Ele me de um selinho demorado, e com a língua pediu passagem, cedi, ele estava sendo bem delicado e calmo dessa vez, até que nosso beijo se aprofundou enquanto sugávamos os lábios um do outro, lambendo. Lúcius me apertou mais contra seu corpo e soltou um gemido baixo na minha boca, era mais de alívio do que excitação. Passei a mão pela sua nunca e depois acariciei seus cabelos, eu estava extasiada e feliz por tê-lo de volta, por ter conseguido salvar sua vida, era como se nosso beijo profundo fosse a prova concreta de dizer para nós dois que estava tudo bem. Nossas respirações ficaram ofegantes, mas nenhum queria interromper o beijo, ao contrário, nos apertávamos mais ainda enquanto eu permanecia sentada nos seus braços.
Com as mãos no seu cabelo e outra na nuca enquanto ele me segurava forte pela cintura, buscamos ar nos pulmões enquanto nos abraçávamos de olhos fechados.
Até que ele respirou fundo, seus pensamentos o consumiam, ele parecia estar sofrendo por algo. Lúcius estava estranho, comecei a me perguntar se ele ia conseguir voltar ao normal, mas eu faria qualquer coisa para ajudá-lo.
– Você está linda, Karolina. – Sussurrou ao meu ouvido.
Sorri.
– Desculpe ter atrapalhado sua festa. – Falou com a voz grossa e melancólica. Eu encarei seu rosto.
– Você não atrapalhou, ao contrário, foi o meu presente de coroação.
Ele passou a mão pelas mechas do meu cabelo atrás da orelha.
– Eu escutei seus soluços enquanto chorava, senti o calor da sua mão no meu peito, você me fez voltar. Pude perceber o quanto estava triste, eu sempre fui o causador das suas lágrimas, sempre te fazia ficar triste, não quero mais te fazer sofrer, foi por isso que voltei, para concertar as coisas com você, para te deixar feliz. – Ele continuava fazendo carinho em mim.
– Lúcius... Eu estou bem.
– Não, Karolina... – Ele me interrompeu. – Sempre que eu te obrigava a ficar comigo via sua tristeza... Eu sei que me ama, que sempre me amou, por isso que nunca fugiu antes, só foi embora depois que a Maria Elena apareceu e te falou sobre como vocês poderiam conhecer o mundo e viver livres e felizes, ela mesma que arquitetou os planos de fuga.
– Como você sabe disso?
– Eu percebia que você ficava cada vez mais triste e distante quando estava nos meus braços, você evitava sentir meu toque, eu sabia que tinha alguma coisa a ver com a Elena, ela tinha a coragem que você precisava para me deixar e em você existia a força e violência que ela precisava.
– Se você sabia disso, então por que permitia que ficássemos juntas?
– Talvez lá no fundo porque eu queria te ver feliz e se fosse para você ser feliz longe de mim que assim seja, mas não suportei quando te vi partir, então te quis te volta. Mas a questão não é essa...
– Onde você está querendo chegar, Lúcius? – Senti um aperto no coração, o Lúcius parecia estar tomando alguma decisão importante.
– Só quero seguir seu conselho, Karolina. Você mesma já admitiu que nosso amor é tóxico, e mesmo que não admita, você estava feliz quando foi morar na Tribo Boldwin e... quando ficou com o Alec.
– Lúcius... – Murmurei balançando a cabeça.
– Ele é a melhor opção para você. – Sua voz ficou serena e eu engoli seco.
– Ele te faz feliz... – Murmurou. Eu continuava negando e meus olhos encheram de lágrimas. – Eu sei que no começo você o queria porque ele te dava tudo que sempre quis receber de mim.
– Alec vai ser gentil e carinhoso com você, vai cuidar bem de você, tratá-la com respeito e dedicar-se a demonstrar o amor que sente por você todos os dias. – Bati na sua mão tirando-a do meu cabelo, tentei me levantar, ele não permitiu.
Passei tanto tempo tentando trazê-lo de volta, dediquei todos os meus dias cuidando dele para ser rejeitada no final?!
O Lúcius sabia que era ele quem eu tinha escolhido para ser meu companheiro no momento em que o vi acordado, a profecia seria completada e os Alfas enfim encontrariam suas companheiras, pois se algum deles tivessem o vínculo de companheirismo com alguém, jamais sucumbiriam a mim, então assim seria mais difícil me tornar uma Suprema Alfa, mas agora, eu já tinha aceitado meu destino, só faltava cumprir essa parte da profecia, Alec enfim encontraria sua companheira, no entanto, o Lúcius pretende me rejeitar.
