Alguns dias depois...
A escolha certa pode te levar a caminhos desconhecidos.
"— Nada é mais enganoso do que a aparência da humildade — disse Darcy. — Às vezes é apenas pouco caso e, outras vezes, uma maneira indireta de se gabar."
Encerro minha leitura do dia, fechando o livro e o ponho cuidadosamente em cima da mesa. Solto um suspiro audível e me afasto da mesa para ir até uma janela. As flores coloridas do jardim não me atraem, mas sim, a minha imagem no reflexo do vidro transparente. Olhar para o meu rosto agora perfeito me faz pensar que por dentro continuo quebrada e sangrando sem parar. Por que o destino foi tão cruel comigo? O que fiz para merecer tal castigo? Me pergunto por que ao longo desses anos ninguém me procurou? Nenhuma visita sequer, nem mesmo um mísero contato, nenhuma mensagem da minha família ou dos meus amigos, nada. Sei que isso tem muito a ver com Logan, só não faço ideia do que ele realmente fez para afastá-los definitivamente de mim. Desde a noite do espancamento ele tem dormido no quarto de hóspedes. Contudo, sempre que acordo encontro uma rosa vermelha deitada ao meu lado na cama bem próximo do meu rosto e um pedaço de papel com a frase, eu te amo. Amor. Não sei se acredito ainda nessa palavra. Esse casamento deveria ser o meu conto de fadas, mas se tornou o meu pior pesadelo. Suspiro outra vez, sentindo-me inquieta e me afasto da janela. Preciso extravasar os meus pensamentos, calá-los ou ficarei maluca. Penso e saio da biblioteca para mais uma parte da minha rotina, a academia. No entanto, antes de ir passo na cozinha para pegar um pouco de água. É a primeira vez em anos que entro nesse cômodo e o encontro completamente vazio. Lia sempre o preenchia com a sua alegria e seus movimentos ágeis. Vou direto para a geladeira e pego uma garrafinha, no entanto, quando dou alguns passos para sair do cômodo, paro e olho na direção do balcão, mais precisamente para a primeira gaveta, onde a cozinheira guardou os remédios. Fito o móvel demoradamente, sentindo-me atraída, puxada para ele e escuto no mesmo instante as batidas aceleradas do meu coração e não demora para o meu corpo reagir aos meus pensamentos compulsivos com calafrios e tremedeiras. Receosa, me aproximo do móvel, porém, cuidadosamente olho ao meu redor. Respira, Eva, respira! Digo para mim mesma quando me sinto sufocar em minha própria ansiedade. Fecho os meus olhos e puxo vagarosamente a minha respiração, e após ter a certeza de que ninguém me viu aqui, seguro o puxador da gaveta e a abro sem fazer barulho, encontrando a caixa largada lá dentro.
Você precisa desse fim, você precisa dá um basta a isso tudo logo! Meu consciente diz de forma quase suplicante e com voz arrastada dentro dos meus ouvidos. Impulsionada por seus conselhos, eu abro a caixa e tiro uma das cartelas de lá, enfiando-a dentro da minha blusa e saio apressada para as escadas. Subo os degraus correndo e entro na academia sentindo-me parcialmente segura. Apavorada, me sento em um banco de treino e ofegante, tiro a cartela de dentro da minha blusa, e encaro os seis compridos que tem nela. Engole os seis de uma só vez, você não sentirá nada, além de uma sonolência e logo estará livre do seu tormento. Meu subconsciente dessa vez grita dentro dos meus ouvidos, tamanha a sua ânsia de liberdade. Engole, logo Eva, engole! Rapidamente tiro dois comprimidos da cartela e com as mãos trêmulas os levo a minha boca, sentindo o seu amargor em questão de segundos e a minha língua dormente rapidamente, pois estou protelando engoli-los. Fecho os olhos outra vez e respiro fundo algumas vezes, porém, para a minha decepção, cuspo-os para fora no segundo seguinte e como uma covarde que sou começo a chorar. Como posso ser tão fraca assim? Lamento e me levanto para ir até o banheiro, e jogo os comprimidos no vaso. Na sequência, dou descarga e me entrego a uma malhação ritmada e puxada por longas horas, e só paro quando o meu corpo chega à exaustão.
***
Horas depois…
Um suspiro e mais um, e mais outro. Estou a horas sentada no meio da ampla cama, olhando para os malditos remédios sem saber o que fazer com eles. Por que não tenho forças para fazer isso? Não é tão difícil assim.
