Eu sabia que tinha trabalho no outro dia, e o toque de recolher já havia sido ultrapassado há muito. Mas não conseguia me separar de Lizza. Ainda mais naquele momento, quando as coisas estavam indo bem e ela parecia ter se desprendido do passado.
Ou, pelo menos, começado.
— Sabia que é a primeira vez que fico assim com uma garota? — Apertei sua mão na minha.
— Assim como?
— Sentado, só conversando. Sem tentar um beijo, nem nada. Não que eu não queira te beijar... porque eu quero muito. Desculpa
— Claro, Augusto. Claro que pode — e sorriu, me encorajando.— Você tem alguma noção das coisas que eu fazia, antes de você? Alguma ideia de como não sabe nada sobre mim?— Eu acho que posso imaginar. Por que está me perguntando isso?— Não acha que você merece alguém melhor? — Beijei sua bochecha de novo.— Não comece,
Beijei sua testa, aliviado. Era bom saber que Lizza confiava em mim.— Está se sentindo melhor? — Acariciei seus cabelos.— Um pouco. Obrigada — ela sorriu torto, e suspirou. — Tenho muito isso, desculpa. Tonturas e enjoos. O tempo todo.— Tudo bem, Lizza — sorri. — Depois de ajudar Cristina a guardar as compras, segui para encontrar Lizza.— Gosto da forma como trata sua mãe — Lizza se pronunciou, antes que eu dissesse oi.— Ah, é? — Ri pelo nariz. — Por quê?— Presto muita atenção em como os garotos tratam suas mães. É um espelho de como vão tratar suas namoradas. Sua mãe é a primeira mulher da sua vida, e a forma que a tratar sCapítulo 8
Lizza me ajudou a estender a toalha. Deixei o cobertor de canto, pois a temperatura ainda estava agradável; coloquei a cesta centralizada no pano quadriculado, e a mantive fechada. Ela ficou em silêncio o tempo todo, e estava me agoniando não saber o que se passava em sua mente.— Achei que você merecia uma vista privilegiada do pôr-do-sol — ajudei com que ela se sentasse, e ela me olhou com uma expressão que não consegui entender. Sorriu, fitando a mistura de cores que começava a contrastar com o azul do céu. — Trouxe algumas coisas que você gosta —
Depois de me despedir de Lizza — alguns 20 minutos em frente à sua casa — , finalmente guardei o carro na garagem e passei pela porta da frente com um semblante, embora cansado, demasiadamente feliz.— Como foi? — Cristina estava deitada no sofá, vendo TV, e não hesitou mas sorriu, assim que me viu tão animado. — Ela gostou?— Ela disse que gostou muito — joguei-me no sofá ao lado. — Foi incrível. Ela é incrível, mãe.Cristina riu, ainda que estivesse sem jeito.— Fico feliz que vocês estejam se dando bem, filho. Mas acho que você precisa dormir, você não acha?— Tudo bem —
Não me lembrava de como eu havia chegado em minha cama. Levantei meu tronco, me apoiando em meu cotovelo direito, com a mão esquerda na cabeça para sustentar a enxaqueca que já se pronunciava rapidamente.Olhei ao redor, e a luz do sol estava forte nos vãos da janela. Que horas seriam? Não conseguia me lembrar direito do que havia acontecido na noite anterior. Suspirei e me joguei de volta no travesseiro, ainda pensante. Olhei no meu celular e já passavam das três. Fechei meus olhos e as imagens escorreram por detrás das minhas pálpebras como uma enxurrada.Levantei em um sobressalto.Ainda vestia as roupas da noite anterior, mas não me importei com isso quando corri para o portão ao lado e bati duas vezes. Lizza atendeu. Claro que se
O carro parou em frente à casa vizinha, e uma mulher de meia idade desceu com três caixinhas brancas de isopor empilhadas, e as deixou em cima do teto do automóvel. Bateu palma, e esperou. Regina atendeu, confusa.— Pois não?— Lizza?— Sim, ela mora aqui — sorriu amigável, como sempre fazia. Lizza tinha de ser sua filha, afinal.— Tenho uma encomenda no nome dela — a mulher pegou a pilha de modo delicado.— Não acho que ela tenha pedido... — parou de falar assim que leu parte do bilhete colocado em cima da entrega. Meu nome, claro. — Ah, sim. Muito obrigada — Regina estendeu os braços, ao mesmo tempo em que olhou para
Quanto tempo havia passado desde que nossos corpos se chocaram em um acidente imprevisto?Seu colo era reconfortante, embora estivesse frio e desajeitado. Lizza não propriamente me tocou. Embrulhou meu corpo e me segurou, aninhado, como se eu fosse uma caixa que alguém esquecera e ela não sabia o que deveria ser feito com aquilo. Suas mãos estavam entrelaçadas em minhas costas, e minha cabeça estava apoiada em seu braço. Suas lágrimas já não molhavam mais meu couro cabeludo.— Me espera — virei minha cabeça para olha-la, mas ela fitava o nada no horizonte, totalmente seca. Doeu ver aquilo, devo admitir. — Eu ainda vou fazer valer a pena todo o seu esforço... — o sussurro de sua voz foi brutal. Fechou os olhos e engoliu. Era de praxe querer saber o que ela