DAVINAEstou tão imersa na conversa com Sissy que apenas noto a confusão ao meu redor quando já é tarde demais. Minha mãe grita com meu pai, defendendo Pryia e culpando-o, novamente, a novidade caótica é que ele responde com a mesma intensidade. Quase alcanço meus fones de ouvido antes de ela mandá-lo embora de casa aos berros. Num instante, pulo da cama e me apresso até a sala para evitar um desastre maior. Também estou chegando no meu limite com eles, é como se meus pais tivessem sido substituídos por seres de outro planeta. Antes da Priya partir, não me recordo de presenciar brigas entre eles, na verdade, mal se comunicavam além do necessário. Penso que o casamento deles não ia bem e a saída repentina da minha irmã foi o estopim.— O que vocês estão fazendo? Todos os vizinhos vão ouvir!— Fique fora disso, Davina. — meu pai resmungou, parecendo desorientado. Ao se aproximar dele, percebi o motivo. Ele estava bêbado, algo cada vez mais frequente.— Seu pai perdeu todo nosso dinheir
GUTEMBERGPassei o dedo pela página do livro uma última vez, decorando a frase final e refletindo sobre ela um segundo antes de dizer adeus a história.Se alguém me perguntar, eu não curto livros. Uma mentira que inventei e reinventei várias vezes para apagar a memória de uma mãe altruísta e amável que não existe mais.Para os sites de fofoca, sou o herdeiro despojado e aventureiro. Para os membros e irmãos da facção que faço parte, sou a sombra, a lâmina,o Fantasma. A maioria não sabe de onde vim e qual minha real função, mas todos buscam por mim.Mas no meu quarto, eu sou amante de romances contemporâneos. Tudo começou com biografias, depois livros de aventura e mistério, então, de alguma forma, esbarrei nos romances.Descanso a cabeça no travesseiro e resgato meu celular entre os lençóis, assim que o aparelho ilumina, o nome de Meia-noite aparece. Ele quer que eu volte para a Colina e lide com seu novo mascote, Aaron Taylor. Digito um não enorme, porque eu não sou uma m*****a babá
DAVINAA praça estava deserta. Nem mesmo o som de uma brisa ousava romper o silêncio. As luzes amareladas dos postes projetavam sombras longas e inquietas, distorcendo o contorno dos bancos e das árvores esparsas. Meu coração batia como uma tempestade abafada. Olhei para ele com ódio. Fantasma. Esse apelido me vinha à mente com tanta naturalidade quanto o desprezo que eu sentia. Se Gutemberg tinha sumido com minha irmã, então agora eu sumiria com a paz dele.Me agachei, apertando o caco de vidro que tinha achado no chão mais cedo. Só um golpe no espelho retrovisor... só isso, eu repetia na cabeça. A ideia de destruir alguma coisa dele acendia uma fúria sombria que eu tentava controlar.Mas antes que pudesse agir, ouvi o som familiar da porta de um carro se abrindo. Ele desceu devagar, como quem já esperava por algo. Sua silhueta se destacou contra a luz do poste, alta e tranquila. Ele parecia sempre estar em controle, sempre um passo à frente, como se eu fosse a garota rebelde que ele
DAVINAPARTE 2O ambiente estava escuro e meus olhos demoraram para identificar onde eu estava, apenas com uma leve penumbra vinda da janela aberta, por onde a luz dos relâmpagos ocasionalmente iluminava o espaço, é que identifiquei o quarto de Timmy. A decoração simples, sem muita identidade, tendo apenas um banner na parede de algum filme de terror estranho é diferente do seu quarto infantil, que era decorado por paredes com corações e desenhos infantis, já que ele dividia o espaço com sua irmã caçula. Olhei para o relógio na mesinha ao lado da cama, percebendo que dormi apenas por quarenta minutos.A camisa que ele me deu estava enrolada na minha cintura, eu também estava usando uma de suas cuecas,uma aquisição que eu mesma me ofereci de uma de suas gavetas. Puxei o tecido macio de sua camisa até o nariz e o cheiro dele me invadiu. Era uma sensação reconfortante, mas também perigosa. Eu me olhei no espelho do quarto por um momento, os cabelos ainda úmidos caindo nos ombros, e suspi
