À medida que o Lúcius se acalmava nos meus braços, percebi que ele se tremia muito, sua respiração tornou-se desregular até que ele caiu no chão tão rápido que só pude perceber quando o vi caído nos meus pés.
Vendo aquele homem que antes era forte, musculoso e que tinha uma áurea poderosa, agora não passava de uma pessoa esquelética e fraca, mais fraca que uma criança. Ele deve ter usado muito do restante de suas forças para conseguir vir até aqui e me derrubar no chão, e a adrenalina da raiva que também estava presente, agora se dissipou.
Ajoelhei-me ao seu lado e segurei sua cabeça no meu colo.
– O que está acontecendo comigo? – Sussurrou ofegante.
– Você só está fraco, mas eu posso te ajudar.
– Me ajudar?! – Ele franziu o cenho. – Por favor, me mate! – Suplicou.
– O quê!? Não! – Disse perplexa.
– Eu não aguento mais! Por favor, Karolina, me mate!
– Lúciu, e-eu não posso te matar, não depois de você finalmente estar de volta! Deixe-me ajudá-lo.
Ele balançou a cabeça em negação.
– Por favor... estou cansado de lutar, quero descansar, quero morrer, não suporto mais essas visões, meu pai... os gritos da mamãe... não suporto mais ouvir... – Sussurrou. – Me mate! Você sempre quis me matar, a hora é agora!
– N-Não Lúcius! Eu não consigo! – Disse angustiada. Ele deve ter passado por muita coisa, mas ele tinha que ficar vivo.
– Você me prometeu! – Disse zangado. – Prometeu que me daria uma morte misericordiosa! – O Lúcius escutava tudo que dizíamos enquanto ele estava em coma!?
Ele agitou-se novamente.
– Por favor... Por mim, pela Kamilla, deixe-me ajudá-lo, por favor!
Ele balançou a cabeça novamente, não queria minha ajuda, nem depois que eu falei da Kamilla. Me enfureci, ainda triste.
– Seu egoísta, desgraçado! Não pensa na dor da sua própria filha quando ela souber que você tirou sua vida sem hesitar! Eu devia te matar por isso, Lúcius!
Ele franziu as sobrancelhas, confuso.
– Ela vai chorar se eu morrer? – Perguntou. Balancei a cabeça afirmando. – Você também vai?
– Sim... – Ele suspirou derrotado.
– Tudo bem, ajude-me.
Me alegrei e enxuguei as lágrimas que brotaram no meu rosto. Cortei meu pulso direito com minha garra e depositei nos seus lábios para que ele bebesse, mesmo confuso, Lúcius tomou o sangue que saía. Foquei naquela gota que ele pusera na boca, e quis transmitir tudo para ele, meus sentimentos, pensamentos, lembrança e força, assim ele se recuperaria mais rápido, eu estava mais forte que antes.
Lúcius engoliu somente um fio de sangue que escorria pela ferida, assim que terminou, ele soltou bruscamente meu braço começou a se contorcer e gritar de dor.
– MINHA CABEÇA ESTÁ QUEIMANDO! – Gritava enquanto se debatia no chão. Fiquei perplexa e sem saber o que fazer, não entendi o que havia acontecido. – KAROLINA! – Gritou meu nome por ajuda.
Minhas mãos estavam no ar pensando de alguma forma em ajudá-lo, mas como?? Por que meu sangue estava fazendo isso com ele??
– Lúcius... – Murmurei triste e sem reação.
– FAZ ISSO PARAR! – Ele gritava com as mãos na cabeça arrancando seus cabelos. Chorando, eu tentava fazer com que ele não se machucasse mais, segurando seus pulsos.
De repente, Lúcius soltou sua mão direita e me agarrou. Seus olhos cerrados se abriram e no impulso afastei-me dele, mas ele conseguiu me segurar, me estremeci de medo.
Ele sorriu para mim, era macabro.
Fiquei o encarando com a boca aberta e as sobrancelhas franzidas. E num tom ameaçador, sem vacilar e demonstrar o medo na minha voz disse:
– Quem é você?
Aquela coisa que possuía o corpo de Lúcius ficou me encarando.
