Minhas esperança ao alcance das minhas mãos.
Meus dias aqui na mansão são sempre bem tranquilos quando ele não está por perto. Eu adoro assistir ao amanhecer e amo estar sozinha nessa casa tão ampla, porém, os meus passos são meticulosamente vigiados o dia inteiro seja pelos empregados, ou pelos seguranças. Telefonemas são atos restritos para mim aqui dentro. O único telefone que temos nessa casa fica no escritório de Logan e esse vive fechado de chave. Exceto quando ele está em casa. Mas, a parte que eu mais gosto deste lugar fica na ala sul, no final do longo corredor. Uma academia montada com toda a sorte de máquinas e pesos para exercícios extravagantes, e eu passo horas trancada lá dentro após a minha caminhada pelo jardim, e algumas horas de leitura na biblioteca. Ofegante, após um exercício puxado, olho pela imensa janela de vidro transparente e percebo que o sol já está alto lá fora. Meu coração parece querer sair pela boca, tamanho esforço que acabei de fazer e o suor borbulha na minha testa, escorrendo pelo meu rosto. Saio da bicicleta ergométrica e passo a toalha secando o excesso, e ainda um tanto ofegante, saio da academia para um banho demorado. Após o almoço não há muito o que fazer aqui, então repito o meu toor pela casa. Sim, eu conheço essa mansão milimetricamente e sei de cada objeto e dos seus devidos lugares. Sei até os detalhes dos galhos que arranham as janelas quando os ventos se tornam mais fortes.
— Calma! Eu já disse, estou saindo! — Escuto a voz enraivecida de Logan e paro bruscamente, escondendo-me atrás da parede de proteção da escadaria. Me pergunto o que ele está fazendo em casa a uma hora dessas? — Que merda! Segure ele aí, ou nada feito! — Ele resmunga irritado. Curiosa, inclino a cabeça só um pouco para vê-lo. Logan está ao telefone e segura um pequeno pacote em uma mão. Ele vira na direção da escadaria e rapidamente eu me esquivo, encolhendo-me no meu canto. — Eu esqueci, mas já estou indo para o local da reunião, só o mantenha aí! — ordena. O observo guardar o embrulho no bolso interno do seu terno e caminhar apressado para a saída da casa. Puxo uma respiração profunda e inclino minha cabeça, apoiando-a em meus braços, que estão sobre os meus joelhos. Mais uma respiração profunda e me certifico de que ele já se foi, e só então volto o corredor e entro no quarto. Tomo um banho demorado e logo me sinto mais tranquila. Minutos depois, vou a procura de Lia na cozinha. O meu estômago está roncando e não vejo a hora de apreciar mais um prato especular que só ela sabe fazer. No meio da sala noto algo diferente no pequeno corredor onde fica o escritório do meu marido e resolvo ir especular. Para a minha surpresa, a porta está aberta e arfo só de pensar em continuar as dar as passadas a diante. Ouvindo o som da minha própria respiração dentro dos meus ouvidos, olho para trás para ter a certeza de que estou realmente sozinha e sim, eu estou só. Mas, como? Logan nunca esquece essa porta aberta. Jamais! Meu coração parece um bombo batendo surdo em meus tímpanos. Estou a centímetros de entrar em contato com alguém da minha família, ou de qualquer pessoa que possa me tirar desse lugar. Olho para trás mais uma vez e resolvo arriscar. Dou alguns passos curtos e cuidadosos para dentro do cômodo e o vislumbre de um escritório preenche a minha visão. Eu nunca entrei aqui. Constato, observando a belas estantes de madeiras escuras cheias de livros e mais livros, uma enorme mesa igualmente escura com alguns papéis em cima dela, um computador e o telefone… lá está o objeto do meu desejo. Chego a sentir a minha garganta ficar seca de ansiedade, e o meu corpo treme por antecipação. Caminho rápido dessa vez até a mesa e ao me aproximar, noto algumas gavetas abertas também. Alguns papéis e pastas estão largados dentro dela. Por algum motivo estou ainda mais ofegante. Talvez seja o meu nervosismo, ou o meu medo querendo me dominar, pois sei que Logan pode voltar a qualquer momento e me pegar no flagra aqui dentro, e não sei o que ele seria capaz de fazer comigo apenas por pôr os meus pés nesse lugar. Então, por que droga estou perdendo o meu precioso tempo vasculhando essas pastas e documentos, quando eu deveria estar ligando para os meus pais, ou algum amigo que possa realmente me ajudar? Eu não sei. Só sei que vejo o meu nome em alguns desses papéis e não faço ideia do que se trata.
