Na maior cidade dentro do território humano, chamada Valiska, localizada próxima à fronteira que separa o território dos lobos, estava presente a mais alta patente do clero na principal Basílica, todos reunidos com seus fiéis para escutarem o tão esperado discurso do Papa João César.
Aos gritos e palmas de euforia dos fiéis, ele apareceu sentado em uma cadeira de ouro sendo carregado pelos seus escravos em cada lado daquela cadeira pesada enquanto uma escrava mulata de corpo curvilíneo caminhava ao lado da cadeira luxuosa do papa com uma bandeja na mão, oferecendo-lhe frutas.
Apesar de todo luxo, euforia e alegria ao seu redor, o papa não estava contente com os acontecimentos dessas semanas e ele precisava da ajuda do seu povo para rever e reparar os absurdos causados por aqueles que antes eram seus aliados, no entanto quebraram o pacto feito há milhares de anos por seus antepassados e se juntaram com o ser amaldiçoado que não tem alma e que carrega a morte para onde quer que vá, o Dragão Vermelho Morto, ou como o apelidaram: Drácula, O Imperador Amaldiçoado.
Dentre os principais presentes e os fiéis que possuíam títulos importantes, escravos e terras, faltava somente uma pessoa que por direito deveria também estar presente e ser muito respeitado por todos, abaixo somente do papa. O mais novo nomeado rei Juliano III, filho de Juliano II que morreu da doença que foi jogada pela bruxa. A bruxa! A amante do Drácula! Oooh céus! O humor do papa tornava-se mais sombrio quando as lembranças o assombravam.
Mas o papa João César não se importava com a presença daquele rei que ele não gostava, que ele não queria e que não teria sua bênção. Aquele moleque imprestável está agora mesmo bebendo e comendo da mesma comida com aqueles demônios, seres sem luz e se ajoelhando, jurando lealdade a uma ESCRAVA! Como uma escrava se tornou rainha? Que ridículo! Inadmissível! Repugnante!
Ele olhou com nojo para sua escrava mulata que permanecia de cabeça baixa com a bandeja na mão esperando alguma ordem do seu senhor.
Daqui a pouco essa escrava vai se achar digna de sentar-se em uma cadeira ao invés do chão ou comer algo que não seja as sobras da minha comida, pensou.
Sua cadeira foi depositada na superfície e os escravos posicionaram-se atrás com suas cabeças também baixa em submissão. A vontade que o João César teve em sorrir foi muita. Esses escravos que são iguais cavalos, só servem para carregarem peso, vão querer aprender a ler? A imagem deles segurando algum livro veio à mente e nossa! Que imagem péssima!
Quem aquela mulher pensa que é para criar uma lei ridícula exigindo a abolição da escravatura? E ainda querer se meter nos assuntos dos humanos depois de matar o verdadeiro rei? Ele sabe quem ela é! E precisa alertar ao povo antes que seja tarde demais! Ela é a filha do demônio que veio dominar suas terras e corromper sua fé! Mesmo que lá no fundo o papa saiba que ela é somente uma pessoa de outra espécie, mas ele irá falar para todos o que inventou porque as pessoas nunca o questionariam e o ajudariam a pôr seus planos em prática.
“Devemos nos livrar desse mal a queimando viva na fogueira para que sua alma volte ao lugar de onde nunca devia ter saído: Do inferno!”
Ele citou uma parte do seu discurso em pensamento.
João César, carrancudo, levantou-se de sua cadeira e se posicionou atrás do altar de madeira, então todos presentes ficaram em silêncio com os olhos vidrados naquele senhor de idade usando batinas pesadas e sagradas, atrás dele estava a imagem do Senhor.
Ele puxou o ar pelos pulmões preparando-se para começar a falar seu discurso de ódio contra aquela de berço inferior que matou o rei João I na Batalha da Floresta Vermelha e que agora se denominou rainha e soberana dos humanos.
Uma mulher liderando os homens?! Patético! Uma escrava rainha?! Ridículo!
João César controlou seu mau humor, mas antes que começasse a falar, foi interrompido pelo barulho da imensa porta da Basílica se abrindo.
Todos se viraram para ver quem seria essa pessoa desrespeitosa que abriu a porta atrapalhando o discurso do homem que segurava a mão do Deus dos humanos e com seu poder divino, abençoa as pessoas privilegiadas para que tenham seus lugares garantidos no céu. Oras, eles são ricos e nobres, são merecedores de tal bênção, ao contrário dos miseráveis que só prestam para servi-los.
O rosto do papa se contorceu em fúria ao reconhecer a pessoa que entrou na Basílica, aquela mulher m*****a que tirou seu sono, que o atormentou até nos seus banhos aromatizados ao qual ele faz uma vez ao mês, que está causando todo o seu desgosto e caos desde o dia em que quebrou suas próprias correntes.
