durante uma semana. Que a tal mulher do RH ia levar seu currículo para o tal Monteiro, se ele gostasse você seria chamada — diz a minha amiga.— Isso, amiga, não é Monteiro e sim Montenegro. — ela balança os ombros, como se dissesse "tanto faz". Não aguento e começo a rir, mas logo paro e continuo. — Vou trabalhar na Montenegro Advocacia como secretária executiva! — revelo, ela fica imóvel ali na minha frente, faço gestos e nada, começo a ficar preocupada com a minha amiga.Então dou um beliscão no seu braço e ela dá um salto do sofá gritando de dor. Ufa, ela está bem.— Merda, Raquel! Porque diabos você fez isso? — alisa o braço, gemendo de dor do beliscão que dei.— Era o único jeito, você ficou paralisada no sofá — digo, me levantando do sofá e ficando na sua frente.— Que exagero, mas esquece isso. É sério mesmo? Você vai trabalhar naquela empresa que você sonhou tanto? — balanço a cabeça confirmando. — Caramba, Deus ouviu suas preces, hein? — ela diz, voltando a se sentar no sofá.— Sim... Estou tão feliz, sabe? Um sonho sendo realizado... Vai ser tudo... — ela me corta.— Tudo de bom? — completa ela, nos olhamos e começamos a rir.— Sim e mais um pouco... — o meu rosto chega a doer de tanto sorrir. Ela se vira e me fita.— Mudando de assunto, Fabrício sabe que você mandou o currículo? Melhor, qual vai ser a reação dele ao saber que você vai trabalhar nessa empresa, porque se me lembro, ele não gostou nadinha dessa ideia — relembra Patrícia, me fazendo lembrar quando falei para o meu namorado que queria muito trabalhar na Montenegro Advocacia.Ele fez um drama para eu não mandar o meu currículo, me proibiu de fazer isso. Até parece. Ele tem que entender que é o meu sonho.— Ele pensa assim porque acha que vou trocá-lo por um bilionário engravatado sadomasoquista. — na hora, a Patrícia começa a gargalhar. E lembramos quando nós três fomos para o cinema assistir ao filme cinquenta tons de cinza, ver aquela delícia do Christian Grey. Confesso que ia amar trocar de lugar com aquela mocinha do filme.— Até que não seria mal, né? — pisca pra mim e finjo que nem escutei esse comentário dela.Ela acha que estou perdendo tempo numa relação sem futuro, tipo, estamos juntos faz cinco anos, ele não para em serviço nenhum e sempre tá pedindo dinheiro e quando saímos eu que pago. Eu gosto do Fabrício, foi o primeiro a quem me entreguei, vamos dizer assim. E sei que ele sente alguma coisa por mim... Mas demonstra de um jeito diferente, só isso...— Ei, já está começando — avisa Patrícia, me cutucando com o cotovelo, que tira dos meus pensamentos. — Está tudo bem? — me fita.— Sim. — ergo meu braço para pegar a cerveja. Ela aproveita e pega a sua.— Vamos comemorar! Brindar que você conseguiu esse emprego, que você merece — comenta minha amiga.— Sim, sim. — concordo logo tomamos um gole e começamos assistir a série. Não vejo a hora de chegar segunda-feira para começar a trabalhar.É domingo e ainda estou na cama, acho que deve ser meio-dia e está fazendo muito frio. E quem está aqui do meu lado é o meu namorado, ontem ele veio aqui depois que saiu do seu turno. A noite foi boa, pedimos comida, claro que paguei, porque o Fabricio não tinha dinheiro. Nós nos divertimos muito, demos boas risadas com uma série que assistimos na Netflix. Foi tudo perfeito. Estou muito ansiosa, não paro de pensar que é amanhã que começarei a trabalhar na Montenegro Advocacia. E meu celular começa a tocar.Imediatamente me levanto da cama, com cuidado para não acordar o Fabrício. Vou até a minha bolsa que está perto da cama, pego o celular e coloco a mão no alto-falante para abafar o toque, saio do quarto e encostei a porta vou para cozinha. Vejo que é a Patrícia. Raios! Por que está me ligando?— Oi? Nem no domingo você me dá folga? — sussurro, dou uma espiada para o quarto ver se o meu namorado não levantou. Acho que não. Continua dormindo, que bom.— Nossa, que mau humor hein? — re
