DAVINA
Perdi a noção do tempo que passei olhando para a porta, mas já fazia alguns minutos. Muitos minutos.
Enxuguei minhas lágrimas, peguei o bolo da Amber e fui até a casa do diabo.
O medo que normalmente sinto quando passo por homens armados que guardam o caminho até a casa de Blake não estava lá como sempre, meus sentidos estavam entorpecidos pelo que minha irmã acabara de fazer. Os doces que vovó fez já haviam sido entregues, junto com os cupcakes e salgados, então não precisei fazer mais de uma viagem. Porém, a pessoa que deveria me receber não estava lá e tive que pedir ajuda ao meu amigo de infância.
A última pessoa no mundo com quem eu queria conversar agora.
—Você estava chorando.— Não era uma pergunta, mas neguei.
—Tenho que ir. — disse assim que recebi o resto do dinheiro.
—Eu conheço você, Davina— Timmy agarrou meu braço suavemente, mas com força suficiente para me fazer parar e olhar para ele.
—Sua impressão.—Murmurei, já arrependido de ter pedido sua ajuda.
—Duvido. Éramos amigos, lembra? Conheço cada parte de você.— Um dos rapazes que estava passando ouviu o último trecho da conversa, soltou risadas lascivas, assobios e brincadeiras. Fiquei com raiva e puxei meu braço, mandando tanto ele como o garoto que eu costumava gostar para o inferno.
Sem olhar para trás, deixei Timmy falando sozinho. Tenho merda suficiente na minha caminhonete para me preocupar com seus sentimentos hoje, quem sabe, nunca. Eu desço a ladeira correndo, quase tropeçando em meia dúzia de bolas de plástico espalhadas pelo chão, me equilibrando no último segundo.
— Tem que ser a Davina.— rosna um dos meninos, acho que é o filho da senhora Sirilla, a caixa de supermercado onde vovó compra a maioria de seus ingredientes. Lanço-lhe um olhar que deveria fazê-lo chorar e correr para casa, mas isso não acontece. Dane-se isso. Essas crianças estão todas cobertas de confiança e falta de pulso.
—Ainda.— Digo um pouco antes de sapatear em cima das bolinhas e espalhá-las ainda mais.
— Me agradeça depois.— Pisco para o segundo garoto e uma carranca se forma em seu rosto.
— Eu estava ganhando!— ele protestou encolhendo os ombros.
Ops.
—Eu fui.
Quando atravesso a porta da frente, mamãe se j**a em meus braços já com lágrimas nos olhos e quase perco o equilíbrio. Parte de mim quer fingir que não sei de nada, mas a outra parte, aquela que sempre vence, opta por enxugar as lágrimas da mulher que deu a vida e pedir desculpas.
Ela me dá um olhar confuso, no entanto. Ela passa as costas da mão pelas bochechas e balança a cabeça de um lado para o outro.
—Do que você está falando, Davina? Por que esse pedido de desculpas?
—Mamãe...
—Olha o que eu achei!— o pai sai gritando lá de dentro, balança, braço levantado enquanto segura um envelope.— Sua filha estúpida teve coragem de deixar uma carta!— grita direto para a esposa.
—Não fale assim sobre ela!— mamãe diz, ganhando um olhar de desaprovação do marido, que balança a cabeça com claro desagrado.
—A filha é minha também, Christie.— Seu tom é tranquilo, mas tão amargo que deixa um gosto ruim na boca. Para um passo intervir, me posicionando entre eles sem que eles percebessem.— Embora eu não tenha conseguido criá-lo.— Papai fala, e sou o único que ouve a tristeza em suas palavras.
A última parte também foi dita com culpa.
—Você sempre julgou minha garota.— ela declara com a voz embargada pelas lágrimas, o ressentimento transparecendo em cada palavra.
Afasto o sentimento ruim que quer dominar meu peito e solto um suspiro.
