Lizza não apareceu durante a semana, plantada aos pés da árvore como uma flor murcha em plena primavera. As músicas não ressoaram no meu quintal imitando a última vez em que ela me evitou; a casa vizinha estava em completo silêncio, para meu desespero. Enquanto desejei que ela respondesse minha mensagem, sua casa gritou o vácuo para mim até eu ficar surdo.
Sua ausência começava a machucar. Nunca imaginei amar alguém como eu a amava. Nunca entendi nada sobre meus sentimos, nem nunca soube manusea-los. E embora Lizza tenha me ensinado com uma maestria horrivelmente grande, eu me via com meu coração em minhas mãos, sem saber o que fazer. Para onde eu carregava aquilo? Como eu deveria agir?
Um grande sufoco se instalou dentro de mim. Senti-me desolado; abruptament
Vermelho. Era a cor mais presente em minha casa, naquele momento. Dizem que é a cor do amor. Mas não era como um todo, uma cor alegre para mim.Luzes de velas, pétalas de rosas e um pouco do meu coração, formavam um caminho da porta de entrada até a cozinha, onde em uma mesa, uma caixa prateada recheada de doces a esperava, propriamente junto de uma bandeja de comida japonesa que ela adorava. E suco de laranja, claro.Na parede, letras repicadas com os dizeres 'Me Perdoa?', e na cadeira onde Lizza se sentaria, um pequeno buquê de margaridas. No papel vermelho com bolinhas brancas que abraçava as flores, espalhei bilhetes dizendo como ela era linda.Eu fora um aluno aplicado; tudo o que ela gostava, se encontrava em minha casa naquele instante. Estava paparicando
— Sabia que você é linda? — acariciei sua bochecha por cima da mesa. Tinha uma pressa absurda em ter sua pele em contato com a minha durante toda a noite.— Estava começando a sentir falta de ouvir isso — deu um gole no suco, sem deixar meus olhos penetrarem nos seus.Observei-a, em silêncio. Prestei atenção em cada único detalhe: a florzinha branca no canto da unha do anelar, combinando com o esmalte azul; a forma de sua garganta saltar como se coreografasse uma música todas as vezes que ela engolia; o mindinho embaixo do copo quando ela o pegava; os cílios compridos subindo e descendo conforme seus olhos piscavam. Tudo nela parecia estar em sintonia. Até mesmo o ar que entrava e saía de seus pulmões.Apesar de não conseguir decifrar Lizza, ela se tornava cada vez mais clara para mim. Eu sabia que teria uma explicação além do &oa
— Não vá — sussurrei, segurando seu rosto com uma das mãos. Desviei os olhos de seus lábios, para me afogar no café de sua íris. Talvez eu tenha me queimado por uma imersão precipitada, mas eu não me importei com a vermelhidão deixada em minha pele.— Está tarde, Augusto — Lizza vacilou, e em um descuido repentino como um lampejo, sorriu para mim.— Fique — pedi, acariciando sua bochecha com as costas da mão.— Tudo bem — olhou para baixo, ainda com o sorriso aposto. — Mas sem muita demora, tudo bem? — murmurou.— Tem uma coisa que você queria ver — dei um meio sorriso, envergonhado, pegando seus dedos e a conduzindo p
Acordei atordoado. Não abri os olhos de imediato, e pensei estar sonhando quando senti o perfume de Lizza ainda brincando com meu sistema respiratório. Tentei me virar, e parei quando senti um peso leve em meu corpo. Pisquei lentamente, a avistandoadormecida em mim. Abraçava-me e repousava a cabeça em meu peito. Uma de suas pequenas pernas estava jogada em cima de mim, enquanto a outra se emaranhava com meus pés. A iluminação era pouca, vindo ainda das velas que permaneciam queimando bravamente. A TV estava desligada. Que horas seriam?Agarrei meu celular em meu bolso e cocei os olhos enquanto ligava a tela. O relógio marcava exatos 3:24. Lizza dormia tranquila em meu peito, e não tive coragem de acorda-la para que fosse para casa. Não mesmo. Fiquei inseguro se talvez ela acharia que fora um
Sentei-me na cama, em sua frente, e a estudei com cautela. Vestia jeans escuro, e uma camiseta clara amarrotada pela noite. Em seus pés, um par de meias cor de rosa que me fez sorrir; não havia prestado atenção nisso durante a madrugada.Suas mãos pequeninas alcançaram as torradas, e quando agarrou uma delas, a geleia sujou seu polegar na beirada. Lizza colocou a torrada na boca e lambeu seu dedão.— É minha preferida — disse, sorrindo meiga enquanto mastigava; não perdeu a etiqueta enquanto o fez, por sinal.Estava adorável, assim, ao acordar. Sonolenta, e ao mesmo tempo, cheia de uma energia que vazava por seus olhos. Uma eletricidade singular, correndo em todos os fios de sua pele tênue. Querido Augusto,Que antiga romântica, eu, escrevendo uma carta para você. Mas sempre adorei e aderi à ideia de manuscritos. Gosto da forma como minha caligrafia me parece mais calorosa do que a tinta preta e opaca de uma impressora que não partilha dos meus sentimentos.Hoje é Quarta-feira, e depois de muito pensar e analisar, decidi escrever-lhe para esclarecer muito do que ainda possuía sombras. Desculpe pela carta gigantesca, não pude evitar. Havia muito o que você precisava saber. Não sei dizer ao certo quando irei te entregar esta carta, visto que pedi para você me tirar da sua vida e talvez você realmente o faça. Tenho medo disso, Augusto. Tenho medo de que você me obedeça. Sei que disse muitas coisas naquela tarde, e que te feri com uma facaEpílogo
Se eu fosse narrar minha história de amor com Lizza, preferiria contar a algum artesão das palavras para que ele as emoldurasse perfeita e delicadamente, assim como a garota por quem sou apaixonado, é. Porque eu sou apenas um garoto de 21 anos, e não sei muito bem lidar com os sentimentos ou qualquer coisa que me tire emoção. Só sei que a amo. Eu a amo como nunca amei alguém. E essa é a única certeza que ecoa nas paredes de quem sou.Minha vontade era pedir para algum poeta decifrar meu coração e rendar minhas palavras em uma constelação ardente para que Lizza e todos que olhassem para o céu conseguissem entender o tur
Eram cinco da manhã de um sábado quando bati a porta da frente e me joguei no sofá. Estava bêbado demais para tentar encontrar meu quarto. Senti a luz ser acesa e sabia que provavelmente minha mãe estava checando, preocupada, se fora eu mesmo quem entrara na casa naquele horário.Quem mais seria?— Outra vez, Augusto? — Sua voz parecia distante, quase inaudível. Uma nuvem de sermões que se dissipava gradativamente, em uma velocidade que fugia do meu controle, mas que agradeci. — Isso é hora de se chegar em casa? Por acaso você se esqueceu de que tem mãe?