M*****a! Mulher M*****a! Ardilosa! Como ela ousa entrar na aqui?
Todos ficaram assustados com a presença daquela pessoa que, apesar de bela, tinha uma aparência peculiar por causa da cor dos seus olhos vermelhos, mas ao invés disso ser o maior destaque entre eles, o que mais os impressionam são suas vestes.
Calças? Uma mulher usando calças?
Sim! Ela está usando calças, botas, uma blusa com capa comprida em forma de “V”, seu cabelo longo e solto e...
– Os lábios dela são vermelhos! – Uma lady arfou aterrorizada quando disse. Essa mulher dos lábios vermelhos, cabelos e roupas vermelhas, ela usa a cor do diabo!
Ninguém reconheceu essa mulher, ninguém, além do papa, sabia quem ela era e devido à cor dos seus olhos, roupas e lábios, os fiéis logo deduziram:
– UMA BRUXA! – Um homem gritou. Todos se afastaram assustados.
João César gostou dessa reação, assim seria mais fácil convencer esse povo ignorante a matarem ela.
Eu sou um homem abençoado, pensou.
Escondendo o seu semblante de alegria, ele logo incorporou o seu papel de homem protetor do seu povo.
Enquanto a mulher caminhava séria com passos pesados e lentos em direção ao papa, ele finalmente soltou suas primeiras palavras desde que tinha chegado:
– Como se atreve a entrar na casa de Deus? – Ele falou alto e autoritário.
– Casa de Deus? – A mulher perguntou num tom normal, parando antes dos degraus da escada que dava acesso ao altar.
– Aqui é um local sagrado! Nenhum seguidor do Demônio tem poder dentro da casa do Senhor!
A mulher zombou.
– Aqui não é a casa de nenhum Deus, é só um local de reuniões entre os humanos que se acham superiores e melhores que seu próprio Deus.
– ALGUÉM PEGE ESSA BRUXA! ELA DEVE SER QUEIMADA NA FOGUEIRA PELA SUA BLASFÊMIA! – Um lorde gritou.
Mas assim que se calou, a mulher virou seu pescoço para ele de forma desumana e grotesca, seu pescoço esticou-se além do normal, seu rosto quase ficou todo para trás e a lateral do rosto estava quase batendo nas costas.
De boca fechada, ela deu um grunhido demoníaco para alertar quem quer que se aproxime dela. O ódio nos olhos daquela mulher era surreal.
Todos se encolheram horrorizados, já havia algumas pessoas chorando, outras ajoelhadas orando, mesmo assim, nenhum tentou fugir daquele lugar, pois eles sabiam que tinha alguém para protegê-los contra aquele mal. O corpo do João César começou a se tremer, ele nunca viu um lobisomem contorcer o pescoço daquela forma, mas ele manteve o mesmo tom de antes.
Ela voltou a encarar o homem em pé ao altar.
– É isso que você os ensina? Utiliza sua palavra como única e verdadeira sem lhes dar o direito de questionar? De saber a verdade? Todos vocês condenam alguém pela cor de suas vestes? – Ela perguntou mais séria.
– O vermelho é a cor do Diabo! De um espírito sem luz! Não há o que questionar, eu sou a verdade, eu seguro a mão de Deus aonde quer que vá e sou abençoado por Ele!
Ela riu, mas o som de sua risada era mais grotesco e havia duas vozes rindo ao mesmo tempo.
– É mesmo? – Zombou novamente. – Neste lugar que é dito como a casa de Deus, só há um obstáculo O impedindo de entrar em sua própria casa... – Ela pausou sua fala, e suas próximas palavras saíram duas vozes, uma feminina e outra demoníaca:
– Os Humanos.
A mulher com o rosto contorcido de ódio e desprezo começou a subir os degraus lentamente em direção ao João César.
– Vocês destruíram tudo o que me pertencia! – Ela falava com suas múltiplas vozes. – Corromperam a fé e os ensinamentos do seu Deus em busca de riqueza e poder! Nada que fiz para detê-los foi o suficiente! Nada! – Disse entredentes. – Nem as mortes que causei com a doença foram capazes de destruir vocês! Vocês são as verdadeiras pragas! Que destroem e corrompem tudo por onde quer que passam!
Ela parou em frente ao papa, com apenas o altar entre eles.
O papa viu algo no rosto daquela mulher e subitamente percebeu uma coisa, ele ficou estupefato! Aquilo não era normal!
– O... o que você é? – João perguntou, horrorizado.
Ela curvou seus lábios para cima dando um sorrisinho.
– Eu sou aquele que trará paz novamente para este mundo! Que governará novamente! Eu sou a sua extinção!
– Oooh Meu Deus... – Ele sussurrou.