Eu uso para dormir…
A voz da empregada ecoa dentro da minha cabeça e meu coração dispara com a ideia que vem logo em seguida. Olho para a janela. O céu já tem alguns raios alaranjados e imediatamente pulo para fora da cama. Agitada, largo a cartela em cima da minha cama e corro para fora do quarto. Como eu não havia pensado nisso antes? Vou até o bar de canto da sala de visitas, pego o seu melhor uísque e um copo de vidro quadrado, e volto imediatamente para o meu quarto. Trêmula, ponho cuidadosamente a garrafa e o copo em cima da cômoda, e encaro o belo conjunto, ajeitando com muito esmero a sua posição em cima do móvel. Com uma respiração descompassada viro-me de frente para a cama e fito a cartela outra vez, e com dois passos apressados, eu os pego e vou para o banheiro. Tiro dois comprimidos e ponho em cima do balcão escuro e com a ajuda do cabo de uma escova de cabelos, começo a quebrá-los até que fique apenas um pó fino.
— Tem que dar certo! — resmungo baixinho, colocando o pó esbranquiçado em uma tampinha e retorno para o quarto.
Nervosa? Sim, estou muito nervosa, pois, o que vou fazer é muito audacioso e se não der certo provavelmente receberei o maior castigo da minha vida, se é que isso é possível. Corro para o closet e escolho a melhor, e mais sexy lingerie. Visto-a pela primeira vez com gosto, porém, não consigo parar de ofegar e isso pode prejudicar os meus planos para essa noite. Preciso me acalmar. Digo em pensamentos e fecho os olhos tentando relaxar um pouco. Na terceira respiração a porta do quarto se abre e meu coração para de bater violentamente. Engulo em seco diante do homem imponente que passa por ela. Seus olhos passeiam ávidos pelo meu corpo, tão famintos quanto jamais havia visto antes. Ele fecha a porta sem muita pressa e sem tirar os seus olhos do meu corpo passa a chave na porta. Em seguida, ele se livra do seu terno e após dobrá-lo meticulosamente, e colocá-lo no encosto do pequeno sofá, ele para e me olha nos olhos.
— O que está fazendo, Eva? — pergunta, sem esconder a sua desconfiança. Seu tom de voz como sempre tem um tom frio e rude. Bufo internamente. Está na hora de encenar esse capítulo trágico da sua vida, Eva. Sorria para ele. Ordeno para mim mesma e forço um sorriso. Um sorriso sexy e espontâneo.
— É... uma surpresa para você. — Disfarço a minha voz, tentando não gaguejar. Ele olha o quarto e o seu olhar para em cima da bebida em cima da cômoda, e depois para mim outra vez.
— Uma surpresa? — indaga ainda desconfiado. Faço sim, com a cabeça. — Por quê? — Logan permanece sério e continua parado no mesmo lugar.
— Porque eu finalmente entendi — falo entre uma respiração e outra. Ele arqueia as sobrancelhas, parece confuso com as minhas palavras. — Você me ama e me quer. — Ele continua lá parado. Deus, eu preciso ser mais convincente ou isso não dará certo. — E eu fui tão ingrata com você — sussurro com um tom de lamento. Ele balbucia.
— Sim, você foi — sussurra de volta. Meu coração acelera no peito. Ele está acreditando. Penso eufórica por dentro.
— Me perdoe, Logan! — suplico baixinho. Ele balbucia outra vez e o rosto sério demais ganha um vislumbre de um sorriso no canto da sua boca.
— Meu amor, — Ele ofega e seu sorriso cresce um pouco mais. — Você não precisa…
— Deixe-me cuidar de você — peço, interrompendo-o e aproximo-me lentamente, na verdade, cautelosamente. Deixo uma mão minha deslizar por seu peitoral e sinto Logan resfolegar apenas com o meu toque. Minha mão desliza outra vez subindo até chegar a sua nuca e o puxo para um beijo profundo que me faz nausear imediatamente. Suas mãos se apossam da minha cintura com avidez e força, e desliza para a minúscula calcinha que estou usando, apalpando com força a minha bunda.
— Sabia que um me entenderia, meu amor! — sibila sofregamente contra a minha boca. — Deus, como sou louco por você! — Ele segura firme em meus cabelos e aprofunda ainda mais o maldito beijo. Seguro a forte ânsia de vômito que sobe a minha bílis e permito que a sua língua invada a minha boca, e quando ele pensa em me levar para a cama, eu paro o beijo bruscamente, forçando mais um sorriso sexy. Contudo, ele me olha perdido e ofegante.
