Algumas horas depois...
A obsessão corrói o coração.
Na hora do jantar a cena se repete. Logan se senta de frente para mim do outro lado da mesa e me olha com seu olhar rude e sério. Minutos depois, uma mulher diferente entra na sala de jantar e começa a nos servir.
— Onde está a Lia? — Forço-me a perguntar, mesmo sabendo da sua resposta. Ela o serve primeiro e depois a mim, e só quando a mulher se ausenta da sala, ele me responde.
— Ela não trabalha mais nesta casa. — Engulo em seco.
— Por que não? — Sei que estou brincando com fogo, mas a verdade, é que já estou cansada dessa prisão!
— Porque eu não quero intimidades com os funcionários, Eva!
— Com os funcionários, ou comigo? — Ouso enfrentá-lo. Ele larga os talheres bruscamente em cima do seu prato, me assustando. Então, solta uma lufada de ar e me olha nos olhos.
— Quando vai colocar nessa sua cabeça que você me pertence, Eva? Será que você não entende? Eu quero o seu sorriso só para mim, o seu olhar, a sua atenção, o seu calor, o seu cheiro. Tudo em você me pertence! — Suas palavras me causam arrepios.
— Você me sufoca, Logan. Não vê que eu preciso de alguém para me distrair um pouco? Que preciso de uma amiga para conversar? Isso não…
— VOCÊ TEM A MIM! — grita, batendo forte na mesa, fazendo-me engolir as minhas palavras. O Observo respirar fundo outra vez. Logan parece querer conter a sua fúria. — Eu te amo, Eva! Eu te amo tanto, que é difícil para mim…
— Dividir? É, eu sei, você não se cansa de repetir isso — digo baixinho.
— Isso. — Ele solta mais uma respiração profunda. — Vá para o quarto e fique linda para mim. Subirei em alguns minutos — ordena, mudando completamente de assunto. Sem contestá-lo, levanto-me da cadeira e antes que eu alcance a porta, ele segura em meu braço e aspira demoradamente o cheiro da minha pele. — Não tome banho, querida, gosto do seu cheiro! — pede com voz áspera e baixa. Afasto-me sem retribuir esse carinho doentio e subo as escadas como quem sobe para o calvário, ansiando pela morte, louca para ser arrancada dessa vida desprezível. É isso. Eu só preciso confrontá-lo e ele se encarregará da minha liberdade. Penso e entro no quarto.
***
— Por que não está pronta ainda? — Logan indaga assim que abre a porta do quarto e me encontra em pé bem no cento dele sem nenhuma vestimenta sensual em meu corpo. Cuidadosamente ele fecha a porta e passa a chave nela. Eu apenas trinco o maxilar e procuro um pouco de coragem para o que preciso fazer. Pus uma coisa em minha cabeça. Estou presa a esse homem de uma forma que eu não posso me liberar e se a morte é a minha única saída, eu farei com que ele me dê essa liberdade com suas próprias mãos.
— Quero o divórcio, Logan — falo um tanto firme e isso é um bocado assustador para mim. Embora o meu medo queira vir à tona e o meu lado covarde queira consertar esse maldito deslize, me forço a seguir a diante com essa loucura.
— O que disse? — Santo Deus! A frieza que saiu da sua voz fez os meus ossos congelarem e imediatamente abracei o meu próprio corpo, dando um passo curto para trás, à medida que ele avançava com seus passos lentos e determinados, embora furiosos.
— Eu não aguento mais isso, Logan, não sou a esposa e sim, a sua prisioneira, uma boneca de luxo que você usa quando e como quer. — À medida que as palavras saiam da minha boca, a força dominava cada terminação nervosa do meu corpo e eu me sentia casa vez mais encorajada, liberta e a um passo da luz. Contudo, meu corpo tremia com sua aproximação também, as lágrimas inundavam o meu rosto e eu podia sentir o doce sabor da morte no meu paladar. Senti minhas pernas encostarem na cama atrás de mim e imediatamente seus dedos apertaram a minha garganta, roubando a minha capacidade de respirar. Segurei em seu pulso em agonia, queria livrar-me desse aperto, porém, quanto mais eu lutava mais ele apertava o meu pescoço.
Medo.
Pânico.
Terror.
Eu podia sentir tudo isso no mesmo instante e no mesmo segundo, sem poder falar uma palavra sequer. Olhei nos seus olhos em busca do meu alívio e do seu perdão, mas Logan não estava mais naquelas retinas escuras. Em seu lugar havia um monstro e esse com certeza me destruiria sem nenhuma reserva.
