Uma doce melodia tem poder de afastar os nssos medos.
— Esperem aqui, meninas, eu tive uma ideia. — Salto para fora da cama, ouvindo os seus protestos atrás de mim e corro até o quarto delas. Pego seus celulares e os fones de ouvidos que estão largados nos criados mudos ao lado de suas camas e volto imediatamente para o meu quarto. — Prontinho. Agora coloquem esses fones — peço sem lhes dar muitas explicações e começo a mexer nos aparelhos. Logo uma melodia clássica começa a tocar e elas me encaram desnorteadas. — Agora se deitem e concentrem-se nessa música. Ela vai acalmá-las e vocês não vão mais ouvir esses trovões. — Elas se olham e depois para mim.
— Tem certeza, Eva? — Sorrio para passar-lhes confiança.
— Só, fechem os olhos e concentrem-se na melodia, meninas — insisto e não demora para elas relaxarem e adormecerem. No segundo seguinte, estou sozinha outra vez e volto para os meus pensamentos errantes. Fito as garotas adormecidas por algum tempo e penso se aquela música seria capaz de causar o mesmo efeito em mim. Com um suspiro afasto-me da cama devagar e vou para perto de uma janela para olhar o lado de fora. Da última vez que sai desse quarto a noite a garoa fria me acalmaram, porém, protelo se devo sair debaixo de uma tempestade como essa. Cruzo os braços e permaneço ali parada apenas preenchendo os meus pensamentos com as vozes enfurecidas que vem lá do céu. Uma batida na porta do meu quarto me faz olhar para trás e penso se deveria abri-la. Mais uma batida e resolvo atender quem quer que seja a essa hora. O senhor Ventura surge na brecha que acabei de abrir e ele não me parece nada bem. Seus olhos estão avermelhados e cansados, sua respiração está um tanto ofegante e seu semblante sofrido e... assustado.
— O senhor está bem? — Forço a minha voz a sair.
— Eu... — Ele para de falar e aponta para o quarto ao lado. — As minhas filhas não estão em suas camas...
— Elas estão aqui. — O interrompo.
— Ah! É que elas têm medo... Como elas estão?
— Dormindo. — Ele parece bem surpreso com a minha resposta.
— Será que eu posso?
— Ah sim, claro. — Abro um pouco mais a porta e lhe dou passagem. O senhor Ventura para em frente a cama e ele parece estar... chorando? Ele está chorando? Com uma respiração profunda, ele passa as mãos pelo rosto e fala sem me olhar.
— Ela sempre conseguia acalmá-las. — É um desabafo. Penso. — Eu nunca soube como ela conseguia fazer isso. Eu... apaguei no escritório e... acordei com um barulho estrondoso, e pensei... minhas filhas. Eu só... corri e pensei em... — Mais uma respiração alta em meio as palavras falhas e ele enfim se vira para me olhar. — Como fez, como seguiu acalmá-las? — Dou de ombros.
— Música — respondo o óbvio, já que os fones ainda estão em seus ouvidos.
— Claro. — Ele meneia a cabeça em concordância. — Você está fazendo um ótimo trabalho com elas! — Arqueio as sobrancelhas para essa afirmação. — Quando ela se foi, o silêncio tomou conta desse lugar. Eu não suporto estar aqui, entende? Eu não suporto esse silêncio. —Apenas aceno com a cabeça para ele. — Mas, hoje eu estava trabalhando no meu escritório e ouvi um barulho familiar que mexeu comigo. Era o som das risadas das minhas filhas e eu fui atraído para uma das janelas. Elas estavam correndo e rindo igual fazíamos quando ela... — Ele para de falar e trinca o maxilar. — Percebi o quão estou sendo egoísta em não participar de suas vidas. Eva, não é? — Faço sim outra vez. — Pela primeira vez desde que ela se foi eu me peguei sorrindo. — Meu chefe confessa e leva as mãos aos bolsos da calça amarrotada, e de repente ele parece sem jeito. O senhor Ventura pigarreia e dá alguns passos para trás. — Obrigado por cuidar delas por mim! — diz e caminha rapidamente para a porta.
— Desculpe me meter, mas, o senhor devia participar mais da vida delas — digo subitamente e droga! Fecho os olhos me repreendendo no mesmo instante. Ele para de andar, me olha outra vez, balança a cabeça sutilmente e sai. Simplesmente sai e fecha a porta.
