Merda. Merda. Saio do banho correndo, nem deu tempo de secar o cabelo. Merda de novo. Calma, Raquel. Respira fundo, vai dar tempo. Não estou tão atrasada assim. Aproximo-me da minha escrivaninha, ligo a tela do celular para ver a hora. Faltam dez minutos, merda! Merda!
Jogo o celular na cama, vou para o meu closet para ver logo essa roupa. Bora, Raquel! Não vai ficar indecisa agora, né? Coloco uma calça social preta, pego uma blusa de cetim rosa claro colocando dentro da calça para parecer séria – tentar ao menos –, agora está faltando o sapato, acho que scarpin cairia bem, mas cadê esse sapato?
Droga. Esse quarto está uma bagunça, quando chegar do trabalho vou dar uma geral, parece aqueles quartos daqueles solteirões que a gente assiste nos filmes. Procuro embaixo da cama e nada. Cadê esses benditos sapatos? Então paro no meio do quarto e tento lembrar onde eu deixei pela última vez? É isso.
Corro pra sala, vou para estante do lado esquerdo... Achei! Ufa, que bom. Depois eu penso como eles foram parar ali? Neste momento tenho que voltar para o quarto e terminar de me arrumar. Cinco minutos depois já estou pronta e maquiada, saio do apartamento e vou até o elevador. Não sei o porquê tenho a impressão que estou me esquecendo de alguma coisa.
Ignoro isso, por sorte acaba de subir o elevador, não vou chegar atrasada. Também estão duas senhorinhas com um cachorrinho esperando o elevador. Assim que me aproximo, dou uma olhada para os meus pés.
Sabia que estava esquecendo alguma coisa. Esqueci de colocar a porra dos sapatos. Caralho! Caralho!
Começo a gritar de raiva. Nesse momento as duas velhinhas e o cachorrinho me olham com desaprovação. Volto para o apartamento e ignoro aquelas senhoras, vou para o quarto e coloco os benditos sapatos, dessa vez estavam perto da cama. Pronto.
Dou mais uma olhada para ver se não estou esquecendo de mais nada. Ufa... Está tudo ok. Saio do apartamento, vou pro elevador, já dentro da caixa metálica aperto o botão para ir ao estacionamento, nesse período olho a hora no celular.
São nove horas? Merda! Estou atrasada. Inferno! Saio do elevador, vou correndo para o meu carro, já dentro dou uma respirada, coloco o cinto e ligo o carro. Tento me acalmar. Imprevistos acontecem. Vai que o trânsito esteja bom, posso chegar rapidinho. Isso, pensamento positivo.
***
Droga. Não estou com sorte. Pego um baita engarrafamento só para piorar a minha vida. Bato no volante do carro de raiva, meu celular começa a tocar, o trânsito está parado mesmo, não vai ser problema falar no telefone. É a Patrícia. Estava querendo desabafar mesmo.
— Oi, Patrícia, estava pensando em você — Encosto no banco do carro, olhando para o trânsito. — Você não vai acreditar o que aconteceu comigo?
— O que foi? — pergunta, dá para ouvi-la roendo as unhas. — Fala logo. O Fabrício não deixou você ir pro trabalho?
— Pelo contrário, amiga, ele me deu apoio por ter conseguido o trabalho. — De repente a linha fica muda, olho pra tela para ver se não caiu, mas ela continua na linha. — Patrícia? Patrícia?
— Oi, estou aqui. Desculpa. Fiquei sem ação depois dessa atitude dele, tenho que dizer que seu namorado subiu no meu conceito. Espera aí, são nove e dez, você não devia estar no trabalho? — Noto que o engarrafamento se dissipou. Essa é a minha chance. Pego no volante, engato a marcha e em seguida piso no acelerador. Acho que dará tempo. Escuto alguém chamando, lembro que estava no telefone com a Patrícia.
