Ela corou, com um sorriso que eu nunca havia percebido em seu rosto. Havia decorado cada movimento dos seus lábios e sabia o que cada sorriso que Lizza soltava, significava. Mas aquele, me deixou cego.
— Qual a melhor biografia que já leu? — olhou-me, ignorando o que eu havia dito, com um traço de maravilha ainda presente em seus lábios e uma vontade inegável em seus olhos de me dizer algo.
— Ayrton Senna — comi outra batata e levei uma até a boca de Lizza.
— Já ouvi dizer que é muito boa... — sorriu, doce.
— Você tem muitos livros, Lizza?
— Não muitos... Quando eu tiver uma casa, quero ter uma biblioteca. Quer
Abracei Lizza com demora, em frente ao portão de sua casa, lutando drasticamente para conseguir me despedir.— Muito obrigada por essa noite — ela começou, sem se afastar. — Eu gostei bastante — lembrei-me de suas palavras. "Eu estou bem aqui". Depois daquilo, ela não deu mais nenhum indício de que estava realmente lá. Não se afastou, mas também não progrediu. Passamos a noite conversando sobre tudo que há em uma gama ampla de assuntos: política, economia, Estados Unidos, Coréia do Norte. Tudo, menos sobre ela e eu. Lizza parecia à vontade, à mercê dos meus olhos nos dela. Não voltou a me tocar, contudo, seu sorriso doce competiu bravamente com o brilho da lua durante todo o tempo em que ficamos
— V-Você é meu? —Lizza gaguejou, mas por alguma razão que desconheço, não deixou de me olhar.— Eu nunca pertenci a alguém antes, e agora eu sou completamente seu — olhei-a fundo. — Somente, e todo, seu — seus olhos, em um frenesi violento, corriam pelas minhas feições tão rápidos como se fossem sufocar; estava em busca de palavras, e eu desejei com todas as minhas forças que ela encontrasse algo para dizer. Mas sua caça parecia infinita, e quando estacionei em frente minha casa, ela ainda estava muda, e assustada. — É forte dizer isso, sabia? — virei-me delicadamente para ela, pegando sua bochecha em meus dedos.— Que você é meu? — sua voz falha saiu apenas como um cochicho.
— Não seja tão amável... — sussurrei como resposta. — Não sou essa pessoa boa que você acredita que sou.— Eu não te entendo, Augusto — puxou a mão e ficou em pé com um salto, levando a louça suja para a cozinha. — Você faz de tudo para me conquistar e quando está quase lá, vira a lata de lixo do seu passado em meus pés.— Não precisa agir desta maneira, Lizza — levantei-me, a seguindo.— E de que maneira eu deveria agir? — virou-se para me olhar. — Eu tenho a impressão de que está na soleira da porta e que vai passar por ela a qualquer momento, sem me avisar.— Você realmente acha isso
Estava com a cabeça quente. A discussão com Lizza me deixou à flor da pele; descamado. Minha mente entrou em ebulição; tantas coisas diferentes passeando pela minha memória que se tornava difícil organizar todas elas para enfim, começar a entende-las.O Augusto de Flávia não se importaria em tirar a roupa de Suzane ele mesmo. O de Daniela. O de Viviane. De quantas mais? Ela estava certa, claro que estava. Eu não conseguia sequer lembrar o nome de todas elas. Aquele Augusto não iria virar o rosto para não ver a mulher se despir, da forma que eu estava fazendo naquele momento. Aquele Augusto iria colocar um número a mais em sua lista.Mas não o Augusto de Lizza.Ali, enfrente àquela mulher que eu mal c
Lizza não apareceu durante a semana, plantada aos pés da árvore como uma flor murcha em plena primavera. As músicas não ressoaram no meu quintal imitando a última vez em que ela me evitou; a casa vizinha estava em completo silêncio, para meu desespero. Enquanto desejei que ela respondesse minha mensagem, sua casa gritou o vácuo para mim até eu ficar surdo.Sua ausência começava a machucar. Nunca imaginei amar alguém como eu a amava. Nunca entendi nada sobre meus sentimos, nem nunca soube manusea-los. E embora Lizza tenha me ensinado com uma maestria horrivelmente grande, eu me via com meu coração em minhas mãos, sem saber o que fazer. Para onde eu carregava aquilo? Como eu deveria agir?Um grande sufoco se instalou dentro de mim. Senti-me desolado; abruptament
Vermelho. Era a cor mais presente em minha casa, naquele momento. Dizem que é a cor do amor. Mas não era como um todo, uma cor alegre para mim.Luzes de velas, pétalas de rosas e um pouco do meu coração, formavam um caminho da porta de entrada até a cozinha, onde em uma mesa, uma caixa prateada recheada de doces a esperava, propriamente junto de uma bandeja de comida japonesa que ela adorava. E suco de laranja, claro.Na parede, letras repicadas com os dizeres 'Me Perdoa?', e na cadeira onde Lizza se sentaria, um pequeno buquê de margaridas. No papel vermelho com bolinhas brancas que abraçava as flores, espalhei bilhetes dizendo como ela era linda.Eu fora um aluno aplicado; tudo o que ela gostava, se encontrava em minha casa naquele instante. Estava paparicando
— Sabia que você é linda? — acariciei sua bochecha por cima da mesa. Tinha uma pressa absurda em ter sua pele em contato com a minha durante toda a noite.— Estava começando a sentir falta de ouvir isso — deu um gole no suco, sem deixar meus olhos penetrarem nos seus.Observei-a, em silêncio. Prestei atenção em cada único detalhe: a florzinha branca no canto da unha do anelar, combinando com o esmalte azul; a forma de sua garganta saltar como se coreografasse uma música todas as vezes que ela engolia; o mindinho embaixo do copo quando ela o pegava; os cílios compridos subindo e descendo conforme seus olhos piscavam. Tudo nela parecia estar em sintonia. Até mesmo o ar que entrava e saía de seus pulmões.Apesar de não conseguir decifrar Lizza, ela se tornava cada vez mais clara para mim. Eu sabia que teria uma explicação além do &oa
— Não vá — sussurrei, segurando seu rosto com uma das mãos. Desviei os olhos de seus lábios, para me afogar no café de sua íris. Talvez eu tenha me queimado por uma imersão precipitada, mas eu não me importei com a vermelhidão deixada em minha pele.— Está tarde, Augusto — Lizza vacilou, e em um descuido repentino como um lampejo, sorriu para mim.— Fique — pedi, acariciando sua bochecha com as costas da mão.— Tudo bem — olhou para baixo, ainda com o sorriso aposto. — Mas sem muita demora, tudo bem? — murmurou.— Tem uma coisa que você queria ver — dei um meio sorriso, envergonhado, pegando seus dedos e a conduzindo p