O vislumbre da liberdade.— Deixe-me cuidar de você — peço, interrompendo-o e aproximo-me lentamente, na verdade, cautelosamente. Deixo uma mão minha deslizar por seu peitoral e sinto Logan resfolegar apenas com o meu toque. Minha mão desliza outra vez subindo até chegar a sua nuca e o puxo para um beijo profundo que me faz nausear imediatamente. Suas mãos se apossam da minha cintura com avidez e força, e desliza para a minúscula calcinha que estou usando, apalpando com força a minha bunda.— Sabia que um me entenderia, meu amor! — sibila sofregamente contra a minha boca. — Deus, como sou louco por você! — Ele segura firme em meus cabelos e aprofunda ainda mais o maldito beijo. Seguro a forte ânsia de vômito que sobe a minha bílis e permito que a sua língua invada a minha boca, e quando ele pensa em me levar para a cama, eu paro o beijo bruscamente, forçando mais um sorriso sexy. Contudo, ele me olha perdido e ofegante.— Agora seja um bom menino e vá para cama, querido — peço docemen
Bom, aqui estou eu para a minha mais nova realidade, em busca de um sonho, reencontrar a minha família, rever os meus amigos e descobrir porque todos se afastaram de. Mas, isso ficará para depois, por enquanto eu preciso desaparecer para que o meu marido nunca me encontre e quem sabe conquistarei a minha tão sonhada liberdade?***Dias atuais...— Ei, garota, ou, acorda! — Uma voz masculina pede e com um resmungo baixo, eu me ajeito em cima da poltrona, olhando o lado de fora do ônibus. — Já chegamos. — Ele informa.— Chegamos aonde? — questiono após bocejar e me espreguiçar, olhando com curiosidade a belíssima cidade através da janela.— Estamos em Monte Verde, senhorita, no interior de Minas Gerais. — Ele diz e meu peito infla tanto que parece que os meus pulmões vão explodir, e um sorriso tão grande vem logo em seguida. No mesmo instante me agito e tiro minha bolsa do bagageiro acima da minha cabeça e me habilito a sair do coletivo. Qual a sensação de pisar no chão com os meus próp
O sol finalmente brilha para todos.— Acordada a essa hora, menina? — A voz da doce senhora me faz parar rígida a caminho do fogão.— Ah, é! — Chego a resfolegar. — Tive um pesadelo e…— Gostaria de um chá. – Ela afirma e eu respiro fundo.— Sim, eu gostaria.— Sente-se, menina, deixe isso comigo. — Apenas assinto sem contestar.Observo dona Dolores ir para atrás do balcão e abaixo dele ela pega um enorme pote de vidro com algumas folhas dentro dele. — Eu amo chá de laranjeira e ele vai te ajudar a dormir melhor. — Sorrio de boca fechada. Dormir melhor, é disso que eu preciso. Penso. — Quando estou sem sono é ele quem me salva e quando se está muito agitada, ele é um santo remédio. — Ela resmunga e põe algumas folhas dentro do bule, o levando ao fogo em seguida. — Não quero me meter na sua vida, menina, mas algo me diz que você veio para Monte Verde para se esconder de algo que te faz muito mal. — A mulher comenta e me lança um olhar escrutínio que me deixa incomodada. Até parece que
Uma segunda chance para a vida.Havia me esquecido de como é bom me divertir, conversar, sorrir e ter amigos, mas principalmente, havia me esquecido de que preciso tomar decisões e continuar com a minha vida tomando essas decisões. Tipo, por três anos precisei ocupar o meu tempo para não enlouquecer e agora preciso ocupar o meu tempo para me favorecer e acredite, viver enfiada na quitando da Lídia ou enfurnada no quarto da pousada de dona Dolores me mantém no patamar que antes, com o diferencial de que não vivo tensa e sim, sorridente. É como se eu fosse um passarinho e por muitos anos a portinha da gaiola estivesse fechada, no entanto, agora ela que está aberta e eu simplesmente não sei por onde começar. Contudo, preciso fazer algo que me faça sentir útil. Eu preciso de um emprego... acho. Penso enquanto ajudo a doce senhora a guardar a louça dentro do armário.— Eu estive pensando — comento de repente. Ela me entrega outra pilha de loucas limpas e secas, e eu levo para o outro armár