—Pryia é adulta, Christie. Nosso erro dela foi dar tapinhas em sua cabeça quando ela precisava de correção.
Mamãe o ignora e pega o papel da mão dele antes que eu tenha chance de aliviar o clima descartando o envelope e desembrulhando a carta, ela sussurra as palavras com uma expressão que vai da esperança à dor muito rapidamente.
— Mãe.— Tento me aproximar, tocando seu ombro com cautela. Seus últimos exames não mostraram nada de errado com sua saúde, mas após anos lutando contra o câncer, tudo que posso fazer é sentir medo de perdê-la.
Um reflexo da criança Davina
— Querida.— ela toca meu rosto.— Sua irmã...— Eu não deixo isso acabar, passo meus braços em volta do pescoço dela e esfrego a palma da minha mão em suas costas.
— Estou aqui.—Eu falo.
Pronunciando uma série de palavrões, papai entra e arranca o papel das mãos dela.
Um longo intervalo de tempo se passa enquanto ele lê as palavras de Pryia, na verdade, tenho a sensação de que ele está lendo, relendo e memorizando cada linha. Quando seus olhos encontram finalmente os meus, não há nada lá.
Sem raiva.
Sem dor de cabeça.
Qualquer coisa.
E isso só me preocupa mais.
Então papai libera uma risada malvada e rouca, descartando a carta sem dizer uma palavra.
—Edmund!— minha mãe salta dos meus braços e se lança sobre ele antes que eu possa contê-la.
—Não.— ele diz, os olhos fixos nos dela. — A partir de hoje só temos uma filha.
Sua declaração é como me afogar de novo, minha respiração sumiu e quase posso sentir meus pulmões se despedaçando.
Acontece que meus pés continuam no chão e ninguém virá em me socorro desta vez.
Aí o pior acontece, ele finalmente me vê.
—Davina —Eu apenas fiz uma careta de volta.— Não me decepcione como sua irmã.
E assim, com apenas uma frase, meu pai derrotou todos os meus sonhos.
No entanto, ele sai antes que eu possa responder, deixando-me sozinho com mamãe e sua dor intensa.
— Alguém começou a terceira guerra?— Vovó aparece ao meu lado, avaliando-a da cabeça aos pés.—Aposto que foram aqueles...
—Mãã-eee! M-Minha filha foi embora.
Com o canto do olho, a vovó procura ajuda, mas no momento não consigo raciocinar para explicar a bagunça que sua neta mais velha fez e o quão profundamente ela arruinou minha vida.
—Eu realmente sinto muito.— Eu sussurro antes de correr o mais rápido possível, melhor correr.
Corro até não conseguir ver a casa onde cresci.
Eu corro e fico de pé, toda dolorida.
Corro até cruzar o limite do bairro.
A Via Rose St sempre foi o limite por onde nós, pessoas sem tantos zeros em nossas contas bancárias, podíamos passar. Isso sempre foi um lembrete claro com todas as lojas de luxo e prédios sofisticados do outro lado, mas minha irmã e eu costumávamos quebrar as regras e nos misturar enquanto crescíamos, ríamos e fingíamos que pertencíamos a uma família rica.
Nunca funcionou.
Nossas roupas eram muito simples, sem marca e quase sempre amassadas.
Com o passar dos anos percebi que não poderia passar por um deles e parei de ir.
Minha irmã nunca fez isso, e eu cedi às suas ações mesquinhas, deixando-a continuar atuando e fingindo até perceber o quão distante ela estava de sua essência, de quem ela realmente era.
Agora ela se foi e eu mesmo terei que consertar todas as lacunas.
Como o casamento dos nossos pais.
Esfrego as mãos nas coxas, massageando os músculos enquanto aprecio o quão longe estou de casa e a ironia de correr direto para cá. Meus lábios estão secos devido ao esforço excessivo e não estou nem perto de aliviar a raiva que se acumula em meu peito.