— Parece que você nunca aprende, não é? — Ele rosna baixo, porém, sua voz é grossa e vigorosa e fechando a outra mão em punho, ele acerta o meu rosto com em violência. Meu corpo cai amolecido em cima do colchão e imediatamente Logan monta em mim, desferindo vários golpes violentos, gritando como um louco alucinado que sou sua, até que não me reste mais forças para lutar. Após toda a sua fúria, apenas o som da sua respiração ofegante e alguns urros de raiva se ouve dentro do quarto. Solto um gemido de dor e forço-me a abrir os olhos. Com a visão desfocada, o vejo livrava-se de suas roupas, mantendo os seus olhos o tempo todo em cima de mim.
Não! Por favor não! Queria implorar, mas sei que não adiantaria. Eu queria chorar, queria gritar, queria ter forças para lutar. Por que ele não me mata logo? Por que não acaba de vez comigo?
— Espero que tenha entendido dessa vez, Eva. Você é minha e nem mesmo o diabo conseguirá tirá-la de mim, a não ser que eu permita que isso aconteça! — Enquanto fala, ele se posiciona entre as minhas pernas e me invade de uma forma brutal, fazendo o que tem de fazer.
***
Tundum! Tundum! Tundum! As batidas do meu coração me avisavam que falhei miseravelmente. Eu ainda estou viva e constatar isso me faz chorar outra vez. Lá fora, o dia brilha radiante e os pássaros cantam felizes. Meus olhos passeiam rapidamente pelo quarto e encontro no chão alguns vestígios de uma noite agressiva. Minhas roupas rasgadas e largadas pelo chão, pacotes de preservativos espalhados sobre o criado mudo, o abajur caído de lado, e suas roupas amontoada em um canto. Solto um grunhido de dor e forço-me a me levantar, sentindo o meu corpo inteiro dolorido, e automaticamente solto alguns gemidos, prendendo a respiração, pois respirar faz doer ainda mais. Arrasto-me para o banheiro e encho a banheira com água morna. Quem sabe o seu calor me ajude com essas dores? Enquanto ela enche, aproximo-me do espelho do balcão e encontro as marcas da minha audácia espalhada pelo rosto, braços e costelas, e novas lágrimas me dominam com um choro compulsivo que dura alguns longos minutos.
— Eu preciso acabar com isso. Por favor, Deus, eu preciso acabar com isso! — rogo com a voz embargada. Os longos minutos no banho morno não surtiu muito efeito e minha respiração me lembra os meus momentos de terrores. Andar é algo quase impossível, porém, procuro manter o meu andar o mais natural possível. Diante de uma penteadeira, faço uma maquiagem para esconder os hematomas e uma blusa de mangas três quartos fazem o mesmo em boa parte do meu tronco e braços.
— Bom dia, senhora Cross! — Uma senhora diz que entro na cozinha. — Quer que eu sirva o seu desjejum?
— Ah, não, eu só… quero apenas um chá… por favor! — peço, mas não ouso sentar-me no banco alto.
— O senhor Cross deixou a ordem para que tomasse um café reforçado, senhora. — Ela ralha. Rolo os olhos para essa informação. É claro que ele deixou. Ela me dá as costas para ir preparar algo e noto uma caixa de comprimidos largada em um canto do balcão. Curiosa, seguro a caixa e olho a sua descrição. Nortiprilina. Leio o nome do medicamento. — Oh, me desculpe, senhora, isso não deveria estar aqui! — Percebo a senhora ficar nervosa. Tiro os olhos da caixa para olhá-la.
— É seu?
— Sim. Uso desde que o meu marido morreu, mas, não se preocupe, vou guardá-los ago… — Ela tenta pegar a caixa da minha mão, porém, não permito.
— Para que serve?
— Ah! — Ela hesita e olha de mim para o medicamento. — É um calmante, senhora. Uso para dormir, pois, tenho insônias desde que ele se foi.
— Você o amava? — pergunto baixinho.
— Oh, Deus, ele era o meu tudo! — Meneio a cabeça positivamente.
— Ele é forte? — pergunto, referindo-me ao medicamento. Ela força um sorriso de boca fechada.
— Muito. O médico me indicou tomar apenas um quarto do comprimido.
— O que aconteceria se você tomasse um inteiro? — Ela franze o cenho. Parece intrigada com as minhas interrogações.
— Parada cardíaca, overdose… eu acho.
— Ah! -—Meu coração palpita apenas com essas possibilidades.
— Pode me dar a caixa, senhora Cross?