– Usando o nome Dele em vão? Em sua própria casa? – A mulher riu e foi dando a volta ao altar se aproximando. Ela parou em frente a ele com agora nada os separando, ambos estavam de lado para o resto das pessoas que não escutavam as conversas entre aqueles dois, então com um sorriso no rosto a mulher disse:
– Seu deus não está aqui hoje, João, mas eu sim!
Ela o segurou, e com sons grotescos, começou a abrir sua boca lentamente, até que sua mandíbula deslocou-se, seus dentes pareciam ser de tubarões, e sua boca ficou maior que qualquer boca jamais vista. De repente, a mulher mordeu a face daquele homem que gritava desesperado se debatendo, até que ela puxou a carne e os ossos do rosto, matando-o.
Todos gritavam e começaram a correr desesperados para a porta de saída, no entanto ela estava trancada. A mulher ainda ao lado do altar com o rosto cheio de sangue estava rindo dos humanos que tentavam fugir.
Horas antes...Todos estavam se divertindo no grande salão de festas dentro do castelo, a maioria eram vampiros, depois dos lobisomens que após a junção das duas tribos, os companheiros escolhidos pela Deusa da Lua finalmente se encontraram, o que era algo raro de acontecer, agora se tornou natural. Trazendo muitos benefícios, pois os maridos infiéis serão mais devotos por causa do vínculo, e nossa raça iria se evoluir.No meio da pista de dança estavam meus casais favoritos: princesa e futura Gama Clara dançando com seu companheiro Marcus e do outro lado vi Maria Elena com o Drakon, ela pode até negar, mas o ama demais para conseguir evitá-lo.– Você me daria esta hora para dançar comigo? – Um sorriso genuíno se formou no meu rosto quando escutei a voz dele, Alec.Segurei sua mão estendida, peguei na lateral do meu vestido longo, levantando um pouco a bainha para caminhar no centro da pista. Ficamos de frente um para o outro, senti sua mão na minha cintura enquanto eu depositava a mi
– Droga! – Esbravejei quando tropecei em algo, mas me segurei em uma árvore antes de cair. Tirei meus sapatos e continuei correndo segurando o vestido dos dois lados para não tropeçar na bainha. Meus cabelos soltos voavam com a coroa em cima da cabeça sem sair. Eu enxergava a floresta com o reflexo do luar que batia nas árvores e no chão. Minhas emoções se intensificavam: raiva, medo, cansaço, confusão...Vi as tochas da aldeia que estava praticamente vazia por causa da festa de coroação, corri para a cabana em que o Lúcius encontrava-se, abri a porta e arfei quando vi que a cama estava vazia.Cadê o Lúcius?Sai do quarto e olhei ao redor o procurando, mas não vi nada além das casas e da floresta ao redor.Fechei os olhos e tentei farejá-lo, mas seu cheiro estava muito fraco. Fiquei frustrada.Então usei a ligação de sangue que temos para procurá-lo do mesmo jeito que usei quando eu briguei com o Betha Lucas e procurei o Lúcius em frente à fronteira das duas tribos.Abri os olhos e ol
À medida que o Lúcius se acalmava nos meus braços, percebi que ele se tremia muito, sua respiração tornou-se desregular até que ele caiu no chão tão rápido que só pude perceber quando o vi caído nos meus pés.Vendo aquele homem que antes era forte, musculoso e que tinha uma áurea poderosa, agora não passava de uma pessoa esquelética e fraca, mais fraca que uma criança. Ele deve ter usado muito do restante de suas forças para conseguir vir até aqui e me derrubar no chão, e a adrenalina da raiva que também estava presente, agora se dissipou.Ajoelhei-me ao seu lado e segurei sua cabeça no meu colo.– O que está acontecendo comigo? – Sussurrou ofegante.– Você só está fraco, mas eu posso te ajudar.– Me ajudar?! – Ele franziu o cenho. – Por favor, me mate! – Suplicou.– O quê!? Não! – Disse perplexa.– Eu não aguento mais! Por favor, Karolina, me mate!– Lúciu, e-eu não posso te matar, não depois de você finalmente estar de volta! Deixe-me ajudá-lo.Ele balançou a cabeça em negação.– Po
Ele me de um selinho demorado, e com a língua pediu passagem, cedi, ele estava sendo bem delicado e calmo dessa vez, até que nosso beijo se aprofundou enquanto sugávamos os lábios um do outro, lambendo. Lúcius me apertou mais contra seu corpo e soltou um gemido baixo na minha boca, era mais de alívio do que excitação. Passei a mão pela sua nunca e depois acariciei seus cabelos, eu estava extasiada e feliz por tê-lo de volta, por ter conseguido salvar sua vida, era como se nosso beijo profundo fosse a prova concreta de dizer para nós dois que estava tudo bem. Nossas respirações ficaram ofegantes, mas nenhum queria interromper o beijo, ao contrário, nos apertávamos mais ainda enquanto eu permanecia sentada nos seus braços.Com as mãos no seu cabelo e outra na nuca enquanto ele me segurava forte pela cintura, buscamos ar nos pulmões enquanto nos abraçávamos de olhos fechados.Até que ele respirou fundo, seus pensamentos o consumiam, ele parecia estar sofrendo por algo. Lúcius estava estr
