Lizza me ajudou a estender a toalha. Deixei o cobertor de canto, pois a temperatura ainda estava agradável; coloquei a cesta centralizada no pano quadriculado, e a mantive fechada. Ela ficou em silêncio o tempo todo, e estava me agoniando não saber o que se passava em sua mente.
— Achei que você merecia uma vista privilegiada do pôr-do-sol — ajudei com que ela se sentasse, e ela me olhou com uma expressão que não consegui entender. Sorriu, fitando a mistura de cores que começava a contrastar com o azul do céu. — Trouxe algumas coisas que você gosta —
Depois de me despedir de Lizza — alguns 20 minutos em frente à sua casa — , finalmente guardei o carro na garagem e passei pela porta da frente com um semblante, embora cansado, demasiadamente feliz.— Como foi? — Cristina estava deitada no sofá, vendo TV, e não hesitou mas sorriu, assim que me viu tão animado. — Ela gostou?— Ela disse que gostou muito — joguei-me no sofá ao lado. — Foi incrível. Ela é incrível, mãe.Cristina riu, ainda que estivesse sem jeito.— Fico feliz que vocês estejam se dando bem, filho. Mas acho que você precisa dormir, você não acha?— Tudo bem —
Não me lembrava de como eu havia chegado em minha cama. Levantei meu tronco, me apoiando em meu cotovelo direito, com a mão esquerda na cabeça para sustentar a enxaqueca que já se pronunciava rapidamente.Olhei ao redor, e a luz do sol estava forte nos vãos da janela. Que horas seriam? Não conseguia me lembrar direito do que havia acontecido na noite anterior. Suspirei e me joguei de volta no travesseiro, ainda pensante. Olhei no meu celular e já passavam das três. Fechei meus olhos e as imagens escorreram por detrás das minhas pálpebras como uma enxurrada.Levantei em um sobressalto.Ainda vestia as roupas da noite anterior, mas não me importei com isso quando corri para o portão ao lado e bati duas vezes. Lizza atendeu. Claro que se
O carro parou em frente à casa vizinha, e uma mulher de meia idade desceu com três caixinhas brancas de isopor empilhadas, e as deixou em cima do teto do automóvel. Bateu palma, e esperou. Regina atendeu, confusa.— Pois não?— Lizza?— Sim, ela mora aqui — sorriu amigável, como sempre fazia. Lizza tinha de ser sua filha, afinal.— Tenho uma encomenda no nome dela — a mulher pegou a pilha de modo delicado.— Não acho que ela tenha pedido... — parou de falar assim que leu parte do bilhete colocado em cima da entrega. Meu nome, claro. — Ah, sim. Muito obrigada — Regina estendeu os braços, ao mesmo tempo em que olhou para
Quanto tempo havia passado desde que nossos corpos se chocaram em um acidente imprevisto?Seu colo era reconfortante, embora estivesse frio e desajeitado. Lizza não propriamente me tocou. Embrulhou meu corpo e me segurou, aninhado, como se eu fosse uma caixa que alguém esquecera e ela não sabia o que deveria ser feito com aquilo. Suas mãos estavam entrelaçadas em minhas costas, e minha cabeça estava apoiada em seu braço. Suas lágrimas já não molhavam mais meu couro cabeludo.— Me espera — virei minha cabeça para olha-la, mas ela fitava o nada no horizonte, totalmente seca. Doeu ver aquilo, devo admitir. — Eu ainda vou fazer valer a pena todo o seu esforço... — o sussurro de sua voz foi brutal. Fechou os olhos e engoliu. Era de praxe querer saber o que ela
Sorri, ainda meio abobado por tudo o que ela havia me dito. Porque era o que eu merecia ouvir. Era o que eu queria que ela me dissesse, ao invés de ser tão branda comigo.— Por favor, posso te abraçar? — ri pelo nariz e ela franziu a testa, confusa. — Só diga se sim ou se não, por favor, Lizza — ela balançou a cabeça enquanto eu me levantava. Então a apertei tão forte contra meu peito que tive medo de ter quebrado aquele corpo pequeno no qual ela perambulava por aí, dizendo essas coisas magníficas para as pessoas. Lizza manteve seus braços ao lado do corpo, mas eu não esperava que ela me abraçasse de volta, de qualquer forma. — Vou ser sincero com você, Lizza — falei entre seus cabelos ao mesmo tempo que seu corpo balançava em resposta ao meu aperto excessivo. &
Minha mente voava de modo livre. Não conseguia pensar com clareza. Mas eu sabia que Lizza estava comigo e que eu precisava me controlar mais do que nunca. Drenei todo o ódio e raiva de seu passado, ou de qualquer coisa que pudesse me atingir, e me concentrei no amor que sentia por ela.As coisas estavam escuras; pensar cansava demais. Porém, eu não saberia o que fazer se tivesse de sair de sua vida. Então coloquei meu sentimento por ela no centro de meus pensamentos, e deixei tudo em mim girar em torno daquele amor.— Por que diz isso? — sua voz tremeu. Lizza percebera que eu já não estava sóbrio.— Porque ele vai sair, procurar e procurar. E quando se der conta — acariciei sua bochecha e pude enxergar um deslize de Lizza, quando sem que
Minha cabeça doía, e minha vontade era de perguntar à todos no meu serviço por que estavam gritando tanto. Suspirei, satisfeito pela primeira ressaca que havia valido a pena.Ou pensei ter valido, já que não me lembrava exatamente de tudo o que aconteceu naquele dia.De novo.A memória turva me assombrava. E a ânsia de encontrar Lizza para questionar meu comportamento me dava câimbras por todo o corpo.Ela não estava sentada em frente sua casa na hora do meu almoço. E quando cheguei, às 5, Regina me esperava com um tom severo que me amedrontou. Não precisou me chamar para com que eu soubesse que queria conversar comigo.— Olá
Lizza abriu os olhos, e engoli a seco. Queria encosta-la gentilmente na parede e explorar sua boca durante o resto da noite.Mas apenas beijei sua testa, apertando os olhos, reprimindo meu desejo ardente de ter seus lábios nos meus.— Por favor — sorri, puxando uma cadeira para ela se sentar.— Prefiro ver você cozinhar — parecia divertida com a ideia.E tinha razão em estar.— Como quiser — um beijo em sua bochecha, e segui para a geladeira. Lizza se debruçou no balcão, o que fez com muita dificuldade, pois sua estatura era muito pequena, e isso me fez rir levemente. — Algo me diz que você não confia em meus dotes culinários, Lizz