— Claro. Pode levar o meu desjejum para a sala de jantar? — Lhe estendo a caixa e ela a segura.
Observo a mulher se afastar e guardar a caixa em uma gaveta do balcão, e em seguida, lhe dou as costas para ir direto para a sala de jantar. Confesso que me sinto atraída a voltar para aquele cômodo e pegar aqueles comprimidos. É a chance perfeita para o que eu preciso. Tundum! Tundum! Tundum! É parece que meu coração suicida também gosta dessa ideia. Todo o meu sistema está em alerta apenas com os pensamentos que preenchem a minha cabeça.
Alguns dias depois...A escolha certa pode te levar a caminhos desconhecidos."— Nada é mais enganoso do que a aparência da humildade — disse Darcy. — Às vezes é apenas pouco caso e, outras vezes, uma maneira indireta de se gabar."Encerro minha leitura do dia, fechando o livro e o ponho cuidadosamente em cima da mesa. Solto um suspiro audível e me afasto da mesa para ir até uma janela. As flores coloridas do jardim não me atraem, mas sim, a minha imagem no reflexo do vidro transparente. Olhar para o meu rosto agora perfeito me faz pensar que por dentro continuo quebrada e sangrando sem parar. Por que o destino foi tão cruel comigo? O que fiz para merecer tal castigo? Me pergunto por que ao longo desses anos ninguém me procurou? Nenhuma visita sequer, nem mesmo um mísero contato, nenhuma mensagem da minha família ou dos meus amigos, nada. Sei que isso tem muito a ver com Logan, só não faço ideia do que ele realmente fez para afastá-los definitivamente de mim. Desde a noite do espancam
O vislumbre da liberdade.— Deixe-me cuidar de você — peço, interrompendo-o e aproximo-me lentamente, na verdade, cautelosamente. Deixo uma mão minha deslizar por seu peitoral e sinto Logan resfolegar apenas com o meu toque. Minha mão desliza outra vez subindo até chegar a sua nuca e o puxo para um beijo profundo que me faz nausear imediatamente. Suas mãos se apossam da minha cintura com avidez e força, e desliza para a minúscula calcinha que estou usando, apalpando com força a minha bunda.— Sabia que um me entenderia, meu amor! — sibila sofregamente contra a minha boca. — Deus, como sou louco por você! — Ele segura firme em meus cabelos e aprofunda ainda mais o maldito beijo. Seguro a forte ânsia de vômito que sobe a minha bílis e permito que a sua língua invada a minha boca, e quando ele pensa em me levar para a cama, eu paro o beijo bruscamente, forçando mais um sorriso sexy. Contudo, ele me olha perdido e ofegante.— Agora seja um bom menino e vá para cama, querido — peço docemen
Bom, aqui estou eu para a minha mais nova realidade, em busca de um sonho, reencontrar a minha família, rever os meus amigos e descobrir porque todos se afastaram de. Mas, isso ficará para depois, por enquanto eu preciso desaparecer para que o meu marido nunca me encontre e quem sabe conquistarei a minha tão sonhada liberdade?***Dias atuais...— Ei, garota, ou, acorda! — Uma voz masculina pede e com um resmungo baixo, eu me ajeito em cima da poltrona, olhando o lado de fora do ônibus. — Já chegamos. — Ele informa.— Chegamos aonde? — questiono após bocejar e me espreguiçar, olhando com curiosidade a belíssima cidade através da janela.— Estamos em Monte Verde, senhorita, no interior de Minas Gerais. — Ele diz e meu peito infla tanto que parece que os meus pulmões vão explodir, e um sorriso tão grande vem logo em seguida. No mesmo instante me agito e tiro minha bolsa do bagageiro acima da minha cabeça e me habilito a sair do coletivo. Qual a sensação de pisar no chão com os meus próp
O sol finalmente brilha para todos.— Acordada a essa hora, menina? — A voz da doce senhora me faz parar rígida a caminho do fogão.— Ah, é! — Chego a resfolegar. — Tive um pesadelo e…— Gostaria de um chá. – Ela afirma e eu respiro fundo.— Sim, eu gostaria.— Sente-se, menina, deixe isso comigo. — Apenas assinto sem contestar.Observo dona Dolores ir para atrás do balcão e abaixo dele ela pega um enorme pote de vidro com algumas folhas dentro dele. — Eu amo chá de laranjeira e ele vai te ajudar a dormir melhor. — Sorrio de boca fechada. Dormir melhor, é disso que eu preciso. Penso. — Quando estou sem sono é ele quem me salva e quando se está muito agitada, ele é um santo remédio. — Ela resmunga e põe algumas folhas dentro do bule, o levando ao fogo em seguida. — Não quero me meter na sua vida, menina, mas algo me diz que você veio para Monte Verde para se esconder de algo que te faz muito mal. — A mulher comenta e me lança um olhar escrutínio que me deixa incomodada. Até parece que