— Senhora Cross? — Escuto a voz de Lia um tanto distante. Merda, ela deve estar me procurando para almoçar! Rapidamente largo os documentos dentro da pasta e depois dentro da gaveta, e pego o telefone, ouvindo o reconfortante som da linda. Coração dispara, o suor volta a borbulhar e trêmula, começo a digitar o número que conheço desde sempre.
— Alô? — A voz suave de minha mãe soa do outro lado da linha e as lágrimas preenchem imediatamente os meus olhos. — Alô? — Ela insiste. Eu tento dizer-lhe algo, mas as palavras não saem da minha boca e desesperada começo a chorar.
— Onde está a senhora Cross? — Ouço a voz endurecida de Logan dentro do corredor e desesperada, largo o telefone de volta no gancho e procuro um lugar para me esconder.
— Que merda! — ralho nervosa e corro para atrás de uma das cortinas grossas. — Controle-se Eva, por favor, controle-se! — sibilo baixinho, fazendo o possível para controlar a minha respiração ofegante.
— Ela está no quarto, senhor. — Lia responde. Provavelmente o está acompanhando.
— Feche a porta, Lia. — Ele ordena assim que ela entra no cômodo. De onde estou, a visão é um tanto embaçada devido ao tecido, mas consigo ver Logan em pé por trás da sua mesa e Lia parada em frente a ela, encarando o seu chefe. — Tenho notado que minha esposa anda muito próxima a você ultimamente e que tem passado mais tempo na cozinha. — Ele fala um tanto seco.
— Ela tenta se distrair, senh…
— Não é para isso que eu te pago, Lia! — Ele a interrompe brutalmente. — Você é paga para ficar na cozinha, pilotando aquela droga de fogão, para fazer a comida, e isso é tudo! — A garota respira fundo.
— Claro, senhor! Garanto que não vai voltar a se repetir.
— Não vai mesmo, porque estou demitindo você. — Imediatamente sinto a minha boca amargar. Ele a está afastando de mim. A única pessoa com quem posso conversar à vontade. Saber disso me deixa em pânico e eu começo a sufocar em meu próprio medo. Logan vai até um imenso quadro na parede, tira-o de lá e um cofre me é revelado. Forço um pouco a minha visão e observo-o digitar uma sequência de números e magicamente a porta do cofre se abre e ele tira uma quantia de lá, estendendo um maço de dinheiro para a garota em seguida.
— Isso deve pagar os seus anos de trabalho aqui nessa casa. — Uma lágrima escorre pelo meu rosto e eu sufoco um soluço. Logan aponta a saída do escritório para ela e pega a chave no seu bolso. Não! Penso desesperada. Inexplicavelmente, Lia olha em minha direção e é como se ela pudesse me ver por trás do pano grosso.
— Ah, acho que não estou me sentindo bem! — Ela resmunga, levando uma mão a testa e se contorce um pouco.
— Era só o que me faltava! — Ele resmunga mal-humorado. — Vou chamar alguém para ajudá-la. — Meu marido sai rapidamente e Lia corre em minha direção.
— Por Deus, senhora, o que está fazendo aqui?!
— Eu… eu…
— A senhora precisa sair antes que ele volte.
— Ele está demitindo você, como irei sobreviver a isso?
— Pensaremos em algo depois, agora saia daqui! — Ela pede, me puxando para fora do meu esconderijo e eu corro para fora do escritório.