***
A vida de Jade e Skarlitti após a morte de sua mãe têm sido bem solitárias. As meninas tiveram que se adaptar ao mundo dos adultos de uma forma brutal e sem direto a fazer quaisquer reclamações. Valéria não aceita que as crianças transitem pela casa, nem os seus barulhos mesmo que sejam apenas risadinhas. Elas precisam estar ocupadas o tempo todo, até que finalmente chegue a hora de ir para cama. O café da manhã, assim como o almoço e o jantar acontecem em uma mesa ampla demais e com várias cadeiras vazias, já que o pai e a tia quase não participam desses momentos. Portanto, passamos a fazer isso juntas e conversamos sobre os livros que elas estão devorando nesses dias. O entusiasmo em falar dos personagens e das suas habilidades são contagiantes. Seus horários passaram a ser preenchidos como haviam ordenado. Sim, eu sempre as mantenho bem ocupadas, mas não da maneira que a carrasca _ como elas se referem a tia, quer.
— Pega o disco, Eva! — Skarlitti grita me despertando e minha visão foca imediatamente no disco azul escuro que corre rápido demais em minha direção.
— Lá vai, Jade! — grito de volta, lançando o disco para ela. Correr, sorrir, gritar, ser criança. Até que o meu trabalho é bem fácil de se fazer. No final da brincadeira estamos suadas, ofegantes e deitadas na grama, brincando com as nuvens brancas espalhadas no azul celeste como sempre fazemos.
— Eva, preciso que venha até o escritório. — Valéria pede, aproximando-se com sua sombra gigante, tampando o sol alaranjado que jogava os seus raios mornos sobre nós. Observo as meninas se sentarem na grama em um sobressalto e o olhar intimidante da mulher logo está sobre elas.
— Claro, estarei lá em alguns minutos.
— Agora! — Ela ordena, tirando os olhos de cima das crianças e me encara duramente, dando as costas no segundo seguinte para sair. Bufo frustrada.
— Megera! — Jade resmunga se deixando cair na grama outra vez.
— Bruxa! — Skarlitti ralha, bufando em seguida.
— Eu volto logo, meninas — aviso, levantando-me e passo as mãos na traseira do meu jeans, caminhando para dentro da mansão. Um fato que já mencionei e que faço questão de repetir. Eu odeio essa casa e tudo que ela me faz lembrar, por isso a maior parte das nossas atividades são feitas fora dela. Tarefas da escola por exemplo, são feitas debaixo do velho carvalho, bem próximo do lago. Leituras, na biblioteca e acredito que é o único cômodo que escapa nesse na mansão inteira. Aulas de piano, na sala _ infelizmente não posso levá-lo para o lado de fora e brincadeiras, no jardim. Solto um suspiro baixo e encaro a porta fechada do escritório. Dou algumas batidinhas na madeira e a voz da megera... digo, de Valéria soa lá de dentro. Eu giro a maçaneta, abro a porta e entro logo em seguida.
— Não precisa se sentar, Eva, o que tenho para falar será bem rápido. O senhor Ventura me falou o quanto está satisfeito com o seu trabalho e me lembrou de pedir-lhe os seus documentos. Ele quer assegurar que não perderá a melhor babá que já encontrou para as suas filhas. — Bom, confesso que estou satisfeita que ele esteja aprovando o meu trabalho, mas daí a entregar os meus documentos? Isso é algo que preciso dar um jeito de burlar.
— Claro, senhora Valéria, assim que eu terminar com as meninas, farei isso. — Ela me olha em silêncio e confesso que não sei o que esse olhar avaliador quer dizer. Apenas engulo em seco e espero que ela me dispense logo de uma vez.
— Tudo bem, já pode ir.
— Obrigada, senhora! — Solto a respiração assim que saio do cômodo e caminho apressadamente para fora da casa de novo. À noite, surpreendentemente tivemos pessoas a mesa e eu me senti ridícula em estar sentada com Valéria e com o pai das meninas. Eu até fiz questão de não estar lá, mas as garotas exigiram que eu ficasse e o pai consentiu. Foi o jantar mais bizarro que já participei na vida. O silêncio era absoluto, até a Jade começar a tagarelar sobre os livros que está lendo. É lógico que Valéria protestou exigindo o silêncio da criança, porém, surpreendentemente o senhor Ventura fez questão de ouvir a filha. Vale a pena mencionar que ele parecia diferente dessa vez e acredite, eu estava vibrando por dentro.
***
NOTAS DO AUTOR:
Gostando do romance? Eu realmente espero que sim. Que tal deixar o seu comentário para eu saber o que você está penando?