Uma segunda chance para a vida.Havia me esquecido de como é bom me divertir, conversar, sorrir e ter amigos, mas principalmente, havia me esquecido de que preciso tomar decisões e continuar com a minha vida tomando essas decisões. Tipo, por três anos precisei ocupar o meu tempo para não enlouquecer e agora preciso ocupar o meu tempo para me favorecer e acredite, viver enfiada na quitando da Lídia ou enfurnada no quarto da pousada de dona Dolores me mantém no patamar que antes, com o diferencial de que não vivo tensa e sim, sorridente. É como se eu fosse um passarinho e por muitos anos a portinha da gaiola estivesse fechada, no entanto, agora ela que está aberta e eu simplesmente não sei por onde começar. Contudo, preciso fazer algo que me faça sentir útil. Eu preciso de um emprego... acho. Penso enquanto ajudo a doce senhora a guardar a louça dentro do armário.— Eu estive pensando — comento de repente. Ela me entrega outra pilha de loucas limpas e secas, e eu levo para o outro armár
Nem tudo é perfeito, mas ainda assim, vale a pena viver.— Boa sorte para você! — A mulher resmunga e se afasta da porta, voltando pelo corredor.— O quê? Você não vai...— Boa sorte, garota! — Respiro fundo e encaro a porta fechada por alguns segundos, e só então eu levo uma mão ao trinco, girando-o logo em seguindo e abro apenas uma brecha. Imediatamente levo a outra mão a boca e seguro o riso quando vejo que as meninas estão envolvidas em uma guerra de travesseiros em cima das camas de solteiro, que estão uma bagunça. Abro ainda mais a porta e adentro o quarto para chamar-lhes a atenção, mas, elas parecem não perceber a minha presença. Até um apito agudo soar por todo o cômodo. Um som tão irritante que me faz tampar os ouvidos. As meninas param a guerra imediatamente e olham na direção do som.— Suas pestinhas mal-educadas, parem com isso já! — Só então me dou conta de que a sargenta... digo, a governanta havia voltado.— Sua chata! — Uma das meninas ralha e desce da cama. A outra
Uma babá fora de série.Respiração pesada, suor frio, medo e pavor. Eu consigo ouvir até os sons dos seus passos pelo longo corredor atrás daquela porta. Droga, a noite aqui nessa mansão parece bem pior do que o dia! Penso e imediatamente vou para a pequena varanda. Apoio-me no peitoril e puxo a respiração várias e várias vezes, mas para o meu desespero, ela não vem.— Ele não está aqui, Eva. Ele não está aqui. — Repito incontáveis vezes, tentando me convencer do óbvio, mas o meu cérebro parece não aceitar essa informação. Forço-me a abrir os olhos e tenho o vislumbre da garoa fina que começa a cair pela madrugada, molhando as folhagens do jardim. Extremamente ofegante, eu saio da cama e na sequência do quarto apressada, e ando com a mesma pressa pelo corredor, abraçando a escuridão dos cômodos pelo caminho, e com uma ansiedade palpável, abro a porta da frente e aprecio o frio implacável que vem do lado de fora. Ansiosa pela paz, eu corro de encontro ao frio da madruga, recebendo os p
Uma doce melodia tem poder de afastar os nssos medos.— Esperem aqui, meninas, eu tive uma ideia. — Salto para fora da cama, ouvindo os seus protestos atrás de mim e corro até o quarto delas. Pego seus celulares e os fones de ouvidos que estão largados nos criados mudos ao lado de suas camas e volto imediatamente para o meu quarto. — Prontinho. Agora coloquem esses fones — peço sem lhes dar muitas explicações e começo a mexer nos aparelhos. Logo uma melodia clássica começa a tocar e elas me encaram desnorteadas. — Agora se deitem e concentrem-se nessa música. Ela vai acalmá-las e vocês não vão mais ouvir esses trovões. — Elas se olham e depois para mim.— Tem certeza, Eva? — Sorrio para passar-lhes confiança.— Só, fechem os olhos e concentrem-se na melodia, meninas — insisto e não demora para elas relaxarem e adormecerem. No segundo seguinte, estou sozinha outra vez e volto para os meus pensamentos errantes. Fito as garotas adormecidas por algum tempo e penso se aquela música seria c