— Desculpe, amiga, estava um trânsito horrível agora melhorou. E sim, estou atrasada. Está dando tudo errado pra mim hoje, ontem foi o Fabrício... Hoje é esse trânsito infernal... — Choramingo, igual uma criança de cinco anos.
— Calma, Raquel. Vai dar tudo certo, tá? Respira fundo e depois solta o ar. — Faço que ela disse e aos poucos me acalmo. — O que o Fabrício fez? Achei que ele te deu apoio? Que aceitou você trabalhar? Estou confusa? — questiona.
— Sim, ele deu apoio, que estava feliz por ter conseguido o trabalho. Mas ele começou a falar que merecia algo melhor... — digo, prestando atenção na estrada.
— Isso é verdade. — Ela me corta.
— Como estava dizendo. — Ignoro seu comentário. — Continuando, ele disse que merecia aquela oportunidade, pelas noites em claro estudando, quando estava fazendo a minha graduação.
— Isso tenho que concordar... Só um instante, fui eu que disse isso! — ela comenta, solto o ar concordando, não quero discutir quem "disse isso primeiro". Sem enrolação, explico o que o meu namorado fez comigo. Bom, a mancada que ele deu.
— Não acredito! Ele não fez isso? É sério? — exclama, não acreditando no que o meu namorado fez. — E ainda teve a cara de pau de pedir dinheiro? Puts, que vacilo. Parece até um garoto de programa.
— Patrícia! — Chamo a sua atenção. — Também não exagera, o Fabrício não é um garoto de programa. — Estou chegando à empresa, viro à esquerda e sigo em frente.
— Claro que não, o garoto de programa termina o trabalho! — Patrícia caçoa.
— Nossa, que engraçado. — Escuto-a rindo no fundo da linha.
Finalmente cheguei. Afasto o celular do ouvido para falar com o porteiro. Apresento-me como a nova secretária executiva da Montenegro Advocacia, e liberam a minha entrada. Volto a colocar o celular no ouvido.
— Foi mal, não resisti. Tudo bem, ele ter perdido o trabalho, mas agora não conseguir fazer um sexo oral decente? Amiga, termina com esse cara. Nem vale a pena continuar com um cara assim! — Tudo bem, que ele vacilou comigo, mas não preciso terminar, não é?
— Por favor, não fala assim. Isso acontece, você sabia? — Estou dando a segunda volta no estacionamento... E acho uma vaga, na primeira fileira à esquerda, atrás de um carro preto que acabou de estacionar.
— Essas coisas acontecem? Fala sério? Você tem que conhecer um gostosão e dar uma boa foda para esquecer esse seu namorado! — brinca com malícia, fecho os olhos cansada dessa conversa.
Sem perceber acelero e acabo batendo na traseira do carro preto. Abro os olhos e vejo a burrada que fiz. Merda! Merda!