– Diga seu nome! – Deixei transparecer fúria na minha voz apesar do terror, e como eu sabia que não era o Lúcius? Por causa dos seus olhos que estavam completamente pretos. Não havia pupila, nem íris dourada, nem a parte branca dos olhos, nada, só um preto, mais escuro que a própria escuridão, não tinha nada da beleza do Lúcius naquele rosto.
– Karolinaa... – Sussurrou.
Ele fechou seus olhos e começou a se contorcer novamente, vi que o corpo magro dele começava a ficar forte novamente, seus músculos foram voltando ao que eram antes, os ossos no rosto desapareceram enquanto as bochechas tornavam-se cada vez mais cheinhas. Até que ele parou de se mexer, ficando imóvel.
– Lúcius? Lúcius? Acorda! – Eu dava batidinhas no seu rosto tentado acordá-lo. – Lúcius, por favor, acorda! – Chequei seu pulso e ainda estava batendo, ao menos uma coisa boa.
– Hum... – Murmurou. Suspirei aliviada.
– Levante-se, vamos! – Falei enquanto o ajudava a se levantar. Ele gemeu baixinho de dor.
Entramos na casa e fomos até um dos quartos, mas o Lúcius bateu sem querer sua cabeça na porta.
– Ai minha cabeça sua Demônia. – Murmurou zangado. Ri aliviada quando ele pronunciou o apelido que só ele me chamava. Esse era o Lúcius que eu me lembrava.
– Vou pegar algo para você comer e recuperar suas energias. – Falei quando ele já estava deitado. Antes que eu pudesse sair do quarto, Lúcius me segurou pela mão, não queria que eu fosse.
– Está tudo bem, eu vou voltar. – O tranquilizei. Relutante, ele me deixou partir.
Voltei ao castelo, mas não entrei, chamei um vampiro que estava fazendo a ronda pelo local e o mandei pegar bastante comida, principalmente de caldo, ele fez o que disse e rapidamente voltei para a cabana sem ser notada.
Lúcius estava sentado na cama com os pés tocando o chão, ele parecia ter se recuperado quase cem por cento. Ele me encarou com seus olhos dourados.
– Trouxe caldo para você. – Ofereci a comida, mas o homem não pegou. – O que foi? – Perguntei confusa.
– Você precisa me alimentar, estou fraco. – Senti que só estava com birra. Fiz um bico de reprovação e comecei a alimentar o bebê.
Lúcius comia com um pequeno sorriso genuíno no rosto, mesmo tentando controlar suas emoções, ele não deve saber que acabou de ser possuído. Quando acabou tudo, tentei persuadi-lo a deitar novamente, mas ele preferiu saber tudo o que tinha acontecido quando estava dormindo.
Contei para ele as mudanças e até o que estava enfrentando com os líderes dos humanos. Às vezes o Lúcius ficava um pouco aéreo pensando ou LEMBRANDO-SE de algo, mas eu sempre pigarreava tentando chamar sua atenção, mesmo que com cautela e observando seus olhos para saber se era ele ou não. Ambos estávamos assustados e não fazíamos ideia do quê exatamente temíamos, mas a companhia um do outro amenizava a situação.
– Se quiser, posso matá-los por você. – Disse com seu humor melhorado, mas sua voz permanecia baixa e rouca. Lá no fundo, o Lúcius só queria se manter são.
– Não! Não quero! – Falei. Ele torceu a boca.
– Você pode abrir uma exceção para os escravos?
– Como assim? – Perguntei confusa.
– Quero ser seu escravo. – Disse num tom normal.
– Do que está falando?
– Por favor, Karolina, me deixa ser seu escravo sexual. – Pediu.
– Babaca! – Lúcius me puxou para seus braços e eu arregalei os olhos surpresa. – O que está fazendo? Me solta!
Ele passou a mão pela minha nuca e eu me apoiei no seu peito exposto, que agora só tinham as cicatrizes das feridas, senti a dureza dos músculos, Lúcius realmente se recuperou com meu sangue e com os alimentos.
A centímetros de distância, observei seus olhos dourados fixos nos meus.
– Faça seus olhos brilharem. – Ele disse baixinho, senti o hálito enroscar na minha boca. Deixei o brilho do vermelho-sangue surgir, Lúcius sorriu e me beijou.
