Sentei-me na cama, em sua frente, e a estudei com cautela. Vestia jeans escuro, e uma camiseta clara amarrotada pela noite. Em seus pés, um par de meias cor de rosa que me fez sorrir; não havia prestado atenção nisso durante a madrugada.
Suas mãos pequeninas alcançaram as torradas, e quando agarrou uma delas, a geleia sujou seu polegar na beirada. Lizza colocou a torrada na boca e lambeu seu dedão.
— É minha preferida — disse, sorrindo meiga enquanto mastigava; não perdeu a etiqueta enquanto o fez, por sinal.
Estava adorável, assim, ao acordar. Sonolenta, e ao mesmo tempo, cheia de uma energia que vazava por seus olhos. Uma eletricidade singular, correndo em todos os fios de sua pele tênue.
Querido Augusto,Que antiga romântica, eu, escrevendo uma carta para você. Mas sempre adorei e aderi à ideia de manuscritos. Gosto da forma como minha caligrafia me parece mais calorosa do que a tinta preta e opaca de uma impressora que não partilha dos meus sentimentos.Hoje é Quarta-feira, e depois de muito pensar e analisar, decidi escrever-lhe para esclarecer muito do que ainda possuía sombras. Desculpe pela carta gigantesca, não pude evitar. Havia muito o que você precisava saber. Não sei dizer ao certo quando irei te entregar esta carta, visto que pedi para você me tirar da sua vida e talvez você realmente o faça. Tenho medo disso, Augusto. Tenho medo de que você me obedeça. Sei que disse muitas coisas naquela tarde, e que te feri com uma faca
Se eu fosse narrar minha história de amor com Lizza, preferiria contar a algum artesão das palavras para que ele as emoldurasse perfeita e delicadamente, assim como a garota por quem sou apaixonado, é. Porque eu sou apenas um garoto de 21 anos, e não sei muito bem lidar com os sentimentos ou qualquer coisa que me tire emoção. Só sei que a amo. Eu a amo como nunca amei alguém. E essa é a única certeza que ecoa nas paredes de quem sou.Minha vontade era pedir para algum poeta decifrar meu coração e rendar minhas palavras em uma constelação ardente para que Lizza e todos que olhassem para o céu conseguissem entender o tur
Eram cinco da manhã de um sábado quando bati a porta da frente e me joguei no sofá. Estava bêbado demais para tentar encontrar meu quarto. Senti a luz ser acesa e sabia que provavelmente minha mãe estava checando, preocupada, se fora eu mesmo quem entrara na casa naquele horário.Quem mais seria?— Outra vez, Augusto? — Sua voz parecia distante, quase inaudível. Uma nuvem de sermões que se dissipava gradativamente, em uma velocidade que fugia do meu controle, mas que agradeci. — Isso é hora de se chegar em casa? Por acaso você se esqueceu de que tem mãe?
Acordei às dez da manhã com minha mãe falando ao telefone com alguém que eu não sabia quem era, e nem gostaria de saber. O sofá estava desconfortável àquela altura, mas no trajeto da sala para o quarto, decidi ficar acordado.Era bem provável que eu dormisse mais no sofá do que em minha própria cama.Lavei o rosto, e saí na varanda de casa. Lizza estava sentada na sombra da árvore posicionada em frente sua casa, encostada no tronco, de olhos fechados. Ainda com a roupa da noite anterior, abri o portão e me aproximei. Não sei te dizer de onde veio a coragem. Mas quando percebi, já havia falado.— Oi —
— Desculpa por não ter perguntado, Lizza. Eu deveria ter me informado antes de trazer coisas para você — disse, envergonhado. — O que você gosta de beber?— Não precisa se preocupar com isso — ela parecia irritada.— Mas eu quero saber — inclinei-me em sua direção. Queria poder pegar suas mãozinhas e aninha-las nas minhas. Mas me contive em apenas obser
Lizza gargalhou.— Claro que eu diria, bobão.— O que é tão engraçado?— Você pensar que eu faria isso com você — sorria por cima de algo que a feria, em uma tentativa desesperadora de não me alertar sobre seu possível, e visível, tormento.— Sei que você não é assim. Desculpa. É que... sei lá. Eu nem perguntei nada — corei, envergonhado. — Mas imagino que seja difícil encontrar alguém a sua a
Eu sabia que tinha trabalho no outro dia, e o toque de recolher já havia sido ultrapassado há muito. Mas não conseguia me separar de Lizza. Ainda mais naquele momento, quando as coisas estavam indo bem e ela parecia ter se desprendido do passado.Ou, pelo menos, começado.— Sabia que é a primeira vez que fico assim com uma garota? — Apertei sua mão na minha.— Assim como?— Sentado, só conversando. Sem tentar um beijo, nem nada. Não que eu não queira te beijar... porque eu quero muito. Desculpa
— Claro, Augusto. Claro que pode — e sorriu, me encorajando.— Você tem alguma noção das coisas que eu fazia, antes de você? Alguma ideia de como não sabe nada sobre mim?— Eu acho que posso imaginar. Por que está me perguntando isso?— Não acha que você merece alguém melhor? — Beijei sua bochecha de novo.— Não comece,