Gutemberg (Fantasma)
Deslizo o ferrolho do portão lentamente, verificando por cima do ombro se alguma luz acendeu desde que tranquei a porta da frente, quando percebo que não, solto um suspiro de alívio e olho para baixo. Encaro meus pés descalços e sujos, então, cenas da noite passada explodem dentro da minha cabeça e o cheiro de sangue me atinge.
O sangue está grudado na minha roupa e pele, uma nota clara do que fiz.
Na minha mão direita, meu telefone vibra sem parar.
Esmago a vontade de atender a ligação e jogo o aparelho fora, ele b**e na parede e cai no chão.
Meus pais possuem um lugar importante na sociedade, um lugar herdado da família do meu pai, um lugar que minha mãe nunca vai abrir mão, uma posição que nunca tive a opção de negar. Para toda as pessoas importantes de San Diego, eu sou Gutemberg Ramsey, um promissor advogado com propessões para esportes perigosos, romances rápidos e ativista nato. Para a parte menos favorecida de West City, um lugar que chamamos de Colina, sou o braço direito direito do traficante local.
Meia-noite, assim como eu, não tinha intenção de entrar no submundo do crime.
Acontece que, tudo mudou quando Blake morreu, seu meio-irmão por parte de pai e ex chefe do tráfico da Colina. Ele tinha acabado de descobrir sobre o irmão quando foi brutalmente assassinado na nossa frente, Meia-noite e eu assistimos seus últimos suspiros como dois garotos assustados que éramos até que a realidade bateu.
Um homem tinha sido assassinado na nossa frente! Eu entrei em pânico mesmo com toda a erva que fumei.
Ele disse que eu podia sair, não era a minha luta e eu não precisava cumprir a promessa.
Mas ele era meu amigo de infância, sua mãe havia acabado de falecer de câncer e eu não podia deixá-lo soinho.
Nós dois fizemos o que precisava ser feito, enterramos seu irmão em um ferro-velho e ele assumiu a liderança da Colina. No início, nenhum de nós dois sabia o que fazer,os homens de Blake eram leais e não aceitaram bem a desculpa que criamos, mas Timmy nos ajudou, por alguma razão, Blake contou-lhe sobre o irmão mais novo e ele consegiu convencer os outros sobre a nossa historia.
Se ele desconfia que o chefe morreu, não deixa transparecer. Mas eu sei que é questão de tempo até a história bater no ventilador e voltar para nos morder.
Fecho os olhos por um segundo e sinto a brisa noturna.
— Você está ferido?— a pergunta me pega desprevenido, principalmente porque o responsável por ela deveria estar do outro lado da cidade, não aqui. Abro os olhos lentamente e encaro Meia-noite, uma rápida avaliação e constato que ele não está muito melhor do que eu no quesito aparência. Seu cabelo está gorduroso, grudado na testa, seu rosto contém tantos arranhões e ematomas que mal o reconheço, então tem as roupas, a blusa azul está praticamente coberta de sangue.
— O que aconteceu? — rebato, olhando para os lados. Ele não deveria estar aqui, não fazia parte do plano.
— Sanches morreu, Timmy está ferido e não estou afim de conversar. Entra no carro.
— Como assim, o Sanches morreu? O cara é um animal, o homem mais forte que você tem.
Ele fecha os olhos, o lábio superior tique.
— Era. Ele era o homem mais forte que eu tinha. Agora, pare de falar e entra no carro.
Fico mais um segundo olhando para ele, até que decido que não é uma pegadinha e corro para pegar meu celular quebrado do chão e subo no carro.
O caminho é regido por um silêncio sufocante e fedido.
O homem do meu lado está perdido dentro da própria cabeça, revivendo cenas que não tenho certeza se quero ouvir. Ele não é Huxley agora, meu amigo de infância, ele é Meia-noite por completo. Obscuro e frio. Eu já traçei o meu limite e não quero ir além e empurrar por respostas e detalhes, apesar de que, noites como essa estarão no meu fututo e não posso evitar.
O contrário do que imaginei, não voltamos direto para a casa na Colina, mas na antiga casa de sua vó e tudo que posso imaginar é o pior.
