— Sabia que você é linda? — acariciei sua bochecha por cima da mesa. Tinha uma pressa absurda em ter sua pele em contato com a minha durante toda a noite.
— Estava começando a sentir falta de ouvir isso — deu um gole no suco, sem deixar meus olhos penetrarem nos seus.
Observei-a, em silêncio. Prestei atenção em cada único detalhe: a florzinha branca no canto da unha do anelar, combinando com o esmalte azul; a forma de sua garganta saltar como se coreografasse uma música todas as vezes que ela engolia; o mindinho embaixo do copo quando ela o pegava; os cílios compridos subindo e descendo conforme seus olhos piscavam. Tudo nela parecia estar em sintonia. Até mesmo o ar que entrava e saía de seus pulmões.
Apesar de não conseguir decifrar Lizza, ela se tornava cada vez mais clara para mim. Eu sabia que teria uma explicação além do &oa
— Não vá — sussurrei, segurando seu rosto com uma das mãos. Desviei os olhos de seus lábios, para me afogar no café de sua íris. Talvez eu tenha me queimado por uma imersão precipitada, mas eu não me importei com a vermelhidão deixada em minha pele.— Está tarde, Augusto — Lizza vacilou, e em um descuido repentino como um lampejo, sorriu para mim.— Fique — pedi, acariciando sua bochecha com as costas da mão.— Tudo bem — olhou para baixo, ainda com o sorriso aposto. — Mas sem muita demora, tudo bem? — murmurou.— Tem uma coisa que você queria ver — dei um meio sorriso, envergonhado, pegando seus dedos e a conduzindo p
Acordei atordoado. Não abri os olhos de imediato, e pensei estar sonhando quando senti o perfume de Lizza ainda brincando com meu sistema respiratório. Tentei me virar, e parei quando senti um peso leve em meu corpo. Pisquei lentamente, a avistandoadormecida em mim. Abraçava-me e repousava a cabeça em meu peito. Uma de suas pequenas pernas estava jogada em cima de mim, enquanto a outra se emaranhava com meus pés. A iluminação era pouca, vindo ainda das velas que permaneciam queimando bravamente. A TV estava desligada. Que horas seriam?Agarrei meu celular em meu bolso e cocei os olhos enquanto ligava a tela. O relógio marcava exatos 3:24. Lizza dormia tranquila em meu peito, e não tive coragem de acorda-la para que fosse para casa. Não mesmo. Fiquei inseguro se talvez ela acharia que fora um
Sentei-me na cama, em sua frente, e a estudei com cautela. Vestia jeans escuro, e uma camiseta clara amarrotada pela noite. Em seus pés, um par de meias cor de rosa que me fez sorrir; não havia prestado atenção nisso durante a madrugada.Suas mãos pequeninas alcançaram as torradas, e quando agarrou uma delas, a geleia sujou seu polegar na beirada. Lizza colocou a torrada na boca e lambeu seu dedão.— É minha preferida — disse, sorrindo meiga enquanto mastigava; não perdeu a etiqueta enquanto o fez, por sinal.Estava adorável, assim, ao acordar. Sonolenta, e ao mesmo tempo, cheia de uma energia que vazava por seus olhos. Uma eletricidade singular, correndo em todos os fios de sua pele tênue. Querido Augusto,Que antiga romântica, eu, escrevendo uma carta para você. Mas sempre adorei e aderi à ideia de manuscritos. Gosto da forma como minha caligrafia me parece mais calorosa do que a tinta preta e opaca de uma impressora que não partilha dos meus sentimentos.Hoje é Quarta-feira, e depois de muito pensar e analisar, decidi escrever-lhe para esclarecer muito do que ainda possuía sombras. Desculpe pela carta gigantesca, não pude evitar. Havia muito o que você precisava saber. Não sei dizer ao certo quando irei te entregar esta carta, visto que pedi para você me tirar da sua vida e talvez você realmente o faça. Tenho medo disso, Augusto. Tenho medo de que você me obedeça. Sei que disse muitas coisas naquela tarde, e que te feri com uma facaEpílogo
Se eu fosse narrar minha história de amor com Lizza, preferiria contar a algum artesão das palavras para que ele as emoldurasse perfeita e delicadamente, assim como a garota por quem sou apaixonado, é. Porque eu sou apenas um garoto de 21 anos, e não sei muito bem lidar com os sentimentos ou qualquer coisa que me tire emoção. Só sei que a amo. Eu a amo como nunca amei alguém. E essa é a única certeza que ecoa nas paredes de quem sou.Minha vontade era pedir para algum poeta decifrar meu coração e rendar minhas palavras em uma constelação ardente para que Lizza e todos que olhassem para o céu conseguissem entender o tur
Eram cinco da manhã de um sábado quando bati a porta da frente e me joguei no sofá. Estava bêbado demais para tentar encontrar meu quarto. Senti a luz ser acesa e sabia que provavelmente minha mãe estava checando, preocupada, se fora eu mesmo quem entrara na casa naquele horário.Quem mais seria?— Outra vez, Augusto? — Sua voz parecia distante, quase inaudível. Uma nuvem de sermões que se dissipava gradativamente, em uma velocidade que fugia do meu controle, mas que agradeci. — Isso é hora de se chegar em casa? Por acaso você se esqueceu de que tem mãe?
Acordei às dez da manhã com minha mãe falando ao telefone com alguém que eu não sabia quem era, e nem gostaria de saber. O sofá estava desconfortável àquela altura, mas no trajeto da sala para o quarto, decidi ficar acordado.Era bem provável que eu dormisse mais no sofá do que em minha própria cama.Lavei o rosto, e saí na varanda de casa. Lizza estava sentada na sombra da árvore posicionada em frente sua casa, encostada no tronco, de olhos fechados. Ainda com a roupa da noite anterior, abri o portão e me aproximei. Não sei te dizer de onde veio a coragem. Mas quando percebi, já havia falado.— Oi —
— Desculpa por não ter perguntado, Lizza. Eu deveria ter me informado antes de trazer coisas para você — disse, envergonhado. — O que você gosta de beber?— Não precisa se preocupar com isso — ela parecia irritada.— Mas eu quero saber — inclinei-me em sua direção. Queria poder pegar suas mãozinhas e aninha-las nas minhas. Mas me contive em apenas obser