Lizza abriu os olhos, e engoli a seco. Queria encosta-la gentilmente na parede e explorar sua boca durante o resto da noite.
Mas apenas beijei sua testa, apertando os olhos, reprimindo meu desejo ardente de ter seus lábios nos meus.
— Por favor — sorri, puxando uma cadeira para ela se sentar.
— Prefiro ver você cozinhar — parecia divertida com a ideia.
E tinha razão em estar.
— Como quiser — um beijo em sua bochecha, e segui para a geladeira. Lizza se debruçou no balcão, o que fez com muita dificuldade, pois sua estatura era muito pequena, e isso me fez rir levemente. — Algo me diz que você não confia em meus dotes culinários, Lizz
Ela me estudou. Eu sabia que não me responderia de imediato, sem antes meditar em cada palavra que escorregaria de seus lábios.— Você é diferente, Augusto. Já te disse uma vez — Lizza sorriu; enquanto eu enxugava as mãos e dava a volta para ficar ao seu lado, ela me acompanhou com os olhos. — Eu gosto de como conversa.Coloquei mais uma vez uma de minhas mãos em seu rosto, e o segurei.— Ah, é, Lizza?A vontade de beija-la ficava cada vez mais forte e envolvente. Estávamos tão próximos ao ponto de eu não saber dizer qual respiração era de Lizza e qual era minha. Seus olhos prenderam-se aos meus.Talvez ten
A brisa leve jogou o perfume fresco-adocicado de Lizza em minhas narinas. Não era enjoativo; passava a impressão de que ela havia acabado de sair de um banho. Embora estivesse consideravelmente calor, o vento era de uma temperatura baixa.Deixava-a caminhar na frente para que eu pudesse olhar como ela se portava; era graciosa demais, e Lizza era um espetáculo que eu não perderia nunca. Gostava de assisti-la, porque era interessante em demasia.— Sabia que você é linda?Ela gargalhou, jogando a cabeça para trás, e aquele som se encaixou tão bem quanto o canto dos pássaros no ambiente.— Sou, é? — Lizza parou de andar e se virou para mim. Parei o carro em frente minha casa, e me certifiquei de que ela não esqueceria o caderno dessa vez. Peguei sua mão e a levei até seu portão, calmamente, tentando prolongar meu tempo ao seu lado. Mesmo que já fossem quase sete da noite, e eu estivesse com ela desde a uma da tarde.— Depois de hoje passei a acreditar que nada é impossível para você — falei, acariciando sua bochecha quando paramos em frente sua casa.— Depois de hoje? — ela riu, curiosa.— Sim. Achei que fosse impossível você ficar mais linda do que você já é — ela olhou para o lado, escondendo um sorriso, enrubescida. — E hoje com esse vestido você me encheu os olhos.&mdaCapítulo 20
Seus olhos, de sólidos, entraram em uma fusão intensa e se desfizeram em líquido, drenando tudo o que havia de ruim dentro dela. Uma dravita, que derreteu e virou café. Uma xícara convidativa, aquecida e envolvente. Não aquela bebida escura, opaca. O castanho que você enxerga quase como se os grãos refletissem na luz. Quando ela me olhou daquela maneira, tive a impressão de que estava me convidando. 'Aceita essa xícara de café?'. Como recusar? Eu adorava café.— Eu nem sei o que seria de mim hoje se não fosse você... — ela sorriu, tristonha.— Lizza, você precisa me ligar quando coisas assim acontecem — acariciei sua bochecha por cima da mesa pequena.— Não queria incomodar &mdas
— Por que está dizendo isso? — ela piscou com pressa, mas não demonstrou nenhuma expressão perceptível ao olho humano.— Eu era como um refugiado que você resgatou. Você me mostrou tudo que eu precisava ver, Lizza. Sua doçura me envolveu, e me fez enxergar como amar. Você me ensinou a sentir; lecionou de um modo tão gentil que não quero que pare nunca. Me deixou ao seus pés, e eu faria tudo o que me pedisse sem pestanejar. Você me faz mudar de ideia em um estalar de dedos — ri pelo nariz, atordoado. — Lizza, eu não sei o que você tem, mas tem um poder sobre mim que nem mesmo eu entendo. Você tem um feitiço do qual não posso mais escapar. Sou todo seu, Lizza, de corpo, alma e coração.— É voc&ec
Então entendi por que Regina sempre me dizia que eu era a pessoa certa para sua filha. "Um dia eu vou ficar bem; alguém ainda vai me abraçar e me juntar de novo." Pude ouvir a voz de Lizza, cansada, recitando aquelas palavras. Era uma esperança perdida, podia-se ver pela forma como a grafia era mais renhida naquele trecho. Algo que ela desejava e acreditava ser inalcançável. A frase se repetiu em minha mente como um eco desproporcional; quanto mais se repetia, mais alto ele ficava.Minha primeira reação foi querer despedaçar aquele maldito papel. Desejei nunca ter lido nada daquilo; nunca ter tido conhecimento daqueles sentimentos, muito menos liga-los a Lizza de uma forma tão íntima. Soquei meu travesseiro com toda a raiva que eu queria descontar naquele cara que eu nem sabia quem era. Esmurrei a cabeceira da cama e desejei que a
O caminho foi calado. Lizza fitava a janela, estudando cada aspecto que encontrava do lado de fora. Parecia desconhecer o local para o qual eu a levava. Estava apreensiva; meditativa; nervosa. Tive medo que em algum momento ela escorregasse, e caísse mais uma vez naquele passado que tanto a feria. E me encolhi quando pensei que talvez eu não conseguisse resgatá-la de lá. — Uma cachoeira! — falou maravilhada, assim que parei o carro próximo à trilha que teríamos que fazer para encontrar a água jorrando. Lá de cima era possível avistar o azul espumoso da cascata que batia nas pedras acinzentadas rapidamente, em um espetáculo que deixou Lizza sem fôlego, como uma criança em um parque de diversões pela primeira vez. Uma cena doce que assisti pasmado. E coberto de amor. — Você gostou? — ri, leve. Ela me olhou sorrindo
— Eu sempre desconfiei disso — dei risada, deitando sobre a toalha quadriculada quando a puxei, e ela deitou-se em meu peito. Beijei o alto de sua cabeça muitas e muitas vezes, e ela fez círculos despreocupados em minha barriga, por cima da minha camiseta escura.Não me respondeu.O silêncio não era constrangedor. Era reconfortante. Eu sempre preferia estar ouvindo Lizza falar. Mas naquele momento, sua quietude se encaixou de modo pleno diante da cena.Depois de longos dez minutos apenas degustando a simplicidade de tudo aquilo, ela se pronunciou.— Você acha que duas pessoas podem ficar juntas pelo resto da vida? — pegou-me desguarnecido. Estava me deliciando do silêncio saboroso que se deitou e