Ainda no meio da floresta e longe de todos, eu permanecia sentada, chorando e soluçando. Eu queria muito não sentir isso, esses sentimentos confusos me deixavam sufocada e o único modo de desabafar era entre lágrimas. Como o Lúcius pôde fazer isso comigo? Na minha cabeça é que ele tem algum motivo por trás da rejeição, mas o quê? E eu estou disposta a enfrentar qualquer coisa por ele, já passei esses meses tentando me manter forte enquanto o Lúcius permanecia em coma, tentei esquecer tudo que passei enquanto era sua escrava, todo o rancor e ódio que tinha. Chorei mais forte de cabeça baixa. Funguei e lembrei daquela coisa que possuiu o Lúcius. Foi por causa daquilo que ele não me quis? E o que foi aquilo? Limpando minhas lágrimas, fiquei de frente à Lua, juntei minhas mãos e comecei a falar umas palavras antigas que meu tio ensinou quando eu era criança. “O Sol é teu brilho, a floresta tua escuridão, o sangue estampado na tua Lua é o mesmo do teu coração. Eu vim da terra, mas
– Esses lobos são diferentes, eles não são tão grandes e fortes como o de costume. – Falei para a Deusa Daiana enquanto os observava. – Estamos em uma época antes do Victor Stevens, o Supremo Alfa que trouxe sabedoria e força para seu povo, que unificou as raças ao invés de lutar, que os aprimorou transformando esses meros lobos em lobisomens, transformando todos vocês em metade lobo e metade homem. Essa matilha que você vê na sua frente, não passa de seres ferozes e um tanto irracionais. – Ela me guiava na direção deles enquanto falava. – E que animal é esse que eles estão perseguindo? – Perguntei. – Eles são os que comandavam o mundo antes de vocês e de qualquer humano. – Eles que estavam acima da cadeia alimentar antes de nós? – Sim. Continuamos seguindo-os e paramos a alguns metros de distância quando os lobos alcançaram aquele ser. O animal, com seus braços longos, era ágil, veloz e forte, no entanto, os lobos estavam em bando e rapidamente o mobilizaram. Comecei a escutar o
Acompanhamos de perto a trajetória da Líder enquanto carregava seu filho consigo, ela estava um pouco ferida devido à luta que teve dentro da caverna, mesmo com dores, ela continuava alimentando e cuidado do seu filhote, mas quando ele pegava no sono, ela chorava. Vi de perto ela brincar com seu filho durante o dia, o ensinava a colher alimentos, a louvar o deus deles, ela passava os costumes e tradições para ele, mesmo com a mancha negra da tragédia do seu povo, eles pareciam estar cada vez mais superando o luto e conseguindo seguir suas vidas juntos, como mãe e filho unidos sempre, porém quando a noite chegava, eles se escondiam e usavam ervas ou lama para camuflar seus cheiros dos predados que saíam para caçar na escuridão: Os lobos. Como num passe de mágica, o tempo foi passando, mãe e filho seguindo suas rotinas juntos, sem se esquecerem das precauções que tomavam à noite, e durante o dia, eles sentiam-se seguros. O filho cresceu, mas ele continuava jovem, esses seres viviam mai
No momento em que a Daiana parou de falar, ouvi um estrondo vindo debaixo do chão bem ao centro daquele pentagrama invertido feito de sangue. A terra começou a se mover e um buraco se abriu, de lá saiu garras pretas, deformadas e horríveis. Vi chifres saindo de dentro do buraco, em seguida de uma cabeça de bode, corpo de homem e patas também de bode, tudo negro, e um fedor de enxofre exalava nele. Gritos de tormento eram escutados vindos daquela coisa, e em segundos, ele ficou em pé com suas patas horrendas, olhando fixamente para a fêmea ajoelhada. A áurea daquele ser era a mais perversa que já senti na vida, ele era a maldade personificada e eu só conseguia sentir muito, muito medo. Até a Deusa ao meu lado, que a vejo como alguém divino e poderoso, estava paralisada com a presença dele. – Não... se... mova... – Ela sussurrou com a voz trêmula. Meu corpo tremia todo, o coração faltava sair pela boca e eu prendi a respiração. Não sei o que ele pode fazer se descobrir nossa presença,