—Como ela pode?— grito, aproveitando o pouco movimento na praça bem equipada.
—E o que ela fez?— Eu pulo para trás ao som da voz, esbarrando acidentalmente em seu dono.
—Amado pai.—falo com a mão no peito.
O cara arqueia uma sobrancelha.
—Você é religiosa?— questiona e bufa.
—A religião é para os indecisos, eu tenho fé. Muita.— Eu falo, então percebo que acabei de me explicar para um estranho e paro. —Preciso ir.
—Você não vai me responder?
Paro meus passos, olho por cima do ombro e espero.
—O que ela fez?— ele repete, o tom interessado trazendo um estranho conforto.
Eu avalio o cara da cabeça aos pés, lenta e apreciativamente, até que ele pigarreia e cora. Seus olhos me lembram um dia chuvoso, cinzento e ameaçador, mas o resto é como o padrão ideal do príncipe do cinema. Que nojo.
—Ela foi embora.— Declaro, e algo muda em sua expressão.
Quase como se estivesse satisfeito com a resposta.
—Eu gostaria de ter essa escolha.— digamos, então se vira e vai embora.
Surpresa.
Surpresa.
Ele entra no prédio mais luxuoso.
Merda clichê.
Caminho até o banco de madeira mais próximo e sento de frente para o horizonte, quando o sol desaparece decido voltar para casa.
Má escolha. O tempo está tão ruim como sempre.
Mamãe ainda parece precisar de algo forte para se acalmar, e vovó parece dez anos mais velha. Porém, o único que me nota é papai, mas ele não parece melhor que elas, embora tente demonstrar o contrário e finja que não se importa.
No entanto, posso sentir sua alma quebrada na maneira como ele rapidamente evita meu olhar por muito tempo.
—Ei.— toco o ombro dele com o meu. — Como ela está?
—Viva.— é tudo o que ele diz antes de entregar o copo de água e o comprimido em minha mão e sair pela mesma porta por onde acabei de entrar. Não penso muito sobre a função da droga antes de direcioná-la para mamãe e observá-la beber.
— Minha cabeça dói.— ela reclama, encarando o vazio a sua frente e então vovó vai até a maleta que guardamos todos os remédios e tira uma caixa aberta.
— Me dê isso.— vovó aponta para o copo meio cheio na mão de mamãe e eu entrego para ela.
—Não é incrível?— mamãe pergunta quando vê dois comprimidos em sua mão. —Estes são fracos.— ela murmura, engolindo as duas pílulas redondas antes que eu possa protestar e fazer algo a respeito.
Quase dez minutos depois, mamãe ainda reclama de dor de cabeça e repete o nome de Pryia sem parar, enquanto vovó manda ela calar a boca.
Eu amava minha irmã, mas a odeio agora. Odeio o quão triste ela deixou mamãe.
No fundo, eu sabia que Pryia não era a única culpada pela infelicidade da nossa família. A culpa foi dele.
O fantasma.
O namorado que não queria assumi-la e a fez se sentir inferior. A raiva queimou em minhas veias com as batidas do meu coração, e eu sabia, de alguma forma, que ele era o culpado pela ruína da minha família.