Algumas horas depois...A obsessão corrói o coração.Na hora do jantar a cena se repete. Logan se senta de frente para mim do outro lado da mesa e me olha com seu olhar rude e sério. Minutos depois, uma mulher diferente entra na sala de jantar e começa a nos servir.— Onde está a Lia? — Forço-me a perguntar, mesmo sabendo da sua resposta. Ela o serve primeiro e depois a mim, e só quando a mulher se ausenta da sala, ele me responde.— Ela não trabalha mais nesta casa. — Engulo em seco.— Por que não? — Sei que estou brincando com fogo, mas a verdade, é que já estou cansada dessa prisão!— Porque eu não quero intimidades com os funcionários, Eva!— Com os funcionários, ou comigo? — Ouso enfrentá-lo. Ele larga os talheres bruscamente em cima do seu prato, me assustando. Então, solta uma lufada de ar e me olha nos olhos.— Quando vai colocar nessa sua cabeça que você me pertence, Eva? Será que você não entende? Eu quero o seu sorriso só para mim, o seu olhar, a sua atenção, o seu calor, o
Alguns dias depois...A escolha certa pode te levar a caminhos desconhecidos."— Nada é mais enganoso do que a aparência da humildade — disse Darcy. — Às vezes é apenas pouco caso e, outras vezes, uma maneira indireta de se gabar."Encerro minha leitura do dia, fechando o livro e o ponho cuidadosamente em cima da mesa. Solto um suspiro audível e me afasto da mesa para ir até uma janela. As flores coloridas do jardim não me atraem, mas sim, a minha imagem no reflexo do vidro transparente. Olhar para o meu rosto agora perfeito me faz pensar que por dentro continuo quebrada e sangrando sem parar. Por que o destino foi tão cruel comigo? O que fiz para merecer tal castigo? Me pergunto por que ao longo desses anos ninguém me procurou? Nenhuma visita sequer, nem mesmo um mísero contato, nenhuma mensagem da minha família ou dos meus amigos, nada. Sei que isso tem muito a ver com Logan, só não faço ideia do que ele realmente fez para afastá-los definitivamente de mim. Desde a noite do espancam
O vislumbre da liberdade.— Deixe-me cuidar de você — peço, interrompendo-o e aproximo-me lentamente, na verdade, cautelosamente. Deixo uma mão minha deslizar por seu peitoral e sinto Logan resfolegar apenas com o meu toque. Minha mão desliza outra vez subindo até chegar a sua nuca e o puxo para um beijo profundo que me faz nausear imediatamente. Suas mãos se apossam da minha cintura com avidez e força, e desliza para a minúscula calcinha que estou usando, apalpando com força a minha bunda.— Sabia que um me entenderia, meu amor! — sibila sofregamente contra a minha boca. — Deus, como sou louco por você! — Ele segura firme em meus cabelos e aprofunda ainda mais o maldito beijo. Seguro a forte ânsia de vômito que sobe a minha bílis e permito que a sua língua invada a minha boca, e quando ele pensa em me levar para a cama, eu paro o beijo bruscamente, forçando mais um sorriso sexy. Contudo, ele me olha perdido e ofegante.— Agora seja um bom menino e vá para cama, querido — peço docemen
Bom, aqui estou eu para a minha mais nova realidade, em busca de um sonho, reencontrar a minha família, rever os meus amigos e descobrir porque todos se afastaram de. Mas, isso ficará para depois, por enquanto eu preciso desaparecer para que o meu marido nunca me encontre e quem sabe conquistarei a minha tão sonhada liberdade?***Dias atuais...— Ei, garota, ou, acorda! — Uma voz masculina pede e com um resmungo baixo, eu me ajeito em cima da poltrona, olhando o lado de fora do ônibus. — Já chegamos. — Ele informa.— Chegamos aonde? — questiono após bocejar e me espreguiçar, olhando com curiosidade a belíssima cidade através da janela.— Estamos em Monte Verde, senhorita, no interior de Minas Gerais. — Ele diz e meu peito infla tanto que parece que os meus pulmões vão explodir, e um sorriso tão grande vem logo em seguida. No mesmo instante me agito e tiro minha bolsa do bagageiro acima da minha cabeça e me habilito a sair do coletivo. Qual a sensação de pisar no chão com os meus próp