Ele me de um selinho demorado, e com a língua pediu passagem, cedi, ele estava sendo bem delicado e calmo dessa vez, até que nosso beijo se aprofundou enquanto sugávamos os lábios um do outro, lambendo. Lúcius me apertou mais contra seu corpo e soltou um gemido baixo na minha boca, era mais de alívio do que excitação. Passei a mão pela sua nunca e depois acariciei seus cabelos, eu estava extasiada e feliz por tê-lo de volta, por ter conseguido salvar sua vida, era como se nosso beijo profundo fosse a prova concreta de dizer para nós dois que estava tudo bem. Nossas respirações ficaram ofegantes, mas nenhum queria interromper o beijo, ao contrário, nos apertávamos mais ainda enquanto eu permanecia sentada nos seus braços.Com as mãos no seu cabelo e outra na nuca enquanto ele me segurava forte pela cintura, buscamos ar nos pulmões enquanto nos abraçávamos de olhos fechados.Até que ele respirou fundo, seus pensamentos o consumiam, ele parecia estar sofrendo por algo. Lúcius estava estr
Ainda no meio da floresta e longe de todos, eu permanecia sentada, chorando e soluçando. Eu queria muito não sentir isso, esses sentimentos confusos me deixavam sufocada e o único modo de desabafar era entre lágrimas. Como o Lúcius pôde fazer isso comigo? Na minha cabeça é que ele tem algum motivo por trás da rejeição, mas o quê? E eu estou disposta a enfrentar qualquer coisa por ele, já passei esses meses tentando me manter forte enquanto o Lúcius permanecia em coma, tentei esquecer tudo que passei enquanto era sua escrava, todo o rancor e ódio que tinha. Chorei mais forte de cabeça baixa. Funguei e lembrei daquela coisa que possuiu o Lúcius. Foi por causa daquilo que ele não me quis? E o que foi aquilo? Limpando minhas lágrimas, fiquei de frente à Lua, juntei minhas mãos e comecei a falar umas palavras antigas que meu tio ensinou quando eu era criança. “O Sol é teu brilho, a floresta tua escuridão, o sangue estampado na tua Lua é o mesmo do teu coração. Eu vim da terra, mas
– Esses lobos são diferentes, eles não são tão grandes e fortes como o de costume. – Falei para a Deusa Daiana enquanto os observava. – Estamos em uma época antes do Victor Stevens, o Supremo Alfa que trouxe sabedoria e força para seu povo, que unificou as raças ao invés de lutar, que os aprimorou transformando esses meros lobos em lobisomens, transformando todos vocês em metade lobo e metade homem. Essa matilha que você vê na sua frente, não passa de seres ferozes e um tanto irracionais. – Ela me guiava na direção deles enquanto falava. – E que animal é esse que eles estão perseguindo? – Perguntei. – Eles são os que comandavam o mundo antes de vocês e de qualquer humano. – Eles que estavam acima da cadeia alimentar antes de nós? – Sim. Continuamos seguindo-os e paramos a alguns metros de distância quando os lobos alcançaram aquele ser. O animal, com seus braços longos, era ágil, veloz e forte, no entanto, os lobos estavam em bando e rapidamente o mobilizaram. Comecei a escutar o
Acompanhamos de perto a trajetória da Líder enquanto carregava seu filho consigo, ela estava um pouco ferida devido à luta que teve dentro da caverna, mesmo com dores, ela continuava alimentando e cuidado do seu filhote, mas quando ele pegava no sono, ela chorava. Vi de perto ela brincar com seu filho durante o dia, o ensinava a colher alimentos, a louvar o deus deles, ela passava os costumes e tradições para ele, mesmo com a mancha negra da tragédia do seu povo, eles pareciam estar cada vez mais superando o luto e conseguindo seguir suas vidas juntos, como mãe e filho unidos sempre, porém quando a noite chegava, eles se escondiam e usavam ervas ou lama para camuflar seus cheiros dos predados que saíam para caçar na escuridão: Os lobos. Como num passe de mágica, o tempo foi passando, mãe e filho seguindo suas rotinas juntos, sem se esquecerem das precauções que tomavam à noite, e durante o dia, eles sentiam-se seguros. O filho cresceu, mas ele continuava jovem, esses seres viviam mai