GUTEMBERG (Fantasma)GutembergTodo governo tem leis.Todo crime tem um propósito.Toda sociedade tem regras.É pura lógica, estamos tão obcecados com a ideia de liberdade que não vemos o óbvio. Ainda somos os mesmos. Acontece que é muito mais. É fácil fingir que não há controle. As leis do mundo do crime são simples, mas aqui há uma coroa, espinhosa e ensanguentada, um cinto de munição embaixo da cabeça, e cada decisão é minimamente pensada para causar o menor impacto. O que também significa que as ordens do rei devem ser obedecidas.Limpo a garganta, coçando a nuca enquanto Timmy limpa sua pistola. Como se a noite passada nunca tivesse existido.—Você está bem?— ele pergunta com um sorriso provocante nos lábios, feliz o suficiente para me fazer opinar quantas vezes ele já participou de torturas. Muitos devem ser a resposta. Para alguém como Timmy, nascido e criado na pobreza, os episódios de violência surgem naturalmente. Mas não para mim.Tento não parecer que estou prestes a vomit
Gutemberg (Fantasma) Deslizo o ferrolho do portão lentamente, verificando por cima do ombro se alguma luz acendeu desde que tranquei a porta da frente, quando percebo que não, solto um suspiro de alívio e olho para baixo. Encaro meus pés descalços e sujos, então, cenas da noite passada explodem dentro da minha cabeça e o cheiro de sangue me atinge.O sangue está grudado na minha roupa e pele, uma nota clara do que fiz. Na minha mão direita, meu telefone vibra sem parar. Esmago a vontade de atender a ligação e jogo o aparelho fora, ele b**e na parede e cai no chão.Meus pais possuem um lugar importante na sociedade, um lugar herdado da família do meu pai, um lugar que minha mãe nunca vai abrir mão, uma posição que nunca tive a opção de negar. Para todas as pessoas importantes de San Diego, eu sou Gutemberg Ramsey, um promissor advogado com propensões para esportes perigosos, romances rápidos e ativista nato. Para a parte menos favorecida de West City, um lugar que chamamos de Colina,
A coberta que escolhi hoje cedo, a mesma que venho usando desde os treze anos e acolhi como favorita depois que vovó confessou que costurou sozinha, mal cobre a cama, deixando um terço do colchão amostra. Acontece que, eu me recuso a trocar a coberta e pegar uma nova.Mesmo com a porta do quarto trancada, posso ouvir a discussão dos meus pais, todo dia eles encontram uma razão nova para brigarem, mesmo que o motivo seja algo bobo como deixar a casca da laranja na pia. É besteira, todos nós sabemos que mamãe culpa papai pela partida de Pryia. Mais uma besteira. Minha irmã sempre odiou esse lugar e partiria cedo ou tarde, aconteceu que foi cedo o bastante para deixar mamãe louca.Me jogo de volta na cama, me afogando no meio dos travesseiros alinhados. Minha irmã costumava implicar comigo sobre isso na infância, indicando o quanto eu era estranha por ter tantos travesseiros ao meu redor que não sobrava espaço para mim no colchão.A lembrança me faz olhar para o lado, para sua cama vazia
GUTEMBERG Meus olhos apertam na direção de Timmy e me concentro na tatuagem em seu pescoço, é apenas um número, um oito, mas ele nunca explicou o significado para qualquer um. Nós dois estamos tendo mais uma discussão por causa dela, sua pequena protegida e minha mais nova obsessão. Se ele apenas soubesse o que sei sobre sua queridinha. — Você é quem continua falando dela. — respondo e seu maxilar aperta. Ele está um passo de me bater no rosto, a única coisa que impede é o seu estado debilitado. Eu estava me divertindo com nosso pequeno debate até que ele começou a falar meu outro nome, não o verdadeiro, aquele que ninguém aqui deveria ouvir. — Cala a boca, porra! Não existe Fantasma aqui, apenas Gutemberg. Lembre-se disso, ninguém pode saber sobre minha outra vida. Tenho certeza que ele pode ver que ultrapassou uma linha, mas não haverá pedidos de desculpa. Posso enxergar nos seus olhos que ele fará qualquer coisa para me afastar de Davina, incluindo, me chantagear. Preciso pens
