Eu não conseguia acreditar no que estava vendo. Como isso aconteceu? Não deveria ter sido uma versão alternativa de mim? Mas eu não fiz isso! Não pode ser!Kamilla estava deitada de olhos fechados num caixão pequeno com rosas ao redor, havia uma protuberância no seu pescoço indicando que foi quebrado, Karolina permanecia paralisada de joelhos olhando sua pequena filha adormecida.Todos na sala estavam sem reação, ninguém falava nada.Aos poucos, Karolina levantou e se aproximou da Kamilla, ela começou a acariciar seu rosto para saber se o que estava vendo era verdade, e pela primeira vez, eu senti suas emoções devido ao vínculo de sangue.Confusão, dor, tristeza... Me senti afetado com tudo aquilo.Karolina levantou sua filha e a abraçou, acariciou seus cabelinhos e a beijou.– Kamilla? – Silêncio. – Filha? – Sussurrava em lágrimas. – Mamãe está aqui... Mamãe voltou, desculpe a demora... Por que você não responde?Não consegui me controlar e me aproximei delas, Karolina olhou para mim
– Como você a possuiu? – Perguntei olhando para Clara que agora se parecia com Anealix na minha frente.Todos se entreolharam confusos com a minha pergunta, exceto Alec.– Na masmorra em Valiska, quando ela atacou o assassino do seu irmão, o luto e a fúria foram perfeitos para se tornar alvo fácil.– Então isso foi um plano seu?!– Digamos... que agir contra sua filha foi sim um pouco pessoal.Engoli seco impedindo das lágrimas aparecerem, eu não ia chorar na frente dela, nunca ia dar esse gosto.– Como? – Perguntei séria.– Você pegou algo que me pertence.– O livro?– Sim.– Você fez tudo isso por causa de um livro? – Perguntei incrédula.Ela riu.– É claro! Foi um presente que ganhei de alguém especial.Senti como se fosse desmaiar novamente.– Você matou minha menina por causa de um livro? Anealix, você não tem escrúpulos? – Indaguei.– Escrúpulos? – Perguntou zangada. – Escrúpulos em razão de quê?! Eu não sigo essa falsa moral e ética de vocês para fingir que a sociedade é boa e
Após matar o último gárgula na minha frente, mais outros apareceram correndo na minha direção. Era hora de sair daqui, porém o que me fez virar para trás foi o grito desesperado da Karolina ao ser lançada no mar pelo Lúcius. Ele continuava olhando para baixo, tendo o último vislumbre dela. Eu sabia que ele sofria, mas foi uma decisão que tomou após acordar, no entanto, não queria deixar ninguém para trás, se sacrificar por mim... aquilo era errado, muito errado! Aproximei do Lúcius, ficamos frente a frente, nos encarávamos, mas não era um olhar hostil que sempre tínhamos por sermos inimigos natos, por sempre, desde milhares de anos, dois alfas se tratarem como inimigos comuns. Mas agora era diferente, estávamos lutando pela mesma causa, tentávamos salvar nossos amigos e, principalmente, a mesma mulher que amamos. Eu queria persuadi-lo a vir conosco, mas nada saia da minha boca, eu só pude encará-lo, e com um olhar infeliz, Lúcius deu um aceno para mim, um simples aceno de cabeça, um ú
Uma semana após o isolamento de Karolina“Memento homo, quia pulvis es et in pulverem reverteris.” – Genesis 3, 19.O corpo quando seus órgãos param de funcionar torna-se um pedaço de carne, a vida, história e todo conhecimento adquirido daquela pessoa é insignificante, restando somente as lágrimas e lembranças dos seus parentes e amigos, pois do pó viemos e ao pó retornaremos.Meus olhos continuavam vidrados naquela idosa morta deitada numa palha que foi depositada no chão com sua neta adolescente chorando ao lado.Mais uma.– São quantos com ela? – Perguntei para Felipe ao meu lado.– Vinte. E apresentam os mesmos sintomas, tosse, falta de ar, respiração ofegante, vômito, fraqueza e por último morte.– Quantas pessoas estão doentes?– Por enquanto cem. Mas alguns já relataram alguns sintomas.Olhei ao redor, vinte mortos somente idosos, cem doentes, mais outros apresentando sintomas... Tosse, falta de ar...Respirei fundo e senti mais uma vez aquele incômodo no peito, porém estava m
Três dias depoisRespirei o ar profundamente fazendo meus peitos subirem e descerem com extrema facilidade, as pessoas que anteriormente estavam doentes se curaram como passe de mágica, o incômodo em meu peito foi embora, as mortes cessaram, todos voltaram a ficar bem novamente.Esse foi o resultado do sangue da Karolina na água após o ritual que ela fez, eu também tive que beber, mesmo compartilhando o sangue um do outro, era diferente com um ritual incluso. Agradeci mentalmente por isso, já que não nos víamos mais.Porém, mesmo com o ar puro em meus pulmões, o corpo já chegava ao seu limite.Primeiro os olhos ardendo, segundo foi a dor de cabeça pela falta de sono, terceiro os tremores e agora a fadiga. O alimento escasso também me deixava mais doentio.Deitei na cama de novo com o quarto escuro e silencioso, mas não tirei nem sequer as botas para não ter trabalho de levantar, respirei fundo tentando me concentrar para dormir, fechei os olhos, preciso dormir nem que seja um pouco...