No momento em que a Daiana parou de falar, ouvi um estrondo vindo debaixo do chão bem ao centro daquele pentagrama invertido feito de sangue. A terra começou a se mover e um buraco se abriu, de lá saiu garras pretas, deformadas e horríveis. Vi chifres saindo de dentro do buraco, em seguida de uma cabeça de bode, corpo de homem e patas também de bode, tudo negro, e um fedor de enxofre exalava nele. Gritos de tormento eram escutados vindos daquela coisa, e em segundos, ele ficou em pé com suas patas horrendas, olhando fixamente para a fêmea ajoelhada. A áurea daquele ser era a mais perversa que já senti na vida, ele era a maldade personificada e eu só conseguia sentir muito, muito medo. Até a Deusa ao meu lado, que a vejo como alguém divino e poderoso, estava paralisada com a presença dele. – Não... se... mova... – Ela sussurrou com a voz trêmula. Meu corpo tremia todo, o coração faltava sair pela boca e eu prendi a respiração. Não sei o que ele pode fazer se descobrir nossa presença,
– KAROLINA! – Daiana gritou e esticou o braço para pegar minha mão, eu a segurei. Uma luz forte cor dourada surgiu atrás de nós duas enquanto fugíamos, mas a fumaça preta atravessou por essa luz como se a estivesse cortando, nossas mãos foram separadas e eu fui atingida por algo invisível extremamente poderoso, então caí de costas para o chão, fiquei em posição fetal agarrada aos meus joelhos de tanta dor. Forcei meus olhos a abrirem e quando consegui, a dois metros de distância estava Daiana caída de bruços com os cabelos esparramados no chão, ela estava inconsciente. Ele a atacou diretamente, eu só peguei um pouco do seu golpe por estar bem perto da Deusa, ela que recebeu quase tudo. Tentei me levantar, mas meu corpo não correspondia, comecei a tossir fortemente, senti um gosto metálico sair pela minha boca e cuspi o sangue no chão. Comecei a me rastejar para perto da Deusa, eu tinha que acordá-la, ela era nossa única chance de sair daqui. Antes que eu a alcançasse, uma fumaça ne
Ainda de joelhos na floresta, eu permanecia perdida em meus pensamentos, tenho que saber por onde começar, não posso mais ignorar os assuntos dos humanos, tenho que ir o quanto antes e principalmente, preciso preparar meu povo e ajudá-los a deter o futuro catastrófico de todos. Olhei para minhas mãos brancas e unhas vermelhas. – Se eu tenho esse poder divino, o que posso fazer com ele? Também consigo ter visões do passado e futuro como quando eu apareci para o Lúcius em sonho, mas como fiz aquilo? E o Lúcius... Não consigo acreditar que ele me rejeitou porque não me ama, ele ama, eu sei que sim, mas preciso descobrir o motivo por trás de sua rejeição. Suspirei. Como eu precisava sentir seu abraço agora, passei tanto tempo acreditando que nunca mais o veria acordado, e agora com a ausência da Daiana me sinto mais sozinha ainda. Não posso contar para ninguém as coisas que presenciei, as pessoas iriam achar que sou louca, mas preciso treiná-las e alertá-las contra um inimigo que só
– Você não pode voltar para lá, não pode permanecer no Palácio Imperial. – Falei na esperança de convencê-lo. Ele me olhou com indiferença. – Eu sei sobre os riscos, mas o Império é meu lar, devo defendê-lo até o final, não posso permitir que aquele monstro domine minha casa. – Mas o Império está em declínio, o que pretende fazer lá? Seu lugar é aqui ao nosso lado, ao lado da Elena. – Você não entende, Karolina. – Ele disse enquanto se sentava na cadeira e apoiava seus braços na mesa. – Se eu for embora, quantas pessoas irão morrer... Sei que fiz um juramento de lealdade para você, mas como Imperador devo isso ao meu povo, depois de séculos que eles ficaram ao meu lado sendo fiéis a mim, mesmo depois de todas as atrocidades que cometi. – E quanto a Elena, ela te ama sabia? – Sentei na cadeira a sua frente. Ele ficou encarando a mulher deitada na cama. – Eu sei que ela me ama, apesar de tudo... E é por ela que eu devo permanecer no Império e defender meu povo, por ela que eu vou p