Ainda no meio da floresta e longe de todos, eu permanecia sentada, chorando e soluçando. Eu queria muito não sentir isso, esses sentimentos confusos me deixavam sufocada e o único modo de desabafar era entre lágrimas.
Como o Lúcius pôde fazer isso comigo? Na minha cabeça é que ele tem algum motivo por trás da rejeição, mas o quê? E eu estou disposta a enfrentar qualquer coisa por ele, já passei esses meses tentando me manter forte enquanto o Lúcius permanecia em coma, tentei esquecer tudo que passei enquanto era sua escrava, todo o rancor e ódio que tinha.
Chorei mais forte de cabeça baixa.
Funguei e lembrei daquela coisa que possuiu o Lúcius. Foi por causa daquilo que ele não me quis? E o que foi aquilo?
Limpando minhas lágrimas, fiquei de frente à Lua, juntei minhas mãos e comecei a falar umas palavras antigas que meu tio ensinou quando eu era criança.
“O Sol é teu brilho,
a floresta tua escuridão,
o sangue estampado na tua Lua
é o mesmo do teu coração.
Eu vim da terra,
mas fui forjado do fogo
e na água cresceu meu corpo.
Para sempre serei teu servo,
e a Lua no coração eu carrego.
Aqui eu te peço,
Escute meu chamado,
Minha Deusa Daiana
Por ti, eu clamo e estardalhaço.”
Fiquei esperando.
Há anos que não dizia essas palavras, que não clamava pela Deusa da Lua.
De repente, mesmo de olhos fechados, vi um clarão dourado na minha frente. Ela me escutou, ela veio e está aqui, eu podia sentir sua presença.
– Há anos que não escutava seu chamado, Karolina. – Sua voz era serena, mas havia um toque suave de deboche.
Abri os olhos e a vi com roupas douradas, mas a pele era negra, cabelos cacheados e longos estavam soltos e as pontas eram douradas. Sua meia lua vermelha que ficava entre os olhos azuis parecia brilhar um pouco.
Tudo parecia ser surreal! Como que eu poderia estar conversando com a Deusa da Lua?
– Então você escutava sempre minhas preces, mas nunca aparecia para mim.
– Você está enganada, eu aparecia e te chamava, mas você começou a perder a lucidez devido ao luto pela morte do seu tio.
– Verdade, era o que o Lúcius falava. – Baixei um pouco a cabeça quando me lembrei dele, mas eu precisava continuar essa conversa e citá-lo.
Engoli seco, a encarei e continuei falando.
– Hoje eu vi algo.
– Ela está agindo, Karolina. – Ela começou a falar sem que eu dissesse o que vi. – Está com raiva, muita raiva, tudo o que fez para destruir os humanos e lobisomens foi em vão, mas agora ela irá agir diferente, usará todo seu poder para destruí-los, você não tem mais tempo, sua ascensão foi muito tarde. Terá de lutar com o que possui, não vai ser fácil, prepare-se para o pior.
– Quem? Quem é ela? E como conseguiu possuir o Lúcius? – Perguntei um pouco agitada.
– Não posso mostrar quem ela é, mas posso revelar para você quem um dia ela já foi.
A Deusa esticou seu braço e eu peguei na sua mão.
A escuridão da noite sumiu e era de dia, a floresta onde me encontrava estava diferente, parecia ter mais vida. O ar cheirava a rosas, terra e grama e havia alguns pássaros coloridos cantarolando nas árvores, outros voavam. Tudo era mais bonito.
– Onde estamos? – Perguntei para a Deusa da Lua que permanecia ao meu lado, aquela floresta não era a mesma em que estávamos há pouco tempo.
– Na mesma floresta que você tanto ama, mas em uma época diferente.
– Isso é o passado ou futuro?
– Passado. – Me respondeu num tom calmo. – Vamos dar uma volta, Karolina. – Ela começou a caminhar e eu a segui.
Havia animais de raças diferentes que nunca vi na vida, logo eu percebi que eram de raças que foram extintas e algumas flores e árvores estranhas, era tudo mágico.
Umas flores gigantes de um metro de altura me chamaram a atenção e quando estiquei meu dedo para tocá-las, elas de repente abriram algo que parecia ser olhos. No susto, dei um pulo para trás e esbarrei em algo, me fazendo tropeçar em outro galho que parecia ter vida que se rastejava no chão como uma cobra. Assim que caí de bunda no chão, alguns seres pequenos parecidos com morcegos, que tinham orelhas pontudas, cabeças carecas e que eram morenos com olhos grandes, riram alto e outros até colocaram a mão nas suas barriguinhas pequenas de tanto rir. Eles tinham apenas alguns centímetros de altura, eram tão pequeninos que cabiam na palma da minha mão.
– Quem são eles? – Perguntei para a Deusa da Lua enquanto me levantava e limpava as mãos e o bumbum.
– Esses são os morcerix, uma raça parecida com os morcegos.
– Eles foram extintos?
– Sim.