Alec Boldwin– Eu sei que você consegue me ouvir... ao menos é o que imagino... Minha ideia inicial quando cheguei aqui era arrombar essa porta... e te tirar daí, nem que fosse arrastada pelos cabelos.Ri olhando para aquela porta trancada, por um momento achei ter ouvido algo.– Aaah Deuses... – Suspirei. – Queria poder te ver agora... mas sei como se sente, eu também pensei que não restava mais nada quando perdi meu pai, sem família, sem parentes, somente eu tendo que liderar uma tribo... Mas... mas sabe o que me fez não desistir?! Foram as outras pessoas que me amavam... tanta gente que me amava, que se sacrificariam por mim... Karolina, eu... eu te entendo... Eu sei a dor do luto, sei como é acreditar que nada mais na vida importa, que você não importa... Será mesmo? Foi essa pergunta que fiz para mim quando me sentia sozinho. Será mesmo que não importo? Será mesmo que eu era tão insignificante diante dos olhos do meu pai? Era isso que ele desejava para mim? Que eu fosse infeliz?
– Essas pessoas não merecem sua devoção... mate-as! Use-me e as mate! Você conhece os feitiços, sabe como falar... diga! Uma palavra sua é o suficiente para possamos matar todos de uma vez... Fale... Fale os feitiços!– Cale a boca! Não irei mais te alimentar com meu sangue seu livro idiota!Paah!– Estou te avisando! Mais uma vez será um murro no lugar de um tapa. Comporte-se!Silêncio.– O que está acontecendo com o ar?Nenhuma resposta.Cortei a ponta do dedo e lhe ofereci sangue.– Mais.– Só depois que me responder.– “Aer Immundus”.– Ar impuro? Explique.– Mais.– Explique primeiro.– É um feitiço que contamina o ar e todos aqueles que respiram.– Pode reverter?– Todo feitiço pode ser quebrado com outro feitiço. Basta saber qual... – Ouvi uma gargalhada vinda do livro.– E você não vai me dizer...Ele riu novamente.Paah!A gargalhada parou.– Em todos os milênios da minha existência ninguém havia me tratado com tanto desrespeito.– Vou bater de novo se não me disser como rev
Na maior cidade dentro do território humano, chamada Valiska, localizada próxima à fronteira que separa o território dos lobos, estava presente a mais alta patente do clero na principal Basílica, todos reunidos com seus fiéis para escutarem o tão esperado discurso do Papa João César. Aos gritos e palmas de euforia dos fiéis, ele apareceu sentado em uma cadeira de ouro sendo carregado pelos seus escravos em cada lado daquela cadeira pesada enquanto uma escrava mulata de corpo curvilíneo caminhava ao lado da cadeira luxuosa do papa com uma bandeja na mão, oferecendo-lhe frutas. Apesar de todo luxo, euforia e alegria ao seu redor, o papa não estava contente com os acontecimentos dessas semanas e ele precisava da ajuda do seu povo para rever e reparar os absurdos causados por aqueles que antes eram seus aliados, no entanto quebraram o pacto feito há milhares de anos por seus antepassados e se juntaram com o ser amaldiçoado que não tem alma e que carrega a morte para onde quer que vá, o D