— Licença, senhor Montenegro, posso entrar? — pergunta Camila, responsável pelo RH da empresa.— Sim, pode sim. — Abre a porta e se aproxima da minha mesa. Estou exausto depois de uma negociação que acabei de fazer para um cliente. — Pode falar, Camila.— Trouxe o currículo para o Senhor dar uma olhada. É para vaga de secretária executiva — ela informa, me entregando o currículo.— Humm... Tomara que não seja igual à última que tive que mandar embora, ficava mais no celular do que fazia o seu trabalho. Aquela incompetente esqueceu de me avisar do julgamento de um cliente? A sorte que lembrei e cheguei em cima da hora, se não fosse isso estaria ferrado! — acrescento, irritado, enquanto analiso o currículo.— Sim, entendo — responde, sem olhar pra mim.— Interessante. Fez graduação e pós-graduação meses depois... Gostei disso, mas aqui não está falando da sua experiência? — pergunto para ela, ainda com o papel na minha mão.— Fiz uma entrevista, conversamos e ela nunca trabalhou, aqui v
Merda. Merda. Saio do banho correndo, nem deu tempo de secar o cabelo. Merda de novo. Calma, Raquel. Respira fundo, vai dar tempo. Não estou tão atrasada assim. Aproximo-me da minha escrivaninha, ligo a tela do celular para ver a hora. Faltam dez minutos, merda! Merda!Jogo o celular na cama, vou para o meu closet para ver logo essa roupa. Bora, Raquel! Não vai ficar indecisa agora, né? Coloco uma calça social preta, pego uma blusa de cetim rosa claro colocando dentro da calça para parecer séria – tentar ao menos –, agora está faltando o sapato, acho que scarpin cairia bem, mas cadê esse sapato?Droga. Esse quarto está uma bagunça, quando chegar do trabalho vou dar uma geral, parece aqueles quartos daqueles solteirões que a gente assiste nos filmes. Procuro embaixo da cama e nada. Cadê esses benditos sapatos? Então paro no meio do quarto e tento lembrar onde eu deixei pela última vez? É isso.Corro pra sala, vou para estante do lado esquerdo... Achei! Ufa, que bom. Depois eu penso com
O homem para ao meu lado, me fita por um momento. Dá para ver o seu rosto, parece cansado e com um pouco de barba que faz o quê? Uma semana sem fazer aquela barba, ao que parece? E aqueles olhos? São verdes que me deixa completamente rendida a ele, fico até sem fôlego.— Tinha que ser uma mulher mesmo pra fazer isso! — protesta, sua voz alta me tira dos meus devaneios. Continuo encarando-o. — Aposto que estava falando no celular.— O quê? Como ousa falar assim comigo? — Pego a minha bolsa que está banco do carona e saio do carro, ele dá um passo para trás quando saio do veículo. — Escuta aqui, seu filhinho de papai! — Ele levanta a sobrancelha. — Eu dirijo muito bem, ouviu? — brado, apontando o celular pra ele, me deixou muito irritada. Se aproxima e olha para a tela do telefone.— Acho que tem alguém na linha. — diz, indicando para o telefone. Olho para tela e noto que é a minha amiga Patrícia que ainda está na linha. Merda.— Alô? Patrícia? Está me ouvindo? — sussurro, virando de co