– Como? – Perguntei, ela me encarou e permaneceu calada.
Continuamos o percurso.
Após caminhar por algum tempo apreciando a beleza da floresta e dos animais esquisitos, me deparei com um animal enorme na minha frente a alguns metros de distância, ele estava de lado, pude observar seu corpo e a lateral do rosto.
Ele era mais alto que eu, tinha longos braços humanoides que batiam quase no chão, suas costas eram encurvadas, ele caminhava entre duas patas, mas às vezes precisava da ajuda das mãos da frente para se apoiar. Seu corpo humanoide era sem pelos, sua cabeça era lisa, sem cabelos e ele era magro.
De repente, aquele animal virou-se bruscamente para trás e mesmo sem conseguir olhar para o rosto dele, vi algo peculiar. A cabeça daquele animal batia quase nas costas e ele conseguia virar seu pescoço em um ângulo de 200 graus quase a de uma coruja.
Aquilo me assustou um pouco, porém era fácil de acostumar com aquela imagem, já que eram raças diferentes, então há habilidades diferentes, assim como os humanos e lobisomens.
Algo assustou aquele bicho e então ele correu na direção em que caminhava, olhei para o lado oposto na tentativa de descobrir o que era fiquei surpresa quando vi uma matilha de lobos.
Me ajudem na divulgação da continuação de A Suprema Alfa, por favor S2, ainda têm poucas pessoas que sabem sobre esse livro.
– Esses lobos são diferentes, eles não são tão grandes e fortes como o de costume. – Falei para a Deusa Daiana enquanto os observava. – Estamos em uma época antes do Victor Stevens, o Supremo Alfa que trouxe sabedoria e força para seu povo, que unificou as raças ao invés de lutar, que os aprimorou transformando esses meros lobos em lobisomens, transformando todos vocês em metade lobo e metade homem. Essa matilha que você vê na sua frente, não passa de seres ferozes e um tanto irracionais. – Ela me guiava na direção deles enquanto falava. – E que animal é esse que eles estão perseguindo? – Perguntei. – Eles são os que comandavam o mundo antes de vocês e de qualquer humano. – Eles que estavam acima da cadeia alimentar antes de nós? – Sim. Continuamos seguindo-os e paramos a alguns metros de distância quando os lobos alcançaram aquele ser. O animal, com seus braços longos, era ágil, veloz e forte, no entanto, os lobos estavam em bando e rapidamente o mobilizaram. Comecei a escutar o
Acompanhamos de perto a trajetória da Líder enquanto carregava seu filho consigo, ela estava um pouco ferida devido à luta que teve dentro da caverna, mesmo com dores, ela continuava alimentando e cuidado do seu filhote, mas quando ele pegava no sono, ela chorava. Vi de perto ela brincar com seu filho durante o dia, o ensinava a colher alimentos, a louvar o deus deles, ela passava os costumes e tradições para ele, mesmo com a mancha negra da tragédia do seu povo, eles pareciam estar cada vez mais superando o luto e conseguindo seguir suas vidas juntos, como mãe e filho unidos sempre, porém quando a noite chegava, eles se escondiam e usavam ervas ou lama para camuflar seus cheiros dos predados que saíam para caçar na escuridão: Os lobos. Como num passe de mágica, o tempo foi passando, mãe e filho seguindo suas rotinas juntos, sem se esquecerem das precauções que tomavam à noite, e durante o dia, eles sentiam-se seguros. O filho cresceu, mas ele continuava jovem, esses seres viviam mai
No momento em que a Daiana parou de falar, ouvi um estrondo vindo debaixo do chão bem ao centro daquele pentagrama invertido feito de sangue. A terra começou a se mover e um buraco se abriu, de lá saiu garras pretas, deformadas e horríveis. Vi chifres saindo de dentro do buraco, em seguida de uma cabeça de bode, corpo de homem e patas também de bode, tudo negro, e um fedor de enxofre exalava nele. Gritos de tormento eram escutados vindos daquela coisa, e em segundos, ele ficou em pé com suas patas horrendas, olhando fixamente para a fêmea ajoelhada. A áurea daquele ser era a mais perversa que já senti na vida, ele era a maldade personificada e eu só conseguia sentir muito, muito medo. Até a Deusa ao meu lado, que a vejo como alguém divino e poderoso, estava paralisada com a presença dele. – Não... se... mova... – Ela sussurrou com a voz trêmula. Meu corpo tremia todo, o coração faltava sair pela boca e eu prendi a respiração. Não sei o que ele pode fazer se descobrir nossa presença,