—Ei. — o chamo quando desliga o carro, segurando seu braço. — O que estamos fazendo aqui? — pressiono, checando os arredores. Ele demora um pouco mais do que o normal, mas acaba revelando que deixou Timmy aqui. — E se alguém te ver?
— E daí? Essa casa é minha, Fantasma. Ninguém sabe da minha ligação com o tráfico.
Bufo.
— Não, mas não sabemos se alguém nos viu naquela noite. — ele puxa o braço do meu aperto e me encara com os olhos semicerrados.
— Eu cresci nesse bairro, brinquei com os filhos e netos dessas pessoas, então, embora, alguns não me achassem digno o suficiente para dividir a calçada porque eu era adotado, ninguém vai levantar o dedo e dizer que sou o chefe de uma organização agora. Todos acham que passei os últimos anos viajando pelo mundo, não do lado sujo e pobre da cidade.
— Você coloca muita fé nessas pessoas.
— O aposto disso, meu amigo. Eu perdi a fé há muito tempo.
Encaro suas costas enquanto ele desce do carro e some dentro da escuridão, até que o vejo pulando o muro. Reviro os olhos.
Bastardo.
Ele foi inteligente o suficiente para estacionar nos fundos da casa, onde poucos ou nenhum vizinhos podem nos flagrar, mas minha intuição diz para ficar em alerta.
— Merda. — resmungo antes de sair do carro e fazer o mesmo trajeto.
Pulo o muro com facilidade, aterrizando no vasto jardim. Dou uma breve olhada no canteiro de rosas que costumava enfeitar quase todo o muro do lado de dentro e sorrio quando percebo que, apesar de todo o tempo, meu amigo pagou para que alguém cuidasse do lugar.
Puxo meu celular do bolso, começando a me arrepender de ter batido ele na parede e tento fazer o merdinha funcionar. A tela está arruinada com machas escuras e rachaduras.
Quando percebo que não tem mais jeito para o celular, caminho até a casa, que na verdade é uma mansão de dois andares e observo, resgatando a lembrança do lugar. A entrada possui duas colunas e a arquitetura lembra alguns prédios da Grécia antiga.
Um passo para dentro e o grito de Timmy me faz travar no porta.
Droga.
Quando Meia-noite falou que ele estava ferido, eu esperava algum furo de bala nas pernas ou braços, mas esse tipo de grito parece de algo maior e mais doloroso.
— Entra, porra! — Meia-noite grita e me agarra pela camisa para dentro, batendo a porta atrás de mim com força. Meus olhos vão dele para o homem ensanguentado no sófa.
— Ele não parece bem. — falo e me arrependo em seguida, percebendo o quão pálido ele está. — Precisamos chamar o médico. — acrescento um segundo depois, caminhando até me ajoelhar de frente a Timmy e erguer sua camisa para checar o ferimento. Parece feio. Muito feio.
— Sério? E falar o quê? Olha, eu preciso que você venha até minha casa e costure o ferimento de bala do meu amigo? Não seja idiota, Gutemberg. — Meia-noite explode, jogando punhais com os olhos na minha direção. Aperto meus punhos e parto para cima dele.
— Do que você me chamou? — empurro seu peito para trás.
— Você ouviu! Tudo que você faz é reclamar e choramingar feito uma criança desde que entrou para organização, vivendo sua vida dupla como se não houvesse consequências. Mas você sabe o quê!? Eu te dei uma escolha, então você precisa lidar com a consequências! — ele rosna cada palavra, aparentemente tudo estava guardado e o consumindo por dentro.
Bato palmas, parecendo tão louco quanto ele.
— Eu fiz tudo isso por você, seu bastardo ingrato! Você era o meu melhor amigo e precisava de mim.
— Não, você não vai jogar a culpa em mim tão facilmente. Tudo o que você sempre desejou foi uma desculpa para não seguir os passos do seu pai, então me seguiu quando percebeu que a única maneira de fugir da sua vidinha programada era virar um bandido!
— E você simplesmente aceitou o legado de um irmão que mal conhecia por amor?Me poupe, Huxley. Você é tão egoísta quanto eu. Sua desculpa de vingar o irmão morto é só para disfarçar seu desejo por sangue e destruição, bastardo doente. — tenho certeza que apertei a tecla errada assim que a última palavra sai da minha boca, principalmente porque prometi nunca falar sobre suas tendências psicóticas. Porém, somos interrompidos por Timmy, que desaba no chão ao tentar se levantar.