– É melhor assim, Karolina, ele é ideal para você. Alec é um homem correto e honesto, eu sei que você vai ser feliz.
– Mas podemos tentar, sei que vai ser diferente, Lúcius. Você nunca desistiria de mim assim tão fácil.
– As coisas são diferentes agora, Karolina. Você está comandando tudo e me quer como um companheiro, como um marido, quer construir uma família comigo e a Kamilla, mas por acaso já passou pela sua cabeça se eu quero me tornar seu marido ou pai de família? – Ele fez uma careta, como se aquilo fosse ridículo. – Esse não sou eu, nunca vou ser assim, e eu não quero passar a minha vida inteira criando falsas expectativas para você acreditando que pode me mudar ou me controlar.
– Mas você já se casou uma vez.
Ele riu.
– Sim, e eu arranquei a cabeça dela do pescoço. – Franzi as sobrancelhas o olhando perplexa por ele sorrir da Arlete, mesmo ela sendo como era, Arlete teve seus motivos para nos odiar.
– Viu? Achou que eu fosse ter pena da Arlete ou algo assim? Você é tola, Karolina, por acreditar que eu me tornaria um bom homem. Não pense que por sua causa vou mudar.
– Não! Eu nunca pensei que você fosse se tornar um homem íntegro e honesto por minha causa... – Engoli seco sentindo meus olhos arderem. – Mas você me fez um juramento de lealdade.
Ele riu novamente.
– Você não aceitou meu juramento. – Fiquei boquiaberta.
– Eu estava brincando com você, Lúcius.
– É assim que uma soberana deve agir? Brincando com uma pessoa que está jurando lealdade e sua vida a ela?
Fiquei sem palavras.
– Por que você me beijou então? – Perguntei. Ele revirou os olhos.
– Você já sabe a resposta.
– Quero ouvir da sua boca. – Insisti.
– Por que eu te quero, sempre vou querer, sou viciado no teu cheiro e corpo, mas não vou me casar com você e nem aceitá-la como minha companheira. – Ele falou devagar palavra por palavra. Ainda séria, apertei a mandíbula, mas minha respiração ficou ofegante e enxurradas de lágrimas saíram dos meus olhos.
– E-Então por que se ajoelhou a mim? – Minha voz saiu embargada.
– Ora, Karolina, eu estava em desvantagem e você já liderava o exército do Alec e do Drakon.
– Só por isso? – Sussurrei.
– Não. – Por um segundo fiquei aliviada, mas ele continuou falando. – Eu também poderia tirar vantagem com isso, já que você admitiu que me amava.
– E não tirou vantagem agora por quê?
– Por que tenho outros planos para minha vida, você foi coroada e pretendia criar o vínculo de companheirismo comigo, não quero ser seu cachorrinho subordinado.
– Você é realmente desprezível, Lúcius.
– Não sei por que ainda se surpreende com isso.
– E o que pretende fazer depois que me rejeitar, hãn? – Levantei-me.
– Não sou seu subordinado, não devo explicações a você.
Balancei a cabeça para cima e para baixo o encarando de queixo erguido, mas as lágrimas escorriam pelo meu rosto.
Ele começou a falar novamente:
– Eu, Lúcius Calmon... – Meu peito doía tanto, fiquei sem ar, boquiaberto com aquilo, não entendia como o Lúcius poderia me rejeitar daquela forma, pensei que fosse isso que queria. – abro mão do nosso vínculo e rejeito você, Karolina Stevens, como minha companheira.
Não conseguia mais manter a aparência, então baixei a cabeça e comecei a soluçar.
Eu ia continuar amando-o, pois o amor que sinto por ele não tem nada haver com vínculo nenhum, foi algo que aconteceu naturalmente, nos apaixonamos sem sermos obrigados a nos apaixonar pelos feitiços da Deusa da Lua, e era isso que eu mais admirava em nós dois, pois escolhemos nos amar por livre e espontânea vontade, mas isso ia mudar no momento em que sua predestinada aparecesse e o Alec permanecer ao meu lado. Eu ainda era livre para me apaixonar, mas ele não, não mais.
Talvez nunca tenha me amado de verdade, ele só deve ter confundido obsessão com amor e percebeu isso depois que despertou do coma.
Ele não esboçava nenhum sinal de tristeza.
A rejeição estava doendo, eu sabia que podia ser feliz ao lado do Alec, pois já vi nós dois juntos, no futuro alternativo eu sabia que o tinha escolhido para ser meu companheiro e ao olhar nosso retrato, eu via nossa felicidade estampada no rosto, até um filho com ele eu ia ter se não fosse pelas tragédias ocorridas, mas agora era diferente, eu pensei que deixando para trás todo o passado e tentando ser feliz um dia de cada vez, Lúcius e eu poderíamos tentar, mas me enganei.
