— É melhor eu ir — Lizza apoiou o queixo em meu peito, ainda me segurando.
— Sabia que você é linda?
— Não sou não — ela fez uma careta, me provocando e dando as costas para mim, enquanto se afastava.
— Tem razão. Você não é bonita mesmo — segui seus passos. — Você é um sonho de tão linda.
Pude vê-la sorrindo, corando de leve. Parecia cada vez mais familiarizada com minha presença e com aquelas palavras.
— A propósito, você já disse isso hoje, senhor Augusto.
— Pois eu digo de novo: você é linda.<
A porta semi aberta não se moveu com o toque gentil da mãe de Lizza. Afastei-me de seu corpo, mas ela ainda continuava me olhando, intrigada.— Pode entrar, mãe — algo em seus olhos não se aquietou.— Vim perguntar se querem alguns salgadinhos para o lanche da tarde.— Claro, ia ser ótimo — Lizza saiu de transe e virou-se sorrindo para Regina, que anuiu, encostando a porta como a encontrou.— Desculpa, eu não queria...— Me fazer ficar com vontade de te beijar? — ela ergueu uma sobrancelha, enrubecendo de leve, mas não desviou os olhos um segundo sequer.Engoli a seco, e o ato doeu em
Ela sorriu, sem desviar o olhar.— O que mais?— Acho que tenho medo de crescer; levar as coisas a sério demais — suspirei. — Medo de não ser bom o suficiente. De falhar.Lizza abriu a boca para dizer algo, e fechou. Repetiu o processo algumas vezes.— Você não precisa ter medo de nada — ela se aproximou.Regina nos chamava para lanchar com dois toques na porta. Lizza me estudou, mais uma vez, em busca de algo que eu não descobri. Suas mãos pararam no ar, em um gesto que mostrava que iria tocar meu rosto. Mas logo caíram ao lado do corpo. Seguimos para a cozinha, onde a mesa estava posta com alguns salgadinhos em uma bandeja, e uma garrafa de
Estacionei o carro longe da porta do barzinho, distante de onde o movimento se concentrava.— Está pronta? — perguntei, colocando uma mexa de seus cabelos para trás de sua orelha.— Pronta — suspirou, nervosa, e sorriu.— Eu sei que está se esforçando bastante para isso. Muito obrigado — beijei suas duas mãos.— Não precisa agradecer, Augusto — sorriu, amistosa. — Não é um favor.Também sorri e plantei um beijo em sua testa. Como de praxe, ela não me esperou abrir a porta do carro para sair. Passei meu braço em sua cintura e para minha surpresa, Lizza passou o braço em minhas costas. Entram
O burburinho da mesa um pouco distante me lembrava de que não estávamos a sós. Era possível escutar as batatas sendo fritas na cozinha, enquanto o aroma do bacon brincava no ambiente. Lizza parecia distante mais uma vez; não exatamente longe. Mas algo nela parecia voar no céu, ao invés de estar ali ao meu lado.Ela bebia o suco despreocupada, mexendo o canudo vez ou outra, sem demonstrar necessidade alguma em dizer uma palavra sequer. Pensei em vários assuntos para abordar, mas não consegui encontrar nenhum que se encaixasse de modo pleno na ocasião, naquele momento. Fora ela, surpreendentemente, quem quebrara o silêncio.— Você já levou alguma garota para um primeiro encontro? Formal, assim? — não me olhou enquanto falava. Ela corou, com um sorriso que eu nunca havia percebido em seu rosto. Havia decorado cada movimento dos seus lábios e sabia o que cada sorriso que Lizza soltava, significava. Mas aquele, me deixou cego.— Qual a melhor biografia que já leu? — olhou-me, ignorando o que eu havia dito, com um traço de maravilha ainda presente em seus lábios e uma vontade inegável em seus olhos de me dizer algo.— Ayrton Senna — comi outra batata e levei uma até a boca de Lizza.— Já ouvi dizer que é muito boa... — sorriu, doce.— Você tem muitos livros, Lizza?— Não muitos... Quando eu tiver uma casa, quero ter uma biblioteca. QuerCapítulo 33
Abracei Lizza com demora, em frente ao portão de sua casa, lutando drasticamente para conseguir me despedir.— Muito obrigada por essa noite — ela começou, sem se afastar. — Eu gostei bastante — lembrei-me de suas palavras. "Eu estou bem aqui". Depois daquilo, ela não deu mais nenhum indício de que estava realmente lá. Não se afastou, mas também não progrediu. Passamos a noite conversando sobre tudo que há em uma gama ampla de assuntos: política, economia, Estados Unidos, Coréia do Norte. Tudo, menos sobre ela e eu. Lizza parecia à vontade, à mercê dos meus olhos nos dela. Não voltou a me tocar, contudo, seu sorriso doce competiu bravamente com o brilho da lua durante todo o tempo em que ficamos
— V-Você é meu? —Lizza gaguejou, mas por alguma razão que desconheço, não deixou de me olhar.— Eu nunca pertenci a alguém antes, e agora eu sou completamente seu — olhei-a fundo. — Somente, e todo, seu — seus olhos, em um frenesi violento, corriam pelas minhas feições tão rápidos como se fossem sufocar; estava em busca de palavras, e eu desejei com todas as minhas forças que ela encontrasse algo para dizer. Mas sua caça parecia infinita, e quando estacionei em frente minha casa, ela ainda estava muda, e assustada. — É forte dizer isso, sabia? — virei-me delicadamente para ela, pegando sua bochecha em meus dedos.— Que você é meu? — sua voz falha saiu apenas como um cochicho.
— Não seja tão amável... — sussurrei como resposta. — Não sou essa pessoa boa que você acredita que sou.— Eu não te entendo, Augusto — puxou a mão e ficou em pé com um salto, levando a louça suja para a cozinha. — Você faz de tudo para me conquistar e quando está quase lá, vira a lata de lixo do seu passado em meus pés.— Não precisa agir desta maneira, Lizza — levantei-me, a seguindo.— E de que maneira eu deveria agir? — virou-se para me olhar. — Eu tenho a impressão de que está na soleira da porta e que vai passar por ela a qualquer momento, sem me avisar.— Você realmente acha isso