— Merda. — Meia-noite resmunga, correndo para ajudar Timmy.
— Blake está morto? — Meia-noite e eu travamos no lugar, ambos ajoelhados ao lado do corpo ensanguentado do nosso companheiro. Nossos olhares se encontram e depois encaro Timmy, confimando com a cabeça. Ele pragueja e amaldiçoa, mas permite que o ajudemos a voltar para o sófa. — Vamos encontrar um médico. — eu digo.
— Vou ligar para Darius. — Meia-noite resmunga, tirando o celular do bolso e se afastando para a direção da cozinha. Sua postura está tensa enquanto ele digita no celular, mas essa é nossa melhor opção. Até três meses atrás, tínhamos um médico em quem podíamos confiar, mas ele foi morto durante uma invasão mal organizada e não encontramos um novo substituto. Darius era o médico que cuidava da mãe adotiva de Huxley, um cara honesto que estou rezando para não fazer tantas perguntas.
— Fantasma? — Timmy chama, parecendo ainda mais pálido.
— Cara, acho melhor você não falar.
— Eu preciso. — diz, agarrando a gola da minha blusa.
Suspiro, afastando sua mão de volta para sua barriga.
— Você perdeu muito sangue, melhor guardar energia.
— É sobre Davina. — meu corpo enrijece. Eu não quero falar ou pensar nela.
— Não.
— Por favor, eu preciso que você faça algo por mim. — suspiro, sabendo que ele provavelmente não tem muito tempo se Darius não chegar aqui rápido, tipo agora. Seus lábios estão brancos, isentos de cor, seu rosto está pálido e a vida parece escorrer a cada segundo dos seus olhos.
— O quê?
— Eu sei que você tem ido atrás dela, observado sua rotina e pretende usá-la para se vingar de Pryia. — pressiono meus lábios juntos, porque ele não deveria saber da minha pequena obsessão por Davina. Ninguém deveria. — Ela não é como a irmã, Gutemberg.
Bufo.
Aposto que ele pensa assim, talvez eu deva contar sobre seus encontros com o professor então? Manchar a imagem pura que ele tem de sua pequena princesa intocável, mas o que eu ganharia com isso?
Dou de ombros no lugar.
— Prometa que não vai atrás dela.
Não.
— Do que você está falando, cara?
— Prometa que se eu morrer, você não chegará perto dela novamente.
Franzo o cenho.
Ele não pode está falando sério.
— Por favor, Fantasma. Você me deve.
Fecho os olhos.
Droga.
— Tudo bem, se você morrer, eu deixo sua princesinha livre.
Não morra, porra!
Vinte minutos depois, Dr. Darius chega e consegue parar o sangramento de Timmy e retirar a bala, mas precisamos levar ele para o hospital devido toda a quantidade de sangue que perdeu. Meia-noite paga uma pequena fortuna para todo o lance da bala ser ignorado e nenhum funcionário olha na nossa direção duas vezes, quando decido que abusei o suficiente da sorte, escuto uma enfermeira falar o nome do meu pai e preciso parar para ameaçá-la. Felizmente, tudo ocorre bem.
Menos para a enfermeira, é claro.
Ela com certeza pedirá demissão e mudará para outro país, talvez outro continente, apenas para ficar longe de mim.
Quando chego em casa, tomo um banho rápido e preparo um sanduíche.
Sem celular, me rendo ao notebook e acesso a rede social de Davina. A chamo para conversar assim que ela fica online, só que para ela eu não sou Gutemberg ou Fantasma, apenas Sissy.
Uma garota legal e introvertida.
O fake ideal para enganar garotas tolas.
— Bom, vamos ver o que você aprontou hoje, ratinho. — falo comigo mesmo, digitando a pergunta que estou me remoendo para saber a noite toda.
“ Você finalmente cedeu ao seu professor?”
