Capítulo 03

À medida que o Lúcius se acalmava nos meus braços, percebi que ele se tremia muito, sua respiração tornou-se desregular até que ele caiu no chão tão rápido que só pude perceber quando o vi caído nos meus pés.

Vendo aquele homem que antes era forte, musculoso e que tinha uma áurea poderosa, agora não passava de uma pessoa esquelética e fraca, mais fraca que uma criança. Ele deve ter usado muito do restante de suas forças para conseguir vir até aqui e me derrubar no chão, e a adrenalina da raiva que também estava presente, agora se dissipou.

Ajoelhei-me ao seu lado e segurei sua cabeça no meu colo.

– O que está acontecendo comigo? – Sussurrou ofegante.

– Você só está fraco, mas eu posso te ajudar.

– Me ajudar?! – Ele franziu o cenho. – Por favor, me mate! – Suplicou.

– O quê!? Não! – Disse perplexa.

– Eu não aguento mais! Por favor, Karolina, me mate!

– Lúciu, e-eu não posso te matar, não depois de você finalmente estar de volta! Deixe-me ajudá-lo.

Ele balançou a cabeça em negação.

– Por favor... estou cansado de lutar, quero descansar, quero morrer, não suporto mais essas visões, meu pai... os gritos da mamãe... não suporto mais ouvir... – Sussurrou. – Me mate! Você sempre quis me matar, a hora é agora!

– N-Não Lúcius! Eu não consigo! – Disse angustiada. Ele deve ter passado por muita coisa, mas ele tinha que ficar vivo.

– Você me prometeu! – Disse zangado. – Prometeu que me daria uma morte misericordiosa! – O Lúcius escutava tudo que dizíamos enquanto ele estava em coma!?

Ele agitou-se novamente.

– Por favor... Por mim, pela Kamilla, deixe-me ajudá-lo, por favor!

Ele balançou a cabeça novamente, não queria minha ajuda, nem depois que eu falei da Kamilla. Me enfureci, ainda triste.

– Seu egoísta, desgraçado! Não pensa na dor da sua própria filha quando ela souber que você tirou sua vida sem hesitar! Eu devia te matar por isso, Lúcius!

Ele franziu as sobrancelhas, confuso.

– Ela vai chorar se eu morrer? – Perguntou. Balancei a cabeça afirmando. – Você também vai?

– Sim... – Ele suspirou derrotado.

– Tudo bem, ajude-me.

Me alegrei e enxuguei as lágrimas que brotaram no meu rosto. Cortei meu pulso direito com minha garra e depositei nos seus lábios para que ele bebesse, mesmo confuso, Lúcius tomou o sangue que saía. Foquei naquela gota que ele pusera na boca, e quis transmitir tudo para ele, meus sentimentos, pensamentos, lembrança e força, assim ele se recuperaria mais rápido, eu estava mais forte que antes.

Lúcius engoliu somente um fio de sangue que escorria pela ferida, assim que terminou, ele soltou bruscamente meu braço começou a se contorcer e gritar de dor.

– MINHA CABEÇA ESTÁ QUEIMANDO! – Gritava enquanto se debatia no chão. Fiquei perplexa e sem saber o que fazer, não entendi o que havia acontecido. – KAROLINA! – Gritou meu nome por ajuda.

Minhas mãos estavam no ar pensando de alguma forma em ajudá-lo, mas como?? Por que meu sangue estava fazendo isso com ele??

– Lúcius... – Murmurei triste e sem reação.

– FAZ ISSO PARAR! – Ele gritava com as mãos na cabeça arrancando seus cabelos. Chorando, eu tentava fazer com que ele não se machucasse mais, segurando seus pulsos.

De repente, Lúcius soltou sua mão direita e me agarrou. Seus olhos cerrados se abriram e no impulso afastei-me dele, mas ele conseguiu me segurar, me estremeci de medo.

Ele sorriu para mim, era macabro.

Fiquei o encarando com a boca aberta e as sobrancelhas franzidas. E num tom ameaçador, sem vacilar e demonstrar o medo na minha voz disse:

– Quem é você?

Aquela coisa que possuía o corpo de Lúcius ficou me encarando.

