Capítulo 02

– Droga! – Esbravejei quando tropecei em algo, mas me segurei em uma árvore antes de cair. Tirei meus sapatos e continuei correndo segurando o vestido dos dois lados para não tropeçar na bainha. Meus cabelos soltos voavam com a coroa em cima da cabeça sem sair. Eu enxergava a floresta com o reflexo do luar que batia nas árvores e no chão. Minhas emoções se intensificavam: raiva, medo, cansaço, confusão...

Vi as tochas da aldeia que estava praticamente vazia por causa da festa de coroação, corri para a cabana em que o Lúcius encontrava-se, abri a porta e arfei quando vi que a cama estava vazia.

Cadê o Lúcius?

Sai do quarto e olhei ao redor o procurando, mas não vi nada além das casas e da floresta ao redor.

Fechei os olhos e tentei farejá-lo, mas seu cheiro estava muito fraco. Fiquei frustrada.

Então usei a ligação de sangue que temos para procurá-lo do mesmo jeito que usei quando eu briguei com o Betha Lucas e procurei o Lúcius em frente à fronteira das duas tribos.

Abri os olhos e olhei para o lado da cabana, corri entrando na floresta novamente.

Ele estava indo em direção à minha casa que morei com o Dindo que era próxima ao castelo.

– Droga! – Xinguei de novo por ter perdido meu tempo vindo até a aldeia.

Correndo novamente, minha vontade era de me transformar em loba para correr mais rápido, mas não quero ficar nua.

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Já ofegante, olhei ao redor do jardim de rosas vermelhas que construí, mais a frente estava a casa do meu tio reformada, arregalei os olhos quando olhei entre o jardim e a porta de entrada.

– Lúcius? – Sussurrei incrédula vendo-o em pé na minha frente, de costas para mim.

Aproximei com passos lentos e os olhos fixos nele, parei do seu lado que continuava olhando para a casa. Ele foi se virando lentamente na minha direção e olhou para mim com o semblante neutro, não esboçava nenhuma emoção, mas estava estranho.

– Karolina... – Falou meu nome baixinho. Quando escutei sua voz, me emocionei e no impulso dei um sorriso genuíno de felicidade e o beijei.

Nossos lábios estavam colados e meus braços estavam em volta do seu pescoço, mas... Espera...

Abri meus olhos para saber por que ele não me correspondia.

Lúcius olhava para mim com ódio! Seu rosto magro estava contorcido de fúria. De repente senti sua mão na minha garganta impedindo a passagem do ar. Arregalei meus olhos.

– Como ousa usá-la contra mim?! – Ele falava entredentes. – Como ousa aparecer com o rosto dela? Estou farto dos seus joguinhos, das suas alucinações! Como ousa aparecer aqui com o rosto da Karolina? Desrespeitá-la! Quem você pensa que é? – Grunhiu. Em seguida, senti meu corpo no ar sendo arremessada por ele.

Mesmo magro e fraco, Lúcius ainda possuía a força de um Alfa, um líder, uma fera.

Gemi com o impacto nas costas, e as sobrancelhas franzidas em confusão. O que diabos está acontecendo?

Ouvi seus passos se aproximarem, mas ele parou e começou a respirar de forma irregular, com a boca aberta, como se estivesse cansado, e de fato, estava, além disso, ele ainda estava fraco.

– Lúcius, sou eu, a Karolina. – Falei enquanto me sentava. Lúcius me encarou com os olhos brilhando de ódio e sorriu para mim com desdém.

– Você precisa muito mais que isso para me enganar. – Ele continuava falando baixo e grosso.

Enganá-lo? Ele pensa que eu sou outra pessoa se passando por mim? E por que o Lúcius não acredita que sou eu? O que fiz para ele achar isso?

Pensa, Karolina, pensa...

Claro! O beijo! Eu nunca tinha a iniciativa de beijá-lo, sempre era ele, eu só o correspondia. Levantei a cabeça para encará-lo novamente.

– Lúcius, eu te beijei por euforia, você ficou em coma mais de um mês, então tive o impulso de te beijar, principalmente depois da nossa última conversa, lembra?

Levantei-me devagar, com as mãos na frente tentando me aproximar, ele permanecia na defensiva.

– Na cabana, onde você dizia que era nosso quarto, você estava bebendo cerveja e eu me sentei ao seu lado. Eu te dizia que não gostava da sua nova versão, você se lembra disso?

Ele me olhou rapidamente, quase imperceptível, da cabeça aos pés e estreitou os olhos, seu semblante era de raiva, desprezo e nojo. Senti-me péssima em vê-lo me encarando assim. Olhei para meu corpo e não tinha nada demais, só meu vestido.