– Vá! Volte para a sua festa e aproveite ao lado das pessoas que te amam. A partir de hoje você não precisa se preocupar comigo. Viva a sua vida, Karolina, me esqueça! – Disse seco.
As suas palavras me deixaram arrasada, eu realmente tinha passado todo esse tempo na cabana ao seu lado dando total atenção a ele, mas não deixei de cumprir meu trabalho.
Saí da cabana sem olhar para trás, o deixando sozinho, calado e perdido em seus pensamentos. Entrei na floresta procurando ficar um pouco sozinha para pensar, mais uma noite que era para ser perfeita, no entanto o Lúcius arrancou a felicidade de mim.
Ainda no meio da floresta e longe de todos, eu permanecia sentada, chorando e soluçando. Eu queria muito não sentir isso, esses sentimentos confusos me deixavam sufocada e o único modo de desabafar era entre lágrimas. Como o Lúcius pôde fazer isso comigo? Na minha cabeça é que ele tem algum motivo por trás da rejeição, mas o quê? E eu estou disposta a enfrentar qualquer coisa por ele, já passei esses meses tentando me manter forte enquanto o Lúcius permanecia em coma, tentei esquecer tudo que passei enquanto era sua escrava, todo o rancor e ódio que tinha. Chorei mais forte de cabeça baixa. Funguei e lembrei daquela coisa que possuiu o Lúcius. Foi por causa daquilo que ele não me quis? E o que foi aquilo? Limpando minhas lágrimas, fiquei de frente à Lua, juntei minhas mãos e comecei a falar umas palavras antigas que meu tio ensinou quando eu era criança. “O Sol é teu brilho, a floresta tua escuridão, o sangue estampado na tua Lua é o mesmo do teu coração. Eu vim da terra, mas
– Esses lobos são diferentes, eles não são tão grandes e fortes como o de costume. – Falei para a Deusa Daiana enquanto os observava. – Estamos em uma época antes do Victor Stevens, o Supremo Alfa que trouxe sabedoria e força para seu povo, que unificou as raças ao invés de lutar, que os aprimorou transformando esses meros lobos em lobisomens, transformando todos vocês em metade lobo e metade homem. Essa matilha que você vê na sua frente, não passa de seres ferozes e um tanto irracionais. – Ela me guiava na direção deles enquanto falava. – E que animal é esse que eles estão perseguindo? – Perguntei. – Eles são os que comandavam o mundo antes de vocês e de qualquer humano. – Eles que estavam acima da cadeia alimentar antes de nós? – Sim. Continuamos seguindo-os e paramos a alguns metros de distância quando os lobos alcançaram aquele ser. O animal, com seus braços longos, era ágil, veloz e forte, no entanto, os lobos estavam em bando e rapidamente o mobilizaram. Comecei a escutar o
Acompanhamos de perto a trajetória da Líder enquanto carregava seu filho consigo, ela estava um pouco ferida devido à luta que teve dentro da caverna, mesmo com dores, ela continuava alimentando e cuidado do seu filhote, mas quando ele pegava no sono, ela chorava. Vi de perto ela brincar com seu filho durante o dia, o ensinava a colher alimentos, a louvar o deus deles, ela passava os costumes e tradições para ele, mesmo com a mancha negra da tragédia do seu povo, eles pareciam estar cada vez mais superando o luto e conseguindo seguir suas vidas juntos, como mãe e filho unidos sempre, porém quando a noite chegava, eles se escondiam e usavam ervas ou lama para camuflar seus cheiros dos predados que saíam para caçar na escuridão: Os lobos. Como num passe de mágica, o tempo foi passando, mãe e filho seguindo suas rotinas juntos, sem se esquecerem das precauções que tomavam à noite, e durante o dia, eles sentiam-se seguros. O filho cresceu, mas ele continuava jovem, esses seres viviam mai
No momento em que a Daiana parou de falar, ouvi um estrondo vindo debaixo do chão bem ao centro daquele pentagrama invertido feito de sangue. A terra começou a se mover e um buraco se abriu, de lá saiu garras pretas, deformadas e horríveis. Vi chifres saindo de dentro do buraco, em seguida de uma cabeça de bode, corpo de homem e patas também de bode, tudo negro, e um fedor de enxofre exalava nele. Gritos de tormento eram escutados vindos daquela coisa, e em segundos, ele ficou em pé com suas patas horrendas, olhando fixamente para a fêmea ajoelhada. A áurea daquele ser era a mais perversa que já senti na vida, ele era a maldade personificada e eu só conseguia sentir muito, muito medo. Até a Deusa ao meu lado, que a vejo como alguém divino e poderoso, estava paralisada com a presença dele. – Não... se... mova... – Ela sussurrou com a voz trêmula. Meu corpo tremia todo, o coração faltava sair pela boca e eu prendi a respiração. Não sei o que ele pode fazer se descobrir nossa presença,