DAVINAA coberta que escolhi hoje cedo, a mesma que venho usando desde os treze anos e acolhi como favorita depois que vovó confessou que costurou sozinha, mal cobre a cama, deixando um terço do colchão amostra. Acontece que, eu me recuso a trocar a coberta e pegar uma nova.Mesmo com a porta do quarto trancada, posso ouvir a discussão dos meus pais, todo dia eles encontram uma razão nova para brigarem, mesmo que o motivo seja algo bobo como deixar a casca da laranja na pia. É besteira, todos nós sabemos que mamãe culpa papai pela partida de Pryia. Mais uma besteira. Minha irmã sempre odiou esse lugar e partiria cedo ou tarde, aconteceu que foi cedo o bastante para deixar mamãe louca.Me jogo de volta na cama, me afogando no meio dos travesseiros alinhados. Minha irmã costumava implicar comigo sobre isso na infância, indicando o quanto eu era estranha por ter tantos travesseiros ao meu redor que não sobrava espaço para mim no colchão.A lembrança me faz olhar para o lado, para sua cama
GUTEMBERG Meus olhos apertam na direção de Timmy e me concentro na tatuagem em seu pescoço, é apenas um número, um oito, mas ele nunca explicou o significado para qualquer um. Nós dois estamos tendo mais uma discussão por causa dela, sua pequena protegida e minha mais nova obsessão. Se ele apenas soubesse o que sei sobre sua queridinha. — Você é quem continua falando dela. — respondo e seu maxilar aperta. Ele está um passo de me bater no rosto, a única coisa que impede é o seu estado debilitado. Eu estava me divertindo com nosso pequeno debate até que ele começou a falar meu outro nome, não o verdadeiro, aquele que ninguém aqui deveria ouvir. — Cala a boca, porra! Não existe Fantasma aqui, apenas Gutemberg. Lembre-se disso, ninguém pode saber sobre minha outra vida. Tenho certeza que ele pode ver que ultrapassou uma linha, mas não haverá pedidos de desculpa. Posso enxergar nos seus olhos que ele fará qualquer coisa para me afastar de Davina, incluindo, me chantagear. Preciso pens
DAVINA Eu não deveria beber. Pelo menos, não deveria beber nada alcoólico antes de ter a idade correta. Acontece que, eu precisava de uma bebida. Muito. A conversa que tive com Timmy três dias atrás no hospital tanto me aterrorizou quanto criou certa esperança, o que é loucura, já que ele me fez prometer ficar longe de Gutemberg Ramsey sob ameaça, sim, Gutemberg Ramsey, eu digo seu nome completo porque ele não está presente, aliás, já repeti seu nome inúmeras vezes desde que descobri e não pretendo parar. Ele também pode ser um Fantasma, considerando que nunca o tinha visto antes daquele dia no hospital e nunca fiquei tão assustada na presença de alguém. Assustada e de quatro. Eu quase sofri um infarto quando ele abriu a porta do quarto e caí de joelhos no chão na posição mais humilhante. Urgh. Inacreditável. Pouso meus olhos nos três pontinhos piscando no celular, Sissy está digitando desde que contei para ela sobre o ex da minha irmã, ter uma vida dupla. Eu não tinha certeza
DAVINAEstou tão imersa na conversa com Sissy que apenas noto a confusão ao meu redor quando já é tarde demais. Minha mãe grita com meu pai, defendendo Pryia e culpando-o, novamente, a novidade caótica é que ele responde com a mesma intensidade. Quase alcanço meus fones de ouvido antes de ela mandá-lo embora de casa aos berros. Num instante, pulo da cama e me apresso até a sala para evitar um desastre maior. Também estou chegando no meu limite com eles, é como se meus pais tivessem sido substituídos por seres de outro planeta. Antes da Priya partir, não me recordo de presenciar brigas entre eles, na verdade, mal se comunicavam além do necessário. Penso que o casamento deles não ia bem e a saída repentina da minha irmã foi o estopim.— O que vocês estão fazendo? Todos os vizinhos vão ouvir!— Fique fora disso, Davina. — meu pai resmungou, parecendo desorientado. Ao se aproximar dele, percebi o motivo. Ele estava bêbado, algo cada vez mais frequente.— Seu pai perdeu todo nosso dinheir