Vestido... Sim! Claro! Ele sabe que eu não gosto de usar vestidos.

– Lúcius, eu não gosto de usar vestidos, mas esse aqui é por causa da minha coroação. – Falava com as mãos na barriga.

Ele franziu o cenho um segundo antes de voltar ao normal, provavelmente ficou confuso por eu saber o que ele estava penando.

Lúcius tem passado todo esse tempo se apegando aos mínimos detalhes para não ser enganado por quem?

– Cale a boca! Você não é ela! – Aumentou o volume da voz. Parei de tentar me aproximar. Fiquei angustiada.

– Lúcius, me escuta! – Minhas mãos estavam levantadas em súplica. – Eu sei que te desprezava, que te odiava, mas...

– Me odiava? – Ele zombou. – Então quer dizer que essa outra Karolina não me odeia? Hahahahaha... Você é muito patético tentando imitá-la!

Suspirei e baixei meus braços.

– Lúcius... sou eu... a Karolina... – Ele continuava com o mesmo semblante. – E-Eu te odeio... – Falei derrotada. – E vou te odiar pelo resto da vida... – Murmurei e olhei para o chão. – Mas eu também me odeio... – Engoli seco. – Me odeio porque te amo...

O Lúcius está completamente conturbado e eu não sei lidar com essa situação.

– K-Karolina? – Levantei o rosto e o vi com as sobrancelhas franzidas, confuso.

– Sou eu, Lúcius. – Falei apontando as mãos para mim.

– É você mesmo? – Perguntou. Balancei a cabeça afirmando. – Me prove.

– M-Minha comida favorita é churrasco... – Comecei a falar várias coisas aleatórias. – A primeira vez que me beijou eu o mordi que tirei sangue dos seus lábios... éééé... Quando você tentou transar comigo pela segunda vez dormimos juntos na cabana e mesmo sem conseguir fazer nada comigo, você passou o dia inteiro acordando entre risos e murmurando porque eu te perguntei o que era transar... Q-Quando a Ayla fugiu do Bruthus, ele ficou arrasado e você ao invés de dizer alguma palavra de consolo, o chamou de cão sem dono na frente de todos e eu que estava servindo-o não consegui controlar o riso, pensei que fosse me repreender, mas você riu junto comigo, foi a primeira vez que o vi sorrindo... Eu sou a única pessoa que acha engraçado seu humor negro, Lúcius... – Disse.

– Desgraçado! Como você consegue imitá-la tão bem? – Seus olhos voltaram a brilhar de raiva. Lúcius avançou para mim novamente.

Respirei fundo controlando o choro que queria sair.

– Lúcius! Por favor! Sou eu! – Dizia angustiada enquanto dava passos para trás, eu não queria ter uma luta com ele. – E-eu amo a Lua. Amo admirar a Lua. Eu passava noites chorando escondida no escuro enquanto admirava o luar. Por favor! – Minhas sobrancelhas estavam franzidas de tristeza e ele mesmo fraco tentava me golpear.

– CALA A PORRA DESSA BOCA, SEU FILHO DA PUTA! – Ele gritava quase chorando desesperado, tentando me acertar.

Eu sabia que ele não ia parar, então pensei na noite da cabana, na noite em que ele se ajoelhou diante de mim e jurou lealdade depois de eu ter dito que o amava.

Segurei seus dois pulsos que estavam no ar tentado me acertar, o olhei com os olhos brilhando minha cor vermelho escarlate e falei num rugido:

– Ajoelhe-se perante a mim, Alfa! – Tentei ter autoridade com ele, assim como tenho com os demais.

Lúcius ficou paralisado, sua boca estava aberta e ele olhava para mim perplexo.

– Seus olhos... – Murmurou. – Eles estão brilhando... Brilhando... Ninguém consegue fazer brilhá-lo... só... só ela... a Karolina... – Lúcius sussurrava para ele mesmo.

– Lembra-se da noite em que você estava chorando por ter matado as pessoas que gostava quando tinha dez anos e eu apareci com meus olhos brilhando te trazendo paz naquele mar de sangue e pessoas mortas? – Soltei seus pulsos e coloquei as mãos no seu rosto. – Você pensou que eu fosse um demônio e você tem razão, eu sou um demônio, sou seu demônio do bem. – Dei um pequeno sorriso para ele.

– Karolina... – Murmurou. Eu balancei a cabeça confirmando.

Lúcius começou a relaxar os músculos tensos, então eu o abracei e senti seus braços passarem pela minha cintura lentamente. Dei um suspiro de alívio.

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