Ah, e por favor, deixem a sua avaliação, ela é muito importante. Beijinhos!
— Você viu o que eu vi? — Ska pergunta livrando-se das suas roupas para entrar no chuveiro, enquanto me dedico a escovar os meus dentes diante do espelho retangular da bancada de mármore perolado. — Eles não pareciam... — Rolo os olhos para essa conversa completamente sem sentido. Diferente de mim, Ska é uma garota romântica e sonhadora. Ela costuma ver tudo cor de rosa e para tudo existe um lado bom das coisas. Já eu, sou mais realista e durona, do tipo pé no chão mesmo e desde o acidente de mamãe, sinto-me responsável por tanto por ela quanto pelo nosso pai. Valéria pode até me achar criança demais, a final, quem daria ouvidos a uma adulta minúscula de apenas sete anos que ver a realidade nua e crua da vida como eu? Arg! Ela pensa que não percebi, mas com certeza está rodeando o meu pai, e pode ter certeza de que não irei facilitar uma relação entre eles. Ela até podia ser a pessoa certa para o cargo de esposa do senhor Erick Ventura e mãe perfeita para as filhas de um viúvo descons
A arte imita a vida.Horas depois...— Ok, meninas, do que vocês precisam? — Eva pergunta, entrando no nosso quarto de brinquedos. É final de tarde e tudo está preparado para a nossa encenação. Em um canto perto de uma janela larga tem uma pequena mesa montada com um jantar de mentirinha para duas pessoas.— Precisamos da sua ajuda para ensaiar. — Ergo as páginas com as nossas falas diante dos seus olhos.— Sei, e o que eu tenho que fazer? Eu as observo, enquanto falam?— Na verdade, você também terá que interpretar para abrir o nosso momento de falar.— Você já fez alguma peça na vida, Eva? — Ska indaga se aproximando.— Sim, mas já faz muito tempo.— Então tem ideia de como se faz.— Sim, eu tenho.— Ótimo! Vem, sente-se aqui — peço e seguro a sua mão, e a faço ocupar uma cadeira pequena e cor de rosa. A porta do quarto se abre outra vez e papai passa por ela completamente afobado. Ele engole com dificuldade, devido a respiração ofegante. Provavelmente correu para o nosso quarto. Pe
As vezes uma boa surpresa tem o poder de libertar uma alma dolorida.Não é ele! Não é ele! Não é ele! Não é ele! Repito incontáveis vezes, enquanto corro para longe da mansão.“VOCÊ VAI JANTAR COMIGO, PORQUE ME PERTENCE, É MINHA E EU MANDO EM TUDO NESSE LUGAR!!!” O som raivoso continua a ecoar de um lado para o outro dentro da minha cabeça. Por que ele não me deixa em paz de uma vez? Por que não consigo esquecer de tudo que me fez? Eu só... quero ser normal outra vez! Ofegante, paro em frente ao lago e sem forças, me sento na grama. Logo sinto a presença do senhor Ventura ao meu lado e de rabo de olho o observo levar os braços acima dos joelhos. Ele não diz nada, nem mesmo uma pergunta e o seu silêncio, assim como os berros que deu dentro daquele quarto é assustador. Fale alguma coisa! Fale alguma coisa! Meu ser pede desesperado. Eu preciso calar aqueles gritos dentro da minha cabeça. Os malditos gritos.— Eu... sou casada. — As palavras escapam trêmulas da minha boca sem eu sentir e
Beijos roubados tem o gosto do pecado.Olho para a minha imagem no espelho de corpo inteiro e deslizo as mãos pelo vestido de alcinhas e de saia rodada, que tem o comprimento um pouco acima dos meus joelhos e ponho um casaco de lã por cima dele. Mantenho os cabelos soltos e suspiro antes de ir até a porta. E assim que abro, encontro um papel largado no chão. Sorrio quando reconheço a letra de Jade leio em seguida.Estávamos com pressa, esperamos você na varanda na ala sul da casa.— Ah, suas sapequinhas, nem me esperaram! — resmungo, fechando a porta e caminho apressada para o local do nosso encontro. Assim que saio da casa, ajusto o casaco e abraço o meu corpo, recebendo a leve brisa fria que afaga os meus cabelos. Enquanto caminho pela longa varanda, consigo ver boa parte da lua através das copas de algumas árvores. Ela está realmente muito brilhante e amarela essa noite. Dobro a esquina da varanda, encontrando o lado sul da casa e bem no final dela tem alguns sofás redondos, com al