– KAROLINA! – Daiana gritou e esticou o braço para pegar minha mão, eu a segurei. Uma luz forte cor dourada surgiu atrás de nós duas enquanto fugíamos, mas a fumaça preta atravessou por essa luz como se a estivesse cortando, nossas mãos foram separadas e eu fui atingida por algo invisível extremamente poderoso, então caí de costas para o chão, fiquei em posição fetal agarrada aos meus joelhos de tanta dor. Forcei meus olhos a abrirem e quando consegui, a dois metros de distância estava Daiana caída de bruços com os cabelos esparramados no chão, ela estava inconsciente. Ele a atacou diretamente, eu só peguei um pouco do seu golpe por estar bem perto da Deusa, ela que recebeu quase tudo. Tentei me levantar, mas meu corpo não correspondia, comecei a tossir fortemente, senti um gosto metálico sair pela minha boca e cuspi o sangue no chão. Comecei a me rastejar para perto da Deusa, eu tinha que acordá-la, ela era nossa única chance de sair daqui. Antes que eu a alcançasse, uma fumaça ne
Ainda de joelhos na floresta, eu permanecia perdida em meus pensamentos, tenho que saber por onde começar, não posso mais ignorar os assuntos dos humanos, tenho que ir o quanto antes e principalmente, preciso preparar meu povo e ajudá-los a deter o futuro catastrófico de todos. Olhei para minhas mãos brancas e unhas vermelhas. – Se eu tenho esse poder divino, o que posso fazer com ele? Também consigo ter visões do passado e futuro como quando eu apareci para o Lúcius em sonho, mas como fiz aquilo? E o Lúcius... Não consigo acreditar que ele me rejeitou porque não me ama, ele ama, eu sei que sim, mas preciso descobrir o motivo por trás de sua rejeição. Suspirei. Como eu precisava sentir seu abraço agora, passei tanto tempo acreditando que nunca mais o veria acordado, e agora com a ausência da Daiana me sinto mais sozinha ainda. Não posso contar para ninguém as coisas que presenciei, as pessoas iriam achar que sou louca, mas preciso treiná-las e alertá-las contra um inimigo que só
– Você não pode voltar para lá, não pode permanecer no Palácio Imperial. – Falei na esperança de convencê-lo. Ele me olhou com indiferença. – Eu sei sobre os riscos, mas o Império é meu lar, devo defendê-lo até o final, não posso permitir que aquele monstro domine minha casa. – Mas o Império está em declínio, o que pretende fazer lá? Seu lugar é aqui ao nosso lado, ao lado da Elena. – Você não entende, Karolina. – Ele disse enquanto se sentava na cadeira e apoiava seus braços na mesa. – Se eu for embora, quantas pessoas irão morrer... Sei que fiz um juramento de lealdade para você, mas como Imperador devo isso ao meu povo, depois de séculos que eles ficaram ao meu lado sendo fiéis a mim, mesmo depois de todas as atrocidades que cometi. – E quanto a Elena, ela te ama sabia? – Sentei na cadeira a sua frente. Ele ficou encarando a mulher deitada na cama. – Eu sei que ela me ama, apesar de tudo... E é por ela que eu devo permanecer no Império e defender meu povo, por ela que eu vou p
– Moleque imprestável! Culpa da vagabunda da sua mãe você ser assim... Fraco! Desprezível! Uma vergonha para os Alfas Calmon. Paaah! O impacto do tapa no meu rosto me fez cair no chão, senti minha bochecha latejando de dor e uma fina camada de sangue sair do lábio cortado. Meus olhos ficaram lacrimejados. Não posso chorar! Não posso chorar! Não posso chorar!... Meu couro cabeludo começou a arder e no impulso segurei a mão dele que estava na minha cabeça puxando meus cabelos, me obrigando a ficar em pé, porém minhas pernas não correspondem, não consigo permanecer em pé, caio de novo, ele se enfurece mais ainda e chuta minha barriga quebrando uma das minhas costelas. Como eu sou fraco! Não consigo me regenerar, não tenho idade o suficiente, tenho apenas dez anos, não tenho forças contra ele, contra meu pai. A lágrima caiu dos meus olhos. Não consegui me controlar... Não, não, não, não... Não pode ser! – Você está chorando? – Seu tom de voz era de descrença e irritação. Seus olho
Eu matei meu próprio tio... minha mãe está morta... meu pai é um psicopata... eu estou sozinho agora...– Lúcius? – Uma voz bonita ecoou pelo quarto no escuro, não tenho visão ampliada de lobo, não consigo enxergar.Olhei na direção da voz e vi um par de olhos vermelhos flamejantes fixos em mim. Poderia ser um demônio para me levar ao inferno depois de ter matado essas pessoas?Apertei meus joelhos contra o peito e prendi a respiração.É um demônio e ele vai me levar e me torturar.A silhueta do demônio foi aparecendo gradualmente e era uma mulher de camisola branca com cabelos longos na cor vermelho-escarlate, fiquei embasbacado. Ela era linda! Tão linda quanto uma deusa, tão radiante quanto o pôr do sol, ela era... um anjo... meu anjo... O cheiro de sangue que ecoava pela sala se dissipou, eu só conseguia sentir o perfume de rosas vermelhas que vinha dela. A dor do luto e a solidão foram embora, através do seu semblante eu via paz, a paz que minha mãe um dia me prometeu, que eu tant