DAVINA
Dentro do carro de Aaron, com o rádio tocando alguma música pop que eu não reconhecia, tentei ignorar a pulsação na minha têmpora. Afinal, dias ruins acontecem, mas o meu parecia especialmente empenhado em não acabar.
— Valeu por me tirar das garras daquele idiota. Foi estupidez ficar depois da aula para falar come — Eu disse, soltando o ar devagar, ainda lembrando do sorriso pretensioso de Tom.
Aaron bufou, batendo os dedos no volante.
— Você devia situar o cara. Ele é professor, uma denúncia e ele some do seu pé rapidinho.
Virei a cabeça, arqueando uma sobrancelha.
— Não vou estragar a vida de ninguém, Aaron. Além disso, uma aluna tendo um caso com um professor rico? Você sabe quem vai sair como vilã nessa história.
— E daí? Eu posso dar um jeito nele. — O tom despreocupado me fez rir, mas sem vontade.
— Ele já está assustado o suficiente, não acha? Não vou precisar de reforços.
Aa
GUTEMBERGMeu apartamento estava quieto demais. A única coisa que quebrava o silêncio era o som das luzes da cidade entrando pelas janelas, iluminando o mármore branco e as linhas perfeitas da cozinha. Era o tipo de lugar que deveria fazer alguém se sentir no topo do mundo. Para mim, ultimamente, só parecia vazio. Minha irmã não estava. De novo. O quarto dela estava escuro quando passei por lá, e algo me dizia que ela tinha ido para a casa dos nossos pais. Isso me incomodava mais do que eu queria admitir. Não que eu pudesse culpá-la, eles podem ser persuasivos quando querem.— Vai me dizer o que diabos foi aquilo ontem à noite, ou eu vou precisar arrancar a verdade de você? — A voz de Vincent quebrou meus pensamentos.Ele estava encostado na bancada, com aquele ar casual que ele sempre carregava, mas os olhos... Os olhos azuis dele estavam
DAVINA— Davina, venha cá agora! Você não vai acreditar nisso! — A voz aguda da minha mãe ecoou pela casa assim que fechei a porta atrás de mim.Suspirei, largando minha mochila no canto. Minhas pernas ainda doíam da correria do dia, mas, pelo tom, sabia que não adiantava ignorá-la. Caminhei até a sala, onde minha mãe estava sentada no sofá, olhos brilhando enquanto mexia freneticamente no celular.— O que foi agora? — perguntei, cruzando os braços.Ela ergueu o celular, mostrando uma foto. Ou melhor, várias fotos. Pryia estava lá, vestindo um vestido justo que não parecia ser um dos que ela costumava ter. Ao lado dela, um homem mais velho, provavelmente uns quarenta, cabelo preto bem-arrumado e olhos verdes que reluziam mesmo na tela.— Olha isso, Davina! — disse minha mãe, com um sorri
DAVINAEu estava parada na porta de Aaron, hesitando. Não porque eu não queria estar ali, mas porque a expressão dele, surpresa e confusa, me fazia pensar que talvez eu tivesse cometido um erro ao aparecer sem avisar. Ele não disse nada de imediato, mas eu notei os detalhes. O cabelo bagunçado de um jeito quase fofo, os hematomas no rosto que pareciam melhores do que pela manhã. Por um momento, eu fiquei pensando se ele estava cuidando de si ou se tinha alguém fazendo isso por ele.— Vai ficar parada aí ou vai entrar? — ele finalmente disse, abrindo um pouco mais a porta. A voz soava casual, mas os olhos… Os olhos estavam cheios de curiosidade, como se ele estivesse desesperado para entender o que eu fazia ali.Passei pela soleira e senti o ar mudar. A casa de Aaron era algo que eu nunca tinha imaginado. O lugar exalava elegância de uma forma quase irritante, como se cada detalhe estivesse ali para me lembrar que ele não pertencia ao meu mundo. O hall era amplo, com um piso de mármore