GUTEMBERGPassei o dedo pela página do livro uma última vez, decorando a frase final e refletindo sobre ela um segundo antes de dizer adeus a história.Se alguém me perguntar, eu não curto livros. Uma mentira que inventei e reinventei várias vezes para apagar a memória de uma mãe altruísta e amável que não existe mais.Para os sites de fofoca, sou o herdeiro despojado e aventureiro. Para os membros e irmãos da facção que faço parte, sou a sombra, a lâmina,o Fantasma. A maioria não sabe de onde vim e qual minha real função, mas todos buscam por mim.Mas no meu quarto, eu sou amante de romances contemporâneos. Tudo começou com biografias, depois livros de aventura e mistério, então, de alguma forma, esbarrei nos romances.Descanso a cabeça no travesseiro e resgato meu celular entre os lençóis, assim que o aparelho ilumina, o nome de Meia-noite aparece. Ele quer que eu volte para a Colina e lide com seu novo mascote, Aaron Taylor. Digito um não enorme, porque eu não sou uma m*****a babá
DAVINAA praça estava deserta. Nem mesmo o som de uma brisa ousava romper o silêncio. As luzes amareladas dos postes projetavam sombras longas e inquietas, distorcendo o contorno dos bancos e das árvores esparsas. Meu coração batia como uma tempestade abafada. Olhei para ele com ódio. Fantasma. Esse apelido me vinha à mente com tanta naturalidade quanto o desprezo que eu sentia. Se Gutemberg tinha sumido com minha irmã, então agora eu sumiria com a paz dele.Me agachei, apertando o caco de vidro que tinha achado no chão mais cedo. Só um golpe no espelho retrovisor... só isso, eu repetia na cabeça. A ideia de destruir alguma coisa dele acendia uma fúria sombria que eu tentava controlar.Mas antes que pudesse agir, ouvi o som familiar da porta de um carro se abrindo. Ele desceu devagar, como quem já esperava por algo. Sua silhueta se destacou contra a luz do poste, alta e tranquila. Ele parecia sempre estar em controle, sempre um passo à frente, como se eu fosse a garota rebelde que ele
DAVINAPARTE 2O ambiente estava escuro e meus olhos demoraram para identificar onde eu estava, apenas com uma leve penumbra vinda da janela aberta, por onde a luz dos relâmpagos ocasionalmente iluminava o espaço, é que identifiquei o quarto de Timmy. A decoração simples, sem muita identidade, tendo apenas um banner na parede de algum filme de terror estranho é diferente do seu quarto infantil, que era decorado por paredes com corações e desenhos infantis, já que ele dividia o espaço com sua irmã caçula. Olhei para o relógio na mesinha ao lado da cama, percebendo que dormi apenas por quarenta minutos.A camisa que ele me deu estava enrolada na minha cintura, eu também estava usando uma de suas cuecas,uma aquisição que eu mesma me ofereci de uma de suas gavetas. Puxei o tecido macio de sua camisa até o nariz e o cheiro dele me invadiu. Era uma sensação reconfortante, mas também perigosa. Eu me olhei no espelho do quarto por um momento, os cabelos ainda úmidos caindo nos ombros, e suspi
DAVINA— O que você está assistindo? —perguntei, sentando ao seu lado. Ele me deu um olhar de lado e empurrou a vasilha com pipoca para o meu colo, agarrei um punhado e enfiei tudo na boca.— Quieta, esta é melhor parte.Revirei os olhos,identificando o filme grotesco pela cena.O filme mal tinha começado e eu já sentia a tensão no ar. Halloween, um clássico que Timmy adorava, estava rodando na TV à minha frente. Eu fingia estar completamente tranquila, mas a verdade é que filmes de terror sempre me deixavam nervosa, especialmente esses que ele amava. Os sons agudos, a trilha sonora tensa... meu estômago embrulhava.Sentada ao seu lado no sofá, puxei o cobertor para mim, tentando esconder meu desconforto. Ele estava tão concentrado que mal piscava.— Você realmente ama essa coisa, né?— murmurei, dando um sorriso para aliviar o ambiente.Ele deu um sorriso torto sem desviar os olhos da tela.— Não tem nada como um clássico. Jason é imbatível.— Jason é de Sexta-Feira 13.— retruquei, ri