— Eu sempre desconfiei disso — dei risada, deitando sobre a toalha quadriculada quando a puxei, e ela deitou-se em meu peito. Beijei o alto de sua cabeça muitas e muitas vezes, e ela fez círculos despreocupados em minha barriga, por cima da minha camiseta escura.
Não me respondeu.
O silêncio não era constrangedor. Era reconfortante. Eu sempre preferia estar ouvindo Lizza falar. Mas naquele momento, sua quietude se encaixou de modo pleno diante da cena.
Depois de longos dez minutos apenas degustando a simplicidade de tudo aquilo, ela se pronunciou.
— Você acha que duas pessoas podem ficar juntas pelo resto da vida? — pegou-me desguarnecido. Estava me deliciando do silêncio saboroso que se deitou e
Chegamos por volta das quatro. Parei o carro em frente sua casa, e me virei para Lizza.— Você está bem? — olhei-a profundamente, tentando me infiltrar de algum modo em seus olhos. — Não quero te deixar aqui e pensar que pode acontecer de novo o que aconteceu ontem. Quero ter certeza de que está bem.— Estou bem, Augusto. Obrigada. Não acontece diariamente, agora que você está aqui — ela desviou os olhos.— Por favor, me ligue ou me mande uma mensagem se precisar de alguma coisa, tudo bem?— Claro, eu ligo — sorriu de modo carinhoso. — E você, prometa que vai trabalhar certo durante essa semana, e virar o funcionário do mês. Sem mais faltas.
— Cada dia que passa, eu me sinto mais apaixonado por você — sussurrei, e ela ainda estava com os olhos colados em mim. — Eu nunca me senti assim antes. É surreal. Eu passo o dia todo pensando em coisas bonitas para te dizer. Penso em você o tempo todo. Meu coração esquenta e dispara, e eu sinto que eu preciso só de você. Nenhuma outra garota me atrai, só você. Fixação, quase isso. — Lizza sorriu. As nuvens se dissiparam, e a luz da lua refletiu em seus olhos.— Eu não duvido disso... — ela também sussurrava. — Dá para sentir isso de você, todas as vezes que fala comigo.O magnetismo que emanava de Lizza não me deixou desviar o olhar. Estávamos em combustão; havia faíscas saindo de todos os meu
— É melhor eu ir — Lizza apoiou o queixo em meu peito, ainda me segurando.— Sabia que você é linda?— Não sou não — ela fez uma careta, me provocando e dando as costas para mim, enquanto se afastava.— Tem razão. Você não é bonita mesmo — segui seus passos. — Você é um sonho de tão linda.Pude vê-la sorrindo, corando de leve. Parecia cada vez mais familiarizada com minha presença e com aquelas palavras.— A propósito, você já disse isso hoje, senhor Augusto.— Pois eu digo de novo: você é linda.<
A porta semi aberta não se moveu com o toque gentil da mãe de Lizza. Afastei-me de seu corpo, mas ela ainda continuava me olhando, intrigada.— Pode entrar, mãe — algo em seus olhos não se aquietou.— Vim perguntar se querem alguns salgadinhos para o lanche da tarde.— Claro, ia ser ótimo — Lizza saiu de transe e virou-se sorrindo para Regina, que anuiu, encostando a porta como a encontrou.— Desculpa, eu não queria...— Me fazer ficar com vontade de te beijar? — ela ergueu uma sobrancelha, enrubecendo de leve, mas não desviou os olhos um segundo sequer.Engoli a seco, e o ato doeu em
Ela sorriu, sem desviar o olhar.— O que mais?— Acho que tenho medo de crescer; levar as coisas a sério demais — suspirei. — Medo de não ser bom o suficiente. De falhar.Lizza abriu a boca para dizer algo, e fechou. Repetiu o processo algumas vezes.— Você não precisa ter medo de nada — ela se aproximou.Regina nos chamava para lanchar com dois toques na porta. Lizza me estudou, mais uma vez, em busca de algo que eu não descobri. Suas mãos pararam no ar, em um gesto que mostrava que iria tocar meu rosto. Mas logo caíram ao lado do corpo. Seguimos para a cozinha, onde a mesa estava posta com alguns salgadinhos em uma bandeja, e uma garrafa de
Estacionei o carro longe da porta do barzinho, distante de onde o movimento se concentrava.— Está pronta? — perguntei, colocando uma mexa de seus cabelos para trás de sua orelha.— Pronta — suspirou, nervosa, e sorriu.— Eu sei que está se esforçando bastante para isso. Muito obrigado — beijei suas duas mãos.— Não precisa agradecer, Augusto — sorriu, amistosa. — Não é um favor.Também sorri e plantei um beijo em sua testa. Como de praxe, ela não me esperou abrir a porta do carro para sair. Passei meu braço em sua cintura e para minha surpresa, Lizza passou o braço em minhas costas. Entram
O burburinho da mesa um pouco distante me lembrava de que não estávamos a sós. Era possível escutar as batatas sendo fritas na cozinha, enquanto o aroma do bacon brincava no ambiente. Lizza parecia distante mais uma vez; não exatamente longe. Mas algo nela parecia voar no céu, ao invés de estar ali ao meu lado.Ela bebia o suco despreocupada, mexendo o canudo vez ou outra, sem demonstrar necessidade alguma em dizer uma palavra sequer. Pensei em vários assuntos para abordar, mas não consegui encontrar nenhum que se encaixasse de modo pleno na ocasião, naquele momento. Fora ela, surpreendentemente, quem quebrara o silêncio.— Você já levou alguma garota para um primeiro encontro? Formal, assim? — não me olhou enquanto falava. Ela corou, com um sorriso que eu nunca havia percebido em seu rosto. Havia decorado cada movimento dos seus lábios e sabia o que cada sorriso que Lizza soltava, significava. Mas aquele, me deixou cego.— Qual a melhor biografia que já leu? — olhou-me, ignorando o que eu havia dito, com um traço de maravilha ainda presente em seus lábios e uma vontade inegável em seus olhos de me dizer algo.— Ayrton Senna — comi outra batata e levei uma até a boca de Lizza.— Já ouvi dizer que é muito boa... — sorriu, doce.— Você tem muitos livros, Lizza?— Não muitos... Quando eu tiver uma casa, quero ter uma biblioteca. QuerCapítulo 33