DAVINA Eu não deveria beber. Pelo menos, não deveria beber nada alcoólico antes de ter a idade correta. Acontece que, eu precisava de uma bebida. Muito. A conversa que tive com Timmy três dias atrás no hospital tanto me aterrorizou quanto criou certa esperança, o que é loucura, já que ele me fez prometer ficar longe de Gutemberg Ramsey sob ameaça, sim, Gutemberg Ramsey, eu digo seu nome completo porque ele não está presente, aliás, já repeti seu nome inúmeras vezes desde que descobri e não pretendo parar. Ele também pode ser um Fantasma, considerando que nunca o tinha visto antes daquele dia no hospital e nunca fiquei tão assustada na presença de alguém. Assustada e de quatro. Eu quase sofri um infarto quando ele abriu a porta do quarto e caí de joelhos no chão na posição mais humilhante. Urgh. Inacreditável. Pouso meus olhos nos três pontinhos piscando no celular, Sissy está digitando desde que contei para ela sobre o ex da minha irmã, ter uma vida dupla. Eu não tinha certeza
DAVINAEstou tão imersa na conversa com Sissy que apenas noto a confusão ao meu redor quando já é tarde demais. Minha mãe grita com meu pai, defendendo Pryia e culpando-o, novamente, a novidade caótica é que ele responde com a mesma intensidade. Quase alcanço meus fones de ouvido antes de ela mandá-lo embora de casa aos berros. Num instante, pulo da cama e me apresso até a sala para evitar um desastre maior. Também estou chegando no meu limite com eles, é como se meus pais tivessem sido substituídos por seres de outro planeta. Antes da Priya partir, não me recordo de presenciar brigas entre eles, na verdade, mal se comunicavam além do necessário. Penso que o casamento deles não ia bem e a saída repentina da minha irmã foi o estopim.— O que vocês estão fazendo? Todos os vizinhos vão ouvir!— Fique fora disso, Davina. — meu pai resmungou, parecendo desorientado. Ao se aproximar dele, percebi o motivo. Ele estava bêbado, algo cada vez mais frequente.— Seu pai perdeu todo nosso dinheir
GUTEMBERGPassei o dedo pela página do livro uma última vez, decorando a frase final e refletindo sobre ela um segundo antes de dizer adeus a história.Se alguém me perguntar, eu não curto livros. Uma mentira que inventei e reinventei várias vezes para apagar a memória de uma mãe altruísta e amável que não existe mais.Para os sites de fofoca, sou o herdeiro despojado e aventureiro. Para os membros e irmãos da facção que faço parte, sou a sombra, a lâmina,o Fantasma. A maioria não sabe de onde vim e qual minha real função, mas todos buscam por mim.Mas no meu quarto, eu sou amante de romances contemporâneos. Tudo começou com biografias, depois livros de aventura e mistério, então, de alguma forma, esbarrei nos romances.Descanso a cabeça no travesseiro e resgato meu celular entre os lençóis, assim que o aparelho ilumina, o nome de Meia-noite aparece. Ele quer que eu volte para a Colina e lide com seu novo mascote, Aaron Taylor. Digito um não enorme, porque eu não sou uma m*****a babá
DAVINAA praça estava deserta. Nem mesmo o som de uma brisa ousava romper o silêncio. As luzes amareladas dos postes projetavam sombras longas e inquietas, distorcendo o contorno dos bancos e das árvores esparsas. Meu coração batia como uma tempestade abafada. Olhei para ele com ódio. Fantasma. Esse apelido me vinha à mente com tanta naturalidade quanto o desprezo que eu sentia. Se Gutemberg tinha sumido com minha irmã, então agora eu sumiria com a paz dele.Me agachei, apertando o caco de vidro que tinha achado no chão mais cedo. Só um golpe no espelho retrovisor... só isso, eu repetia na cabeça. A ideia de destruir alguma coisa dele acendia uma fúria sombria que eu tentava controlar.Mas antes que pudesse agir, ouvi o som familiar da porta de um carro se abrindo. Ele desceu devagar, como quem já esperava por algo. Sua silhueta se destacou contra a luz do poste, alta e tranquila. Ele parecia sempre estar em controle, sempre um passo à frente, como se eu fosse a garota rebelde que ele