Beijos roubados tem o gosto do pecado.Olho para a minha imagem no espelho de corpo inteiro e deslizo as mãos pelo vestido de alcinhas e de saia rodada, que tem o comprimento um pouco acima dos meus joelhos e ponho um casaco de lã por cima dele. Mantenho os cabelos soltos e suspiro antes de ir até a porta. E assim que abro, encontro um papel largado no chão. Sorrio quando reconheço a letra de Jade leio em seguida.Estávamos com pressa, esperamos você na varanda na ala sul da casa.— Ah, suas sapequinhas, nem me esperaram! — resmungo, fechando a porta e caminho apressada para o local do nosso encontro. Assim que saio da casa, ajusto o casaco e abraço o meu corpo, recebendo a leve brisa fria que afaga os meus cabelos. Enquanto caminho pela longa varanda, consigo ver boa parte da lua através das copas de algumas árvores. Ela está realmente muito brilhante e amarela essa noite. Dobro a esquina da varanda, encontrando o lado sul da casa e bem no final dela tem alguns sofás redondos, com al
Incapacitado, ficou maluca? Você foi malvada comigo. Como pode me deixar sozinho aqui? Sabia o quanto eu te amava, o quanto eu te queria. Estávamos tão felizes, éramos felizes e mesmo assim resolveu nos deixar. Eu Sinto tanto a sua falta, Anne! Meu peito dói tanto e meu coração sangra a cada vez que respiro. Queria poder te abraçar de novo ao menos pela última vez. Por que fez isso comigo? Com a gente? Conosco? Indago e volto a encher a taça de vinho e saboreio lentamente a bebida que me traz boas lembranças de nós dois. Minha vontade é de chorar, mas acredito que as minhas lágrimas já secaram.— Oi, querido! Não gosto quando você fica sofrendo assim sozinho pelos cantos. — Valéria diz assim que invade o meu espaço pessoal. Ela abre aquele sorriso de sempre cheio de brilho e de insinuações. Seus olhos chegam a brilhar varrendo o meu corpo com avidez e isso me causa uma ânsia insuportável. Não sei por que ainda a aguento aqui na minha casa. Talvez seja porque ela tem me ajudado muito
Eu te decepcioneiTer uma empresa na rede de construções foi ideia da Anne. Ela amava os meus trabalhos, as minhas ideias e a visão que eu tinha das coisas. Na época eu era um simples construtor, um pau mandado que fazia tudo que me diziam e chegava em casa frustrado por não alcançar as expectativas das minhas idealizações. Foi aí que ela me lançou uma pergunta: "Por que não abre a sua própria empresa?" Só que eu precisava tomar uma decisão e não era tão fácil assim, afinal, ela já estava esperando as gêmeas e elas podiam nascer a qualquer momento. No entanto, resolvi seguir o seu conselho e sair da minha zona de conforto. Então me enchi de coragem, pedi demissão do emprego e investir na minha primeira construção - claro que tudo começou na garagem da nossa humilde casa. E ela tinha toda razão. A Ventura Corporation tornou-se um grande sucesso e após assinar o meu primeiro contrato, vieram outros e mais outros, até que finalmente construí a minha própria cede. Enfim em tudo na minha v
Romance, é isso! — Pai? - O chamo com voz trêmula, mas acreditem, dessa vez não é de fingimento. A verdade é que me corta o coração vê-lo assim. Sentimos muito a falta da mamãe, mas parece que ele sente isso em dobro.— Filha? O que faz fora da cama a essa hora? — Meu coraçãozinho disparar e eu corro para os seus braços, e começo a chorar. — Oh, meu pudim, por que o choro? — Ele me senta no seu colo e me afaga com carinho. — Quer falar sobre o que aconteceu? — pede com suavidade.— Eu tive um pesadelo.— Hum, foi tão ruim assim?— Horrível, papai! - Faço um dramalhão.— Entendi. Quer que te leve de volta para a sua cama? — Faço não com a cabeça. — Tudo bem! — Escuto o som do seu suspiro e me aconchego em seu colo, apreciando a seu carinho em minhas costas e ficamos em silêncio por algum tempo.— O que você acha da Eva? — pergunto de repente, quebrando o nosso silêncio.— A Eva? — indaga. Afasto-me um pouco para olhá-lo nos olhos e ele mexe os ombros. — É uma mulher inteligente.— Não