Nem tudo é perfeito, mas ainda assim, vale a pena viver.— Boa sorte para você! — A mulher resmunga e se afasta da porta, voltando pelo corredor.— O quê? Você não vai...— Boa sorte, garota! — Respiro fundo e encaro a porta fechada por alguns segundos, e só então eu levo uma mão ao trinco, girando-o logo em seguindo e abro apenas uma brecha. Imediatamente levo a outra mão a boca e seguro o riso quando vejo que as meninas estão envolvidas em uma guerra de travesseiros em cima das camas de solteiro, que estão uma bagunça. Abro ainda mais a porta e adentro o quarto para chamar-lhes a atenção, mas, elas parecem não perceber a minha presença. Até um apito agudo soar por todo o cômodo. Um som tão irritante que me faz tampar os ouvidos. As meninas param a guerra imediatamente e olham na direção do som.— Suas pestinhas mal-educadas, parem com isso já! — Só então me dou conta de que a sargenta... digo, a governanta havia voltado.— Sua chata! — Uma das meninas ralha e desce da cama. A outra
Uma babá fora de série.Respiração pesada, suor frio, medo e pavor. Eu consigo ouvir até os sons dos seus passos pelo longo corredor atrás daquela porta. Droga, a noite aqui nessa mansão parece bem pior do que o dia! Penso e imediatamente vou para a pequena varanda. Apoio-me no peitoril e puxo a respiração várias e várias vezes, mas para o meu desespero, ela não vem.— Ele não está aqui, Eva. Ele não está aqui. — Repito incontáveis vezes, tentando me convencer do óbvio, mas o meu cérebro parece não aceitar essa informação. Forço-me a abrir os olhos e tenho o vislumbre da garoa fina que começa a cair pela madrugada, molhando as folhagens do jardim. Extremamente ofegante, eu saio da cama e na sequência do quarto apressada, e ando com a mesma pressa pelo corredor, abraçando a escuridão dos cômodos pelo caminho, e com uma ansiedade palpável, abro a porta da frente e aprecio o frio implacável que vem do lado de fora. Ansiosa pela paz, eu corro de encontro ao frio da madruga, recebendo os p
Uma doce melodia tem poder de afastar os nssos medos.— Esperem aqui, meninas, eu tive uma ideia. — Salto para fora da cama, ouvindo os seus protestos atrás de mim e corro até o quarto delas. Pego seus celulares e os fones de ouvidos que estão largados nos criados mudos ao lado de suas camas e volto imediatamente para o meu quarto. — Prontinho. Agora coloquem esses fones — peço sem lhes dar muitas explicações e começo a mexer nos aparelhos. Logo uma melodia clássica começa a tocar e elas me encaram desnorteadas. — Agora se deitem e concentrem-se nessa música. Ela vai acalmá-las e vocês não vão mais ouvir esses trovões. — Elas se olham e depois para mim.— Tem certeza, Eva? — Sorrio para passar-lhes confiança.— Só, fechem os olhos e concentrem-se na melodia, meninas — insisto e não demora para elas relaxarem e adormecerem. No segundo seguinte, estou sozinha outra vez e volto para os meus pensamentos errantes. Fito as garotas adormecidas por algum tempo e penso se aquela música seria c
— Você viu o que eu vi? — Ska pergunta livrando-se das suas roupas para entrar no chuveiro, enquanto me dedico a escovar os meus dentes diante do espelho retangular da bancada de mármore perolado. — Eles não pareciam... — Rolo os olhos para essa conversa completamente sem sentido. Diferente de mim, Ska é uma garota romântica e sonhadora. Ela costuma ver tudo cor de rosa e para tudo existe um lado bom das coisas. Já eu, sou mais realista e durona, do tipo pé no chão mesmo e desde o acidente de mamãe, sinto-me responsável por tanto por ela quanto pelo nosso pai. Valéria pode até me achar criança demais, a final, quem daria ouvidos a uma adulta minúscula de apenas sete anos que ver a realidade nua e crua da vida como eu? Arg! Ela pensa que não percebi, mas com certeza está rodeando o meu pai, e pode ter certeza de que não irei facilitar uma relação entre eles. Ela até podia ser a pessoa certa para o cargo de esposa do senhor Erick Ventura e mãe perfeita para as filhas de um viúvo descons