Acabo de estacionar quando estou saindo do carro, meu celular toca. Porra, quem está me ligando? Pego o telefone no bolso da calça. É a Letícia. Que diabos ela quer?— Fala, que tenho muita coisa pra resolver. Não tenho tempo para bater papo! — digo, encostando no couro do meu carro.— Nossa, que mau humor, hein? Queria saber se vamos jantar hoje? — pergunta, dou uma bela bufada.Não estou a fim de encontrá-la, tenho que resolver essa negociação de um cliente, que não está me deixando dormir à noite.Letícia é gata e uma ótima companhia, faz seis meses que estamos assim. Agora ela acha que devemos dar o próximo passo? Fala sério? Gosto muito da minha liberdade, sem mulher grudenta no meu lado. Está tão bom a nossa relação: nos vemos final de semana, transamos, sairmos e transamos de novo, volto para o minha empresa e ela para o seu trabalho como promotora.— Bruno? Bruno, está me ouvindo?— Sim, Letícia! — respondo, olho pelo vidro fumê um pálio branco dando volta para estacionar.É s
Me diz por que não devo mandá-la para o RH agora mesmo, depois das coisas que me disse? — Encaro-a que está sentada na cadeira. Ela olha para o lado, mexendo no cabelo. Está pensativa. — Ei? A senhorita ouviu o que eu disse?— Claro que ouvi, não sou surda não? — responde, olhando para minha direção. — Você... — Levanto a sobrancelha e ela se corrige. — Quer dizer, o senhor fica aí falando e não me deixa falar... — Abaixa a cabeça, cruzo os braços na altura do peito.― Então fale, estou ouvindo. — Ela levanta a cabeça e me fita. Nossa, como ela é linda essa morena.― Primeiro, sobre a batida do seu carro foi um acidente. Sinto muito mesmo. — Levanta-se da cadeira vindo na minha direção encostando no meu braço. Dou uma encarada, ela se afasta. ― Desculpa... E segundo... Sobre lhe ter chamado de um idiota engomadinho... — A corto.― Não esqueça que mostrou o dedo do meio para minha pessoa lá no estacionamento, no elevador? — Ergo a mão lembrando. Ela engole a seco.― Então... Tirando is
Saí daquela sala e fui para a minha mesa. Pelo menos nessa confusão toda não fui mandada pra casa. Me sento na minha cadeira, coloco a minha bolsa na gaveta da mesa, em seguida dou uma olhada no computador. Quando estava dando olhada, sai aquela morena da sala do "meu chefe".Está bem chateada. Logo ele sai da sala também e vem na minha direção. Meu Deus! Esse homem é muito lindo, começo sentir minhas pernas ficar bambas. Olha que estou sentada. Para na minha frente, está segurando seu paletó e a gravata.— Vou dar uma saída. Vou me trocar de roupa, se o cliente ligar, avise que vou demorar um pouco pois tive… — Para de falar e me fita. Aqueles olhos verdes me encarando, me deixa tonta. Raquel, se controla mulher! Você tem namorado! — Ah, não preciso dizer que a senhorita sabe muito bem! — Balanço a cabeça concordando. Estava saindo, lembra-se de alguma coisa e volta, indo para minha mesa.— Já ia esquecendo… Prepare a carta de contrato. — Ele disse, fico o observando. — O que foi? N
Estava indo para o elevador decido passar na sala da minha irmã para dizer que Wirley vai pegar o pro bono. A porta está encostada, afasto e entro, ela está debruçada na mesa chorando. Isso tudo por causa de um pro bono? Por quê?— Elena? – Ela me olha assustada, em seguida enxuga as lágrimas.— O que está fazendo aqui? Não tem um encontro com um cliente? — Disse com irritação, com a voz embargada pelo choro.— Vim aqui ver como você está, mas estou vendo que não está nada bem. — Puxo a cadeira para me sentar e cruzo as pernas olhando para ela.— Nossa, quem vê pensa que é um irmão muito atencioso… Só que não. — Se ajeita na cadeira, arruma os papéis sobre a mesa.— Para de fazer drama, está parecendo a nossa mãe. Você sabe muito bem que te amo e faço um possível, e o impossível pra te fazer feliz. — Digo, jogando a minha pasta na cadeira ao lado que estava embaixo do meu braço. Ela me fita, cruza os braços sobre a mesa.— Então por que não quis pegar o pro bono? — Questiona.— Estou