DAVINAPisquei várias vezes, procurando a piada nos olhos dele.— Ãn?— Você tem alguma coisa para me dizer, Davina. Dá para ver na sua cara. E considerando o horário e o quão nervosa você está, eu vou chutar que é algo sério. — Ele inclinou a cabeça, me analisando de perto.Suspirei e mordi o sanduíche, mais para evitar falar do que por fome.— Vamos lá, Davina. Você não apareceu aqui só para ficar encarando minha decoração ou admirar minha beleza. — Ele inclinou a cabeça, os olhos estreitando com um brilho divertido. — Quer conversar? Ou isso é só um jogo novo que eu ainda não saquei?—
DAVINA— Eu não tenho. — Sua voz saiu mais dura do que ele provavelmente pretendia. — Meus pais bloquearam minha conta. Eles não confiam em mim com dinheiro, não até que eu… — Ele fez uma pausa, os olhos evitando os meus.— Até que você o quê? — Minha testa franziu.Aaron deu de ombros, como se não fosse importante. Mas eu podia farejar, isso era importante, pelo menos, para ele.— É uma história longa e torta demais para agora.Ele voltou a andar pela cozinha, e eu o observei, sentindo o desespero crescer dentro de mim. Eu sabia que estava pedindo algo grande, mas também sabia que Aaron era uma das poucas pessoas que poderia me ajudar.— Eu preciso da sua ajuda, Aaron. Por favor. —
DAVINARevirei os olhos, uma mistura de frustração e exasperação, tentando ignorar a maneira como ele parecia se divertir com minha reação. Músculos idiotas.— Se apresse e se vista, Aaron — respondi, tentando manter o foco e bancar a indiferente. Nenhuma mulher precisa aumentar o ego de um homem. — Temos pouco tempo.Ele deu um tapinha no meu ombro, mais como um gesto de zombaria do que um conforto. Eu o ignorei e me virei, tentando manter a calma, mas sabia que ele estava fazendo algo. Quando me virei de volta, ele já estava pronto.O que eu não esperava era o impacto que sua aparência causaria em mim. Aaron estava completamente vestido de preto. Blusa preta, calça preta, tênis preto. O conjunto realçava tudo o que eu tentava não reparar. O que rea
AARON MILLERA música da boate vibrava como um tambor surdo em meus ouvidos, mas a única coisa que eu conseguia sentir com clareza era Davina. Minha mão descansava em sua cintura, e o calor da pele dela parecia um vício instantâneo. Cada curva encaixava perfeitamente na palma da minha mão, uma sensação esmagadora e sufocante que me dizia que ela deveria estar ali, comigo.Começamos a andar em direção à entrada e ela estremeceu. Apertei sua cintura e me inclinei, pressionando meus lábios contra seu ombro.— Está tudo bem — sussurrei, minha voz baixa o suficiente para não ser ouvida por mais ninguém, apesar de que não tinha ninguém perto o suficiente.Davina virou o rosto para mim, os olhos queimando com aquele fogo que só ela tinha, e mesmo sem uma pala
AARON MILLERKJ nos deixou em uma mesa com um sorriso calculado antes de desaparecer para a ala VIP. A porta pesada se fechou atrás dele com um estalo, isolando-nos do que quer que estivesse acontecendo lá dentro. Eu sabia que aquele jogo tinha camadas ocultas. Sempre tinha. Mas isso não importava. Naquela noite, eu não podia perder.A primeira partida foi fácil. Fichas deslizaram na minha direção enquanto os outros jogadores me lançavam olhares desconfiados. Uma segunda vitória rápida fez os olhares se transformarem em algo mais agressivo. Quando venci a terceira rodada consecutiva, o ambiente ficou tenso como um fio de aço prestes a se romper.— Tem algo errado aqui — um dos caras murmurou, jogando as cartas na mesa. Ele tinha ombros largos e uma cicatriz que cortava sua sobrancelha. — Voc&