DAVINA— O que você está assistindo? —perguntei, sentando ao seu lado. Ele me deu um olhar de lado e empurrou a vasilha com pipoca para o meu colo, agarrei um punhado e enfiei tudo na boca.— Quieta, esta é melhor parte.Revirei os olhos,identificando o filme grotesco pela cena.O filme mal tinha começado e eu já sentia a tensão no ar. Halloween, um clássico que Timmy adorava, estava rodando na TV à minha frente. Eu fingia estar completamente tranquila, mas a verdade é que filmes de terror sempre me deixavam nervosa, especialmente esses que ele amava. Os sons agudos, a trilha sonora tensa... meu estômago embrulhava.Sentada ao seu lado no sofá, puxei o cobertor para mim, tentando esconder meu desconforto. Ele estava tão concentrado que mal piscava.— Você realmente ama essa coisa, né?— murmurei, dando um sorriso para aliviar o ambiente.Ele deu um sorriso torto sem desviar os olhos da tela.— Não tem nada como um clássico. Jason é imbatível.— Jason é de Sexta-Feira 13.— retruquei, ri
Gutemberg (Fantasma). — Fantasma, acorde.— Alguém cutuca meu braço e pela firmeza do toque posso dizer que não é uma mulher. Murmuro alguma coisa e puxo o lençol, cobrindo metade do meu rosto.— Acorda! Aqui não é motel, não. Espere, talvez seja uma mulher. Essa voz… —Meu marido está vindo, você precisa ir!— Eu puxo o lençol para baixo, avistando um par de pernasvirado e feminino, sorte minha, subindo a captura do olhara camisa curtae entãoa comissão de frente. Foda-se! Os dois melões são então cheio que estão quase pulando na minha cara e exigindo uma mordida. Oh! Eles têm marcas de biquíni. Adoro essas marcas. —Você é casada, linda?— Abro um sorriso indecente, passando a língua entre os lábios sem me desviar do lindo par de seios. — OK… está brincando com a minha cara?— Ela diz, adquirindo uma expressão irritada que me faz querer revirar os olhos, mas permaneço neutro, apenas olhando para ela e esperando por uma resposta.— Sério?—Fala, com as duas sobrancelhas levantadas. — O
DAVINAO cheiro doce da calda de morango que a vovó fez ainda é forte quando entro na cozinha, apesar de tudo estar limpo e desinfectado. Ela disse que este é um bolo especial, pois faz parte de uma grande encomenda que recebeu, e que o dinheiro será usado para alugar um espaço comercial para abrir sua padaria. Como uma formiga atrás de um doce, sigo meu perfume favorito até rastrear o recipiente de plástico transparente, estampado com o logotipo exclusivo de sua marca. Que eu mesmo fiz no celular, na bancada de mármore que separa a parte do fogão da mesa que usamos para as refeições. Pergunto ao exagerado laço rosa que ela coloca em todos os seus pedidos e leio o nome escrito na cobertura do bolo.Amber.A irmã do meio do traficante local. Bem, não qualquer mafioso, o mais assustador que conheço.Eu sabia que ela estava fazendo aniversário hoje, fui acordada pela queima de fogos que o irmão organizou exclusivamente para a data, mas não sabia que era a vovó quem estava preparando todos
DAVINAPerdi a noção do tempo que passei olhando para a porta, mas já fazia alguns minutos. Muitos minutos.Enxuguei minhas lágrimas, peguei o bolo da Amber e fui até a casa do diabo. O medo que normalmente sinto quando passo por homens armados que guardam o caminho até a casa de Blake não estava lá como sempre, meus sentidos estavam entorpecidos pelo que minha irmã acabara de fazer. Os doces que vovó fez já haviam sido entregues, junto com os cupcakes e salgados, então não precisei fazer mais de uma viagem. Porém, a pessoa que deveria me receber não estava lá e tive que pedir ajuda ao meu amigo de infância.A última pessoa no mundo com quem eu queria conversar agora.—Você estava chorando.— Não era uma pergunta, mas neguei.—Tenho que ir. — disse assim que recebi o resto do dinheiro.—Eu conheço você, Davina— Timmy agarrou meu braço suavemente, mas com força suficiente para me fazer parar e olhar para ele.—Sua impressão.—Murmurei, já arrependido de ter pedido sua ajuda.—Duvido. Éra