O homem para ao meu lado, me fita por um momento. Dá para ver o seu rosto, parece cansado e com um pouco de barba que faz o quê? Uma semana sem fazer aquela barba, ao que parece? E aqueles olhos? São verdes que me deixa completamente rendida a ele, fico até sem fôlego.— Tinha que ser uma mulher mesmo pra fazer isso! — protesta, sua voz alta me tira dos meus devaneios. Continuo encarando-o. — Aposto que estava falando no celular.— O quê? Como ousa falar assim comigo? — Pego a minha bolsa que está banco do carona e saio do carro, ele dá um passo para trás quando saio do veículo. — Escuta aqui, seu filhinho de papai! — Ele levanta a sobrancelha. — Eu dirijo muito bem, ouviu? — brado, apontando o celular pra ele, me deixou muito irritada. Se aproxima e olha para a tela do telefone.— Acho que tem alguém na linha. — diz, indicando para o telefone. Olho para tela e noto que é a minha amiga Patrícia que ainda está na linha. Merda.— Alô? Patrícia? Está me ouvindo? — sussurro, virando de co
Acabo de estacionar quando estou saindo do carro, meu celular toca. Porra, quem está me ligando? Pego o telefone no bolso da calça. É a Letícia. Que diabos ela quer?— Fala, que tenho muita coisa pra resolver. Não tenho tempo para bater papo! — digo, encostando no couro do meu carro.— Nossa, que mau humor, hein? Queria saber se vamos jantar hoje? — pergunta, dou uma bela bufada.Não estou a fim de encontrá-la, tenho que resolver essa negociação de um cliente, que não está me deixando dormir à noite.Letícia é gata e uma ótima companhia, faz seis meses que estamos assim. Agora ela acha que devemos dar o próximo passo? Fala sério? Gosto muito da minha liberdade, sem mulher grudenta no meu lado. Está tão bom a nossa relação: nos vemos final de semana, transamos, sairmos e transamos de novo, volto para o minha empresa e ela para o seu trabalho como promotora.— Bruno? Bruno, está me ouvindo?— Sim, Letícia! — respondo, olho pelo vidro fumê um pálio branco dando volta para estacionar.É s
Me diz por que não devo mandá-la para o RH agora mesmo, depois das coisas que me disse? — Encaro-a que está sentada na cadeira. Ela olha para o lado, mexendo no cabelo. Está pensativa. — Ei? A senhorita ouviu o que eu disse?— Claro que ouvi, não sou surda não? — responde, olhando para minha direção. — Você... — Levanto a sobrancelha e ela se corrige. — Quer dizer, o senhor fica aí falando e não me deixa falar... — Abaixa a cabeça, cruzo os braços na altura do peito.― Então fale, estou ouvindo. — Ela levanta a cabeça e me fita. Nossa, como ela é linda essa morena.― Primeiro, sobre a batida do seu carro foi um acidente. Sinto muito mesmo. — Levanta-se da cadeira vindo na minha direção encostando no meu braço. Dou uma encarada, ela se afasta. ― Desculpa... E segundo... Sobre lhe ter chamado de um idiota engomadinho... — A corto.― Não esqueça que mostrou o dedo do meio para minha pessoa lá no estacionamento, no elevador? — Ergo a mão lembrando. Ela engole a seco.― Então... Tirando is
Saí daquela sala e fui para a minha mesa. Pelo menos nessa confusão toda não fui mandada pra casa. Me sento na minha cadeira, coloco a minha bolsa na gaveta da mesa, em seguida dou uma olhada no computador. Quando estava dando olhada, sai aquela morena da sala do "meu chefe".Está bem chateada. Logo ele sai da sala também e vem na minha direção. Meu Deus! Esse homem é muito lindo, começo sentir minhas pernas ficar bambas. Olha que estou sentada. Para na minha frente, está segurando seu paletó e a gravata.— Vou dar uma saída. Vou me trocar de roupa, se o cliente ligar, avise que vou demorar um pouco pois tive… — Para de falar e me fita. Aqueles olhos verdes me encarando, me deixa tonta. Raquel, se controla mulher! Você tem namorado! — Ah, não preciso dizer que a senhorita sabe muito bem! — Balanço a cabeça concordando. Estava saindo, lembra-se de alguma coisa e volta, indo para minha mesa.— Já ia esquecendo… Prepare a carta de contrato. — Ele disse, fico o observando. — O que foi? N