– KAROLINA! – Daiana gritou e esticou o braço para pegar minha mão, eu a segurei. Uma luz forte cor dourada surgiu atrás de nós duas enquanto fugíamos, mas a fumaça preta atravessou por essa luz como se a estivesse cortando, nossas mãos foram separadas e eu fui atingida por algo invisível extremamente poderoso, então caí de costas para o chão, fiquei em posição fetal agarrada aos meus joelhos de tanta dor. Forcei meus olhos a abrirem e quando consegui, a dois metros de distância estava Daiana caída de bruços com os cabelos esparramados no chão, ela estava inconsciente. Ele a atacou diretamente, eu só peguei um pouco do seu golpe por estar bem perto da Deusa, ela que recebeu quase tudo. Tentei me levantar, mas meu corpo não correspondia, comecei a tossir fortemente, senti um gosto metálico sair pela minha boca e cuspi o sangue no chão. Comecei a me rastejar para perto da Deusa, eu tinha que acordá-la, ela era nossa única chance de sair daqui. Antes que eu a alcançasse, uma fumaça ne
Ainda de joelhos na floresta, eu permanecia perdida em meus pensamentos, tenho que saber por onde começar, não posso mais ignorar os assuntos dos humanos, tenho que ir o quanto antes e principalmente, preciso preparar meu povo e ajudá-los a deter o futuro catastrófico de todos. Olhei para minhas mãos brancas e unhas vermelhas. – Se eu tenho esse poder divino, o que posso fazer com ele? Também consigo ter visões do passado e futuro como quando eu apareci para o Lúcius em sonho, mas como fiz aquilo? E o Lúcius... Não consigo acreditar que ele me rejeitou porque não me ama, ele ama, eu sei que sim, mas preciso descobrir o motivo por trás de sua rejeição. Suspirei. Como eu precisava sentir seu abraço agora, passei tanto tempo acreditando que nunca mais o veria acordado, e agora com a ausência da Daiana me sinto mais sozinha ainda. Não posso contar para ninguém as coisas que presenciei, as pessoas iriam achar que sou louca, mas preciso treiná-las e alertá-las contra um inimigo que só
– Você não pode voltar para lá, não pode permanecer no Palácio Imperial. – Falei na esperança de convencê-lo. Ele me olhou com indiferença. – Eu sei sobre os riscos, mas o Império é meu lar, devo defendê-lo até o final, não posso permitir que aquele monstro domine minha casa. – Mas o Império está em declínio, o que pretende fazer lá? Seu lugar é aqui ao nosso lado, ao lado da Elena. – Você não entende, Karolina. – Ele disse enquanto se sentava na cadeira e apoiava seus braços na mesa. – Se eu for embora, quantas pessoas irão morrer... Sei que fiz um juramento de lealdade para você, mas como Imperador devo isso ao meu povo, depois de séculos que eles ficaram ao meu lado sendo fiéis a mim, mesmo depois de todas as atrocidades que cometi. – E quanto a Elena, ela te ama sabia? – Sentei na cadeira a sua frente. Ele ficou encarando a mulher deitada na cama. – Eu sei que ela me ama, apesar de tudo... E é por ela que eu devo permanecer no Império e defender meu povo, por ela que eu vou p
– Moleque imprestável! Culpa da vagabunda da sua mãe você ser assim... Fraco! Desprezível! Uma vergonha para os Alfas Calmon. Paaah! O impacto do tapa no meu rosto me fez cair no chão, senti minha bochecha latejando de dor e uma fina camada de sangue sair do lábio cortado. Meus olhos ficaram lacrimejados. Não posso chorar! Não posso chorar! Não posso chorar!... Meu couro cabeludo começou a arder e no impulso segurei a mão dele que estava na minha cabeça puxando meus cabelos, me obrigando a ficar em pé, porém minhas pernas não correspondem, não consigo permanecer em pé, caio de novo, ele se enfurece mais ainda e chuta minha barriga quebrando uma das minhas costelas. Como eu sou fraco! Não consigo me regenerar, não tenho idade o suficiente, tenho apenas dez anos, não tenho forças contra ele, contra meu pai. A lágrima caiu dos meus olhos. Não consegui me controlar... Não, não, não, não... Não pode ser! – Você está chorando? – Seu tom de voz era de descrença e irritação. Seus olho