O sol finalmente brilha para todos.— Acordada a essa hora, menina? — A voz da doce senhora me faz parar rígida a caminho do fogão.— Ah, é! — Chego a resfolegar. — Tive um pesadelo e…— Gostaria de um chá. – Ela afirma e eu respiro fundo.— Sim, eu gostaria.— Sente-se, menina, deixe isso comigo. — Apenas assinto sem contestar.Observo dona Dolores ir para atrás do balcão e abaixo dele ela pega um enorme pote de vidro com algumas folhas dentro dele. — Eu amo chá de laranjeira e ele vai te ajudar a dormir melhor. — Sorrio de boca fechada. Dormir melhor, é disso que eu preciso. Penso. — Quando estou sem sono é ele quem me salva e quando se está muito agitada, ele é um santo remédio. — Ela resmunga e põe algumas folhas dentro do bule, o levando ao fogo em seguida. — Não quero me meter na sua vida, menina, mas algo me diz que você veio para Monte Verde para se esconder de algo que te faz muito mal. — A mulher comenta e me lança um olhar escrutínio que me deixa incomodada. Até parece que
Uma segunda chance para a vida.Havia me esquecido de como é bom me divertir, conversar, sorrir e ter amigos, mas principalmente, havia me esquecido de que preciso tomar decisões e continuar com a minha vida tomando essas decisões. Tipo, por três anos precisei ocupar o meu tempo para não enlouquecer e agora preciso ocupar o meu tempo para me favorecer e acredite, viver enfiada na quitando da Lídia ou enfurnada no quarto da pousada de dona Dolores me mantém no patamar que antes, com o diferencial de que não vivo tensa e sim, sorridente. É como se eu fosse um passarinho e por muitos anos a portinha da gaiola estivesse fechada, no entanto, agora ela que está aberta e eu simplesmente não sei por onde começar. Contudo, preciso fazer algo que me faça sentir útil. Eu preciso de um emprego... acho. Penso enquanto ajudo a doce senhora a guardar a louça dentro do armário.— Eu estive pensando — comento de repente. Ela me entrega outra pilha de loucas limpas e secas, e eu levo para o outro armár
Nem tudo é perfeito, mas ainda assim, vale a pena viver.— Boa sorte para você! — A mulher resmunga e se afasta da porta, voltando pelo corredor.— O quê? Você não vai...— Boa sorte, garota! — Respiro fundo e encaro a porta fechada por alguns segundos, e só então eu levo uma mão ao trinco, girando-o logo em seguindo e abro apenas uma brecha. Imediatamente levo a outra mão a boca e seguro o riso quando vejo que as meninas estão envolvidas em uma guerra de travesseiros em cima das camas de solteiro, que estão uma bagunça. Abro ainda mais a porta e adentro o quarto para chamar-lhes a atenção, mas, elas parecem não perceber a minha presença. Até um apito agudo soar por todo o cômodo. Um som tão irritante que me faz tampar os ouvidos. As meninas param a guerra imediatamente e olham na direção do som.— Suas pestinhas mal-educadas, parem com isso já! — Só então me dou conta de que a sargenta... digo, a governanta havia voltado.— Sua chata! — Uma das meninas ralha e desce da cama. A outra
Uma babá fora de série.Respiração pesada, suor frio, medo e pavor. Eu consigo ouvir até os sons dos seus passos pelo longo corredor atrás daquela porta. Droga, a noite aqui nessa mansão parece bem pior do que o dia! Penso e imediatamente vou para a pequena varanda. Apoio-me no peitoril e puxo a respiração várias e várias vezes, mas para o meu desespero, ela não vem.— Ele não está aqui, Eva. Ele não está aqui. — Repito incontáveis vezes, tentando me convencer do óbvio, mas o meu cérebro parece não aceitar essa informação. Forço-me a abrir os olhos e tenho o vislumbre da garoa fina que começa a cair pela madrugada, molhando as folhagens do jardim. Extremamente ofegante, eu saio da cama e na sequência do quarto apressada, e ando com a mesma pressa pelo corredor, abraçando a escuridão dos cômodos pelo caminho, e com uma ansiedade palpável, abro a porta da frente e aprecio o frio implacável que vem do lado de fora. Ansiosa pela paz, eu corro de encontro ao frio da madruga, recebendo os p