Estava indo para o elevador decido passar na sala da minha irmã para dizer que Wirley vai pegar o pro bono. A porta está encostada, afasto e entro, ela está debruçada na mesa chorando. Isso tudo por causa de um pro bono? Por quê?— Elena? – Ela me olha assustada, em seguida enxuga as lágrimas.— O que está fazendo aqui? Não tem um encontro com um cliente? — Disse com irritação, com a voz embargada pelo choro.— Vim aqui ver como você está, mas estou vendo que não está nada bem. — Puxo a cadeira para me sentar e cruzo as pernas olhando para ela.— Nossa, quem vê pensa que é um irmão muito atencioso… Só que não. — Se ajeita na cadeira, arruma os papéis sobre a mesa.— Para de fazer drama, está parecendo a nossa mãe. Você sabe muito bem que te amo e faço um possível, e o impossível pra te fazer feliz. — Digo, jogando a minha pasta na cadeira ao lado que estava embaixo do meu braço. Ela me fita, cruza os braços sobre a mesa.— Então por que não quis pegar o pro bono? — Questiona.— Estou
Acabamos de chegar no restaurante que o Wirley indicou, fica localizado em Botafogo, aqui no Rio. Ele foi muito legal comigo no caminho, conversamos muito que até tínhamos esquecidos do tempo.Fomos logo entrando ele foi falar com a moça da recepção e por sorte conseguimos uma mesa, não estava cheio o restaurante. Como cavalheiro que é, puxa a cadeira para eu sentar, coloco a minha bolsa na cadeira, depois ele se sentou ficando de frente para mim.Como ele é bonito, mas não mexe comigo como o meu chefe. Não posso pensar essas coisas. Tenho namorado. Chega o garçom trazendo os cardápios.— Sejam bem vindos ao La villa. Vão querer alguma bebida? – Indaga o garçom, me encara.— Pode pedir, não tenho noção nenhuma desse negócio. – Sussurro, inclinando para frente para ele ouvir. Balança a cabeça e volta olhar para o garçom.— Vamos querer suco de laranja, pode trazer, enquanto olhamos o cardápio. – Ele disse, o garçom anota o que o Wirley disse e sai. Fito não acreditando no que ele pediu
— O que está fazendo? — Pergunto, ela está levantando a manga da minha blusa.— MEU DEUS! AQUELE BABACA FEZ ISSO? — Ela me olha em choque quando ver o roxo do meu braço.. Me afastei dela e abaixo a manga da minha blusa. — Raquel, você tem que ir para delegacia e dar queixa desse idiota. – Vou até a pia e encosto, começo a beber o café.— Dar queixa do Bruno? Que absurdo! Foi um acidente. — Terminei de beber o café, coloco a caneca dentro da pia, vou para o meu quarto para pegar a minha bolsa. ela vem atrás de mim. — Ele se desculpou por ter feito isso. E outra, ele fez isso porque sai para almoçar com o Wirley. Eu provoquei isso.— Não acredito nisso. — Leva a mão no rosto, depois volta olhar para mim. — Mulher acorda! Você foi a vítima e quem é culpado ele! — Me puxa para sentarmos na cama. Olho para o lado. Fico pensando se ela está certa? Não foi culpa minha, porque me sinto como se fosse? Sacudo a cabeça para afastar esses pensamentos. Estou confusa.— Agora tenho que ir trabalhar
Não dormir nada, pensando na porra da negociação que tenho que fazer hoje. Merda, merda! Para piorar a porra do senhor Coutinho se esqueceu de me informar que tinha traído a esposa no escritório com uma secretária. Merda de novo! Antes que era dez mil de pensão que estava combinado, ele mudou de ideia e não queria pagar esse valor. Advogada da sua ex esposa mostrou as fotos, prints das mensagens pelo e-mail, que a mulher tinha a senha e que por acaso é a mesma da empresa de hotelaria que os dois são sócios. Mais uma vez merda! Além disso, tudo, não paro de pensar naquela morena abusada… Sacudo a cabeça para afastar esse pensamento. Saio do meu Bugatti, está novinho em folha, nem parece que sofreu uma batida daquela louca… Linda… E gostosa… Para Bruno! Para de pensar naquela doida. Estava indo para o elevador e meu celular vibra, espero que não seja o Coutinho, não estou com paciência pra falar com ele nesse momento. Olho a tela e é Letícia. Puta que pariu! O que ela quer? Rejeito a c