– Diga seu nome! – Deixei transparecer fúria na minha voz apesar do terror, e como eu sabia que não era o Lúcius? Por causa dos seus olhos que estavam completamente pretos. Não havia pupila, nem íris dourada, nem a parte branca dos olhos, nada, só um preto, mais escuro que a própria escuridão, não tinha nada da beleza do Lúcius naquele rosto.

– Karolinaa... – Sussurrou.

Ele fechou seus olhos e começou a se contorcer novamente, vi que o corpo magro dele começava a ficar forte novamente, seus músculos foram voltando ao que eram antes, os ossos no rosto desapareceram enquanto as bochechas tornavam-se cada vez mais cheinhas. Até que ele parou de se mexer, ficando imóvel.

– Lúcius? Lúcius? Acorda! – Eu dava batidinhas no seu rosto tentado acordá-lo. – Lúcius, por favor, acorda! – Chequei seu pulso e ainda estava batendo, ao menos uma coisa boa.

– Hum... – Murmurou. Suspirei aliviada.

– Levante-se, vamos! – Falei enquanto o ajudava a se levantar. Ele gemeu baixinho de dor.

Entramos na casa e fomos até um dos quartos, mas o Lúcius bateu sem querer sua cabeça na porta.

– Ai minha cabeça sua Demônia. – Murmurou zangado. Ri aliviada quando ele pronunciou o apelido que só ele me chamava. Esse era o Lúcius que eu me lembrava.

– Vou pegar algo para você comer e recuperar suas energias. – Falei quando ele já estava deitado. Antes que eu pudesse sair do quarto, Lúcius me segurou pela mão, não queria que eu fosse.

– Está tudo bem, eu vou voltar. – O tranquilizei. Relutante, ele me deixou partir.

Voltei ao castelo, mas não entrei, chamei um vampiro que estava fazendo a ronda pelo local e o mandei pegar bastante comida, principalmente de caldo, ele fez o que disse e rapidamente voltei para a cabana sem ser notada.

Lúcius estava sentado na cama com os pés tocando o chão, ele parecia ter se recuperado quase cem por cento. Ele me encarou com seus olhos dourados.

– Trouxe caldo para você. – Ofereci a comida, mas o homem não pegou. – O que foi? – Perguntei confusa.

– Você precisa me alimentar, estou fraco. – Senti que só estava com birra. Fiz um bico de reprovação e comecei a alimentar o bebê.

Lúcius comia com um pequeno sorriso genuíno no rosto, mesmo tentando controlar suas emoções, ele não deve saber que acabou de ser possuído. Quando acabou tudo, tentei persuadi-lo a deitar novamente, mas ele preferiu saber tudo o que tinha acontecido quando estava dormindo.

Contei para ele as mudanças e até o que estava enfrentando com os líderes dos humanos. Às vezes o Lúcius ficava um pouco aéreo pensando ou LEMBRANDO-SE de algo, mas eu sempre pigarreava tentando chamar sua atenção, mesmo que com cautela e observando seus olhos para saber se era ele ou não. Ambos estávamos assustados e não fazíamos ideia do quê exatamente temíamos, mas a companhia um do outro amenizava a situação.

– Se quiser, posso matá-los por você. – Disse com seu humor melhorado, mas sua voz permanecia baixa e rouca. Lá no fundo, o Lúcius só queria se manter são.

– Não! Não quero! – Falei. Ele torceu a boca.

– Você pode abrir uma exceção para os escravos?

– Como assim? – Perguntei confusa.

– Quero ser seu escravo. – Disse num tom normal.

– Do que está falando?

– Por favor, Karolina, me deixa ser seu escravo sexual. – Pediu.

– Babaca! – Lúcius me puxou para seus braços e eu arregalei os olhos surpresa. – O que está fazendo? Me solta!

Ele passou a mão pela minha nuca e eu me apoiei no seu peito exposto, que agora só tinham as cicatrizes das feridas, senti a dureza dos músculos, Lúcius realmente se recuperou com meu sangue e com os alimentos.

A centímetros de distância, observei seus olhos dourados fixos nos meus.

– Faça seus olhos brilharem. – Ele disse baixinho, senti o hálito enroscar na minha boca. Deixei o brilho do vermelho-sangue surgir, Lúcius sorriu e me beijou.

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